Falando
de memórias, de saudades e dos 40 anos da nossa querida Igreja Presbiteriana
Unida - IPU.
“Quero trazer à
memória o que me pode dar esperança” Lm 3.21
Havia um jingle que era assim... o tempo
passa o tempo voa e a poupança... continua numa boa..., a nossa juventude atual
não ouviu e não conhece essa propaganda, que ficava soando em nossos ouvidos, e
na nossa ingenuidade acreditávamos nela. E, por falar em tempo, sabemos que o
tempo de Deus, (Kairós) não é o nosso. Por isso há um descompasso entre o nosso
tempo (Kronos) e o tempo do Eterno.” Mil anos são aos teus olhos como o dia de
ontem, que passou, uma vigília dentro da noite.” Salmo 90.4 “Debaixo do céu há
um momento para tudo, o tempo certo para cada coisa.” (Ec 3.1)
No dia 10 de setembro, completam-se
quarenta anos, quando o meu pastor na época Revdo Cyro Cormack, o único pastor
do Rio, esteve presente na fundação da Federação Nacional de Igrejas
Presbiterianas (FENIP), em 1978, Atibaia- SP. Hoje, com 89 anos é membro do
Presbitério Rio Novo - PRNV. Um grande número de fundadoras, e fundadores, já
partiram, e estão ao lado do Pai.
Surgia uma Igreja que abarcava mulheres
e homens sonhadores, de um futuro melhor para si, familiares, amigos e para
toda a sociedade. Eram pessoas destituídas de ganância, de poder, de vaidade e
com sede de justiça. Eram despojadas, engajadas e algumas perseguidas por um
sistema arcaico e autoritário (ditadura militar). Acreditavam em um novo
Projeto de “ser Igreja”. Igreja que pregasse “as Boas Novas em Jesus Cristo, ao
indivíduo e à sociedade”, vivenciasse a igualdade, a fraternidade e a opção
pelos mais pobres.
“Antes que
qualquer árvore seja plantada ou um lago seja construído, é preciso que eles
tenham nascido dentro da alma. Quem não planta jardim por dentro, não planta
jardins por fora e nem passeia por eles”. Rubem Alves.
Embarquei nesse sonho e nessa esperança
com um grupo de juventude de algumas igrejas dos subúrbios do Rio. Nos
reuníamos para discutir, debater e para vislumbrar a nossa inserção nesse
movimento que nos atraia, praticamente às escondidas, uma vez que os pastores
dos meus amigos/as, não haviam aderido a esse novo momento e a essa brisa leve
que soprava, que era sair da IPB, para respirar novos ares e ter a esperança
renovada.
Por volta de 1979/80, vieram ao Rio, o
Revdo Joaquim Beato e a sua sobrinha, Revda Izaura Márcia Venerano,
(companheira de luta e caminhada de toda uma vida, claro que tenho várias, mas
ela foi a primeira, nesse novo contexto), para falar sobre a FENIP ao nosso grupo.
Eram os primeiros representantes capixabas em terras cariocas. Fomos
recepcionados e patrocinados pelo então jovem, na época, representante oficial,
Presb. Carlos Fernando Palmer, na Union Church da Barra com um delicioso
churrasco. Passamos um sábado inteiro, provando o maná que eles nos trouxeram
de presente como aperitivo.
“Quando se sonha
sozinho é apenas um sonho. Quando se sonha juntos é o começo da realidade”. Miguel de
Cervantes – poeta.
Participamos do Encontro Nacional de
Jovens da FENIP nos anos de 1980 a 1982, (tenho uma relíquia, que é um crachá
de 1982), realizados nos estádios do Mineirinho, BH, e Ibirapuera - SP. Fui
autorizada pelo meu pastor. Naquele tempo era assim, precisávamos de
autorização para participar de “coisas” fora da Igreja. Era da FENIP, e esse
nome soava meio que clandestino.
Bons tempos aqueles! Algumas amigas e
amigos ficaram pelo meio do caminho, retornaram às suas origens, uma vez que
seus pastores não aderiram aos ideais dessa “nova forma de ser Igreja” e
permaneceram na IPB. Ficaram decepcionados, mas eram jovens e quem “mandava” na
igreja local era o pastor e as lideranças do Presbitério.
As nossas Igrejas aqui do Rio de Janeiro
foram recebidas oficialmente em uma Assembleia em julho de 1983, no culto de
encerramento na Primeira Igreja de Vitória-ES. Eu havia sido ordenada
Presbítera em janeiro do mesmo ano e era Seminarista. Foi um culto
inesquecível. Alegria, participação e comunhão. Estávamos imbuídos de um mesmo
sentimento, sentimento de pertença a uma Comunidade que vislumbrava o projeto
do Reino, aqui e agora.
Em 1985, foi formada a Confederação
Nacional de Jovens da IPU- CONAJIPU, e participamos da primeira diretoria.
Éramos um grupo aguerrido que acreditava no potencial da nova Igreja, e na
força da sua Juventude. Na época a IPU, era composta por 61 igrejas.
Participamos nesses últimos 35 anos de
quase todas as Assembleias e acompanhamos o papel importante que a IPU tem
desempenhado sob a direção dos Conselhos Coordenadores, junto às igrejas
locais, aos organismos ecumênicos e a preservação dessa Igreja comprometida com
a justiça social, herdeira da Reforma e testemunha fiel do Reino inaugurado por
Jesus, o Cristo.
O nosso sonho não acabou, continuamos
sonhando e realizando o que Deus tem colocado em nossas mãos para realizar. A
esperança não feneceu. Pois apesar de vivermos atualmente, dias sombrios e
maus, aonde o nosso povo tem voltado a não ter dignidade, acreditamos no poder
e na força do Evangelho de Jesus, o Cristo libertador, que nos livra de todo
tipo de amarras, de opressão e de exclusão.
Precisamos continuar a honrar e a ter
sempre na memória, a luta, a garra, o sonho e a esperança dos nossos primeiros
fundadores, mulheres e homens leais e fiéis ao Evangelho. Que almejavam uma
Igreja solidária, libertária, ecumênica, inclusiva (sem discriminar ninguém),
que estivesse inserida de fato e de direito na Sociedade, para que pudesse ser
mais fraterna e solidária, com espaço para mulheres e homens de forma
equitativa (creio que isso no nosso meio precisa ser revisto, somos maioria).
Pois, apesar da Igreja ordenar mulheres ao sagrado Ministério e aos
Sacramentos, ainda somos minoria entre as ordenadas/os.
Nos 40 anos de caminhada não podemos
perder de vista os sonhos e a esperança que o Senhor da vida tem colocado na
mente e no coração de todas e todos que fazem parte dessa Igreja, e louvá-lo
pelas maravilhas que ele realizou, realiza e continuará a realizar no meio do
seu povo.
O nosso Princípio de Fé e Ordem – PFO,
no artigo 4º, do parágrafo XII, nos aconselha: “envolver-se, fraternal e
livremente, em amor e serviço ao próximo, dentro e fora de suas comunidades.
Reconhecer que, nenhuma barreira institucional humana pode obstar a ação do
Espírito Santo, sinal do Reino de Deus na terra”.
A nossa gratidão e carinho a essa Igreja
querida que nos tem acolhido, como um colo de mãe que acaricia, beija e protege
a sua cria. Faço das palavras do educador Paulo Freire, as minhas:
“É
preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente
que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é
esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás,
esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante,
é juntar-se com outros para fazer de outro modo...”.
Vamos esperançar querida IPU, e que as
bênçãos do nosso Criador que é Pai e Mãe, sejam com todas as irmãs e irmãos
dessa amada Igreja.
Revda Neusa
Gomes Palmer - Tempo comum