quarta-feira, 27 de julho de 2016

ESPIRITUALIDADE DA PARTILHA...

Por: Cláudio Márcio

Estes dias, em nossa comunidade de fé, na Igreja Presbiteriana Unida de Muritiba, ocorreu o nosso bazar solidário. Peço humildemente que não limite nossa experiência a simplificações discursivas mediante a uma visão dicotômica da realidade. Isso porque se por um lado podem surgir as críticas ao mero assistencialismo, como se nossa vivência fosse simplesmente um paliativo que tenta mascarar as desigualdades sociais com a mesma “bondade” das damas de caridade, por outro sabemos que existe a crença na culpabilização do indivíduo, ressaltando então a ausência de vontade e determinação de alguns sujeitos sociais para a superação da pobreza.
Na realidade, o hino do saudoso reverendo João Dias de Araújo ainda provoca nosso sono… “O que estou fazendo se sou cristão?” Bem, partimos de uma leitura da bíblia que nossa fé precisa se tornar prática, assim sendo, cada um(a) movido(a) por uma espiritualidade solidária, isto é, da partilha, se articulou com o intuito de oferecer a algumas pessoas ( ainda que por um momento), como diria a canção do Criolo, "um gole de vida".É preciso salientar que muitas mãos se juntaram e, as mãos que juntas fazem preces, também acolhem com abraço, roupa e um tanto de comida. Suspeito que a experiência da alteridade seja melhor para nós da IPU do que para essas pessoas que nos visitaram, uma vez que, a oração de São Francisco já abordava: “ é dando que se recebe”.
Nosso encontro no templo foi marcado por músicas, risos, esperanças e utopias. Vi beleza nos olhares que em detrimento da dureza da vida, insistem em recriar suas jornadas com estratégias múltiplas. Como propõe o reggae cantado por Nengo Vieira “ na luz do Senhor que alivia dor que é forte demais\ mas a pureza e a beleza do seu coração\ é mais que tudo que qualquer dinheiro da grande nação”.
Não poderia deixar de mencionar que em 10 anos exercendo o ofício de reverendo desta comunidade, a presença de um cachorro no culto acompanhando seus donos me despertou reflexões, pois, era para ser mais comum, não? Ora, se em nosso modelo de sociedade o cachorro é um "membro da família", ele não precisaria ser estranho na igreja.
 Na verdade, fomos acolhidos por uma"humanidade"diferente do nosso paradigma institucional com seus"passos litúrgicos".
De todo modo, desejo honestamente que os cachorros não sejam somente "aceitos" nas igrejas quando “deixarem o testamento da cachorra”, como brinca, provoca e ironiza Ariano Suassuna em o Auto da Compadecida, o apego ao dinheiro de líderes religiosos que são capazes de realizar o “sepultamento da cachorra em LATINDO”.
Sonho com o dia em que tenhamos mais cachorros nas igrejas fazendo as crianças sorrirem e menos “cachorros” nos púlpitos fazendo toda comunidade chorar.