quarta-feira, 30 de setembro de 2015

SER IPU

A Assessoria de Assuntos Teológicos, que tem como assessor o Rev. Claudio Marcio Rebouças, da IPU de Muritiba/BA, propõe para nós, membros da IPU, que escrevamos um pouco sobre aquilo que nos encanta e desencanta em nossa denominação, em uma forma de nos conhecermos e de promover uma reflexão teológica.
Este trabalho tem como base o texto de Mateus 16:13b que diz: "Quem dizem os homens ser o Filho do homem?"
Quem quiser participar, poderá enviar um texto, de até duas páginas,identificando-se, para nosso assessor (revcacau@hotmail.com) que irá, posteriormente, disponibilizar sua opinião neste espaço.

Participe!

Por: Vinicius Pinheiro[*]

Tenho aprendido na empreitada proposta pelo Evangelho de Jesus que o caminho estreito, da qual trata o capítulo 7 do livro de Mateus, é marcado por encontros, por contato, por aproximação, por empatia, por altruísmo, e, sobretudo, pela manifestação do amor.
Na IPU fui constrangido a seguir por este caminho. Seus membros são a evidência clara da união e da comunhão proposta por esta comunidade. Unem-se liturgia e fé manifesta no amor fraternal que é expresso na militância pelo direito do outro. O outro é quem tem vez, e se não tem voz, a IPU é provocada a ser profeta. Seu templo é apenas uma extensão do coração de seus membros que priorizam o acolhimento em detrimento dos preconceitos, da religião, dos dogmas e do moralismo.
Percebi que esta comunidade propõe uma nova ética de ser da Igreja. E digo nova em comparação ao cenário atual da igreja brasileira e não da proposta ética do evangelho existente há mais de dois mil anos. Uma ética que considera o outro, que faz teologia para o outro, que milita pelo outro, que ouve o outro, e que corre riscos pelo outro, afinal de contas... O caminho é estreito.
Vejo claramente, com os olhos da fé, este Espírito da paz e da promoção da união especificamente no líder da IPU de Muritiba – BA, Rev. Claudio Marcio Rebouças. O sucesso de uma proposta para uma igreja relevante na pós-modernidade está intimamente relacionado a capacidade de compreensão dos líderes da dinâmica social e cultural onde a Igreja se insere, a fim de, utilizando este conhecimento, promover a aproximação da Igreja com o povo, com o pobre, com os homossexuais, com as religiões e com a política. Muitas vezes fui constrangido a examinar a mim mesmo (1Co.11:28), e quando o fiz, achei a omissão e a covardia que não havia no “mano Cacau”.
A IPU é a comunidade que nos provoca a ser culto. Não o culto gramatical, mas o culto ambulante externo ao templo que dá comida ao faminto, roupas aos nus, atenção e voz aos doentes e presos, e visibilidade ao estrangeiro (Mt.25:35). Ser IPU, como pude observar no Rev. Claudio Marcio Rebouças, é ser gente, é ser - humano, é lutar por gente, é lutar por seres-humanos, é dialogar com o outro, é fazer dos dogmas o Dogma do amor.


[*] Graduando em Serviço Social na UFRB.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

DAS POSSIBILIDADES DE EMANCIPAÇÃO ATRAVÉS DA IGREJA PRESBITERIANA UNIDA NO BRASIL


A Assessoria de Assuntos Teológicos, que tem como assessor o Rev. Claudio Marcio Rebouças, da IPU de Muritiba/BA, propõe para nós, membros da IPU, que escrevamos um pouco sobre aquilo que nos encanta e desencanta em nossa denominação, em uma forma de nos conhecermos e de promover uma reflexão teológica.
Este trabalho tem como base o texto de Mateus 16:13b que diz: "Quem dizem os homens ser o Filho do homem?"
Quem quiser participar, poderá enviar um texto, de até duas páginas,identificando-se, para nosso assessor (revcacau@hotmail.com) que irá, posteriormente, disponibilizar sua opinião neste espaço.

Participe!
Um dos participantes foi Victor Aurélio, segue o seu texto. 
Por, Victor Aurélio Santana Nascimento.[1]

Os quadros de opressão, outrora aquecidos pelo furor imperialista do século XIV, tiveram suas bordas ampliadas à custa de muita degradação dos povos da América Latina. Se, por um lado, nos é possível arriscar o quanto de ouro, prata e demais riquezas foram expropriadas dessas terras, por outro, estamos longe de conhecer significativamente as dores sofridas pelos povos nesse território, em sustento das regalias das classes mais abastardas da Europa.
É consenso que o discurso cristão, engendrado por muito tempo por um clero burguês, contribuiu (ainda contribui?) fortemente para a construção desse quadro de opressão, servindo como aparelho de mistificação a serviço das classes economicamente dominantes. No entanto, lembrando o surgimento das comunidades primitivas cristãs, e me servindo da leitura dialética da realidade, a continuidade das mazelas sociais favoreceu o surgimento de contra-pontos no seio da cristandade e de uma abertura para o retorno aos fundamentos cristãos desgastados pelas conveniências burocráticas, institucionais e classistas. Do que estamos falando, afinal de contas?
Cresce na América Latina, de modo mais organizado e a partir do primeiro quadrante do século XX, aquilo que me parece semelhante ao ocorrido nas lutas judaicas contra a violência de grandes centros da época como, o Egito e a Babilônia: começa-se a criar, a partir de um contexto de marginalização e de sangria social, um grau organizativo das populações mais sofridas, numa articulação entre o que se tem de sofrimento concreto e a fé trajada na imagem de uma divindade capaz de libertar não só a alma, mas o corpo da fome, do desemprego, da inacessibilidade aos espaços de cultura, processos de saúde, lazer e demais dimensões que compõe o conjunto de condições básicas para uma vida digna. O que a Igreja Presbiteriana Unida do Brasil (IPU) tem a ver com isso?
Sou grato por muito do que vivi e experienciei no meu trajeto pela igreja Batista. Através da igreja pude conhecer comunidades alheias a toda sorte de cuidados governamentais, e, junto a isso, compreender que o amor cristão deve ser mais do que algo que se sente só, entre paredes e liturgias religiosas. Antes, deve constituir-se como um esforço prático capaz de operar mudanças efetivas e estruturais no laço social. Esse entendimento favoreceu a minha escolha por ocupar frentes de luta que me punham em posição de militar por processos emancipatórios e de libertação das classes mais oprimidas. Nesse percurso, conheci a IPU, na pessoa do amigo e Reverendo Cláudio Rebouças, e, posteriormente, numa das reuniões com a comunidade.
O primeiro espanto que me ocorreu – e olhem que eu já vi muita coisa em minha vida –, foi ouvir e ver ser bem recepcionada numa das reuniões da IPU, uma pregação que falava sobre a urgência de discutirmos sobre machismo, racismo, gênero e participação popular na construção de uma sociedade mais justa e menos desigual, dentro da igreja. Aquilo foi um arrebatamento de sentidos, porque eu nunca tinha encontrado na igreja cristã um norte tão voltado para a ruptura de dogmas e práticas disciplinares que, em verdade, só contribuem para a manutenção de uma organização social injusta e verticalizada. Naquele momento, a IPU passou a figurar para mim – diferente do ópio com o qual Karl Marx, em 1844, comparou a crença religiosa – como um dos instrumentos estratégicos capazes de contribuir para a emancipação – da mulher, do negro, daqueles que fazem uso dos diferentes modos de experenciação da sexualidade e demais agrupamentos –, pela via da construção de uma consciência histórica e crítica sobre a vida, e, inevitavelmente, sobre a vida na América Latina.
Estamos distantes do muito que desejamos enquanto minorias sociais e ainda é possível nos depararmos com muitos resquícios de violências aqui empregadas a partir do século XV. Porém, as inquietações estimuladas em círculos como os da IPU contribuem claramente para que esse quadro social ganhe novos rumos, nortes libertários. Não seria um erro, portanto, crer ser a IPU, situada na cidade de Muritiba, uma importante ferramenta de transformação nos níveis individual e social, muito menos assumir que a sua presença no diverso conjunto cristão é um germe revolucionário.



[1] Bacharel em Psicologia pela UFRB.

sábado, 26 de setembro de 2015

UMA EXPERIÊNCIA DE FÉ...

A Assessoria de Assuntos Teológicos, que tem como assessor o Rev. Claudio Marcio Rebouças, da IPU de Muritiba/BA, propõe para nós, membros da IPU, que escrevamos um pouco sobre aquilo que nos encanta e desencanta em nossa denominação, em uma forma de nos conhecermos e de promover uma reflexão teológica.
Este trabalho tem como base o texto de Mateus 16:13b que diz: "Quem dizem os homens ser o Filho do homem?"
Quem quiser participar, poderá enviar um texto, de até duas páginas,identificando-se, para nosso assessor (revcacau@hotmail.com) que irá, posteriormente, disponibilizar sua opinião neste espaço.
Participe!


Um dos participantes foi Paulo Roberto, segue o seu texto. 

“Certo ou errado até... A fé vai onde quer que eu vá”!
(Gilberto Gil- Andar com Fé).

Por: Paulo Roberto[1]
A experiência da Fé, na história humana, “sempre” foi uma característica fundante do processo de desenvolvimento nas diversas sociedades. Me arrisco a dizer que, talvez, um dos processos sociais mais solícito a companhia dos indivíduos, ao longo dos tempos, frente aos ainda incertos acontecimentos em nosso cotidiano. Foi e, ainda tem sido, nas diversas formas de ser das religiões, onde o humano pode e tem podido se enxergar, mesmo com gritantes contradições, um local de amparo e encorajamento do humano.
Nesse sentido, tenho a categórica dimensão de que a religião, esse espaço de mediação entre o humano e suas figuras de transcendência, suas formas divinas de consolo e zelo, tem um papel extremamente descomunal no que tange a confortabilidade humana, ainda que seja imbuída de crises e conflitos diversos. Não há como negarmos a experiência de libertação, equilíbrio e força com que os espaços religiosos, na sua dimensão da crença, da fé, produzem na vida d@s que as seguem. O trato religioso para com a vida busca, através do seu discurso, trazer, desde a sua concepção, esta condição de serenidade e maravilhas para o viver diário.
Tomado por esta perspectiva, vejo que em minha experiência de Fé, ainda muito jovem e conflituosa em alguns instantes, fui deliciosamente arrastado, através da relação com a IPU, na cidade de Muritiba, no Recôncavo Baiano, na figura do seu eminente Reverendo (meu parceiro), Cláudio Márcio Rebouças, por uma dimensão encantadora, algo que já vinha vivenciado, mas que, confesso, havia meio que abandonado há um certo tempo, a prisão libertadora do Ecumenismo. A representação mais perfeita da minha ideia de Paraíso, o sentar-se junto à tod@s, comer do mesmo pão, beber do mesmo vinho, do mesmo jabá, beber do mesmo licor, como nos aponta o Pastor Cláudio Márcio.
Tal foi a profundidade com que fui atingido por essa força Ecumênica, no espaço da IPU, que, mesmo em meus primeiros instantes de caminhada, pude me sentir em casa, certo de que ali podia continuar com a mesma e tão divinamente humana representação de Deus e suas dimensões. Me sentia e me sinto, sempre, batendo um papo extremamente gostoso e rico com a figura do Senhor Deus, numa intimidade encontrada apenas e tão-somente, nas mais sinceras e transparentes formas de ser relação.
Na IPU o contato com a dimensão divina é, tal qual a de uma pena ao se desvencilhar de um pássaro e ser tocada pelo suave vento, “sempre” chega ao chão abrandada-tranquilizada, serenamente cuidada. Na e com a IPU tive e tenho tido a certeza do quanto, apesar de muito complexo-dispendioso, nos é necessário o exercício da alteridade, do olhar no e para o outro a dimensão, ainda que distinta, do rosto e da força divina, enxergar sempre nesse outro, a riqueza que existe nas diversas formas de ser e estar Igreja, nos distintos modos de poder, de modo deleitador, experienciar a nossa Fé!





[1] Bacharel em Ciências Sociais pela UFRB.