“Que
estou fazendo se sou cristão,
Se
Cristo deu-me o seu perdão?
Há
muitos pobres sem lar, sem pão,
Há
muitas vidas sem salvação.
Mas
Cristo veio pra nos remir,
O homem
todo, sem dividir:
Não só
a alma do mal salvar,
Também o
corpo ressuscitar “
(Rev.
João Dias de Araújo).
Por:
Cláudio Márcio[1]
Há uma demanda grande
pela prática do ecumenismo e, de maneira mais ampla, do diálogo
inter-religioso. Segundo o teólogo Hans Kung, “só haverá paz no mundo existindo
paz entre as religiões”. Ao observar a história percebemos que muito sangue foi
(é) derramado em nome da fé, assim sendo, o fenômeno religioso é complexo e
carece de rigor analítico para melhor compreensão dos sistemas de crenças que
ordenam o viver social de milhões de sujeitos sociais nesta “aldeia global”.
Sem dúvidas, as religiões monoteístas quando atreladas a processos
imperialistas com tons civilizacionais, geram morte-dominação e, não menos,
controle corpóreo e ideológico das pessoas. Todavia, é importante lembrar que
as dinâmicas de resistências também são reais. Desta forma, surge uma questão:
partindo do pressuposto que o diálogo ecumênico e ou inter-religioso é um
caminho possível de convivência com o diferente, o que leva a muitos religiosos
serem contrários a essa prática?
Honestamente, por
vezes, me pergunto, sobre aqueles (as) que negam o ponto de vista ecumênico: o
que leram sobre o assunto e ou quais experiências foram realizadas no cotidiano? O que pensam sobre o OIKOUMENE? O que sabem do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil –
CONIC/BR? Do Conselho Latinoamericano de Igrejas – CLAI? Da Aliança de Igrejas Presbiterianas e Reformadas da
América Latina – AIPRAL? Da Comunhão
Mundial de Igrejas Reformadas – CMIR? Do Conselho Mundial de Igrejas – CMI? Koinonia Presença Ecumênica e Serviço? Aliança de Batistas
do Brasil-ABB? Coordenadoria Ecumênica de Serviço- CESE? Comissão Ecumênica dos
Direitos da Terra- CEDITER?
Tive a grande sorte de
ser aluno-amigo do meu mentor Rev. João Dias de Araújo, para mim, símbolo de
diálogo ecumênico e inter-religioso e, não menos, engajado por justiça social
através de uma Teologia Prática. Com efeito, a fé cristã defendida por este
líder religioso passava necessariamente por ações libertadoras dos oprimidos. A
CESE e a CEDITER, por exemplo, são instituições não só idealizadas (também por
ele), mas, espaços em que foi protagonista dedicado a causas de justiça social
e emancipação humana. Na realidade, o tom do texto é apenas uma releitura a
partir do nosso chão.
Acredito que são muitos
os desafios para o processo de construção da CASA COMUM, pois, interesses
políticos, econômicos e, não menos, a busca pelo “poder” fazem que, como bem
sugere a canção de Caetano Veloso: “narciso ache feio o que não é espelho”.
Entretanto, há exemplos significativos no século XXI de uma espiritualidade
dialógica, diaconal, carismática e humana como vem se tornando a representação
do Papa Francisco.
Com efeito, como cristão protestante da Igreja
Presbiteriana Unida defendo que afirmar-se é um ato político-identitário e,
sabendo que só sou em relação ao outro, é que me disponho ao diálogo com
ligeiras suspeitas de que aqueles (as) que não querem sentar-se à mesa da
fraternidade podem não saber quem são (carecendo de mais conhecimento); podem
não querer perder privilégios, e enfim precisam esconder-se por trás de
verdades imaculadas com medo da mudança que incomoda e desterritorializa, mas sobremaneira
me encanta porque gera vida!