sábado, 29 de janeiro de 2011

Descendo do púlpito e invadindo as ruas...


“O Evangelho consiste, assim, no ato; numa nova inserção da liberdade na história, num ato que abre novos horizontes para a libertação humana. Por isso a proclamação do Evangelho anuncia a salvação, uma nova possibilidade de vida humana.” (Rubem Alves)

Este é um desafio para as comunidades eclesiásticas que não é novo... Homens e mulheres já se lançaram diante deste sonho de uma relação mais significativa entre a Igreja e a Sociedade. Isto é, um olhar menos dicotômico entre Deus e o mundo. Assim, seria necessário refletirmos sobre que sagrado é este que nos relacionamos e quais suas possíveis “faces”.

Muitos (as) preferem pensar num Deus distante e inoperante, vingativo, excludente... Um Deus tão santo que não pode habitar neste chão da corrupção e da injustiça... Penso que este é o tempo de “trazermos” o sagrado para o nosso cotidiano (para chorar e sorrir conosco), neste caminho da vida. Não somente um Deus do templo limitado pelos espaços geográficos, físicos e ou ideológicos, mas, surge à necessidade de pensarmos em Deus que se encanta com o humano, o entende e o faz melhor em suas relações sociais.

Uma das principais características do cristianismo é a humanização de Deus em Jesus de Nazaré. O Evangelho de João fala que o verbo (logos), se fez carne e habitou entre nós. Ele se fez gente como a gente em prova de amor e desejo profundo de restabelecer a aliança de Deus com o humano. Sendo bem sincero não consigo entender às pessoas que querem divinizar-se. Pois, o Cristo de Deus se humanizou. Logo, percebo que essa dimensão do humano não é tão ruim assim como muitos acreditam. Ser humano é tão bom que até Deus quis participar do seu próprio projeto, a vida.

A vida que para o cristão é um presente de Deus, deve ser vivida em sua presença. Pois, precisamos entender que na nossa caminhada necessitamos do seu olhar de ternura e de suas mãos que nos tocam com carinho e cuidado. Quem é então Deus? O que Ele quer de mim? Uma possível resposta seria essa: Ser cheio de bondade e misericórdia, fonte de toda esperança. João Calvino chamava-O de NUMINOSO. Podemos perceber na Bíblia um Deus que caminha ao lado do seu povo. O livro de Êxodo fala que Deus ouviu o clamor de um povo que vivia no cativeiro de faraó (o opressor), mas uma ação de libertação acontece na vida daqueles que eram marginalizados. Deus então manifesta seu poder trazendo libertação-salvação e esperança de nova caminhada em que reconhecemos que a mão de Deus se fez presente e por isso assumimos uma prática de estar sempre rendendo ação de graças à fonte originária de toda criação. Urge então uma nova percepção na vivência da nossa espiritualidade. Deus não está longe, está bem pertinho e a Ele o nosso louvor. Deus caminha ao nosso lado trazendo vida e libertação. Você o percebe pertinho?

Desta maneira, JEAN-YVES LELOUP diz: “Orar é ligar-se à sua origem e ao seu fim; mergulhar no rio e saborear os frescores da fonte e as vastidões do oceano”. Ou seja, a nossa vivência com Deus (Pai e Mãe de toda criação), deve ser uma experiência agradável e relevante na nossa caminhada (deve nos fazer humanos melhores), em favor da justiça e da dignidade humana.

Assim, a religião terá um significado muito maior na sociedade que vá além do entendimento da alienação e dominação dos seus fiéis. Mas, uma comunidade de humanos em constantes metamorfoses que vivem a vida na dimensão da partilha, da esperança, da justiça, da misericórdia... Quero ressaltar que não acredito em hipótese alguma que os cristãos são melhores que outros e ou perfeitos... Muito pelo contrário, percebo em nós as limitações, as contradições, as mazelas... Porém, acredito que podemos e devemos dar uma contribuição muito maior a nossa nação no que diz respeito ao bem comum e ao sonho de juntos (homens e mulheres em sua diversidade), sentar a mesa da fraternidade (comendo e bebendo, sorrindo e celebrando a vida). Pois, como diria Mahatma Gandhi: “Templos, mesquitas ou igrejas: não faço distinção entre essas diversas casas de Deus... São uma resposta ao anseio do homem para chegar de alguma maneira ao Invisível”.

ORAÇÃO:

Senhor que eu possa te conhecer a cada manhã, que tua graça me traga vida, que teu amor me renove, que tuas mãos me protejam, que tua vontade seja estabelecida, que eu tenha alegria em ir a tua casa e que meu caminho seja de vida e de libertação, para mim e para o outro. AMÉM!

Fraternalmente, Rev. Cláudio Márcio

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

IGREJA: CASA FRATERNA!




Que estou fazendo se sou cristão?(João Dias)



Venho pensando nestes dias no que a Igreja tem se transformado, pois, parece que a finalidade destes espaços eclesiásticos foi esquecida historicamente por interesses de poder que inevitavelmente geram opressão e marginalização do humano.


No livro de Atos 2.42-47 o texto fala de um modelo de comunidade que em nossos dias nos desafia e nos faz ver que temos caminhado muitas vezes equivocadamente. O texto fala de ensino, oração, partilha do pão, alegria, sinais... Porém, sem radicalismo nenhum, o que tenho percebido é que a IGREJA de uma forma geral se transformou em um circo (sem ofender aos palhaços), um comércio (o mercado da fé), um palco onde existe uma espiritualidade de fachada, uma arrogância sem tamanho dos evangélicos que se acham detentores do sagrado, pastores que brigam por cargo e status, ministérios de louvor que nada criam só copiam, uma alienação política com nossa omissão perante o engajamento em favor da vida e do bem comum. Como superar esses desafios?


Acredito que DEUS nos chama para um momento novo, um tempo de paz e de libertação, um tempo de engajamento e ou participação social muito mais efetiva, na transformação e manutenção da vida em todas as suas dimensões. Um tempo de espiritualidade profunda que não se limita a orações e leituras bíblicas, mas um tempo de resgate da figura profética de denúncia a toda injustiça. Enfim, um tempo em que seremos capazes de superar nossos limites e diferenças e sentar-se a mesa da fraternidade para dialogar e para celebrar a vida, para agradecer mais do que pedir. É tempo de maturidade e de fidelidade a quem tem nos chamado para o serviço e para a dignidade, para cuidar de crianças e dos mais vividos. É tempo de pão e de terra para todos (as).


A Igreja precisa ser um espaço de comunhão e de justiça. Precisa ser a casa de DEUS.


Fraternalmente, Rev. Cláudio Márcio