sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

CASA COMUM...


“Que estou fazendo se sou cristão,
Se Cristo deu-me o seu perdão?
Há muitos pobres sem lar, sem pão,
Há muitas vidas sem salvação.
Mas Cristo veio pra nos remir,
O homem todo, sem dividir:
Não só a alma do mal salvar,
Também o corpo ressuscitar “
(Rev. João Dias de Araújo).

Por: Cláudio Márcio[1]

Há uma demanda grande pela prática do ecumenismo e, de maneira mais ampla, do diálogo inter-religioso. Segundo o teólogo Hans Kung, “só haverá paz no mundo existindo paz entre as religiões”. Ao observar a história percebemos que muito sangue foi (é) derramado em nome da fé, assim sendo, o fenômeno religioso é complexo e carece de rigor analítico para melhor compreensão dos sistemas de crenças que ordenam o viver social de milhões de sujeitos sociais nesta “aldeia global”. Sem dúvidas, as religiões monoteístas quando atreladas a processos imperialistas com tons civilizacionais, geram morte-dominação e, não menos, controle corpóreo e ideológico das pessoas. Todavia, é importante lembrar que as dinâmicas de resistências também são reais. Desta forma, surge uma questão: partindo do pressuposto que o diálogo ecumênico e ou inter-religioso é um caminho possível de convivência com o diferente, o que leva a muitos religiosos serem contrários a essa prática?
Honestamente, por vezes, me pergunto, sobre aqueles (as) que negam o ponto de vista ecumênico: o que leram sobre o assunto e ou quais experiências foram realizadas no cotidiano? O que pensam sobre o OIKOUMENE? O que sabem do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil – CONIC/BR? Do Conselho Latinoamericano de Igrejas – CLAI?  Da Aliança de Igrejas Presbiterianas e Reformadas da América Latina – AIPRAL?  Da Comunhão Mundial de Igrejas Reformadas – CMIR?  Do Conselho Mundial de Igrejas – CMI? Koinonia Presença Ecumênica e Serviço? Aliança de Batistas do Brasil-ABB? Coordenadoria Ecumênica de Serviço- CESE? Comissão Ecumênica dos Direitos da Terra- CEDITER?
Tive a grande sorte de ser aluno-amigo do meu mentor Rev. João Dias de Araújo, para mim, símbolo de diálogo ecumênico e inter-religioso e, não menos, engajado por justiça social através de uma Teologia Prática. Com efeito, a fé cristã defendida por este líder religioso passava necessariamente por ações libertadoras dos oprimidos. A CESE e a CEDITER, por exemplo, são instituições não só idealizadas (também por ele), mas, espaços em que foi protagonista dedicado a causas de justiça social e emancipação humana. Na realidade, o tom do texto é apenas uma releitura a partir do nosso chão.
Acredito que são muitos os desafios para o processo de construção da CASA COMUM, pois, interesses políticos, econômicos e, não menos, a busca pelo “poder” fazem que, como bem sugere a canção de Caetano Veloso: “narciso ache feio o que não é espelho”. Entretanto, há exemplos significativos no século XXI de uma espiritualidade dialógica, diaconal, carismática e humana como vem se tornando a representação do Papa Francisco.
 Com efeito, como cristão protestante da Igreja Presbiteriana Unida defendo que afirmar-se é um ato político-identitário e, sabendo que só sou em relação ao outro, é que me disponho ao diálogo com ligeiras suspeitas de que aqueles (as) que não querem sentar-se à mesa da fraternidade podem não saber quem são (carecendo de mais conhecimento); podem não querer perder privilégios, e enfim precisam esconder-se por trás de verdades imaculadas com medo da mudança que incomoda e desterritorializa, mas sobremaneira me encanta porque gera vida!  




[1]  Reverendo da IPU de Muritiba (cidade serrana do Recôncavo da BA).