Por: Cláudio Márcio R. da Silva[1]
“A noite fria me ensinou a amar mais o meu dia” (Belchior)
“Viver é muito perigoso... Porque aprender a viver é que é o viver mesmo... Travessia perigosa, mas é a da vida” (Guimarães Rosa)
Vez
por outra, ao fazer uma viagem dirigindo, olho para o lado e Jussi (minha
esposa) está dormindo. Imediatamente fico com pena, pois, sei do seu cansaço
com suas múltiplas atividades desenvolvidas durante o dia. Lembro de sorrir um
pouco com muita gratidão a Deus pela vida tão preciosa que Ele colocou ao meu
lado e, por fim, mas não menos importante, penso na confiança estabelecida em mim
dirigindo e a “certeza” de que chegaremos ao nosso destino em segurança. É preciso
muita responsabilidade para dirigir, não?
Ora,
eu não sei vocês, mas, não é sempre que consigo relaxar numa viagem em que alguém
conduz o carro. A vida no trânsito é um desafio. Estradas com deficiências,
motoristas imprudentes e, de repente, a vida pode ser interrompida num
acidente. É possível que você já tenha se envolvido num acidente e ou visto
acontecer com um amigo, parente e ou desconhecido. Talvez você tenha que parar
um pouco essa leitura por lembrar de alguém muito especial que pegou a estrada
para trabalhar-estudar e não voltou para casa, pois, a partir de um acidente
teve a vida ceifada.
De
fato, a vida é cheia de imprevistos incalculáveis. Todo planejamento necessário
para conduzir a jornada de maneira feliz e eficaz é refeita a partir de imponderáveis
do cotidiano. O que fazer essas horas? Desistir do próximo passo? Perder todo
encantamento pela vida com medo de não arriscar?
Este contexto pandêmico com mais de
150 mil mortes pela COVID-19 é extremamente assustador. Não sabemos se seremos
o próximo e ficamos apavorados. É como se uma enorme carreta sem freios
desgovernada viesse em nossa direção na estrada. Não há acostamento para
todos(as)! Quem sobreviverá? Honestamente, não sei.
Suspeito
apenas que imaginar um possível acidente é não se abrir para criar novas memórias
de beleza com praias, praças e jardins, não?
Evidentemente que o pano de fundo de
estrada e carro é uma metáfora para pensar nossa jornada com seus desafios. Numa
sociedade cheia de divisões sociais e que carros são também símbolos de poder,
prestígio e ou estigma é necessário problematizar: e quem não tem acesso ao
carro? Quem e como dirige? Qual estrada? E as redes de carona e solidariedade? Imagino
que você na estrada já tenha recebido ajuda ou apoio de um desconhecido, não?
Enfim, escrevo com o objetivo de
convidar você para despertar o desejo de com muita coragem e responsabilidade
viver experiências novas cheias de encantamento. Apesar do medo da estrada, das
despedidas e das lágrimas que ela pode nos proporcionar, é nela também que vivemos
a possibilidade do encontro, do sorriso, da chegada.