Por: João Dias
de Araújo[1]
Sem
fim[2]
O pássaro canta de
noite e de dia, de dia e de noite:
“sem. fim.” “Sem... fim.”
“Sem. fim.”
Os retirantes passam
cansados, famintos e doentes.
E, a cada piada do
pássaro, eles interpretam:
Miséria sem fim!
Fome sem fim!
Sede sem fim!
Doença sem fim!
Estrada sem fim!
Cansaço sem fim!
Ingratidão sem fim!
Vida sem fim!
Morte sem fim!
Parece que nada vai ter
fim,
Nem mesmo o próprio
fim...
Mas o fim há de chegar!
O fim da miséria,
Da fome, da sede,
Da doença, da estrada,
Do cansaço, da
ingratidão,
Da vida e da morte...
Oh! O fim!
Mas, o pássaro
teimosamente continua
Cantando: “Sem... fim.”
“ Sem...fim.”
Ó pássaro, não
profetize!
OBS:
Informações contidas no
livro:
RENDERS,
Helmut. SOUZA, José Carlos Dias. CUNHA, Magali de Nascimento (Orgs) As Igrejas e as mudanças sociais: 50 anos da
Conferência do Nordeste, São Paulo: ASTE, 2012.
[1]
Originalmente publicado na
Revista Cruz de Malta, p.26-27 (set.\ out. 1962). Os editores da revista
apresentaram o autor com as seguintes palavras aos leitores e às suas leitoras:
“CATEDRÁTICO do Seminário Presbiteriano do Norte, em Recife, João Dias de
Araújo representa uma das promessas da nova geração de ministros evangélicos
brasileiros. Sua cultura bíblica é invejável, sua identificação com a realidade
brasileira demonstra-se nestas páginas, que falam da crise nordestina. É com
justo orgulho que o apresentamos à ‘nossa família’ de leitores”.
[2] O “Sem-fim”, também conhecido como Saci, é um
pássaro que vive em áreas abertas com árvores esparsas. Ele é encontrado em
todo território brasileiro.