segunda-feira, 17 de junho de 2013

EU: PASTOR-OVELHA, PROFESSOR-ESTUDANTE...


Ensinar

é um exercício

de imortalidade.

De alguma forma

continuamos a viver

naqueles cujos olhos

aprenderam a ver o mundo

pela magia da nossa palavra.

O professor, assim, não morre

jamais...  (Rubem Alves)

                                                                                 

            A nossa vida também é composta de escolhas, feitas no caminho, num misto de subjetividade-objetividade que me parece como discussão interessante quando que refletido sociologicamente na perspectiva indivíduo-sociedade. Daí, não só com os clássicos da sociologia (Durkheim, Marx e Weber), mas, com teóricos como: Bourdieu, Giddens, Elias...a reflexão sobre esta temática  ainda tem provocado nossa maneira de olhar para o mundo.
            Bem, diante dessas e outras leituras, experiências e troca de saberes, é que tenho olhado para a pequena e acolhedora comunidade da IPU (Muritiba-Ba), local onde pastoreio e simultaneamente sou pastoreado. Durante muito tempo andei (ando) me perguntando: o que é ser um pastor? Essa pergunta aparentemente "boba" muitas vezes me tirou o sono! Pois, penso que com alegria de ter sido escolhido para uma missão de pastorear, vez por outra, me dá a impressão que "caí na maior roubada".
            Não tenho vergonha e ou medo de assumir o que penso. Se a vida é feita de escolhas, tenho feito as minhas, com muita fé, crítica e risco. Uma dessas escolhas diz respeito à vinda para IPU. Aqui, não só pela pouca idade e pela novidade do ethos religioso (já que venho da igreja batista), optei por uma reciprocidade no ato de pastorear, de cuidar. Não gosto do locus de prestígio "elevado" que há na representação do líder religioso. Não estou com isso negando eficácias simbólicas, estou apenas questionando o uso que se faz de tais representações.
            Desta maneira, as militâncias da fé, do ecumenismo, do Pai-nosso e pão-nosso que não se separam provocaram em mim o desejo profundo de perceber a igreja como este lugar de possibilidades de transformação. Ora, a IPU tem me oferecido o sonho de fazer do espaço religioso um ambiente de reflexão sobre o mundo. A bíblia em diálogo com outros saberes. Evidente que as pessoas nem sempre gostam (aceitam) o que está sendo dito. Há também desconfianças e falas que apontam que tenho que ir com calma...
            Sabe o que me encanta neste sentido na IPU? Poder falar! Falar o que penso! E, de vez em quando, em nossa EBD, "o pau quebra". Sabe o que ainda gosto na IPU? As pessoas entenderam que estamos discutindo ideias, pontos de vista. Gosto quando se posicionam dizendo o porquê de concordarem ou não com o meu ponto de vista. Em nossa EBD, as vozes aparecem! Tem sido uma experiência deliciosa ter o argumento questionado, vez por outra, "quebrado" por essa comunidade. Depois, risos, abraços e a frase que tem se tornado comum: nossa EBD hoje foi massa!
            Tenho escolhido em diálogo de enfrentamento com estruturas que me cercam a celebração da vida. O sonho profundo de fazer do espaço religioso um espaço de maior leveza e encantamento. Assim, nossa EBD tem também oferecido diálogo com a MPB e poesia (ainda em processo iniciante).
            Caso alguns estejam "estranhando" a ênfase na EBD, é que diferentemente da Batista que participava (com destaque no culto noturno), aqui, a maior frequência pela manhã. Na IPU, vou aprendendo a ouvir, a cuidar, a abraçar e estender a mão... o que deixa em alguns a sensação que ainda não aprendi o que é ser pastor...símbolo de autoritarismo em muitos arraiais eclesiásticos espalhados em solo brasileiro, em que o pastor deve mostrar "quem manda".
            Acredito que a atividade pastoral está muito relacionada ao ato de educar. Logo, para mim, ser pastor de algum modo é ser também professor. Por isso mesmo, junto à bíblia, à abordagens teológicas, sociológicas e antropológicas, tenho dedicado um tempo para ler sobre educação (sobretudo neste momento: Paulo Freire e Rubem Alves). E, pensando com Paulo Freire, se a educação ocorre em um processo de comunhão e reciprocidade, de troca de saberes, penso o processo de pastorear pela mesma ótica.
Por: Cláudio Márcio

 

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