Por: Cláudio Márcio
Estes dias, em nossa comunidade de fé, na Igreja
Presbiteriana Unida de Muritiba, ocorreu o nosso bazar solidário. Peço
humildemente que não limite nossa experiência a simplificações discursivas
mediante a uma visão dicotômica da realidade. Isso porque se por um lado podem
surgir as críticas ao mero assistencialismo, como se nossa vivência fosse simplesmente
um paliativo que tenta mascarar as desigualdades sociais com a mesma “bondade”
das damas de caridade, por outro sabemos que existe a crença na culpabilização
do indivíduo, ressaltando então a ausência de vontade e determinação de alguns
sujeitos sociais para a superação da pobreza.
Na realidade, o hino do saudoso reverendo João Dias
de Araújo ainda provoca nosso sono… “O que estou fazendo se sou cristão?” Bem,
partimos de uma leitura da bíblia que nossa fé precisa se tornar prática, assim
sendo, cada um(a) movido(a) por uma espiritualidade solidária, isto é, da
partilha, se articulou com o intuito de oferecer a algumas pessoas ( ainda que
por um momento), como diria a canção do Criolo, "um gole de vida".É
preciso salientar que muitas mãos se juntaram e, as mãos que juntas fazem
preces, também acolhem com abraço, roupa e um tanto de comida. Suspeito que a
experiência da alteridade seja melhor para nós da IPU do que para essas pessoas
que nos visitaram, uma vez que, a oração de São Francisco já abordava: “ é
dando que se recebe”.
Nosso encontro no templo foi marcado por músicas,
risos, esperanças e utopias. Vi beleza nos olhares que em detrimento da dureza
da vida, insistem em recriar suas jornadas com estratégias múltiplas. Como
propõe o reggae cantado por Nengo Vieira “ na luz do Senhor que alivia dor que é
forte demais\ mas a pureza e a beleza do seu coração\ é mais que tudo que
qualquer dinheiro da grande nação”.
Não poderia deixar de mencionar que em 10 anos
exercendo o ofício de reverendo desta comunidade, a presença de um cachorro no
culto acompanhando seus donos me despertou reflexões, pois, era para ser mais
comum, não? Ora, se em nosso modelo de sociedade o cachorro é um "membro
da família", ele não precisaria ser estranho na igreja.
Na verdade, fomos acolhidos por
uma"humanidade"diferente do nosso paradigma institucional com
seus"passos litúrgicos".
De todo modo, desejo honestamente que os cachorros
não sejam somente "aceitos" nas igrejas quando “deixarem o testamento
da cachorra”, como brinca, provoca e ironiza Ariano Suassuna em o Auto da Compadecida,
o apego ao dinheiro de líderes religiosos que são capazes de realizar o
“sepultamento da cachorra em LATINDO”.
Sonho com o dia em que tenhamos mais cachorros nas
igrejas fazendo as crianças sorrirem e menos “cachorros” nos púlpitos fazendo
toda comunidade chorar.