“Agradecemos a nosso Deus e Pai, que dia após dia nos permite tomar consciência mais profunda das dimensões da luta que ora se trava em nossa Pátria. Que ele mesmo nos prepare para o exercício do testemunho cristão neste momento decisivo de nossa história”. (Waldo César /Secretário Executivo do Setor de Responsabilidade Social da Igreja na Conferência do Nordeste).
Após assistir ao filme o AGENTE DA GRAÇA, que sinaliza um momento da vida de Dietrich Bonhoeffer, meu ser encheu-se de questões, um misto de vontade de chorar, de agradecer por esse referencial tão significativo para a vida da Igreja e, inevitavelmente um pouco de crise. Ou seja, sou cristão de verdade? Talvez essa seja a pergunta que mais tenha invadido minha existência nos últimos anos.
Desta maneira, a vida de Bonhoeffer é um desafio em nosso tempo onde parece que as pessoas preferem a “graça barata” em detrimento da “graça preciosa”. Isto é, seguir ao Cristo é assumir o “discipulado” que exige da comunidade uma “vida em comunhão”. Logo, penso que é não só importante, mas, necessário o ato de rememorar o que nos traz esperança e ou desafios à nossa existência e, por isso, Bonhoeffer torna-se símbolo de fé reflexiva, de fé comprometida, de fé que dá sentido a existência.
Daí, após leituras de Leonardo Boff e Gustavo Gutierrez, sinto profundamente a necessidade de outra teologia que fale de salvação-libertação ao humano em suas relações sociais e que a vida seja celebrada em cada praça e ou esquina. A leitura dos clássicos das ciências sociais (Émile Durkheim; Max Weber e Karl Marx) que analisaram as relações sociais de maneira distinta também vem ajudando na percepção de que a sociedade deve ser pensada em sua complexidade, nos mais diversos ângulos e horizontes. Isto é, em Emile Durkheim (o fundamental é a sociedade e a integração harmoniosa dos indivíduos), já Max Weber (os indivíduos e suas ações sociais são os elementos constitutivos da sociedade) e por fim Karl Marx (o foco recai sobre os indivíduos inseridos nas classes sociais). Assim, apesar de conceberem a sociologia por enfoques diferentes, todos buscaram explicar o processo de constituição da sociedade e as maneiras como os indivíduos se relacionam com o outro e com o mundo.
Neste sentido, indivíduo e sociedade são analisados como elementos constituintes de um processo histórico social em que para alguns intelectuais das Ciências Sociais, importam conhecer as rupturas e ou transformações e, para outros, bastam perceber as estruturas e ou permanências. Todavia, sabe-se que a realidade e o humano são mais complexos do que uma visão dicotômica deste processo. Ou seja, há também estudiosos que percebem, aceitam e problematizam a possibilidade de interlocução destes mundos aparentemente separados, em um processo dialético de poder e resistência.
Assim, após leituras e vivência com o reverendo João Dias de Araújo fico a me perguntar: sou cristão? Ou seja, será que ser cristão não ultrapassa cumprir ritos? Não ultrapassa freqüentar uma igreja? Não ultrapassa ler a bíblia e cantar? Bem, apesar de minhas limitações e contradições, penso que sim, sou cristão! Contudo, sei que tipo de cristão eu não quero ser, uma vez que acredito, defendo e me identifico com uma teologia que estabeleça diálogo com minha cultura que passa pela dimensão do singular e do plural. Logo, sou convidado pelo Evangelho da vida a ser luz no mundo e sal da terra. Sou chamado à cruz...
Ora, que relação é essa que estabeleço com a cruz? Até onde carrego a minha? Quero poder celebrar a vida com meus irmãos e irmãs, para além dos laços sanguíneos e ou identificação religiosa; quero partir o pão na mesa e sorrir; quero ser grato pelas bênçãos não só que recebo, mas, a que posso ser na vida do outro... Entretanto, sei que historicamente o pão, a liberdade e a cidadania foram e ainda são negados aos meus irmãos e irmãs. Daí, o que significa ser cristão neste contexto?
Acredito que é chegado o momento de ser menos religioso e mais comprometido com a vida. Pois, é também no humano que o sagrado se manifesta e, é a partir de um novo olhar para nós e para o outro que será estabelecido um novo construto social. Daí chega de tanta imaturidade e ou alienação... Peço encarecidamente que você, o qual vive e pensa a fé em um processo de amadurecimento que se revela nos diversos espaços onde os papeis sociais são vivenciados... não tenha vergonha de ser um cristão diferente...posicione-se! Não se omita! Vamos juntos fazer eco as vozes que já antes de nós não só confessaram sua fé em Jesus de Nazaré com os lábios, mas, sobretudo com a vida.
O Criador nos chama para um momento novo! Tempo de reassumir o compromisso com o Reino e a cruz. Que seu Espírito nos acompanhe no caminhar. AMÉM!
Forte Abraço
Cláudio Márcio