quarta-feira, 12 de abril de 2017

Poesia de João Dias

MÃOS VAZIAS[1]
Por: João Dias de Araújo[2]

“Dá uma esmola por amor de Deus!”
E naquelas mãos espalmadas
Está o deserto pontilhado de mandacarus[3],
Está o solo rachado das lagoas secas,
Dos rios secos e dos açudes estorricados...
Naquelas mãos espalmadas
Está a ossada dos bois,
Dos carneiros e dos bodes que morreram...
Está o chão varrido pelo vento ingrato
Que levanta a poeira e as folhas do sertão.
“Dá uma esmola por amor de Deus!”
E naquelas mãos espalmadas
Estão as folhas secas do milho, do feijão,
E dos sonhos do sertão.
Sim, estão naquelas mãos
Os caminhos intermináveis dos retirantes.
Ouço daquelas mãos o piado angustiado
Do pássaro Sem-fim: - “Sem...fim...”
Aquelas mãos parecem infinitas
Porque a miséria não tem fim.
“Dá uma esmola por amor de Deus!”
E naquelas mãos espalmadas
Há uma falta de tudo que os homens negaram.
Mãos vazias que os cristãos não encheram,
Por isso Deus vai mandar que outros encham.
Nem tu, nem eu, nem vós, mas eles, eles...
Porque aquelas mãos espalmadas
Não vão mais aparecer vazias,
Porém, estarão retesadas e fechadas,
Segurando o sabre, a espada e a peixeira...
Aquelas mãos vazias
Ainda se levantarão contra nós!



[1] Informações contidas no livro: RENDERS, Helmut. SOUZA, José Carlos Dias. CUNHA, Magali de Nascimento (Orgs) As Igrejas e as mudanças sociais: 50 anos da Conferência do Nordeste, São Paulo: ASTE, 2012.
[2] Originalmente publicado na Revista Cruz de Malta, p.26-27 (set.\ out. 1962). Os editores da revista apresentaram o autor com as seguintes palavras aos leitores e às suas leitoras: “CATEDRÁTICO do Seminário Presbiteriano do Norte, em Recife, João Dias de Araújo representa uma das promessas da nova geração de ministros evangélicos brasileiros. Sua cultura bíblica é invejável, sua identificação com a realidade brasileira demonstra-se nestas páginas, que falam da crise nordestina. É com justo orgulho que o apresentamos à ‘nossa família’ de leitores”.
[3]  O mandacaru, também conhecido como cardeiro, é uma planta da família das cactáceas. Ele é comum no nordeste e atinge até cinco metros de altura. 

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Poesia de João Dias...

Por: João Dias de Araújo[1]

NORDESTE[2]
Ô seca miseranda, ó enchente agreste!
Avalancha de luz que inunda e cresta,
Dilúvio de clarões cobre a floresta
Desnudando a epiderme do Nordeste.
Ruge o deserto na amplidão molesta
Gretado pelo sol que em fúria investe.
E vem a seca, e vem a enchente mesta,
E vem a sombra e a funérea peste...
E vem o enxurro dos humanos trapos
Viajando e arrastando os seus farrapos
Nas ladeiras báratro servil...
Não escutais em meio à nevoaça
Os suspiros profundos da desgraça
Soluçando no peito do Brasil?





[1] Originalmente publicado na Revista Cruz de Malta, p.26-27 (set.\ out. 1962). Os editores da revista apresentaram o autor com as seguintes palavras aos leitores e às suas leitoras: “CATEDRÁTICO do Seminário Presbiteriano do Norte, em Recife, João Dias de Araújo representa uma das promessas da nova geração de ministros evangélicos brasileiros. Sua cultura bíblica é invejável, sua identificação com a realidade brasileira demonstra-se nestas páginas, que falam da crise nordestina. É com justo orgulho que o apresentamos à ‘nossa família’ de leitores”.

[2] Informações contidas no livro: RENDERS, Helmut. SOUZA, José Carlos Dias. CUNHA, Magali de Nascimento (Orgs) As Igrejas e as mudanças sociais: 50 anos da Conferência do Nordeste, São Paulo: ASTE, 2012.