sábado, 8 de outubro de 2022

FAZEM DO PÚLPITO UM PALANQUE ELEITORAL...

 

Por: Cláudio Márcio R. da Silva[1]

Irmãos e irmãs, paz!  Me dirijo a vocês neste momento para lembrar que devemos andar com compromisso com a justiça e a dignidade humana. Na verdade, Jesus nos diz no evangelho que seremos felizes se tivermos fome e sede de justiça. Diante do cenário de fome e morte dos pequenos do nosso Senhor é preciso ter compaixão, alteridade e empatia.

Como orar tanto, frequentar a igreja, ler o texto sagrado e andar com tanta indiferença e, por vezes, com ódio do próximo? Vocês preferem a interpretação do Deus distante, da guerra/sanguinário ao Deus presente encarnado que chorou, teve fome, dormiu, conversou com pessoas?

domingo, 17 de abril de 2022

O SOL JÁ VEM CHEGANDO...

Por: Cláudio Márcio R. da Silva  

Afirmo neste dia que meus sonhos mais belos são resgatados

Avivo a memória para que meus pés não se desviem do caminho da justiça

Declaro com alegria e esperança de que um dia todo muro da divisão será derrubado

Creio que amorosidade cantará com força como os pássaros matinais

Na mesa não faltará alimento e os campos estarão floridos

Os rios brotarão vida e o nosso riso será bobo como numa tarde samba

Vamos dançar e não vamos nos cansar

 Olharemos nos olhos de alguém e nunca teremos dúvidas que somos irmanados

Acredito no sepultamento da distopia e na ressurreição da afetividade

Todo corpo será sagrado

Ninguém mais sofrerá pela cor da pele, da nacionalidade, do gênero, da sexualidade ou classe social

Todo caos será reorganizado em um grande jardim

Fica decretado que chegou o dia da redenção

Esse é o perfume da ressurreição

Levanta a cabeça e anda que o sol já vem chegando


sábado, 2 de abril de 2022

COMECEI A IMAGINAR...

 

Por: Cláudio Márcio R. da Silva[1]

 

Ó Deus, me livraste do cativeiro e comecei a imaginar

Que tinha pão, saúde, teto, educação e emprego

O povo comia churrasco e ou feijoada no fim de semana

Era som de festa e comunhão – dia de redenção

 

Ó Deus, a minha boca se encheu de riso e eu não parava de cantar

A fé e a coragem no campo e na cidade de resistir e se reinventar

Lançar sementes e cuidar, pois, o fruto chegará

Nosso casulo é um grande quilombo – Dandara e Zumbi voam

 

Ó Deus, estou alegre em plena libertação – tudo novo se fez

Consciência coletiva de partilha na unidade diversa

Bebemos água do manancial que há em Ti-nós

Nosso choro será no colo de amorosidade de Deus

 

Ó Deus, ouço um convite para caminhar de maneira ética e solidária

Sua voz aponta para justiça, a compaixão e o bem viver

Minhas mãos estão cansadas de lançar a semente

Permaneço – Tua voz me diz: uma planta e a outra colhe: Eu dou o crescimento.




 



[1] Reverendo da Igreja Presbiteriana Unida de Muritiba (cidade serrana do recôncavo baiano), pensando o Sl 126.

domingo, 27 de março de 2022

MISTÉRIO ACOLHEDOR...

 

Por: Cláudio Márcio Rebouças da Silva[1]

 

Ó Deus, fonte de toda luz que ilumina nossos passos para beleza e a justiça

Te encontramos no canto dos pássaros e no voo das borboletas

Te experimentamos nas águas do mar ou de uma cachoeira

Nos toca com o vento, com o livro e com as mãos enrugadas da ancestralidade

 

Ó Deus, alimento que precisamos cotidianamente para permanecer de pé no caminho

Podemos saborear-te ao partir o pão na mesa e sorrirmos em comunhão

Podemos indignar-nos ao perceber nossos irmãos e irmãs com fome e dor

Podemos superar a indiferença, pois, já sabemos que “a vil miséria insulta os céus”.

 

Ó Deus, mistério acolhedor cheio de amorosidade que nos chama pelo nome

Somos teus e ainda não sabemos quem somos – somos muitos dentro de nós

Somos vozes latinas-nordestinas do recôncavo afro-indígena

Somos mãos teimosas na igreja e na sociedade pela defesa do bem viver

 

Ó Deus, corremos em direção a Ti como criança nos primeiros passos

Podemos cair, nos machucar, chorar, mas, tuas mãos sempre nos convidam a recomeçar

Tua voz traz paz em meio ao projeto de morte dos opressores

O som da redenção ecoa em nossos ouvidos dizendo que é hora de amar, cuidar e servir

 

Ó Deus, diante do caos traz a tua ordem – transforma nosso luto em festa

Na insegurança tu és nosso quilombo seguro – à sombra de uma jaqueira descansaremos

Diremos ao Senhor: obrigado pelo dom da vida e eis-nos aqui em práxis de libertação

Semearemos com fé e coragem colheremos no campo e na cidade uma nova humanização.

 


 



[1] Reverendo da Igreja Presbiteriana Unida em Muritiba (cidade serrana do recôncavo baiano).

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

NA SEMENTE HÁ UMA ÁRVORE ESCONDIDA...

 

Por: Cláudio Márcio Rebouças da Silva[1] 

Ó Deus, que habita a imensidão de mundos que há em mim. Que conhece meus caminhos e não me deixa sozinho.  Preciso de Ti. Preciso de mim. Preciso do outro.

Ó Deus, luz que me faz esperançar no mutirão da justiça.  Que minhas mãos estejam prontas para teu serviço.  Que teu óleo em minha cabeça possa me curar. Ouço o som que emana de Ti e quero voltar a dançar.

Ó Deus, ajuda-me a recomeçar sempre.  Que meus olhos não se afastem da Tua Palavra escrita no corpo de cada humano excluído(a) e marginalizado(a). Que eu possa ler com óculos da compaixão, da justiça e da libertação.

Ó Deus, quero ser voz da resistência criativa.  Quero fazer parte da construção do encantamento nestes dias de caos e desespero.  Quero mais uma vez me envolver na revolução do amor e da afetividade.

Ó Deus, sei que na semente há uma árvore escondida. Sei que é difícil esperar por processos necessários para um amadurecimento.  Sei que o fruto me alimentará e que ainda vou sorrir nessa sombra que me faz agradecer por mais um dia.



[1] Reverendo da Igreja Presbiteriana Unida em Muritiba (cidade serrana do Recôncavo baiano).


domingo, 13 de fevereiro de 2022

A IPU PODE CONTAR COMIGO?

 

Por: Cláudio Márcio Rebouças da Silva[1]

Olá, irmãs e irmãos das comunidades eclesiásticas da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil. Espero que estejam bem e firmes no Evangelho de Cristo nosso camarada e Senhor. Sabemos que temos vivido dias turbulentos na conjuntura social e, não menos, em nossa subjetividade. Esperançar é o grito de ordem, porém, não tem sido fácil, contudo, como pessoas de fé podemos afirmar que até aqui Deus tem nos ajudado e que sem Ele nada podemos fazer.

É importante salientar que isso não significa a ausência de dores, medos, lutos, inseguranças, etç, isto é, a fé numa pandemia, não imuniza, na realidade, somos parte do povo da teimosia da fé que compreende que não andamos sozinhos(as) nestes dias caóticos e nebulosos. A fé é essa lanterna que abre caminhos e nos anima para jornada. A fé e a sensibilidade para a dinâmica do Espírito Santo nos fazem sorrir e cantar novamente em função de sabermos em quem temos crido e que o nosso redentor vive.

De fato, a fé no projeto de Deus encarnada em Jesus de Nazaré nos aponta para uma espiritualidade madura e diaconal. Como comunidade reformada ecumênica somos desafiados(as) a “escolher a vida e alargar a tenda”. Precisamos “trazer a memória o que nos dá esperança”. É diante deste sonho desafiador que nos colocamos no mutirão da defesa da vida e comprometidos(as) com a continuidade da reforma protestante em solo brasileiro.

Com efeito, é preciso se olhar e problematizar: o que a IPU de fato representa para mim? Que tipo de mudanças quero na IPU? Quero ser parte desta nova realidade que pode ser construída? Oro, cuido e contribuo com minha comunidade?  Meus dons e talentos são colocados para o serviço do Evangelho dentro e fora da comunidade? A IPU pode contar comigo? Se Deus nos chama para um momento novo essa voz rompe nossa surdez.

Irmãos e irmãs, trazer a memória não deve ser saudosismo ineficaz. A proposta pedagógica da ancestralidade é um paradigma que deve envolver dimensões simultâneas de mudança-continuidade. Não abrimos mão do belo testemunho daqueles e daquelas que nos antecederam, mas, temos que avançar. Temos que ter maturidade de corrigir possíveis equívocos e frutificar para a glória de Deus. Fé e coragem não apenas para denunciar injustiças, mas, para anunciar o dia da redenção.

Suspeito que precisamos responder para nós mesmos: que igreja fomos? Que igreja somos? Que igreja queremos ser? Não há mágica e nem palavras de autoajuda. Aqui é um convite para pensarmos um projeto de igreja que nos acolheu como somos e que precisa se perguntar se quer e é capaz de acolher aqueles e aquelas que estão por vir em breve. Que Deus nos oriente e nos ajude mais uma vez. Que nossa IPU seja uma bênção e uma luz nestes tempos sombrios. Amém!

           

 




[1] Reverendo da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil em Muritiba (cidade serrana do Recôncavo da Bahia).

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

O SEMEADOR SE FOI...OS FRUTOS CONTINUAM A BROTAR

 

Por: Cláudio Márcio Rebouças da Silva[1]

Hoje, 09-02-2022, faz 8 anos do falecimento do Reverendo João Dias de Araújo. Rememorar seu nome é um ato político identitário nestes dias confusos que estamos vivendo em solo brasileiro. Esse teólogo-pastor presbiteriano deixou muitos legados no campo do protestantismo ecumênico progressista. Aqui, cito a experiência da Comissão Ecumênica dos Direitos da Terra (CEDITER), criada por ele em 1982 (ano também do meu nascimento), não tinha como saber e ou imaginar que nossas vidas iriam se encontrar na caminhada.

Bem, tive a oportunidade de estudar de 2002 até 2005 teologia no Seminário Teológico Batista do Nordeste em Feira de Santana-BA, foi lá que tive acesso a Teologia da Libertação, aos encontros da Fraternidade Teológica Latino Americana e, inevitavelmente, ao Rev. João Dias de Araújo. Leituras e vivências me ampliaram a visão e não conseguia mais ser o mesmo.

Minha relação com João Dias se tornou maior que a sala de aula a ponto de frequentar sua casa e posteriormente migrar da Igreja Batista para Igreja Presbiteriana Unida do Brasil. Se abria para mim a possibilidade de uma teologia e um pastorado diferente. O esforço agora era tentar compreender a vida do povo sofrido e oferecer além do alento e consolo, a construção coletiva da consciência política no que tange a organizar-se para lutar pela garantia de seus direitos humanos e sociais.

A leitura da Bíblia passou a ser diferente, pois, não me interessava mais o “sexo dos anjos” e ou “responder a perguntas irrelevantes”. Interessava-me pensar a leitura do texto sagrado com a percepção de “brasilidades, nordestinidades e baianidades”, isso é, como o próprio João apontou: “se a injustiça é contra Deus e a vil miséria insulta os céus”, eu precisava tentar responder a sua indagação: “que estou fazendo se sou cristão?”.

Confesso que essa pergunta é extremamente perturbadora. Ela tira o sono e me faz pensar da dimensão prática da fé. Se creio, ficarei em silêncio ou acomodado? Se creio, viverei em omissão e covardia? Se eu creio, não serei capaz de partir o pão e cuidar do próximo? Se eu creio, não lançarei as mais belas e potentes sementes da transformação?

Falando em semente, a CEDITER completa 40 anos em 2022. Muitas sementes foram lançadas no caminho. Me aproximei da CEDITER a alguns anos e essa Organização Social é responsável através do Centro Público de Economia Solidária (Cesol) do Recôncavo Baiano pela execução da Política Pública nesse território. Aqui, novamente minha vida se cruza com a de João Dias de Araújo, uma vez que, devido a formação em Ciências Sociais (UFRB) e a relação com a CEDITER, fui convidado para compor a equipe do Cesol Recôncavo na função de Coordenador Geral no projeto.

Sim, muitos são os desafios e as possibilidades. Existem sem dúvida alguns limites, mas também recriações constantemente. Sigo trazendo na cabeça e nas ações um pouco de João Dias de Araújo, pois, esse paradigma de espiritualidade do serviço, da comunhão ecumênica e do diálogo inter-religioso, da organização comunitária em prol dos Direitos Humanos é indispensável na contemporaneidade.

Diante de um cenário que líderes evangélicos estão envolvidos em esquemas escusos de corrupção, trazer a memória o Rev. João Dias é dizer que existem outros caminhos a serem seguidos. Caminhos percorridos por homens e mulheres comprometidos com a paz e a justiça. Caminhos trilhados por sujeitos sociais disponíveis para construção de pontes e demolidores de muros. Se tudo foi pintado de cinza, o mutirão é feito com cores, beleza e poesia.

Vamos esperançar! A CEDITER é convidada a celebrar, avaliar e avançar, uma vez que, “esperamos novos céus e nova terra nos quais habita a justiça” (2 Pedro 3.13).





[1] Reverendo da Igreja Presbiteriana Unida de Muritiba-BA e Coordenador Geral do Cesol Recôncavo.




sábado, 5 de fevereiro de 2022

RESISTÊNCIA NO QUILOMBO...

 

Por: Cláudio Márcio Rebouças da Silva[1]

 

 

Mulher negra quilombola do Recôncavo baiano

Mulher de fé na vida e nos Orixás

Mulher guerreira de luta e resistência

Mulher da justiça, do amor e da paz

 

Mulher quilombola negra do Recôncavo baiano

Mulher que planta e colhe com gratidão

Organiza grupos, levanta a voz para revolução

Acolhe quem precisa estendendo a sua mão

 

Negra quilombola mulher do Recôncavo baiano

Na ancestralidade identitária o pertencimento no coração

Engenho da Ponte é travessia que gera mudança

Mas na caminhada não há indivíduo, e sim multidão

 

Articuladora política do Cesol Recôncavo

Semeadora de esperança que germina libertação

E ontem eras uma menina que sonhava com o futuro

Hoje és Maria Adabe, doutora do nosso chão

 


 

 

 

 

 

 

 



[1] Coordenador Geral do Centro Público de Economia Solidária do Recôncavo. Texto em homenagem a Articuladora Política do Cesol Recôncavo Maria Adabe, que recebeu o título de Doutora Honoris Causa concedido pela Ordem dos Capelães do Brasil.

domingo, 23 de janeiro de 2022

SOMOS UNGIDOS PARA SERVIR...

 

Por: Cláudio Márcio Rebouças da Silva[1]

Gosto da espontaneidade das crianças que muito nos ensinam e nos desafiam. Ao sair para entregar kits lanche da Turma da IPUzinha em bairro carente de Muritiba-Ba, eu e Jussi levamos nosso sobrinho como ato pedagógico, almejando inculcar valores de solidariedade e compaixão com pessoas em vulnerabilidade social. Confesso que os olhos dele (Gui) brilham em saber que naquele momento é capaz de cuidar de alguém. Fica feliz e quase eufórico.