Por: Jussiana
Silva dos Santos Rebouças*
Atualmente estamos trabalhando com cerca de 40 crianças, sendo que apenas 20% delas são filhos e filhas de nossos
membros. Ou seja, 80% delas apareceram em nossa comunidade e frequentam
nossa Escola Dominical porque em algum momento foram tocadas, convidadas,
envolvidas e por fim seduzidas pelo trabalho! Dessa forma não podemos
decepcioná-las. Utilizando-me das palavras de Antoine de Saint-Exupéry,
somos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos. Ora, somos
responsáveis por essas crianças, precisamos ouvi-las, respeitá-las, amá-las. O
que elas querem nos falar? O que elas querem de nós? Qual simbologia a igreja
representa em suas vidas? Sabemos que todas elas são pertencentes à camada
popular, negras e que além do pão, dos brinquedos, também buscam um sorriso, um
abraço, um afeto, um carinho, um cafuné... Essas crianças demonstram refletir
cotidianamente e sabem que a felicidade é uma conquista. Por isso saíram das
suas casas e peregrinaram pelas ruas de Muritiba em busca de um local
aconchegante, em que pudessem desfrutar de momentos prazerosos e
enriquecedores. Esses meninos e essas meninas possuem olhos que brilham em
busca de exemplos, de caminhos, de futuro!
Diante dessa realidade
estamos no quarto ano consecutivo empreendendo estratégias didáticas oriundas
dos saberes bíblicos, das histórias de vida de familiares, amigos e também
membros da igreja, revestidas de uma perspectiva de troca de conhecimento,
potencializando habilidades e competências múltiplas, na medida em que desafiam
um fazer pedagógico em que educadores e educandos são autores e sujeitos do processo
ensino aprendizagem. Entre os saberes também experimentamos sabores, na medida
em que doces e guloseimas juntamente com o lanche e as festividades regadas de
muita comida, alegram nosso paladar e demonstram o quanto nossas palavras são
acompanhadas de ações que para além de confirmarem o que defendemos e
acreditamos apontam para um ensinar com exemplo, com solidariedade, com amor e
com justiça social. Cada lição trabalhada temos atividades lúdicas que
exercitam a criatividade e também são reinterpretadas para nossa realidade.
Trabalhamos com as histórias bíblicas dialogando com valores e atitudes de
respeito à diferença cultural. Refletimos sobre questões étnicas, de gênero,
etárias, de classe, através de desenhos, pinturas, modelagem, colagem, culinária.
Nosso objetivo é sempre surpreendê-las!
Ainda é válido destacar
que essas crianças além de levarem o que aprendem para casa, conquistando seus
pais e familiares, também divulgam o trabalho para seus amigos e a cada domingo
recebemos visitantes que muitas vezes começam a ser estudantes matriculados em
nossa EBD. São de fato pequenos e pequenas missionários(as) que assim como Cristo
saem divulgando as Boas Novas na escola, em casa, nas praças e esquinas. Com
efeito, estamos constituindo uma superfície de inscrição em nosso corpo, ou
seja, sentindo na pele o que Jesus alertou: “Deixai vir a mim os pequeninos e
não os impeçais; pois o Reino de Deus pertence aos que são semelhantes a eles”
(Lucas 18:16) . Nossa IPU de Muritiba precisa ser igual a essas crianças.
Acordar no domingo alegre, tomar o café sem ao menos a mãe perceber (Fala da
mãe de duas participantes da nossa EBD), sair nas casas pegando os amigos e as
amigas, assumir o trajeto a pé quando o pneu da bicicleta estiver furado (fala
de mais uma pequena da nossa comunidade), ligar para os outros e perguntar: -
Não vamos hoje à igreja? (ação dominical de mais uma criança). E enfim, receber
todos e todas com um caloroso abraço e um delicioso sorriso de quem acordou e
agradeceu a Deus por mais um belo domingo!
* Possui graduação em LICENCIATURA HISTÓRIA e MESTRADO EM EDUCAÇÃO pela
Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e bacharelado em SERVIÇO
SOCIAL pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Atualmente é
professora da SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DO MUNICÍPIO DE MURITIBA e da SECRETARIA
DA EDUCAÇÃO DO ESTADO DA BAHIA.
Muito boa a reflexão do cotidiano das nossas crianças na EBD e na sociedade como um todo.
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