Por: Cláudio Márcio[1]
Ah, Tupã. Criador de toda natureza. Tua presença é
percebida nos rios, nos animais, nas plantas e nas flores. Os indígenas não são
a coroa da criação como anunciam os cristãos. São parte integral desta
totalidade da Pachamama. Humano, natureza e cultura são um.
Ah, Tupã. Pediram
que os povos indígenas fechassem os olhos e lhes entregaram um livro sagrado. Ledo engano, tomaram suas
terras, suas riquezas. Se não fosse o suficiente, Tupã, escravizaram nossos povos e trouxeram doenças
exterminando milhares de filhos originários desta terra chamada Brasil. Quero
aprender a cada dia como viver coletivamente, como amar a natureza e enfim,
como resistir sem me corromper.
Sim, Tupã. Resistimos! Lembramos de tua força e recriamos
a jornada. Nossos problemas não são contigo. Nosso problema é com a garantia
dos direitos. Somos donos desta terra! Nos tratam de maneira “folclorizada”.
Não valorizam nossos saberes. Querem nos objetificar. Ciência e religião são
campos de poder que nos manipularam. Ora foram os missionários, ora os antropólogos…
Tupã, somos atores sociais. Queremos lutar “com nossas
armas”, todavia, eles, são covardes. Tivemos que nos render a seu processo civilizatório
como único e ou melhor possível!? Nosso
sangue se misturou com a terra, somos um.
Tupã, peço-te desculpa pelos meus erros de omissão na
luta da terra no século XXI. Pelos meus ancestrais que feriram teu corpo. Eu
falo do Cristo e pouco o conheço, todavia, sua prática revela que você é mais
“cristão” que eu. Que a cada dia minha oração seja antropofágica para que eu
possa alimentar meu espírito com a coragem dos teus filhos que deram a vida em
favor de muitos.