quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

VOZ PROFÉTICA...

Por: Anita Sue Wright Torres[1]

Foi a defesa da vida e dos direitos humanos que uniu Rev. Jaime Wright e D. Paulo Evaristo Arns, na década de setenta, em plena ditadura militar. A voz profética de D. Paulo já era conhecida quando o irmão de Jaime Wright, Paulo Stuart Wright, foi preso em São Paulo, em setembro de 1973. Sem ter a quem recorrer, buscou ajuda com D. Paulo.
O drama que parecia familiar se mostrou coletivo, quando a dor de tantas outras famílias era compartilhada com relatos de perseguição, violência, seqüestro, tortura e morte de tantas outras pessoas que buscavam e sonhavam com um Brasil melhor.
O pastor presbiteriano e o cardeal se tornaram amigos e trabalharam lado a lado na Arquidiocese de São Paulo, numa vivência ecumênica e cristã que exercitava a “Teologia das Brechas”, momentos oportunos de fazerem a diferença na vida das pessoas e da sociedade.
E foi assim que pensaram no Projeto “Brasil Nunca Mais”, e conseguiram fotocopiar todos os processos contra presos políticos que na época tramitavam no Superior Tribunal Militar em Brasília. O resumo de todas as informações coletadas e sistematizadas (presos, torturadores, torturas, etc) se transformou em um livro.
D. Paulo e Rev. Jaime receberam vários prêmios no Brasil e no exterior em reconhecimento ao seu trabalho incansável em defesa dos direitos humanos.
Agradeçamos a Deus pelos 95 anos de vida de D. Paulo, por sua dedicação e serviço ao próximo, erguendo sempre sua voz profética quando a vida estava sendo ameaçada e destituída de seus direitos básicos, vivendo “de esperança em esperança”.



[1] Filha caçula de Jaime Wright, Presidenta CONIC-ES e Moderadora do Conselho Coordenador do Presbitério de Vitória (IPU).


terça-feira, 13 de dezembro de 2016

SOBRE CHAVES E FECHADURAS...

Aqui no território do Recôncavo da Bahia existem atributos arquitetônicos que enchem de encanto nossos olhos. É possível ainda salientar que em muitos destes prédios suas portas e fechaduras são bastante trabalhadas com desenhos e traços de extrema beleza, porém, é apenas o acesso às suas chaves que podem nos levar ao outro lado, desvelando os segredos internos de cada espaço. O que há lá na travessia? O que fazer quando nos faltam as chaves? Ter as chaves diante de portas erradas resolve alguma coisa? Já presenciou uma pessoa bastante alcoolizada tentando abrir uma porta?
Evidentemente que não estou interessado em análises sobre formas, tamanhos e composições em que as chaves são elaboradas. Vos digo meus irmãos e irmãs: a metáfora não é do cotidiano apenas, mas, da existência. Ah, vós que acumuleis chaves em busca de prestígio e poder, hoje vossas fechaduras serão trocadas e, de que adianta vosso riso irônico se não podereis entrar? Vossa aparência de alegria é denunciada pelo desespero dos teus olhos. Adiantará chorar? Se tais lágrimas te fizerem perceber e ou utilizar cada chave para seu momento específico, então irmãos e irmãs, choreis copiosamente. Caso contrário, aconselho-vos a parar de atuar.
Honestamente, tenho acreditado que somente uma chave não é suficiente para decifrar os segredos e as combinações da nossa complexa existência, haja vista que são muitas portas (e cada uma delas tem sua própria fechadura) e constantemente as chaves desaparecem, quebram, desgastam... São necessários os chaveiros da fé, da ciência, da fantasia, da arte, da utopia... Embora todos eles sejam também demasiadamente humanos e portanto em certos momentos não conseguirão fazer a cópia de determinadas chaves! Sim, existem portas que continuarão fechadas até que nossa vida terrena seja findada. Mas de fato existem essas portas? Quem as viu?
De qualquer sorte desejo aos irmãos e imãs que não percam suas chaves...
  Muritiba-BA, 13 de dezembro de 2016
Cláudio Márcio


Art Suzart

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

AMANHÃ AINDA É HOJE...


Por: Cláudio Márcio

“Eu tô te explicando pra te confundir. Eu tô te confundindo pra te esclarecer. Tô iluminando pra poder cegar. Tô ficando cego pra poder guiar” (Tom Zé).

Uma canção de reggae de Edson Gomes revela: “há dias na vida que a gente pensa em desistir”. Quais dias são esses?  Ora, pense comigo naqueles momentos difíceis de estudo em que os prazos insistem em nos mostrar que não será possível encerrar a tarefa. Quando se deseja trabalhar e não encontra possibilidades. Quando temos um familiar, um amigo doente em casa e ou no leito de um hospital. Quando o prato na mesa permanece vazio. Quando a cor da pele torna-se mais importante que o caráter, etc. O que fazer quando temos medo de dormir e do amanhecer?
Por vezes pensamos: essa realidade diante de mim poderá ser transformada? Essa questão aparentemente simples tem muitas possibilidades de respostas. No entanto, os nossos pés e mãos não devem desistir das utopias. Como encontrar forças para resistência? Há quem busque auxílio nos fenômenos religiosos; nas ciências; nos movimentos sociais; nas artes...
De fato, sou um homem da fé e da razão. Assumo lutas por justiça social e escrevo em busca de um EU que se perde-encontra nas esquinas da cidade. Confesso minha dificuldade cada vez maior em refletir o mundo à minha volta com uma lupa arranhada, insuficiente, limitada e criar discursos como se as mesmas fossem límpidas, completas e absolutas. Quais os limites e contradições de tais narrativas? A quem se quer enganar?  Como diz Friedrich Nietzsche: “aprendi a andar; desde então corro. Aprendi a voar; desde então não quero que me empurrem para mudar de lugar”.

Gosto do texto bíblico do profeta Ezequiel e sua metáfora do Vale de ossos secos, pois, diante do contexto de caos, de morte e tristeza, uma nova realidade pode surgir. A vida misteriosa brota com força. É nisso que creio, logo, sou semeador de esperanças. Acredito que a força da flor e seu perfume também são dimensões de leveza, encantamento e fantasia para nossa jornada. É possível não ter fantasias?
Art Suzart