terça-feira, 28 de abril de 2020

ITINERÁRIO DA ESPIRITUALIDADE...


“Louvado seja Deus, que não rejeitou a minha oração nem afastou de mim o seu amor!” (Sl 66:20)

Por: Cláudio Márcio R. da Silva[1]

Ó Deus, fonte de vida e cheio de graça. Bendito seja para sempre teu nome em meus lábios e corpo. Que eu possa experimentar seu amor real e, movido por gratidão, servir-te enquanto viver. Por isso, devemos escutar o conselho do salmista ao dizer: “entregue o seu caminho ao Senhor; confie nele, e ele agirá” (Salmos 37:5).
Ah, Senhor! “Ontem um menino que brincava me falou
que hoje é semente do amanhã...”[2]
Ó Deus, sigo na tentativa de exercer o testemunho da libertação e da afetividade. Acredito em sua fidelidade e sei que suas promessas são verdadeiras. Assim, é possível assinalar que: “Deus é a minha salvação; terei confiança e não temerei. O Senhor, sim, o Senhor é a minha força e o meu cântico; ele é a minha salvação!" (Isaías 12:2).

domingo, 26 de abril de 2020

Em tempos de pandemia, a Palavra ilumina o caminho.


Lâmpada para os meus pés é tua palavra, e luz para o meu caminho. Sl 119.105

Por: José Augusto Amorim Jr.[1]

            O mundo tem sido duramente atingido pelo Coronavírus. A humanidade atravessa um “deserto” ou um “vale das sombras da morte”. Medo, sofrimento, tristeza, apreensão, luto nunca estiveram tão presentes em nossos cotidianos. E, neste pedaço sombrio da história, como a Palavra de Deus tem iluminado nosso caminho! Nela temos encontrado alento, sustento, orientação.
            Ao longo da Quaresma (seguindo o calendário litúrgico e lecionário reformado), rememoramos os 40 dias de Jesus no deserto. Deserto: lugar da Palavra... Ali, ao lidar com as tentações, Jesus as rejeita a partir da Palavra comunicada pelas Escrituras, “está escrito” ... (Mt 4: 1-11) Assim Jesus rejeitou também as manipulações das Escrituras apresentadas pelo diabo, que o convidavam à arrogância e ao abuso de poder.
Desafiado a jogar-se do alto do templo, confiado na proteção de anjos enviados por Deus, Jesus se nega a uma fé irresponsável e responde: “Não tentarás o Senhor teu Deus”. Inspirados por esta Palavra, sem deixar de crer na Providência Divina, começamos a tomar as medidas preventivas necessárias (não abrir os templos foi uma delas) para evitarmos a propagação do Covid 19. Diferente de algumas igrejas e lideranças cristãs que insistem, por estranhos interesses, em abrir os templos e colocar em risco a saúde das pessoas, em nome de uma fé que despreza a ciência, o amor ao próximo e o bom senso.
No seu encontro com o homem cego de nascença (João 9), Jesus rompe com a noção, muito comum em sua época (e que até hoje se faz presente) de que doenças são consequência do pecado. “Nem ele pecou, nem seus pais, mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus”, responde Jesus à indagação dos discípulos. E a manifestação das obras de Deus foi a cura, a solidariedade e uma nova vida para aquele homem. Não importava julgar, mas buscar solução para o problema. Para completar, isto se deu num sábado, contrariando a lei de Moisés, segundo os fariseus.
 Este trecho nos fez refletir que esta pandemia não se trata de castigo de Deus por pecados desta ou de gerações passadas, que nosso foco deve ser como contribuir com a manifestação das obras de Deus, que se expressam na cura e cuidado com as pessoas. Por outro lado, a lei (o sábado) não pode servir à exclusão e à negligência com o ser humano, mas deve estar à serviço da inclusão (sobretudo dos(as) pequeninos(as)), da promoção da saúde e vida digna para todos(as). Isto serve desde a economia e política até os hábitos e ações mais corriqueiras.
Na passagem da ressurreição de Lázaro (João 11), encontramos o choro de Jesus, expressão de sua plena e profunda participação na fragilidade da condição humana. Um convite não a uma espiritualidade triunfalista e soberba, mas a uma espiritualidade humilde e que não perde a capacidade de se comover diante da dor do(a) outro(a). Ainda que não devamos sucumbir às tristezas, não podemos nos apartar da sensibilidade e compaixão, da “glória de chorar” (Los Hermanos). Sem isto nos desumanizamos.
Para ressuscitar Lázaro, Jesus promove um verdadeiro mutirão da Vida! Há os que tiram a pedra do túmulo, a poderosa palavra de Jesus, o próprio Lázaro que dá seus passos para fora da gruta, aqueles que lhe ajudam tirando as ataduras. Somos convocados (as), neste tempo da pandemia e para além dela, a participarmos de um amplo e solidário mutirão da Vida, na oração e ação diaconal, na voz profética e prevenção, na comunhão e no afeto (mesmo com o isolamento físico, através de um telefonema, whatsapp e afins). Nós e toda a família humana somos chamados (as) a este mutirão, na trilha da “paz e justiça irmanadas” (Silvio Meincke).
Na Páscoa, ao nos falar da Ressurreição de Jesus, a Palavra nos trouxe a potente mensagem da vitória da Vida sobre a morte, aqui e no porvir, animando nossa fé, esperança e alegria, acalentando nossos corações, encorajando-nos à missão! Palavra que apascenta nosso silêncio e sustenta quando nos faltam respostas frente aos dilemas da existência. Continue a ser a Palavra de Deus lâmpada para nossos pés e luz para nosso caminho nesta extremamente desafiadora travessia!

CEBI


[1] Presbítero da IPU de Itapagipe-BA.

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Nota Pública do Presbitério Salvador de repúdio às manifestações antidemocráticas em meio à pandemia



“Praticar a justiça e o direito vale mais, para Javé, do que os sacrifícios” (Provérbios 21.3)

O Presbitério Salvador (PSVD), com base nos documentos fundantes da Igreja Presbiteriana Unida, na sua história e na responsabilidade social sustentada pela herança bíblica e reformada que assume, faz o seguinte pronunciamento:
1 – Repudiamos as manifestações antidemocráticas ocorridas em algumas cidades brasileiras, no dia 19/04/2020, bem como a participação e apoio do presidente da República, Jair Bolsonaro, naquela que aconteceu em Brasília, em frente ao Quartel General do Exército. Estas manifestações atentam contra o Estado Democrático de Direito ao defenderem intervenção militar, fechamento do Congresso e STF (Supremo Tribunal Federal) e mesmo um novo AI-5, Ato Institucional que iniciou o período mais arbitrário e violento da ditadura militar no Brasil. Além disso, estas manifestações promoveram aglomerações de manifestantes, o que contraria recomendações da OMS (Organização Mundial de Saúde) e do próprio Ministério da Saúde e colocam em risco a saúde e vida das pessoas, no momento em que as medidas de prevenção ao Coronavírus se impõem como mais que urgentes e imprescindíveis. Em Salvador-BA tal manifestação ocorreu em frente ao Quartel da Mouraria, uma aglomeração solicitando a intervenção militar.

domingo, 12 de abril de 2020

Páscoa da Ressurreição: silencioso terremoto



A cada ano quando se celebra a Ressurreição de Jesus se renovam as esperanças trazidas por esse evento. É um anseio, uma expectativa de algo bom - melhor do que foi até à sexta feira - se manifeste com a força de transformação e renovação que lhe são atribuídas.
              Podemos compreender a ressurreição como um silencioso terremoto que desestabilizou as forças de então. O irromper da ressurreição modificou as estruturas e quebrou as barreiras humanas impostas com a pretensão de controlar o invisível silêncio de Deus que trabalhou sempre na escuridão e na claridade sem que fosse percebido nitidamente. A pedra colocada na entrada do sepulcro, simbologia dos que detém o poder e que controlam a vida e a morte dos outros, agora está removida, subjugada pelo anjo de Deus que assentou sobre ela ( Mt28,2), mostrando que daquele momento em diante as forças da morte tinham sucumbidas diante da esplêndida manifestação da vida nascida na ressurreição. Desta hora em diante não existe mais barreiras entre a consciência humana e a onipresença divina, porque aconteceu a integração e a profunda aliança entre o divino e o terreno: humanos e natureza resgatando novamente o elo perdido do desejo de Deus no paraíso.

A VIDA SUPERA A MORTE


Onde está, ó morte, a tua vitória? (1Cor.15.55ª)

Sem dúvida alguma essa é uma mensagem central da Páscoa. Assim sendo, diante da nova realidade estabelecida aos que creem, o choro se transforma em riso e o luto em festa! No contexto judaico a grande síntese revelada no livro de êxodo é: o sangue do cordeiro livra da morte, assim como, o ritual com ervas amargas e pães asmos deve ser rememorado como intuito de nunca esquecer que Deus é libertador do povo oprimido.
Semelhantemente, a Páscoa cristã nos aponta o Deus veio ao nosso encontro através de Jesus de Nazaré para nos salvar e libertar. “Nós amamos porque Ele nos amou primeiro” (1 João 4.19). Ele de fato mudou a nossa história e nos salvou. “Porque Deus enviou seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele” (João 3.17). Voltamos a sorrir e a dançar, tudo novo se fez. “Eis que faço nova todas as coisas” (Apocalipse 21.5).

sexta-feira, 10 de abril de 2020

Sexta feira da paixão à compaixão: “Se possível afasta este cálice”


          O calvário de Jesus nos acena à obediência ao Pai, mas também a sua escolha definitiva: a morte de cruz. A paixão de Jesus é a culminância da sua união e da realização da missão que o pai lhe delegou. A cruz, sinal de morte até então, assume nova simbologia, a partir desta caminhada “estranha” feita por Jesus, reforçando o que o próprio Jesus havia dito: “se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, permanecerá ele só, mas se morrer produzirá muito fruto” (Jo 12,24), como uma forma de leitura do que viria lhe acontecer.
           A sua paixão foi um ato de liberdade. Não foi coagido a assumir, mas sua força espiritual e moral levou a isso.  Vemos, assim, que Ele vive e determina a própria dialética da sua existência, ao mencionar em Jo 10,18 “a minha vida ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou”. A paixão de Cristo é expressão dessa afirmação de que ele dá livremente a sua vida, de acordo com as circunstâncias  em que passou a viver após a aceitação  da sua missão.

terça-feira, 7 de abril de 2020

Quando e em que momento abandonamos a "vida"?


Por: Paulo Roberto Silva[1]

Quando foi que as estrelas e toda constelação de encantos e mistérios que habita o universo ao nosso redor deixou de ser interessante?!
Quando foi que nos pomos a crer que ser "sós" seria a melhor opção diante dos nós que tanto nos faz ser-mo-nos radiantes?
Quando optamos por uma lógica de produção desenfreada que em nada tem nos feito reproduzir a vida em sua total plenitude?!
Quando e em que momento abandonamos a "vida"?
A troco de quê nos tornamos indiferentes a tudo quanto nos faz mais humanos?
Em que contexto nos lançamos neste dilúvio incessante que faz com que esqueçamos o divagar estruturador que há, também, na nossa ideia de tempo?!

domingo, 5 de abril de 2020

A Quarentena- A Quaresma e os Ramos


Por: Reverenda Sônia Mota[1]

Bendito o que vem em nome do Senhor (SI 118.26)
Pegareis em ramos e vos regozijares (Lv 23.40)

No meio da quaresma- a quarentena!
No meio da quaresma uma pandemia, já prevista pelas comunidades científicas, se instalou no mundo reafirmando o que já havia sendo dito por muita gente de bem: É preciso mudar de nosso estilo de vida autodestrutivo, é preciso acabar com a depredação ambiental, com o consumo desenfreado. É preciso cuidar de nós e da nossa Casa Comum.
Uma quaresma de quarentena e isolamento social. Quaresma estranha... com celebrações, abraços e gestos virtuais, de chorar nossos mortos à distância. Quaresma de medos e inquietações.
Nesta quarentena, descobrimos como a vaidade, a inércia e o descontrole das autoridades que só pensam em si e em como manter os lucros do mercado e o poder colocam em risco a vida de toda uma população. Por isso, a quaresma foi também um tempo de reaprender com Jesus de Nazaré lições de humildade, perseverança, fé e persistência. Encontrar nos seus ensinamentos inspiração e coragem para acreditar na nossa capacidade de não fugir, mas ir em frente, de cabeça erguida, para enfrentar o cerne do problema. Nesta quaresma, petições, pronunciamentos e campanhas pressionam as autoridades para que elaborem leis que protejam o povo neste tempo de pandemia e morte.