sábado, 29 de junho de 2013

ESCREVER TAMBÉM É RESISTIR!


           Tenho tentado escrever-refletir menos sobre a temática de uma suposta diversidade religiosa que, a meu ver, exige um processo de sentar-se à mesa cotidianamente para conversar. No entanto, percebo o quanto ainda carecemos de um amadurecimento maior e, necessariamente desejar (ou pelo menos se permitir) ouvir o que os outr@s tem a dizer.
            Assim, pensando com Paulo Freire, percebo que não fomos educados para a diversidade, para o questionamento, para a dúvida, para autonomização dos sujeitos históricos. Há uma herança, sobretudo nos setores religiosos, de um paradigma de ensino autoritário, hegemônico e homogêneo.
            Bem, a educação neste sentido pode se aproximar do que Pierre Bourdieu apontou como o locus da reprodução das desigualdades sociais. Sim! É com bastante tristeza que escrevo este texto, pois, penso que o modelo de Paulo Freire de uma prática pedagógica que valoriza os saberes de forma recíproca faria melhor às comunidades eclesiásticas. Ou seja, como aponta o sociólogo Danilo Miranda, por uma educação informal, contínua-permanente.
            Penso que aqui algumas pessoas se sentirão ofendidas, mas, cabe a mim, a reflexão, a provocação, o embate neste campo de disputa que é a religião. Logo, concordo com João Alexandre em uma de suas canções: "é proibido pensar!" Sabe de uma coisa, cansei! Para mim a religião não é (só) ópio! Contudo, confesso: tenho vergonha de ser evangélico! Líderes arrogantes e mesquinhos, extremamente gananciosos e manipuladores, para mim, vocês são o demônio.
            Sei de minhas limitações e contradições, não sou santo (Deus me livre!). Sou um humano se conhecendo, se perdendo no caminho da existência... Sou-estou. Agora, desejando a mesa do diálogo não para estabelecer um monólogo e ou evangelizar, mas sento à mesa para ser evangelizado e humanizado por outras experiências que promovem beleza-encantamento.
            Tenho dito e reafirmo: meu problema não é com o camarada Jesus de Nazaré, mas, com alguns que se dizem seus representantes. Assim, deixo o meu protesto com os espaços religiosos que pensam que se "apossaram do sagrado"... E, parafraseando Rubem Alves, pensam que possuem um pássaro encantado, mas, não perceberam que carregam um empalhado.
Por: Cláudio Márcio

sexta-feira, 21 de junho de 2013

O CAFÉ NOSSO DE CADA DIA...


            Na caminhada pastoral, assim como na vida, há contextos de encantamento-desencantamento comum ao locus existencial de cada dia. Penso que os desencantos já estão bem sinalizados em meus textos e, honestamente confesso que uma dimensão parcialmente profética, não diz respeito a ser do grupo do contra, mas, em amar o projeto do governo de Deus revelado em Jesus de Nazaré.
            Neste sentido, o texto apresenta aspectos e múltiplos sentidos sobre o café junino que nossa comunidade (IPU em Muritiba-Ba), tem realizado já alguns anos. Pensamos ser importante este diálogo com essas brasilidades que se representam na comida, na dança, na religiosidade, no que sociologicamente chamamos de ethos de um grupo. Isso mesmo! Pensamos! Essa é uma das características do ethos da IPU (que ora é valorizado, ora precisa ser redescoberto).
            Desta forma, o nosso café para além dos sabores típicos da culinária, tinha sabor de vida, de celebração, de encantamento, de leveza... O riso que historicamente sofreu transformações (já foi caracterizado como algo diabólico e por isso mesmo em oposição ao divino que era limitado a Igreja) estava no semblante de cada irmão e irmã.
            Um misto de ordem-caos com o movimento das pessoas fazendo os pratos e sentando à mesa. Crianças faziam um bendito barulho e, só quem tem uma criança na família com dificuldades motoras (nossa pequena Clarice, sobrinha de Jussi) pode entender (com maior facilidade) o que significa "bendito barulho de crianças".
            Sim, nosso templo se transforma completamente, nossos visitantes são acolhidos por nossas mãos (que de vez em quando, também é mão de Deus), mas, para mim particularmente, a mão de Deus também chega através dos visitantes independente de sua filiação ou não a um grupo religioso.
            Neste sentido, a mão e a voz de Deus estavam em nosso café também no momento em que o poeta, amigo-irmão Evandro Mota de nossa cidade (cristão católico) como um sabor delicioso de mingau de milho (de nossa irmã Zélia) recitou poesias! A comunidade reafirmou a vida que com força tem brotado em nosso meio.
            Ao cantarmos Asa Branca (do nosso rei do baião), o camarada Marcos Monteiro contou “causos” do seu novo livro (Vila Maravila II) com esse complexo de espiritualidade, política, futebol e vida, fomos abençoados, desafiados a continuar pensando-mudando nossa jornada. Novamente a vida brota e renova a existência.
            A vida também foi celebrada quando ocorreu o mutirão para arrumar e desarrumar a igreja, pois para mim, se confirmou que não é algo e ou um desejo exatamente meu, pois, nossa comunidade acredita ser de extrema relevância o nosso café junino.
            Não aponto como padrão ou estratégia de evangelismo, apenas relato a nossa experiência que evidentemente é importante para nós. Aliás, já tenho bastantes problemas com os modelos de evangelização... Penso, que muitas vezes, nós é que precisamos aprender de Jesus de Nazaré com aqueles e aquelas que insistentemente afirmamos não conhecerem o filho de Deus.
            Bem, esse não é o caso agora, é que me parece irresistível provocar meus leitores, pois, de algum modo para refletir, se animar ou criticar, você se interessa com o que penso, não?
            Assim sendo, defendo que nossa bíblia deve dialogar com o nosso chão e, esse desafio não é (foi) só meu. Entretanto, aqui no Recôncavo baiano, tenho visto manifestações do Espírito em espaços onde a vida, o corpo, a justiça, a brincadeira é a lei. Ou seja, falo do samba de roda, da capoeira, do reggae... Nesses espaços, meu camarada Jesus de Nazaré costuma passar para visitar, brincar, cantar, comer, sorrir. Daí, o meu desejo de que a comunidade IPU em Mutitiba-BA (se assim o quiser) veja um pouco com meus olhos, pois, ultimamente, em conversa com esse mesmo camarada, ouvir suas queixas dizendo:
"- Ô Cacau, é impressão minha ou vocês aqui na igreja são de um jeito e no cotidiano de outro?"
Eu, meio que sem graça, perguntei: como assim? Ele disse:
“- Oxe, não está vendo não? A vida de vocês é tão animada, participam de tantas atividades, visitam tantos bares, shoppings, cinemas, festas e fazem do meu culto algo próximo de um funeral! Oxe vai ter que ser café junino o ano toda agora é? Marminino!"
            Fiquei pensando no papo de meu camarada e, mesmo pensando nos desafios de construir na igreja um espaço também de lazer, de leveza (já que a vida é muito dura), sorrir, um pouco, pois, sei que Ele curtiu nosso café... Não é possível que aquele riso nos lábios, aquele prato na mão com bolo e canjica, o amendoim que O escutei falando com irmã Maria (agente come um atrás do outro...), que ao cantar parecendo que era a última música de um show de forró e, quando o rei do baião foi rememorado, os olhos encheram d'água, não sejam demonstrações de satisfação.
            De qualquer jeito, sou grato por tod@s que possibilitaram o nosso café junino e, assim como um gole de licor que ora queima, ora alegra, nos sentamos à mesa para contar “causos” dos outros que me parecem bem familiares.

Por: Cláudio Márcio

 

terça-feira, 18 de junho de 2013

UM RETALHO NO RECÔNCAVO BAIANO...


O desejo de tecer algumas palavras, que simbolicamente podem representar essa colcha de retalhos que é a vida, apresenta-se com bastante intensidade. Falo do "retalho" do café junino que ocorreu este final de semana (16/06/13) em nossa comunidade (IPU), mas, diante das mobilizações que estão acontecendo em nossa nação e, tentando oferecer um ponto de vista para discussão com o meu camarada Rev. Hênio que solicita minha opinião sobre esta temática olharei para esse outro "retalho" e abordarei sobre o café junino no próximo texto, beleza? Eis os questionamentos do Hênio que me foram postos:
“Minhas perguntas são as seguintes (e pergunto sinceramente): a) não obstante ache que esse movimento possa desembocar sim em coisas promissoras e propositivas para a população, como isso se relaciona com o fato de que as mesmas pessoas que hoje protestam são aquelas que elegeram os políticos que hoje criticam? b) Que se pode esperar, na visão de vocês, em termos de "reflexos" nas próximas eleições? c) a relação dedálica entre política (s) e violência (s) em prol de novas políticas”.       
         Assim sendo, entendo, mas, penso ser necessário problematizar a comum expressão: O BRASIL ACORDOU! E, aponto por que tal desconfiança. A) Em que medida as pessoas estão dormindo e ou acomodadas? Nossas relações sociais ainda que de forma "micro" não são de contra hegemonia e ou contra poder? B) Reflito a história de forma processual. Isso é, há um jogo de mudanças-permanências nesses processos. Acredito ser significativa a questão: o que muda-permanece? C) Por que exatamente agora (com maior projeção) ocorrem essas mobilizações? Quais as vozes colocadas nessa polifonia? Ou seja, há como identificar e ou potencializar as vozes de movimentos sociais; partidos políticos; grupos religiosos; ONGs... Há uma união momentânea em prol do que se entende como bem comum?
            Ora, abalizo apenas alguns fios diante de tantos retalhos que compõem essa complexidade de totalidade-conflituosa-integrada. Não posso e nem quero parecer fatalista e ou incrédulo. Evidente que tudo isso nos faz refletir e de diversas formas nos convoca a tomada de posição. De que lado estamos? Sei também que nessa tessitura da colcha de retalhos, alguns fios encontram outros fios diferentes, o que implica minimamente que as coisas não são necessariamente isso ou aquilo.
            Somos também movidos por sonhos, ideologias e um desejo profundo de experimentar dias melhores. Ainda com um pouco de desconfiança, me pergunto se essas ruas e praças cheias de vida, de símbolos nacionais, de brados de justiça e enfrentamento pacífico-democrático se alongarão até as urnas.
            Evidente que algo está sendo dito, apontado como fora do lugar, mas, em que medida essas pessoas que saíram do facebook para as ruas "maior arquibancada do Brasil" se mobilizariam pelos corpos negros sangrando no chão nosso de cada dia? Pensando com Edson Gomes (cantor de reggae aqui do Recôncavo baiano), há "tanta violência na cidade... brother é tanta criminalidade". Isto é, esse ponto representa mais um retalho.
            Como baiano e nordestino sou estigmatizado como preguiçoso, burro e possuidor de mão de obra barata diante, sobretudo do sul e sudeste da nação e, alguns podem pensar que essa questão não é bem vinda agora, mas, quem determina e ou legitima o momento. Não! Estou de olhos bem abertos e sei que quando esse movimento perder força, continuaremos aqui lutando debaixo do sol para sermos vistos também como possuidores de capacidade de reflexividade intelectual e mão de obra técnica-especializada. Sim, nosso berimbau e tambores continuarão como símbolo de resistência e celebração cotidianamente.
            Sei que é de extrema importância (também) simbólica esses enfrentamentos todos, mas, em que medida o país do futebol, da corrupção e impunidade, romperá com essas estruturas de morte e dominação de elites intelectuais e econômicas se não entendermos que quando falamos do país, falamos de nós mesmos. Ou seja, lembrando-se de Norbert Elias, ao se falar da relação entre indivíduo e sociedade em termos (eu /ela), deve ser substituído por (eu/nós).
            Defendo neste momento pensando com Marx que a tomada da consciência nos livrará da alienação e provocará a práxis. Assim, nós brasileiros, marcados por múltiplas identidades estamos mais conscientes ao tomarmos as ruas? Se sim, votaremos e fiscalizaremos (de perto) os nossos representantes, pois, tenho certeza que você (leitor) sabe em quem e por que votou nas últimas eleições, não?
            Por outro lado, "a revolução democrática do direito e da justiça só faz verdadeiramente sentido no âmbito de uma revolução mais ampla que inclua a democratização do Estado e da sociedade”. (BOAVENTURA, 2011, p.16).  Por isso acredito que tais manifestações fazem parte também de um Direito Achado na Rua, o qual legitima o pluralismo jurídico e abre o caminho para se discutir o direito não como algo pronto e acabado, mas sim como um processo, um vir-a-ser dialeticamente envolvido nos movimentos de libertação das classes e grupos explorados e oprimidos, os quais cotidianamente sobrevivem e lutam em meio à contradição social, mas que dela também colhem conquistas. Além do mais, parte-se da crença na consciência do povo e suas múltiplas estratégias de resistência frente à frustração perante a sociedade corrupta, injusta, desigual.
De resto, mas sem pretensões de encerrar o debate, urge considerar a articulação entre a mudança no cotidiano e a mudança global, as quais se fazem e refazem nas relações de poder e saber.  Assim, se é indispensável consciência coletiva para uma revolução, ou seja, para o extraordinário, uma nova ordem societária só será posta mediante as minúcias do fazer cotidiano, conquistadas mediante os direitos e a cidadania efetivos. Pois, utilizando-se do pensamento de Faleiros (2010), se por um lado apostar na mudança geral a partir das micromudanças é reduzir a política a uma visão reformista, por outro, considerar o dia-a-dia como mero efeito do sistema é reduzir a política a uma visão positivista, negando qualquer possibilidade da construção de uma democracia plena.

Por: Cláudio Márcio

 

 

segunda-feira, 17 de junho de 2013

EU: PASTOR-OVELHA, PROFESSOR-ESTUDANTE...


Ensinar

é um exercício

de imortalidade.

De alguma forma

continuamos a viver

naqueles cujos olhos

aprenderam a ver o mundo

pela magia da nossa palavra.

O professor, assim, não morre

jamais...  (Rubem Alves)

                                                                                 

            A nossa vida também é composta de escolhas, feitas no caminho, num misto de subjetividade-objetividade que me parece como discussão interessante quando que refletido sociologicamente na perspectiva indivíduo-sociedade. Daí, não só com os clássicos da sociologia (Durkheim, Marx e Weber), mas, com teóricos como: Bourdieu, Giddens, Elias...a reflexão sobre esta temática  ainda tem provocado nossa maneira de olhar para o mundo.
            Bem, diante dessas e outras leituras, experiências e troca de saberes, é que tenho olhado para a pequena e acolhedora comunidade da IPU (Muritiba-Ba), local onde pastoreio e simultaneamente sou pastoreado. Durante muito tempo andei (ando) me perguntando: o que é ser um pastor? Essa pergunta aparentemente "boba" muitas vezes me tirou o sono! Pois, penso que com alegria de ter sido escolhido para uma missão de pastorear, vez por outra, me dá a impressão que "caí na maior roubada".
            Não tenho vergonha e ou medo de assumir o que penso. Se a vida é feita de escolhas, tenho feito as minhas, com muita fé, crítica e risco. Uma dessas escolhas diz respeito à vinda para IPU. Aqui, não só pela pouca idade e pela novidade do ethos religioso (já que venho da igreja batista), optei por uma reciprocidade no ato de pastorear, de cuidar. Não gosto do locus de prestígio "elevado" que há na representação do líder religioso. Não estou com isso negando eficácias simbólicas, estou apenas questionando o uso que se faz de tais representações.
            Desta maneira, as militâncias da fé, do ecumenismo, do Pai-nosso e pão-nosso que não se separam provocaram em mim o desejo profundo de perceber a igreja como este lugar de possibilidades de transformação. Ora, a IPU tem me oferecido o sonho de fazer do espaço religioso um ambiente de reflexão sobre o mundo. A bíblia em diálogo com outros saberes. Evidente que as pessoas nem sempre gostam (aceitam) o que está sendo dito. Há também desconfianças e falas que apontam que tenho que ir com calma...
            Sabe o que me encanta neste sentido na IPU? Poder falar! Falar o que penso! E, de vez em quando, em nossa EBD, "o pau quebra". Sabe o que ainda gosto na IPU? As pessoas entenderam que estamos discutindo ideias, pontos de vista. Gosto quando se posicionam dizendo o porquê de concordarem ou não com o meu ponto de vista. Em nossa EBD, as vozes aparecem! Tem sido uma experiência deliciosa ter o argumento questionado, vez por outra, "quebrado" por essa comunidade. Depois, risos, abraços e a frase que tem se tornado comum: nossa EBD hoje foi massa!
            Tenho escolhido em diálogo de enfrentamento com estruturas que me cercam a celebração da vida. O sonho profundo de fazer do espaço religioso um espaço de maior leveza e encantamento. Assim, nossa EBD tem também oferecido diálogo com a MPB e poesia (ainda em processo iniciante).
            Caso alguns estejam "estranhando" a ênfase na EBD, é que diferentemente da Batista que participava (com destaque no culto noturno), aqui, a maior frequência pela manhã. Na IPU, vou aprendendo a ouvir, a cuidar, a abraçar e estender a mão... o que deixa em alguns a sensação que ainda não aprendi o que é ser pastor...símbolo de autoritarismo em muitos arraiais eclesiásticos espalhados em solo brasileiro, em que o pastor deve mostrar "quem manda".
            Acredito que a atividade pastoral está muito relacionada ao ato de educar. Logo, para mim, ser pastor de algum modo é ser também professor. Por isso mesmo, junto à bíblia, à abordagens teológicas, sociológicas e antropológicas, tenho dedicado um tempo para ler sobre educação (sobretudo neste momento: Paulo Freire e Rubem Alves). E, pensando com Paulo Freire, se a educação ocorre em um processo de comunhão e reciprocidade, de troca de saberes, penso o processo de pastorear pela mesma ótica.
Por: Cláudio Márcio

 

quinta-feira, 13 de junho de 2013

QUE EU POSSA VER...


Ao abrir os olhos mais uma manhã, um mundo de possibilidades aparece diante de mim, mas, vez por outra, não vejo de forma satisfatória para continuar caminhando (motivado-encantado) na jornada. Assim, vejo o que já sei e, não me permito ampliar o olhar experimentando a beleza da vida, da novidade. Sim, a vida também é bela. Isso não significa ser alienado diante de relações sociais hierárquicas e desiguais que oprimem tantos humanos em solo brasileiro. Contudo, seja na religião, no partido político, na ONG, na ciência, na natureza... Há possibilidade de encantar-se e reinventar-se criativamente e criticamente em favor da vida e do bem comum.
            Deste modo, onde e com que olhos eu vejo o mundo? É possível está olhando e não ver? Tenho a impressão que o nosso olhar está acostumado e que perdemos a curiosidade de saber, de conhecer. Nem queremos óculos novos, nem colírio... Será que precisaríamos perder a visão para enxergarmos melhor? Lembro ao escrever este pequeno texto do irmão Antista (em memória) da IPU em Muritiba, acredito que, mesmo deficiente visual, enxergava melhor do que muita gente. Sempre sorrindo, brincando e abençoando crianças menos favorecidas de nossa comunidade. O nosso irmão Antista como era conhecido, via sem poder ver.
            Ora, o discurso religioso pressupõe uma missão, uma visão, porém, o que salta aos olhos é uma prática hegemônica e excludente de grupos que se "apoderam" de representações do sagrado e, por isso mesmo, pensam que são donos de Deus.
            Acabo de ler o livro de Derval Dasílio sobre Jaime Wright: o pastor dos torturados. Das muitas impressões e desafios que este livro sinaliza, chamou minha atenção para a relevância de homens e mulheres que em instituições ecumênicas serviram a Deus de forma radical. Isto é, salgando-iluminando vidas que diante de estruturas de morte estavam sendo em nome da ordem, da construção da nação e de Deus, sendo moídas como a cana na máquina de moer, mas, onde estava a doçura neste contexto? Se for possível esta leitura, penso que elas estariam nos laços de companheirismo estabelecidos nos porões da ditadura militar. Sendo assim, homens e mulheres promoviam a justiça e o direito à vida de forma profética impulsionados por fé, por ideologias, por sonhos de uma nação mais igualitária nas relações sociais.
 Cabe apontar que não estou negando o campo religioso enquanto um campo de disputa, pois, seria muita inocência para um estudante de Ciências Sociais. Entretanto, interessa-me problematizar os esquemas e interesses que nos separam e, vez por outra, nos aproximam. Evidente que cada grupo social possui seu ethos, mas, isso nos impede de refazer o olhar em um exercício de alteridade que dignifica o humano. Sim, sei que cada palavra apontada aqui possui significados distintos para saberes específicos. Daí, a defesa de que os grupos religiosos precisam dialogar não só com outros grupos religiosos, mas, com outros saberes.
            De fato, o que vejo hoje é diferente do que um dia meus olhos contemplaram... Por que temos tanto medo de mudar? Penso que podemos-precisamos problematizar o que muda-permanece em nossas relações sociais, pois, não estamos soltos no mundo. Pensando com Norbert Elias, somos indivíduos-sociais. E, mudar os óculos e ou colocar colírio significa necessariamente perceber como estamos presos a essas redes invisíveis onde sofremos e exercemos poder. Ou seja, a religião seria uma rede diante de tantas redes que estão diante de nós...
            Confesso que a rede da religião (que é plural) tem desencantado bastante minha jornada, sobretudo quando percebo esquemas em busca de poder e prestígio em nome de Deus... Porém, tenho colocado meus olhos no sorriso de crianças, na luta de jovens, nos conselhos e mãos firmes das "velhinhas" da comunidade... Nossa EBD “sem” monopólio do discurso pastoral, nossas culturais onde a vida está sendo celebrada, temos "brincado" com Deus com cultos leves e refeições que fortalecem a comunhão... Confesso também que estas atividades e o sopro do Espirito têm me encantado, me enchendo de vida... Assim, desejo servir ao Criador cada vez mais. Não tenho medo de Deus, tenho consciência de um favor que eu não mereço. Logo, a graça do camarada de Nazaré é o bastante para mim.
Aqui, olhando com Deus no buraco da fechadura, com curiosidade de sociólogo em compreender-transformar-celebrar o mundo nosso de cada dia, pois, fé e razão me seguiram todos os dias da mina vida.
Por: Cláudio Márcio

terça-feira, 11 de junho de 2013

BÍBLIA NA MÃO, SAMBA DE RODA E OU REGGAE NO PÉ, CAPOEIRA E CELEBRAÇÃO DO CORPO...

Tenho me preocupado nestes dias com os paradoxos que encontramos na jornada eclesiástica no que diz respeito ao desejo de um crescimento e a linguagem que podemos-devemos utilizar para ser eficaz-profética e coerente. Neste sentido, a meu ver, deve-se preocupar no que e como é dito as coisas no púlpito (símbolo) nosso de cada dia.
Ora, partindo do pressuposto que a Igreja precisa estar no processo de se reformar cotidianamente, que bíblia e cultura têm que dialogar, que uma suposta dimensão mística do discurso não pode se afastar de uma práxis emancipatória dos indivíduos-sociais, ainda pergunto com o Rev. João Dias: que estou fazendo se sou cristão?
Pensando com Paulo Freire, em que a educação transformaria vidas através de uma conscientização e uma tomada de posição no que diz respeito a uma luta em favor da vida e contra os dominadores do saber, isto é, discordando de uma leitura contextual de Bourdieu que pensava a escola como o locus de reprodução da desigualdade social, pode-se então perceber o caráter emancipatório que há na educação, na troca de saberes. E, refletindo sobre a pedagogia de Jesus de Nazaré, é que me proponho, de forma sucinta,  problematizar alguns pontos.
            Para que e ou quem serve a Igreja? Por que insistir em um paradigma excludente e hierarquizado no discurso homogêneo dos púlpitos? Por que o demônio é sempre o outro? Quando nos emanciparemos de um Cristo europeu? Quando valorizaremos nosso chão e ritmos musicais? Quem disse que precisamos ser burros e ou alienados? Quando participaremos da vida política da cidade em prol do bem comum?
            Têm-se tantos modelos de homens e mulheres que celebraram a vida e partiram o pão nosso em cada esquina e ou praça da cidade... Então, se temos tais exemplos de comprometimento com a vida e a dignidade humana... Vamos nos calar? Vamos ser representados por esses (essas) que ocupam a mídia? Definitivamente, NÃO!
            Acredito-defendo uma comunidade acolhedora e dialógica. Acredito que a mão que levanta para adoração deve ser a mesma que estende ao necessitado no caminho. Acredito que a voz que ora deve ser a mesma que denuncia as estruturas de morte e dominação que estão em nossa volta. Sim! Acredito que o locus religioso pode-deve ser diferente, mais leve, com mais poesia, arte e literatura... Outras vozes devem conversar com os líderes e o púlpito precisa ser plural. CHEGA DESSA SOBERANIA PASTORAL!
            Seria a Igreja só um instrumento de inculcação de valores dos mais velhos para os mais jovens como fala Durkheim sobre a educação? Seria apenas o espaço da docilidade do corpo? Da castração do prazer? Da hegemonia? Do ópio? Para mim, não! A religião é e ou pode ser tudo isso, mas, não é só isso! O contrário de todas essas questões também é possível! Mas, penso que também não seria só isso!
            Onde quero enfim chegar? É o que você (leitor) pode perguntar... Eu te respondo honestamente que não sei. Contudo, sigo meu caminho tentando recriar-me em diálogo com o mundo, com a bíblia, com outras vozes que são também necessárias para dar sentido e ou respostas aos indivíduos-sociais. Aqui em Muritiba-Ba, acredito que o samba de roda e o reggae, assim como a capoeira devem ser observados com mais respeito e carinho pelos protestantes históricos que buscam ferramentas criativas para comunicar o Reino de Deus que emancipa e faz bem ao humano.
            O camarada de Nazaré não se limitou ao templo e sinagoga, ao contrário, utilizou uma pedagogia de ensino nos montes e barcos, uma pedagogia que tocava feridos que eram marginalizados por lógicas político-religiosas opressoras, que ouvia mulheres que não faziam parte da agenda política, que comia e bebia com os considerados pecadores... Esse é o meu maior paradigma! Mas, há tantos outros eficazes na jornada, não?
            Evidente que a tomada de posição não é tão simples assim no sentido de ser isso ou aquilo. Entretanto, poderia perguntar: qual o lado que você vive com maior intensidade? O que gera vida ou morte? A quem você serve? Por que e ou quanto?
            Que nossa escolha quase sempre seja a vida, nosso bem maior, não? Outr@s também não precisam ter a garantia deste direito que historicamente foi negado? Acredito que sim!
Por: Cláudio Márcio



segunda-feira, 3 de junho de 2013

UMA SÍNTESE-MEMORIAL...

Durante o mês de maio em nossa comunidade (IPU em Muritiba-Ba), ocorreram atividades bastante significativas onde fomos desafiados ao processo de experimentar e ou redescobrir o sabor da graça do camarada Jesus de Nazaré. Deste modo, num exercício de síntese e simultaneamente construto de memória, é que essa reflexão se propõe.
A presença de Paulo Roberto [1] (amigo-camarada) foi um desafio muito grande, pois, ao refletir sobre a pastoral da juventude (PJ), colocou a participação dos jovens enquanto militantes do Reino de Deus de forma crítica-engajada para construir relações sociais mais igualitárias. Assim, a igreja precisa se refazer criativamente para comunicar o evangelho libertador-acolhedor. Ou seja, precisa dialogar para avançar.
O pastor Thiago Dantas [2] (amigo do seminário), nos fez pensar na família e no cuidado cotidianamente que cada membro deve ter para um bem comum. Daí, podemos-devemos responder o amor de Deus com compromisso, mediante a proposta do Reino de Deus. Isto é, a questão não é (somente) pensar a ação de Deus para com os humanos, mas, como os humanos responderão a bondade do Criador. Que daremos ao Senhor por tanta ternura e abraço acolhedor?
Como se esquecer da cultural na casa de dona Solange[3]? Nossa comunidade e amigos em celebração da vida! Muitas músicas, risos, comida e leveza que nos humanizam mais. MPB, oração, dança e alegria... Vamos marcar outro momento desses, pois, acreditamos que a igreja também precisa ser um espaço de prazer, de encantamento. Daí, lazer e ou entretenimento não estão afastados da espiritualidade.
            No encerramento do mês da família, Ian e Cezinha [4] fizeram um som maravilhoso em nossa EBD (Escola Bíblica Dominical), sentimos Deus curtindo o som e não poderíamos “deixá-Lo” sozinho. Fomos parceiros de Deus e celebramos com muita alegria... Assim, nossa liturgia dialogou com a MPB e, fomos para casa cheios de vida e sorridentes dizendo: que manhã gostosa!
            Evidente, não posso deixar de agradecer a Deus (Pai-Mãe), pelo aniversário de um aninho da pequena Clarice[5], pois, com todos problemas que encontramos no caminho, temos percebido o quanto o amor é capaz de nos encantar e motivar para a vida! Bendito é Teu nome Senhor pela vida de nossa pequenina! Sou grato também por ter feito sete anos de casado. Grato Senhor por essa esposa-parceira que me enche de vida...
            Aqui, arbitrariamente construindo a memória... Outras vozes podem-devem aparecer para dialogar-criticar...
Há braços
Cláudio Márcio





[1] Estudante de Ciências Sociais da UFRB.
[2] Formado em Teologia pelo STBNe.
[3] Presbítera da Ipu-Muritiba.
[4] Estudantes da UFRB. O primeiro de História e o segundo de Ciências Sociais.
[5] Filha de Val e Barreto que nasceu com alguns problemas de saúde.