terça-feira, 20 de novembro de 2018

Pedido de Perdão aos Negros do Brasil



Mesmo a mais tendenciosa História não pode escapar de ver a realidade em que vieram, viveram e vivem hoje no Brasil milhões de afro-descendentes, nossos irmãos negros e nossas irmãs negras. É inegável que houve participação das Igrejas históricas na luta pela abolição, pela igualdade e oportunidade de todos os negros e negras de nosso país. Todavia, foram atitudes pontuais, sem a força do comprometimento, sem arriscar de fato e de verdade a própria pele, como nos manda o Senhor da Igreja quando nos fala dos seus pequeninos, isto é, de todos os injustiçados, discriminados e relegados à miséria, doenças e morte.

A concepção ocidental da superioridade branca não é só risível, é criminosa. Alimentou e alimenta a escravidão e tinha o direito sobre a vida e a morte dos escravos, como ocorre na escravidão contemporânea, camuflada nos empregos domésticos sem a carteira assinada, com valores abaixo do salário mínimo; como ocorre em grande parte na prestação de serviços, no uso de mão-de-obra não especializada no campo e na cidade. Isso todo mundo está cansado de ver por meio da imprensa comprometida com a Justiça e a Paz decorrente.

A concepção da Igreja como Corpo de Cristo nos é muito útil agora. Se um membro sofre, todos sofrem com ele. Se um membro é honrado, todos se alegram com ele. Mas existem patologias estranhas: alguém que fere o seu próprio corpo, como se rejeitasse sua mão, seu pé, seu ouvido. Patologias religiosas. Patologias espirituais. A Igreja de Cristo, desde os tempos apostólicos, sabe da dignidade do outro em sua plenitude. Sabe que Jesus Cristo conquistou essa dignidade por meio da cruz. Sabe que, sem a cruz, sua religião é falsa, diabólica e destina-se ao inferno. Assim, como Corpo de Cristo, a Igreja antiga e contemporânea reconhece, se é fiel e sensata, a sua participação direta e indireta na alienação, discriminação e obstáculo para todos os que trazem na pele uma cor diferente da branca.

Como CORPO DE CRISTO todos participamos do bem ou do mal praticado contra estes irmãos e estas irmãs. Quando não fomos os algozes diretos, não nos importamos que outros o fossem. Quando víamos e sabíamos, nos calamos. Quando gritavam, fechamos os ouvidos. Quando apelavam às leis, encontramos os melhores advogados, cujos custos eram e são muito superiores à prática da Justiça.

Sim, como CORPO DE CRISTO, nós também discriminamos na discriminação ignorante, na interpretação tendenciosa, na leitura de uma só ótica. Como pessoas e cidadãos, não temos oferecido o que manda o Senhor oferecer ao nosso próximo que foi derrubado pela maldade humana: azeite para as suas feridas, apoio para sua caminhada, abrigo para as suas tempestades, disponibilidade e generosidade para as suas necessidades presentes e futuras. O Senhor grita aos nossos ouvidos: “Vão e façam o mesmo”. E também: “Peçam perdão para poderem orar como lhes ensinei”.

Assim, em nome da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil – IPU, pedimos perdão a vocês, irmãos e irmãs afro-descendentes de nosso país, pelos males bem identificados, geralmente arrolados sob o nome de discriminação, que nós praticamos contra vocês na história passada e presente, por todo tipo de pensamentos e palavras insidiosos, malévolos, satânicos que deixamos entrar nos nossos ouvidos e deixamos sair da nossa boca, por todo tipo de má vontade decorrente de sua condição de negro e negra que manifestamos ao longo da nossa vida. Pedimos perdão por considerarmos inferiores a sua religião, a sua religiosidade, a sua música, os seus símbolos, o seu modo de viver. Pedimos perdão a vocês que são cristãos e cristãs, a vocês que são muçulmanos, a vocês que são umbandistas, a vocês que seguem outras tradições de matriz africana, a vocês sem qualquer religião ou fé, a vocês todos, como um povo, a quem devemos amar como nos ama Jesus Cristo.

As suas lutas todas por Justiça são as nossas lutas, sem favores. Seus gritos por socorro são os nossos gritos e atingem nossos ouvidos prioritariamente.

Pedimos a Deus Pai-Filho-Espírito Santo que nos desperte a todos desse mal consciente nos adultos, inconsciente nas crianças, mas real e intransferível, a não ser para Jesus, que o levou à cruz, a qual Ele nos convida a ajudá-lo a carregar como gratidão pelo Seu amor.


Igreja Presbiteriana Unida do Brasil – IPU
Texto aprovado pela Assembleia Geral Ordinária – jul/2008/ES
www.ipu.org.br


sábado, 17 de novembro de 2018

ITINERÁRIO DA ESPIRITUALIDADE...


Cura-me, Senhor, e serei curado; me salva, e serei salvo, pois tu és aquele a quem eu louvo. (Jeremias 17:14)

Tarde te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova. (Santo Agostinho)

 Por: Cláudio Márcio

Uma das funções atribuídas a um líder religioso é a visita. Nunca fui muito bom nisso. Não gosto de andar na casa das pessoas. A cobrança para que eu fosse ver meus amigos(as), irmãos e irmãs e, não menos, desconhecidos\as era real. Sim, escrevi corretamente, pois, este ano uma nova realidade foi-vai sendo constituída.
Digo este ano pelo fato de ser algo espontâneo, leve, e eficaz. Como o campo da antropologia propõe: o encontro com o outro é um encontro com nós mesmos. Ao mudar de perspectiva e perceber uma espiritualidade do cuidado, do afeto, do saber ouvir, encontrei sentido nas visitas pastorais. Sou afetado com a fé das pessoas que em meio a tantas dores e dificuldades vão recriando suas existências com choro, muita luta e confiança que dias melhores estão por vir, uma vez que, como propõe o poeta: “uma flor brota no asfalto”. E ainda a narrativa bíblica sinaliza: “E agora, Senhor, o que posso esperar? A minha esperança está em ti” (Sl 39.7).
Eu que gosto de junto com a Bíblia ler livros teológicos e das ciências sociais, estava faltando ler “a vida das pessoas”. Sempre tentei ter cuidado com a narrativa produzida em minhas reflexões dominicais, todavia, além de um bom e necessário preparo acadêmico, descobri nos meus 12 como ministro da Palavra e dos Sacramentos na Igreja Presbiteriana Unida (IPU), que não se pode negligenciar a mística e a “linguagem dos fiéis”. Confesso que esse é um exercício constante, uma vez que, a comunidade é heterogênea. Busco um equilíbrio entre a razão e a fantasia, isto é, como sugere Leonardo Boff “a razão cordial”.
Quando olhamos os evangelhos encontramos Jesus de Nazaré (andarilho-pedagogo) experimentando efetivamente a vida e as dores das pessoas marginalizadas do seu tempo e, simultaneamente, apontando para o Reino (já e ainda não) como realidade indispensável que rompe estruturas político-religiosas opressoras de morte, com a força da recriação da vida, pois, a fé das pessoas os curavam e os colocavam de pé no caminho. Aprendemos com Jesus a visitar os necessitados.
Todavia, na contemporaneidade, um discípulo do camarada de Nazaré, tem provocado transformações relevantes com sua simplicidade nas visitas pastorais.  Assisti esses dias na Netflix: Pode me chamar de Francisco e Papa Francisco conquistando corações. A espiritualidade humanizadora, a capacidade de diálogo e escuta deste líder tem me ajudado a ser um reverendo muito melhor da IPU.
Rogo ao Senhor que desperte em cada um(a) de nós o desejo de realizar o cuidado com o próximo. Não podemos e nem queremos deixar nosso “Cristo Sem-Teto” nas calçadas da cidade.  Já que “Tu mostraste tua Luz, e tua claridade expulsou minha cegueira. Tu espalhaste o teu perfume, e eu o respirei” (Santo Agostinho), que nossa visita traga um novo colorido na vida das pessoas e nas nossas vidas reciprocamente, pois, se pintaram tudo de cinza, é hora de despertar o “profeta gentileza que há em nós”. Em meio a tantas adversidades, você ainda acredita que gentileza gera gentileza, não? Espero ardentemente que sim.

(Texto feito em 12-11-18)



quinta-feira, 15 de novembro de 2018

ITINERÁRIO DA ESPIRITUALIDADE...


A igreja precisa parar de vez em quando para perguntar-se a si mesma: ‘onde estamos? ’, ‘para onde vamos? ’. As estruturas eclesiásticas não são sagradas. Podem mudar e de fato tem mudado ao longo da história. (Waldo César)

Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas. (2 Coríntios 5:17)

Por: Cláudio Márcio

Acho incrível como as pessoas querem te conhecer apenas no campo do transcendente. Não tiram os “olhos dos céus”. Pai-Mãe será que é por medo de estabelecer uma amizade? A relação com o mistério precisa ser apenas pautada pelo medo? O imaginário que se tem de Deus para essa turma é como alguém num balanço da praça triste e cabisbaixo, pois, não há o outro trazendo a alegria, o riso, o movimento e o vento no rosto. A profissão de fé deles e delas é: com Deus não se brinca!
Ó Deus, quanta dificuldade de perceberem Teu sorriso, Teu cochicho, Tua ternura. Recitam textos da Bíblia corretamente, uma vez que, sabem o capítulo e o versículo. Outros e outras ainda são capazes de realizar a leitura em hebraico e no grego, entretanto, lhes falta algo aparentemente simples, isto é, falta uma práxis coerente com os ensinamentos de Jesus de Nazaré, dito de outro modo: falta encarnar-se, viver a humanidade em sua inteireza para conhecer Deus, uma vez que a narrativa bíblica sinaliza: “não se enganem; não sejam apenas ouvintes dessa mensagem, mas a ponham em prática” (Tiago 1.22).
Suspeito que para experimentar Deus é preciso sensibilidade. É urgente lançar fora todo medo. É um exercício de fé onde se encontra consolo e orientação. Parar um pouco a “correria do dia a dia” e se perguntar: para onde caminho?  Como sugere Clarice Lispector: “mude, mas comece devagar, porque a direção é mais importante que a velocidade”.
Ó Deus, seguirei firme ao som da Tua voz que pouco tenho encontrado nos espaços eclesiásticos. Peço perdão por todas as vezes que não fui ao teu encontro na praça brincar no balanço, pois, estava comprometido demais com a “agenda da igreja”.
Vejo que para alguns e algumas que encontro no caminho a questão central é de desencantamento com a instituição igreja, daí, romper ou não com ela? Bem, mesmo compreendendo que há legitimidade na indagação, eu tenho seguido a sugestão do Jovelino Ramos: “a alternativa real não é abandonar a Igreja, mas ajudá-la a explorar novas fronteiras de vida”. Até porque o desencanto extrapola o campo religioso, não? Sigo pelas fronteiras com as dores e as alegrias que só experimentam os que não pararam de caminhar. Aprendi com Rubem Alves inspirado em Richard Shaull que “o problema do céu, Deus já o resolveu por nós; não há nada que tenhamos que fazer. Resolvido o problema do céu, estamos livres para cuidar da terra, que é o nosso destino...”.

(Prece feita em 07-11-18)





terça-feira, 13 de novembro de 2018

ITINERÁRIO DA ESPIRITUALIDADE...


“O generoso prosperará; quem dá alívio aos outros, alívio receberá” (Pv 11:25)
“O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa,sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem” (Guimarães Rosa)

 Por: Cláudio Márcio



Ó Deus, temos vivido dias difíceis. Amigos e familiares sofrendo no corpo e na alma as dores da existência. O choro tem sido nosso amigo mais fiel e constante. O que fazer? Quais caminhos possíveis de superação deste contexto distópico? O exercício da fé nos coloca de pé. Acreditar, lutar, esperançar, recriar. Essas são palavras de ordem que não abrimos mão, ou seja, como sugere Chico Buarque “amanhã vai ser outro dia”. Cartola também propõe “fim da tempestade o sol nascerá”.
Senhor Deus, acreditamos em um paradigma societário mais justo e igualitário. Esperamos que as comunidades eclesiásticas em ações ecumênicas podem-devem proporcionar mãos que coloquem os caídos da estrada como caminhantes novamente. Refugiados, imigrantes, povos indígenas e quilombolas... São desafios constantes para fé cristã. É importante rememorar as palavras de D. Paulo Evaristo Arns “ser cristão é trabalhar para que haja justiça e solidariedade em todos lugares”.
Ó Deus, é nossa responsabilidade orar e partilhar. Ler a Bíblia e, não menos, a vida e o chão que pisamos. Tu Senhor és como água de coco em dia de praia. És como uma rede em dias de férias. Pai-Mãe há dias na igreja que falta- nos a alegria do churrasco com os amigos, pois, como abaliza a Bíblia: “alegrei-me quando me disseram: SIMBORA pra casa do Senhor” (Salmos 122.1\ Bíblia do matuto)
Clamamos a Ti como resistência! Nossa fé-luta transforma morte em vida. Somos teimosos(as) na crença da garantia dos Direitos Humanos e da Laicidade do Estado. Cremos numa Teologia Pública comprometida com a defesa da vida em sua multiplicidade. Pai-Mãe, por favor, fortaleça nossas mãos para espiritualidade diaconal ecumênica. Amém!
(Prece feita em 28-08-18)

Suzart

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Por que a IPU é importante em minha vida?



Respostas dadas na EBD (corrigidas no que tange a ortografia) por crianças e pré-adolescentes que frequentam a IPU de Muritiba-BA, na sua maioria, seus pais não são da Igreja.

“A IPU me ensinou muito sobre Deus. Que é bom ler a Bíblia” (Menina, 9 anos).


“A IPU é importante na nossa vida porque é uma igreja que oferece muitas coisas. Crianças que uma hora dessas poderiam estar nas ruas, estão na igreja. Eu venho para a IPU há 5 meses. Aqui eu aprendi muitas coisas como ajudar o próximo. Aprendi que não é só a gente que precisa das coisas. Nesses 5 meses que estou aqui, foi como 2 anos de alegria, de paz, de muitas coisas. Eu nunca fui numa igreja para ficar 5 meses. Geralmente vou uma vez, duas vezes e assim deixava de ir. Agradeço a IPU por muitas coisas que aprendi aqui em 5 meses” (Menina, 13 anos).

 “Porque a IPU fala as coisas de Deus e eu gostei. Fala das coisas importantes e eu gostei da IPU. As pessoas que eu conheci foram muito importantes para mim. Eu gostei também da educação que eles me deram. Eu gostei também muito pois me ensina a falar das coisas de DEUS . A professora fala como uma mãe, com carinho e amor” (Menina, 11 anos).

“A IPU na verdade é importante, pois ela nos ajuda a entender com brincadeiras e desafios. Além do mais as outras igrejas tem pastores que falam demais e ficam horas explicando e nem fazem brincadeiras! Como Adão e Eva foram expulsos do paraíso? As pessoas falam até o que já vimos várias vezes! Aprendemos a respeitar e falar o que pensamos e cada vez mais vai aumentando o tempo de fala. Aprendemos sobre Deus, nosso desenvolvimento saudável, além de ser legal e educativo” (Menina, 10 anos).

“A IPU nos ajuda a aprender e desenvolver. Nos ensina o respeito para com os pais, os mais  velhos. Nos ensina a ter educação solidária, alegria, esperança, confiança e pureza e nos ensina mais sobre Deus e seus discípulos. A Bíblia diz: Jesus divide o pão para 100 pessoas, mas na mesa havia inimigo. A IPU nos ensina a fazer amigos” (Menina, 14 anos).

“A igreja me ensinou a valorizar as pessoas e fazer caridade. A professora me aconselha para eu não me envolver com coisa errada, obedecer minha mãe e os mais velhos. Às vezes eu “dou mole” e a professora me chama e me aconselha. A igreja é nota dez! Muito boa com pessoas humildes e ajuda ao próximo” (Menino, 14 anos).

“A Igreja Presbiteriana é muito boa! Gosto muito dela e me ensina a ser bom e ajudar o próximo. Tenho um ano aqui e aprendi muita coisa boa para o resto de minha vida. Não vou sair daqui mais. Amo a IPU” (Menina, 11 anos).