Por: Cláudio
Márcio[1]
“Enquanto se canta e se dança de olhos fechados, tem
gente morrendo de fome por todos os lados” (Cantor João Alexandre/ fragmento da
música: Em nome da Justiça).
Um dia desses, no culto
de oração da Igreja Presbiteriana Unida (IPU) de Muritiba-Ba, uma irmã-amiga
sinalizou: “difícil não é vir para igreja. Difícil é seguir a Jesus”. Essa
frase aparentemente simples me provocou bastante. Sim, a experiência religiosa
institucionalizada muitas vezes não significa um relacionamento profundo com
Jesus de Nazaré.
Não basta frequentar um
grupo religioso. Não basta ocupar um lugar de liderança. Não é suficiente a
pontualidade e ou assiduidade nos dias de celebração litúrgica. Penso que a
experiência da fé pode-deve ser cheia de leveza, cheia de beleza e fantasia. O
caminho da espiritualidade não pode ser antagônico ao da humanização. Não
precisamos homogeneizar a relação com o Divino.
Encontro cotidianamente
“homens e mulheres de Deus” que não conseguem responder um simples “bom dia”.
Me falam: “ a paz do Senhor”, contudo, honestamente, não consigo encontrar e ou
receber essa suposta paz. O tom da bela frase “paz do Senhor” chega aos meus
ouvidos como censura, com certo grau de “santidade” que nunca serei capaz de
atingir. Encontro mãos levantadas em celebrações religiosas querendo “tocar os
céus”, porém, insuficientes para acolher o próximo ao lado. Brados, gritos de
euforia em shows gospel, mas, silêncio profundo no que diz respeito ao
extermínio da juventude negra e os gays em solo brasileiro.
Honestamente, não quero
generalizar, quero provocar a reflexão. Sei que o protestantismo é um fenômeno
múltiplo. Acredito que seguir a Jesus de Nazaré é defender a vida. É caminhar
com o outro encorajando para utopia da grande libertação. É sentar-se à mesa da
fraternidade e partir o pão. É colocar as pessoas de pé em meio às estruturas
de morte que insistem em nos botar no chão. Não tenho problemas com seus
joelhos dobrados em devoção. Não me incomodam suas mãos unidas como quem reza
em busca de força transcendente e misteriosa. Contudo, é “só isso”? É uma
relação de fé individualista?
Como Sugere Frei Betto (autor que tenho lido
ultimamente) "viver por um projeto, uma causa, uma missão, um ideal ou
mesmo uma utopia, é o que imprime sentido à vida. E uma vida plena de sentido é
o que nos imprime felicidade, ainda que afetada por dores e sofrimentos".
Sim, difícil é seguir a Jesus. Contudo, sua voz faz “arder o coração”, assim, é
preciso mediar fé e ação.