sexta-feira, 28 de setembro de 2018

CARTA ABERTA À SOCIEDADE BRASILEIRA




“Deixo-vos a minha paz... quando depender de vós, tende paz uns com os outros”

No mês em que a IPU comemora 40 anos de organização como denominação religiosa, o seu Conselho Coordenador, preocupado com a instabilidade que divide e acirra a polaridade política no País, considera oportuno reafirmar a sua identidade como Igreja Presbiteriana Unida do Brasil, que está acima de posições partidárias, lembrando que:

1.    A Igreja nasceu em 1978, num contexto histórico de ditadura militar no Brasil, cuja repressão e perseguição aos que pensavam diferente transbordou para as igrejas, quando lideranças eclesiásticas foram, da noite para o dia, despojadas de todos os seus direitos;

2.    Em seus documentos fundantes estão os princípios cristãos que devem nortear as ações hoje, na missão profética de proclamar o Reino de Deus para a realidade em que vivemos;

3.    O Pronunciamento Social da Igreja afirma que:
·  Todas as restrições aos direitos fundamentais do ser humano são igualmente odiosas e contrárias à fé cristã;
·  Os direitos e deveres do cidadão devem ser mantidos em qualquer sociedade para que ela se aproxime do ideal cristão;
·  Os cristãos devem se lembrar de que o propósito redentor de Deus inclui a ordem social, para combater nela os elementos demoníacos, e mostrar que Deus tem como objetivo criar não só um novo homem, mas uma nova sociedade.
4.    A Igreja é, então, desafiada entre outras coisas a: 
·  Incentivar a “cidadania responsável” de todos os seus membros;
·  Clamar contra a injustiça, a opressão e a corrupção;
·  Proclamar os princípios éticos do Evangelho;
·  Conscientizar o Estado de todos os seus deveres, prestigiando suas ações no estabelecimento da sua justiça social.
5.    Os valores éticos e cristãos que baseiam esta Igreja carregam em seu bojo a luta e história de vida de homens e mulheres para tornar realidade uma “nova forma de ser igreja”:  não autoritária, inclusiva, que valoriza as mulheres; uma igreja profética que procura ser a voz daqueles que estão à margem da sociedade, denunciando a violência, opressão e injustiça; uma igreja ecumênica que dialoga com respeito e amor; uma igreja solidária que estende a mão e abraça as pessoas necessitadas de Pão, Palavra e Amor;
Por isso, repudiamos toda e qualquer forma de violência física ou verbal, o racismo, o machismo e a misoginia, a homofobia ou qualquer ação que afronte a dignidade das pessoas, os direitos humanos e o exercício pleno da democracia.

Que nossas escolhas nas eleições que se aproximam possam ser pautadas pelo legado deixado por homens e mulheres que defenderam a vida com dignidade, ética, respeito e diálogo.
Vitória, 26 de setembro de 2018,

CONSELHO COORDENADOR DA IPU

Presbª Anita Sue Wright Torres -
Moderadora, filha de Jaime Wright (Brasil Nunca Mais) e sobrinha do Dep. Paulo Stuart Wright – desaparecido político da ditadura militar no Brasil

Rev. Wislanildo Oliveira Franco – Vice Moderador
Presb. Sérgio Augusto Miranda de Souza – 1º Secretário

Presb. Daniel Tavares de Castro – 2º Secretário
Presb. Davi Freitas Natal - Tesoureiro


quarta-feira, 26 de setembro de 2018

A IPU COMO UMA POSSIBILIDADE DE REFÚGIO...


Entrevista para o Teologando na Serra sobre os 40 anos da IPU

1) Sinalize um pouco sobre sua vida, isso é: nome, formação, profissão e o que mais lhe for necessário.
Alexandre de Jesus dos Prazeres, este é o meu nome. Sou nordestino, nascido em Aracaju, capital do estado de Sergipe. Conclui o bacharelado em Teologia no Seminário Presbiteriano do Norte, localizado no Recife, em 2008, e fui ordenado ao ministério pastoral na Igreja Presbiteriana do Brasil em 28 de dezembro deste mesmo ano. Porém, nutrindo certa resistência a dicotomias do tipo sagrado/profano, entendi que deveria dar testemunho cristão além dos muros institucionais da denominação, então validei meu diploma de Teologia na Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP, ingressando em seguida no mestrado em Ciências da Religião, e atualmente estou concluindo o doutorado em Sociologia pela Universidade Federal de Sergipe – UFS. Ainda na UFS, fui professor substituto no recém criado Núcleo de Graduação em Ciências da Religião, permanecendo até 2015, quando ingressei no doutorado, tendo que assumir bolsa de pesquisa que não poderia ser conciliada  com a atividade docente.
Em Sergipe, tenho coordenado desde 2017 o Fórum Sergipano Pela Liberdade Religiosa, uma iniciativa inter-religiosa que tem promovido reflexões sobre diálogo inter-religioso e a necessidade de construção de uma cultura de paz e convivência respeitosa entre pessoas das mais variadas tradições religiosas.
2) Há quanto tempo você conhece a IPU? Como ocorreu esse contato?
Conheci a IPU através dos seus vínculos históricos com a IPB, denominação da qual fiz parte até meados deste ano de 2018. Exatamente, por isso, o meu conhecimento sobre a IPU consistia no que pude ler sobre sua história e sua atuação na sociedade brasileira. Porém desde 2014 comecei a me sentir cada vez mais deslocado no ambiente da IPB, devido a mudanças nas minhas convicções e pelo sofrimento que sentia ao testemunhar problemas no seu cotidiano institucional, sem falar no assédio moral que passei a sofrer quando comecei honestamente a expor as minhas dificuldades no tocante as coisas que eu testemunhava. Este quadro me fez buscar opções de denominações cristãs no cenário protestante brasileiro que me permitisse continuar atuando enquanto pastor, todavia com liberdade para pensar e me expressar, contandocom apoio institucional da igreja a qual viesse fazer parte. Foi em meio a isto tudo que a IPU surgiu como uma possibilidade, um refúgio. Passei conversar através de rede social com o Presb. Wertson Brasil, então moderador da IPU, através dele, fui posto em contato com o Rev. Cláudio Rebouças, moderador do Presbitério do Salvador, desde então diálogos e aproximações vem ocorrendo.
3) Qual a contribuição da IPU para o protestantismo brasileiro?
Apesar da IPU se constituir no mais jovem ramo do presbiterianismo brasileiro, brotou nesta árvore como um ramo viçoso e forte com posicionamentos corajosos e desafiadores o tronco presbiteriano brasileiro. Dentre estes desafios, o de que “a igreja reformada deve sempre se reformar”, desta forma, a IPU já nasceu comprometida com o diálogo ecumênico e atenta aos contextos social e político nos quais se situa. E no resgate do Pronunciamento Social de 1962 da Igreja Presbiteriana Brasil (conveniente esquecido por esta devido ao seu alinhamento com setores da Ditadura Militar), a IPU lembra preserva na memória do presbiterianismo brasileiro que “todas as formas de opressão religiosa, política ou econômica, todas as formas de discriminação racial e social, todas as restrições à liberdade de pensamento e de expressão, são igualmente odiosas e contrárias à fé cristã”.
4) Quais as maiores dificuldades da IPU para os próximos anos?
No tocante a dificuldades, há o desafio de buscar motivações no passado, naquele “momento histórico de postura profética contra a tirania da ditadura militar e da ditadura eclesiástica”, porém, atentando para o risco de se prender a um passado glorioso, não esquecer que se deve vislumbrar o futuro.
5) Sinalize encantos e desencantos da IPU.
Por enquanto estou encantado como alguém encontrou um novo amor, encantado com postura profética da IPU e com a possibilidade de atuar como ministro do evangelho com liberdade de pensamento e expressão. Sobre os desencantos, sei que os descobrirei na proporção do meu envolvimento no seu cotidiano institucional, porém tenho consciência de que não há instituições perfeitas, pois são tão humanas quanto aqueles que as constituem, e exatamente por isto devem ser submetidas a constantes processos de autoexames e autocríticas.



domingo, 23 de setembro de 2018

Precisamos continuar com o protesto...




Meu nome é Vinicius Pinheiro. Sou formado em Serviço Social pela Universidade Federal do Recôncavo. Atualmente estou cursando o mestrado em Serviço Social no Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Sergipe. Atuo nas temáticas da Religiosidade/Espiritualidade na interface com a Saúde Mental e o Serviço Social. Milito pela democracia, pelo Estado de direito, por um Estado laico, pela igualdade de gênero, pelo diálogo inter-religioso, contra o racismo e contra o fascismo latente no contexto brasileiro.
Conheço a Igreja Presbiteriana Unida há cinco anos. Sou de origem religiosa pentecostal e fundamentalista. Meu ingresso no contexto universitário me aproximou da natureza santa da crítica. A dialética me permitiu analisar minha fé e fazer sínteses na direção de um diálogo com sujeitos excluídos e estigmatizados. Pouco tempo depois deste contato com a teoria crítica não fui mais bem-quisto em minha comunidade religiosa de origem, afinal “[...] a rebeldia é como o próprio pecado da feitiçaria” (I Sm. 15:23).
O contexto universitário também me permitiu conhecer uma figura fundamental para meu ingresso na IPU: O Rev. Cláudio Márcio Rebouças. O testemunho secular que essa figura deixou como perfume nos espaços em que ocupava me alcançou na universidade. Sim! Surgiu na universidade a possibilidade de retomada a uma comunidade de fé. Bendito seja esse “Rei” que sai às “ruas e esquinas” para convidar os que não merecem para as Bodas de seu Filho (Mt. 22:1-14).
Conheci o mano Cacau. Conheci seu testemunho secular. Conheci sua empatia e compromisso com segmentos excluídos da sociedade e das nossas igrejas. Enfim, me uni a este legado!
Mediado por esta figura conheci a história da IPU, sua característica de resistência, dialógica e ecumênica. Fui apresentado a figuras como Richard Shaull, Rubem Alves (o pastor e o não pastor) e João Dias. Conheci o legado de Jaime e Paulo Wright. Me constrangi diante de uma história tão viva, densa e progressista, enquanto passei boa parte da minha vida alienado no evangelicalismo brasileiro, pensando que o reino tinha apenas isso para nos oferecer.
Nesse sentido, a contribuição da IPU para o protestantismo brasileiro, sem dúvida, é a de lançar luz sobre o caráter diverso (no sentido teológico e ideológico) do movimento protestante. A IPU nasceu num contexto de ditadura - “[...] do lixão nasce flor” (Racionais Mc’s). A história nos deve a valorização dos quadros que romperam com a IPB, sofreram a perseguição e lutaram por uma sociedade democrática e mais humana. Estávamos ao lado de Dom Paulo Evaristo Arns na construção da denúncia compilada no Brasil: nunca mais. Nossa democracia, HOJE ESCARNECIDA E AMEAÇADA, foi regada com sangue IPU.
Precisamos continuar com o protesto. Precisamos continuar com o diálogo. Precisamos discutir com coragem a questão da inclusão dos segmentos excluídos da sociedade – me refiro à comunidade LGBT. Precisamos servir os pobres e sentar-nos à mesa com os oprimidos. O desafio da IPU é estabelecer esse diálogo, realizar pastorais que discutam questões étnico-raciais, de gênero e de classe. Nosso desafio é fomentar o brilho nos olhos da utopia que se perdeu com o advento do neoliberalismo, da dívida pública e da farra dos bancos.
Ademais, o diálogo inter-religioso precisa ser mais trabalhado em nossas comunidades. Tendo a nossa história como baliza, não podemos fazer coro aos discursos de ódio direcionados às religiões de matriz africana. “Que estou fazendo se sou cristão?” Precisamos agir neste contexto de ódio, fomentando o diálogo e a paz. O caráter ecumênico de nossa comunidade de fé é um dos maiores encantos que tenho com a IPU, todavia, ainda precisamos capilarizar a ideia do diálogo inter-religioso neste contexto de ódio-fundamentalista-fascista.
Deus não é neutro, “vigia os ricos, mas ama os que vêm do gueto” (Racionais M’cs). Tampouco podemos ser.

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

IPU: fé-luta



Entrevista concedida ao TEOLOGANDO NA SERRA sobre os 40 anos da IPU...

Sinalize um pouco sobre sua vida, isso é: nome, formação, profissão e o que mais lhe for necessário.

Sou Queila Patrícia Pereira de Jesus; tenho 25 anos e moro em Muritiba/BA, cidade onde “fui nascida e criada”. Sou Assistente Social formada pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), e mestre em Serviço Social pela Universidade Federal de Sergipe (UFS).

Há quanto tempo você conhece a IPU? Como ocorreu esse contato?

Cresci em uma Igreja vinculada ao ministério Batista, com características bem distintas da IPU. Conheço a IPU de “ouvir falar” há muitos anos. Confesso que carregava ideias preconcebidas em relação à instituição IPU, as quais foram sendo desconstruídas a partir das leituras de textos do Rev. Cláudio (neste blog) e idas esporádicas aos cultos. Após alguns desencantos com a perspectiva teológica que orienta o “meio evangélico” no qual eu estava inserida, tomei a decisão de vincular-me à IPU (no primeiro semestre deste ano – 2018). Meu desejo era fazer parte de uma Igreja comprometida com a justiça social; com as demandas dos oprimidos. Estava à procura de uma espiritualidade libertadora.

Qual a contribuição da IPU para o protestantismo brasileiro?

A IPU possui um conteúdo claramente político em sua formação que, em especial, encontra-se expresso no Manifesto de Atibaia e no Pronunciamento Social de 1978. Nesse sentido, acredito que uma das maiores contribuições da IPU para o protestantismo brasileiro é a afirmação/concretização da união indissociável entre fé e luta. Além disso, mantêm-se uma postura de valorização e respeito “ao outro”, que afirma uma identidade cristã e ecumênica.   

Quais as maiores dificuldades da IPU para os próximos anos?

            Acredito que uma das dificuldades é manter as dimensões de denúncia e anúncio, como o Rev. Cláudio aponta de forma contínua em suas reflexões em nossa Igreja local. A IPU é uma instituição aberta ao diálogo; atenta às demandas sociais (dos oprimidos); mantém uma postura crítica frente às amarras do fundamentalismo religioso; entre outros aspectos. Portanto, é presente um caráter de denúncia. Entretanto, precisamos (de modo contínuo) construir estratégias de anúncio da espiritualidade libertadora; de um “Deus que é leve e ri”.
            Outro desafio é o investimento em estratégias pedagógicas que estimulem a “identidade IPU” em nossas crianças e adolescentes. Desse modo, estaremos cuidando de nosso futuro e preservando a essência. 

Sinalize encantos e desencantos da IPU.

A democratização dos espaços na Igreja é um elemento que se revela na comunidade IPU. Digo isso porque é notável o protagonismo das mulheres em sua construção. Nos Princípios de Fé e Ordem, por exemplo, A IPU adota e reconhece sem qualquer sentido de hierarquia e sem distinção de sexo, raça e origem social os seguintes ministérios decorrentes do chamado de Deus: pastor(a); presbítero(a); diaconisa e diácono.
Nessa perspectiva, um dos aspectos que me encantam de modo especial na IPU são as propostas de resgate da figura feminina na Reforma Protestante, na Bíblia e na vida cotidiana (como em outras denominações).  
            Penso que os demais encantos já foram sinalizados. Para finalizar, desejo que sejamos valentes para enfrentar os desafios em uma sociedade complexa e dinâmica. Que o vento do Espírito sopre em nós!


segunda-feira, 17 de setembro de 2018

IPU: uma nova forma de ser igreja


Por: Anita Wright Torres[1] 

No dia 10 de setembro de 1978, na cidade de Atibaia, SP, um grupo de homens e mulheres se reuniu, sonharam e pensaram em “uma nova forma de ser igreja”. E assim nasceu a Federação Nacional de Igrejas Presbiterianas (FENIP), com seus documentos fundantes, como o “Manifesto de Atibaia”, do qual destacamos: “declaramos que é nosso desejo prosseguir na obra do Reino de Deus, dominados pelo Espírito de Cristo, em harmonia e alegre comunhão uns com os outros, paz e respeito mútuo. Expressamos nossos propósitos nos seguintes termos: declaramos que é nosso propósito edificar nova comunidade onde reine o amor e a consagração à obra de redenção do homem e não interesses humanos subalternos, indignos daqueles que fazem profissão de fé cristã”.
Outro documento fundante é o “Pronunciamento Social”, advindo da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), aprovado em seu Supremo Concílio em 1962 e logo engavetado por ela. A FENIP resgatou e adotou o Pronunciamento Social como sua, e ainda de mãos dadas com o Hino oficial da IPU, que nos questiona: “que estou fazendo se sou cristão?”.
O Pronunciamento Social diz que compete às Igrejas Presbiterianas: 1- Dar, pelo púlpito e por todos os meios de doutrinação, expressão do Evangelho total para redenção do homem e da sociedade; 2- Incentivar a “cidadania responsável” de todos os membros da Igreja; 3- Clamar contra a injustiça, a opressão e a corrupção; 4- Opor-se contra o materialismo e o secularismo; 5- Lutar pela preservação e integridade da família e pela integração de grupos marginalizados; 6- Dar uma formação cristã à infância e à juventude; 7- Defender a dignidade do trabalho; 8- Fazer a proclamação dos princípios éticos do Evangelho; 9- Defender a distribuição equitativa da renda, inclusive da propriedade da terra e advertir aqueles que estão se enriquecendo ilicitamente, explorando seu próximo; 10- Conscientizar o Estado de todos os seus deveres, prestigiando suas ações no estabelecimento da justiça social.
E assim, essa “nova forma de ser igreja” foi se consolidando em cima de alguns pilares que são a base de nossa igreja: 1- Somos uma igreja reformada, sempre se reformando. Nossos Princípios de Fé e Ordem tem sofrido modificações nesta caminhada de 40 anos. Devemos estar abertos a avaliação e mudança, colocando em debate nossas ações, nosso ensino, nossa pregação, nosso evangelismo, nossa diaconia, nossa missão, buscando assim, à luz da Palavra de deus, reformar para melhorar sempre.
2- Acreditamos na Unidade na Diversidade. Deus não nos criou iguais, mas pede que tenhamos unidade. Em João 17.21, Jesus pede: “Que todos sejam um... e no v.23. Eu estou unido com eles, e tu estás unido comigo; para que eles sejam completamente unidos...”.
            A diversidade enriquece e dá um colorido especial à nossa igreja. Santo Agostinho nos orienta: “No que é indiscutível, unidade, na dúvida, liberdade; acima de tudo, porém, que prevaleça o Amor”.  3- Nossa igreja acredita no sacerdócio universal de todos os crentes, ou seja, somos todos\todas chamados\chamadas por Deus para desenvolver nossos dons ministérios. Fomos a primeira igreja no Brasil a acolher e eleger mulheres em todos ministérios ordenados da igreja (diaconisas, presbíteras e pastoras, e em 2011\ demorou 33 anos!), elegeu em Assembleia sua primeira moderadora e que, em 2017 foi eleita para sua segundo mandato. 4- Somos uma igreja solidária a medida que respondemos ao questionamento do nosso hino oficial: “ Que estou fazendo se sou cristão?”. A IPU adotou o compromisso social como linha de ação da igreja, denunciando a injustiça e opressão, promovendo a solidariedade, mostrando assim o Amor de Deus. 5- Somos uma igreja ecumênica, baseado em Efésios 4:3-5, que diz: “Façam tudo para conservar, por meio da paz que une vocês, a união que o Espírito dá. Há um só corpo, e um só Espírito, e uma só esperança para a qual Deus chamou vocês. Há um só Senhor, uma só Fé e um só batismo...”.
            A IPU já nasce ecumênica, e tem marcado presença em organismos e eventos ecumênicos, como o Conselho Mundial de Igrejas (CMI), o Conselho Latino Americano de Igrejas (CLAI), o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), Aliança de Igrejas Presbiterianas e Reformadas da América Latina (AIPRAL), Aliança Mundial de Igrejas Reformadas (AMIR), Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE).
            Nossa gratidão à Deus por esta Igreja, sua caminhada, suas lutas e vitórias na busca em fazer a diferença no mundo. Nossa gratidão pela vida de tantos homens e mulheres que gestaram essa igreja com fé, garra, determinação, oração e trabalho. Que possamos somar nossas vozes a um hino antigo que diz: “O mestre nunca cessarão meus lábios\ de bendizer-te, de entoar-te Glória\pois eu conservo de teu bem imenso\ grata memória”.   
            Que possamos trazer a memória o que nos alegra, nos faz bem, nos traz esperança.  Vamos somar forças para vencer os desafios, diminuir os conflitos através do diálogo, dividir os problemas, para que possam ser superados e multiplicar as alegrias e bênçãos de sermos parte desta igreja. Nossa oração final vem também de um hino: “Fortalece a tua Igreja\ Ó bendito Salvador\ Dá-lhe tua plena graça\ vem renova seu vigor\ Vivifica, vivifica\ Nossas almas, oh Senhor!
            Que Deus nos abençoe, nos inspire e nos fortaleça para mais 40 anos! Amém!





[1]  Anita é presbítera e Moderadora do Conselho Coordenador da IPU Nacional. Essa reflexão foi feita no dia 07-09-18 em BH em função dos 40 anos da IPU.

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

NÃO SÓ A ALMA DO MAL SALVAR...



NÃO SÓ A ALMA DO MAL SALVAR...[1]
Por: Cláudio Márcio Rebouças da Silva[2]

 “Dar, pelo púlpito e por todos os meios de doutrinação, expressão do Evangelho total de redenção do indivíduo e da ordem social.” (Pronunciamento Social\1978)

“Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e foste me ver” (Mt 25: 35-36)

Eu, de origem eclesiástica Batista, tive contato no Seminário Teológico Batista do Nordeste (STBNe) em Feira de Santana-BA com os professores: Marcos Monteiro, Jorge Nery, Eliabe Barbosa, Ágabo Borges...Naquela instituição os colegas e funcionários marcaram minha vida, isto é,  os horizontes iam se ampliando e sou muito grato a Deus por essas vidas.
Foi no seminário também que encontrei com o Reverendo João Dias de Araújo, inicialmente como estudante, depois de um processo de diálogo, leituras e muita observação, como tutor eclesiástico e amigo de ministério da Igreja Presbiteriana Unida (IPU). Na sua própria casa e nas igrejas do Presbitério do Salvador nossa relação foi se consolidando. Fui marcado pela vida e obra de João Dias e Ithamar Bueno. Hoje, ativo suas memórias subversivas para lembrar o desafio e a possibilidade de testemunhar o Evangelho de Jesus de Nazaré, uma vez que, não andei com os personagens bíblicos, mais, andei com homens e mulheres comprometidos com Deus.
Estou na IPU há doze anos como ministro da Palavra e dos Sacramentos. Qual a razão de migrar da Batista para IPU?  Bem, confesso que envolvia duas questões centrais: valorização e liberdade para pensar. Exagero meu? Optei pela perspectiva que diz: “defender, pelo exemplo de seus membros, a dignidade do trabalho, quer manual quer intelectual”. (Pronunciamento Social\1978)
 Foi na IPU que tive acesso a um tipo de protestantismo progressista que nunca tinha ouvido falar. Foi na IPU que a consciência Latino Americana foi se fortalecendo. Foi na IPU que comecei minha experiência ecumênica e de diálogo inter-religioso. Foi na IPU que aprendi que Pão Nosso e Pai Nosso não podem se separar. Foi na IPU que percebi o protagonismo da mulher dentro da igreja em cargos de liderança e na tomada de decisões. Sim, foi na IPU que percebi efetivamente que éramos apenas mais uma possibilidade de experimentar a fé cristã. Foi na IPU que instituições como a Coordenadoria Ecumênica de Serviços (CESE) e a Comissão Ecumênica de Direitos da Terra (CEDITER) me lembram que o dito e o feito precisam de coerência, ou seja, nossa fé-luta manifesta-se como justiça social, pois, a mão que se junta para realizar uma prece, é a mesma do afeto e do encorajamento de irmãos e irmãs na estrada.
Posso salientar sem exagero algum que foi na IPU que “tirei os olhos do céu” e “passei a olhar para o lado e para mim mesmo”. Foi com Jesus de Nazaré que descobri que o Reino de Deus oferece redenção do ser social em todos os seus aspectos. Fui extremamente acolhido e valorizado por muitas mãos generosas da IPU. Continuo grato a Deus pela vida desses homens e mulheres.
     Agora, lembremos que “A Igreja sobrevive quando reconhece a necessidade constante de reforma”. (Manifesto de Atibaia\1978), assim, mudo um pouco o tom do texto, pois, é urgente mudanças no chão da IPU. Ora, penso que é preciso coragem, responsabilidade e perseverança para refletirmos a partir da Bíblia questões como: homossexualidade; racismo estrutural e extermínio da juventude negra, descriminalização do aborto e do uso da maconha, demarcação de terras de povos indígenas e quilombolas, imigrantes e refugiados... são exemplos de questões sociais que precisam entrar na nossa agenda. Até quando vamos nos silenciar sobre essas questões?
            Somando-se a isso e, não menos importante, acredito que precisamos pensar em estratégias pedagógicas de ensino-aprendizagem que caibam junto com a Bíblia expressões culturais com cheiros, sabores, cores e sons. A comunidade religiosa também pode proporcionar experiências que envolvam entretenimento e ludicidade. Por vezes suspeito que a “seriedade litúrgica” castra dimensões corpóreas centrais naquilo que entendemos por “brasilidades”, assim, a IPU é no Brasil ou do Brasil? Pode nosso corpo não ser culto? Acredito ainda que temos que encarar o “clamor” de muitas de nossas igrejas por  revitalização, daí,  (re)pensar a percepção de missões em nosso chão é necessidade de ontem. Não queremos um paradigma missionário castrador, colonizador e que não dialogue com nossa diversidade cultural, todavia, é preciso problematizar: o que queremos? Quais caminhos possíveis para manter a identidade ecumênica e crescer em número de eclesianos e eclesianas? É sério que nossos pastores e pastoras possuem dupla jornada de trabalho e nós ainda almejamos crescimento? O que realmente entendemos por crescimento e missão da igreja? Qual será o futuro de nossas Igrejas? O que a IPU deseja para os próximos 40 anos? Onde estão as crianças e jovens da IPU? Nossa linguagem teológica-litúrgica é eficiente para o século XXI? O que temos aprendido com o movimento ecumênico?
            Bem, essas são questões para serem refletidas para agirmos de forma coerente com a Bíblia, com os nossos documentos fundantes e com o contexto histórico em que estamos inseridos, pois, “... não podemos deixar de prosseguir na obra que nos foi confiada por Deus, e nem podemos ser infiéis à voz da nossa consciência iluminada pelo Espírito Santo”. (Manifesto de Atibaia\1978)
            Que a voz de Deus misteriosa e também comum na boca de homens e mulheres (dentro e fora da igreja) seja audível a cada irmão e irmã. Que o projeto de Deus na IPU não esteja afastado de nossas agendas pessoais. De fato, “declaramos que é nosso desejo prosseguir na obra do Reino de Deus, dominados pelo Espírito de Cristo, em harmonia e alegre comunhão uns com os outros, paz e respeito mútuo”(Manifesto de Atibaia\1978). Deus (Pai-Mãe) escutai minha prece: muito obrigado por todos e todas que te serviram para construir o Teu Reino a partir do chão da IPU. Por favor, chame novos pastores e pastoras, presbíteros e presbíteras, diáconos e diaconisas, eclesianos e eclesianas para essa obra que é Tua e que nós temos a honra e prazer de participar.
Onde ou como servir ao Senhor? Ora, vejo diante de nós muitos desafios que nos deixam quase que “sem fôlego”, todavia, vejo também um povo teimoso que ama o evangelho de Jesus Cristo e a IPU. O texto quando assume o tom mais profético é para lembrar das nossas origens, porém, também  nossa gênese sinaliza anúncios de um novo tempo. Sei que o Espírito Santo tem renovado nossas esperanças e que enfrentaremos nossas dificuldades com espiritualidade, leveza e comunhão.  Foi Deus que nos chamou para seu serviço. “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor” (1 Coríntios 15:58). Que sejamos instrumentos nas mãos do Senhor dentro e fora da igreja.
Falo agora junto com a minha pastora, a reverenda Sônia Mota quando diz: “40 anos! Alcançamos a maturidade! Espero de coração que a sociedade brasileira já conheça o nosso rosto. Diante do crescimento do fundamentalismo religioso, diante de tantas ofertas de fé fácil e descomprometida, diante de tantas igrejas bem mais preocupadas com marketing do que com Cristo, meu desejo é que a IPU seja reconhecida por sua fidelidade com o evangelho de Jesus de Nazaré. Aquele cara defendeu a partilha de bens, denunciou o acúmulo de riqueza, ensinou o perdão das dívidas, ensinou a acolher o estrangeiro e a valorizar os humildes, a amar todas as pessoas, até o inimigo, e a celebrar a diversidade. Este Jesus que por sua coerência de vida e de posicionamento tornou-se preso político, foi torturado e morto por ter denunciado um império e uma religião que oprimiam. Esse Jesus que nos apontou para o iminente Reino de Deus que já começou com ele e que pode ser fomentado aqui e agora. Que a IPU continue na firme vontade de ser “uma nova forma de ser igreja”.
 Antes de comunicar essas palavras, pedi a Deus para ser uma bênção na vida de vocês. Entendi que era importante pensar nossa Igreja e convidar vocês para continuarem sonhando. Precisamos assumir a diaconia como missão da Igreja. Não há uma receita, porém, precisamos compreender com clareza que Deus nos chama e que continuará ao nosso lado. Não tenha medo meu irmão. Levante a cabeça minha irmã.
O Senhor ungiu nossa cabeça, não somos melhores e nem piores que ninguém. Somos parte do povo de Deus espalhados neste chão. Sou um mensageiro da Paz! Gosto de falar criticamente e não perder a esperança. Convoco então cada mão para o serviço, uma vez que, Jesus de Nazaré nos ensinou que o maior é aquele que serve. Deus abençoe nossa Igreja! Deus nos ajude a (re)pensar nossa missão com coragem, criatividade e compromisso. O Cristo de Deus pode contar com você no chão da IPU? Quem vai continuar escrevendo essa história?
Encerro fazendo uma ligeira mudança no trecho de uma canção de Tom Zé, pois, vou substituir o fragmento menina por IPU, assim: “IPU quero te dizer que amanhã de manhã quando a gente acordar a felicidade vai desabar sobre os homens, vai desabar sobre homens, vai desabar sobre os homens”. Parabéns IPU!



[1] Estudo feito na Segunda Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte no dia 09-09-18. Grato ao Reverendo Jorge Diniz e ao Conselho da igreja pela oportunidade de celebrar e refletir.
[2]  Moderador do Presbitério do Salvador e Reverendo da IPU de Muritiba-BA.

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

LEMBRANÇAS E AUSÊNCIAS...


Falando de memórias, de saudades e dos 40 anos da nossa querida Igreja Presbiteriana Unida - IPU.
“Quero trazer à memória o que me pode dar esperança” Lm 3.21

Havia um jingle que era assim... o tempo passa o tempo voa e a poupança... continua numa boa..., a nossa juventude atual não ouviu e não conhece essa propaganda, que ficava soando em nossos ouvidos, e na nossa ingenuidade acreditávamos nela. E, por falar em tempo, sabemos que o tempo de Deus, (Kairós) não é o nosso. Por isso há um descompasso entre o nosso tempo (Kronos) e o tempo do Eterno.” Mil anos são aos teus olhos como o dia de ontem, que passou, uma vigília dentro da noite.” Salmo 90.4 “Debaixo do céu há um momento para tudo, o tempo certo para cada coisa.” (Ec 3.1)
No dia 10 de setembro, completam-se quarenta anos, quando o meu pastor na época Revdo Cyro Cormack, o único pastor do Rio, esteve presente na fundação da Federação Nacional de Igrejas Presbiterianas (FENIP), em 1978, Atibaia- SP. Hoje, com 89 anos é membro do Presbitério Rio Novo - PRNV. Um grande número de fundadoras, e fundadores, já partiram, e estão ao lado do Pai.
Surgia uma Igreja que abarcava mulheres e homens sonhadores, de um futuro melhor para si, familiares, amigos e para toda a sociedade. Eram pessoas destituídas de ganância, de poder, de vaidade e com sede de justiça. Eram despojadas, engajadas e algumas perseguidas por um sistema arcaico e autoritário (ditadura militar). Acreditavam em um novo Projeto de “ser Igreja”. Igreja que pregasse “as Boas Novas em Jesus Cristo, ao indivíduo e à sociedade”, vivenciasse a igualdade, a fraternidade e a opção pelos mais pobres.
“Antes que qualquer árvore seja plantada ou um lago seja construído, é preciso que eles tenham nascido dentro da alma. Quem não planta jardim por dentro, não planta jardins por fora e nem passeia por eles”. Rubem Alves.
Embarquei nesse sonho e nessa esperança com um grupo de juventude de algumas igrejas dos subúrbios do Rio. Nos reuníamos para discutir, debater e para vislumbrar a nossa inserção nesse movimento que nos atraia, praticamente às escondidas, uma vez que os pastores dos meus amigos/as, não haviam aderido a esse novo momento e a essa brisa leve que soprava, que era sair da IPB, para respirar novos ares e ter a esperança renovada.
Por volta de 1979/80, vieram ao Rio, o Revdo Joaquim Beato e a sua sobrinha, Revda Izaura Márcia Venerano, (companheira de luta e caminhada de toda uma vida, claro que tenho várias, mas ela foi a primeira, nesse novo contexto), para falar sobre a FENIP ao nosso grupo. Eram os primeiros representantes capixabas em terras cariocas. Fomos recepcionados e patrocinados pelo então jovem, na época, representante oficial, Presb. Carlos Fernando Palmer, na Union Church da Barra com um delicioso churrasco. Passamos um sábado inteiro, provando o maná que eles nos trouxeram de presente como aperitivo.
“Quando se sonha sozinho é apenas um sonho. Quando se sonha juntos é o começo da realidade”. Miguel de Cervantes – poeta.
Participamos do Encontro Nacional de Jovens da FENIP nos anos de 1980 a 1982, (tenho uma relíquia, que é um crachá de 1982), realizados nos estádios do Mineirinho, BH, e Ibirapuera - SP. Fui autorizada pelo meu pastor. Naquele tempo era assim, precisávamos de autorização para participar de “coisas” fora da Igreja. Era da FENIP, e esse nome soava meio que clandestino.
Bons tempos aqueles! Algumas amigas e amigos ficaram pelo meio do caminho, retornaram às suas origens, uma vez que seus pastores não aderiram aos ideais dessa “nova forma de ser Igreja” e permaneceram na IPB. Ficaram decepcionados, mas eram jovens e quem “mandava” na igreja local era o pastor e as lideranças do Presbitério.
As nossas Igrejas aqui do Rio de Janeiro foram recebidas oficialmente em uma Assembleia em julho de 1983, no culto de encerramento na Primeira Igreja de Vitória-ES. Eu havia sido ordenada Presbítera em janeiro do mesmo ano e era Seminarista. Foi um culto inesquecível. Alegria, participação e comunhão. Estávamos imbuídos de um mesmo sentimento, sentimento de pertença a uma Comunidade que vislumbrava o projeto do Reino, aqui e agora.
Em 1985, foi formada a Confederação Nacional de Jovens da IPU- CONAJIPU, e participamos da primeira diretoria. Éramos um grupo aguerrido que acreditava no potencial da nova Igreja, e na força da sua Juventude. Na época a IPU, era composta por 61 igrejas.
Participamos nesses últimos 35 anos de quase todas as Assembleias e acompanhamos o papel importante que a IPU tem desempenhado sob a direção dos Conselhos Coordenadores, junto às igrejas locais, aos organismos ecumênicos e a preservação dessa Igreja comprometida com a justiça social, herdeira da Reforma e testemunha fiel do Reino inaugurado por Jesus, o Cristo.
O nosso sonho não acabou, continuamos sonhando e realizando o que Deus tem colocado em nossas mãos para realizar. A esperança não feneceu. Pois apesar de vivermos atualmente, dias sombrios e maus, aonde o nosso povo tem voltado a não ter dignidade, acreditamos no poder e na força do Evangelho de Jesus, o Cristo libertador, que nos livra de todo tipo de amarras, de opressão e de exclusão.
Precisamos continuar a honrar e a ter sempre na memória, a luta, a garra, o sonho e a esperança dos nossos primeiros fundadores, mulheres e homens leais e fiéis ao Evangelho. Que almejavam uma Igreja solidária, libertária, ecumênica, inclusiva (sem discriminar ninguém), que estivesse inserida de fato e de direito na Sociedade, para que pudesse ser mais fraterna e solidária, com espaço para mulheres e homens de forma equitativa (creio que isso no nosso meio precisa ser revisto, somos maioria). Pois, apesar da Igreja ordenar mulheres ao sagrado Ministério e aos Sacramentos, ainda somos minoria entre as ordenadas/os.
Nos 40 anos de caminhada não podemos perder de vista os sonhos e a esperança que o Senhor da vida tem colocado na mente e no coração de todas e todos que fazem parte dessa Igreja, e louvá-lo pelas maravilhas que ele realizou, realiza e continuará a realizar no meio do seu povo.
O nosso Princípio de Fé e Ordem – PFO, no artigo 4º, do parágrafo XII, nos aconselha: “envolver-se, fraternal e livremente, em amor e serviço ao próximo, dentro e fora de suas comunidades. Reconhecer que, nenhuma barreira institucional humana pode obstar a ação do Espírito Santo, sinal do Reino de Deus na terra”.
A nossa gratidão e carinho a essa Igreja querida que nos tem acolhido, como um colo de mãe que acaricia, beija e protege a sua cria. Faço das palavras do educador Paulo Freire, as minhas:
“É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, é juntar-se com outros para fazer de outro modo...”.
Vamos esperançar querida IPU, e que as bênçãos do nosso Criador que é Pai e Mãe, sejam com todas as irmãs e irmãos dessa amada Igreja.
Revda Neusa Gomes Palmer - Tempo comum



quarta-feira, 5 de setembro de 2018

MULHERES E HOMENS QUE SONHARAM UMA IGREJA...




Entrevista concedida ao TEOLOGANDO NA SERRA sobre os 40 anos da IPU...

 Sinalize um pouco sobre sua vida, isso é: nome, formação, profissão e o que mais lhe for necessário.

Sou Guilherme de Freitas Silva, 26 anos, mineiro de Belo Horizonte, mas moro há um ano e meio em Vitória/ES. Sou psicólogo formado pela PUC Minas, residente do Hospital das Clínicas de Vitória na área de saúde da criança e do adolescente. Além disso, sou seminarista e curso teologia na Faculdade Unida de Vitória.

 Há quanto tempo você conhece a IPU? Como ocorreu esse contato?

Conheci por acaso há aproximadamente cinco anos, após frustração com o meio evangelical (no qual fui criado) e algum período sem vinculação religiosa institucional. Estava à procura de uma igreja que defendesse uma espiritualidade madura, fosse herdeira da reforma protestante e comprometida com a justiça social. Lembrei que um amigo da família, o Rev. Jorge Diniz, era pastor de uma tal de IPU (Segunda Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte) e decidi visitar a igreja. Me envolvi com a comunidade, a juventude me acolheu e em pouco tempo já estava participando ativamente da vida da igreja.
Desde o começo tive um profundo interesse por conhecer a história e a teologia da IPU. Antes mesmo de fazer a profissão de fé, já tinha lido os Princípios de Fé e Ordem, o Manifesto de Atibaia e o Pronunciamento Social de 1962 da IPB, documentos belíssimos que confirmaram em mim o desejo de fazer parte dessa história. Atualmente meu interesse pela história e teologia da IPU se manifesta no site teologiaipu.wordpress.com, criado e administrado por mim.

Qual a contribuição da IPU para o protestantismo brasileiro?

A IPU surgiu a partir de mulheres e homens que sonharam uma igreja que não se fechasse em si mesma, estivesse em diálogo com as questões da sociedade e fosse comprometida com a justiça social, caminhando ao lado de outras tradições cristãs. Esta sede justiça, em um contexto político e eclesiástico autoritário (época da ditadura militar), fez com que estes homens e mulheres fossem perseguidos e expulsos de sua antiga igreja. Após tentativas e esperanças frustradas de retorno é que surge a IPU como FENIP, em 1978, uma igreja profética em que a própria existência já é uma denúncia contra a opressão política e religiosa.
Podemos dizer então que a contribuição da IPU para o protestantismo brasileiro é mostrar que é possível ser presbiteriano, herdeiro de Calvino e da tradição reformada, sem cair nas amarras do fundamentalismo, mantendo uma postura ecumênica e comprometida com os valores do reino de Deus.
Agora, essa contribuição carrega consigo uma grande responsabilidade e um grande desafio que devemos refletir neste aniversário de 40 anos da Igreja. A sociedade é dinâmica e demanda novas respostas da Igreja, já a instituição por outro lado, tem sempre a tendência em se institucionalizar, se tornando conservadora e perdendo sua dimensão profética.

 Quais as maiores dificuldades da IPU para os próximos anos?

Nesse cenário, a IPU terá inúmeras dificuldades nos próximos anos. Podemos citar o fato da IPU ao longo da sua história ter se preocupado pouco em ensinar seus eclesianos o que é ser presbiteriano unido, algo que somado a esta onda de conservadorismo coloca a existência da igreja em risco. Com isto, é urgente a necessidade de cuidar da nossa educação cristã, investindo em teologia e incentivando a produção de materiais que estejam de acordo com nossa teologia, história e documentos fundantes.
Outro desafio é promover a unidade (na diversidade) entre suas comunidades como forma de fortalecimento da identidade IPUENSE. Não existe fórmula pronta, mas nesse âmbito pequenos passos já são muito significativos. Gostaria de ver Conselho Coordenador tendo um olhar maior pra comunicação, fazendo as notícias das igrejas e presbitérios circularem, o site ser atualizado com maior frequência... Aproveito essa oportunidade pra fazer menção ao Traço de União, boletim do CC-IPU, que também fez 30 anos de fundação este ano, mas está inativo. Acredito que as redes sociais não suprem a necessidade de ser ter um boletim informativo nem que seja semestral.

Sinalize encantos e desencantos com a IPU.

Acredito que ao longo da entrevista já fui sinalizando meus encantos e desencantos com a IPU. Dificuldades sempre vão existir, mas com elas se abrem janelas de possibilidades para que façamos autocríticas e exerçamos nossa capacidade criativa.
Sigamos unidos, e que o lema da reforma protestante “Igreja reformada, sempre se reformando” não seja apenas mais um clichê.