Por: Diogo Valença
( Professor de Sociologia do CAHL\UFRB)
"Minha filha gosta daquele filme infantil, ou infanto-juvenil, Frozen. Há duas personagens nele, Ana e Elsa, uma loira e outra ruiva, com cabelos longos e tranças. As coleguinhas de uma escolinha de bairro, com cabelos longos e ondulados, diziam ser uma das duas. Minha menina estava começando a ficar desgostosa com o próprio cabelo, que é cheio e cacheado. Ela gosta muito de uva, daí pensei e passei a mão na cabecinha dela, dizendo que o cabelinho dela era de cachinhos de uva, que ela era especial porque ninguém tinha o cabelo assim. Agora ela anda dizendo que é um princesa e que tem cachinhos de uva, passando a mãozinha no cabelo. Tive que encontrar uma forma singela de lidar com a imagem negativa de si mesma que as meninas negras passam a sofrer, logo cedo. Toda mulher negra, em um momento da vida, com cabelo crespo ou não, vai ter problemas na identidade com seu próprio cabelo e isso começa cedo. As crianças são muito inteligentes e têm muita sensibilidade para captar os índices de status valorizados pelos adultos, nos comentários do dia a dia na família e na escola. Então a criança negra pode ficar desamparada nesse mundo, alimentando uma imagem invertida de si mesma. Quantas cachinhos de uva lindas, com cabelo crespo, cacheado ou encaracolado, sofrem intimamente na escola? Nossa deseducação racista é muito sutil e nessas pequenas coisas devemos ser sensíveis e estar atentos".
OBS: Reflexão feita por um pai-professor-sociólogo (no facebook) com um misto de denúncia contra o racismo e leveza pedagógica, pois, trata-se da perspectiva de empoderamento e ou resistência na socialização de crianças negras.
Há braços
Cláudio Márcio
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