Na caminhada pastoral, assim como na vida, há
contextos de encantamento-desencantamento comum ao locus existencial de cada
dia. Penso que os desencantos já estão bem sinalizados em meus textos e,
honestamente confesso que uma dimensão parcialmente profética, não diz respeito
a ser do grupo do contra, mas, em amar o projeto do governo de Deus revelado em
Jesus de Nazaré.
Neste
sentido, o texto apresenta aspectos e múltiplos sentidos sobre o café junino
que nossa comunidade (IPU em Muritiba-Ba), tem realizado já alguns anos.
Pensamos ser importante este diálogo com essas brasilidades que se representam
na comida, na dança, na religiosidade, no que sociologicamente chamamos de
ethos de um grupo. Isso mesmo! Pensamos! Essa é uma das características do
ethos da IPU (que ora é valorizado, ora precisa ser redescoberto).
Desta
forma, o nosso café para além dos sabores típicos da culinária, tinha sabor de
vida, de celebração, de encantamento, de leveza... O riso que historicamente
sofreu transformações (já foi caracterizado como algo diabólico e por isso
mesmo em oposição ao divino que era limitado a Igreja) estava no semblante de
cada irmão e irmã.
Um
misto de ordem-caos com o movimento das pessoas fazendo os pratos e sentando à
mesa. Crianças faziam um bendito barulho e, só quem tem uma criança na família
com dificuldades motoras (nossa pequena Clarice, sobrinha de Jussi) pode
entender (com maior facilidade) o que significa "bendito barulho de
crianças".
Sim,
nosso templo se transforma completamente, nossos visitantes são acolhidos por
nossas mãos (que de vez em quando, também é mão de Deus), mas, para mim
particularmente, a mão de Deus também chega através dos visitantes independente
de sua filiação ou não a um grupo religioso.
Neste
sentido, a mão e a voz de Deus estavam em nosso café também no momento em que o
poeta, amigo-irmão Evandro Mota de nossa cidade (cristão católico) como um
sabor delicioso de mingau de milho (de nossa irmã Zélia) recitou poesias! A
comunidade reafirmou a vida que com força tem brotado em nosso meio.
Ao
cantarmos Asa Branca (do nosso rei do baião), o camarada Marcos Monteiro contou
“causos” do seu novo livro (Vila Maravila II) com esse complexo de
espiritualidade, política, futebol e vida, fomos abençoados, desafiados a
continuar pensando-mudando nossa jornada. Novamente a vida brota e renova a
existência.
A
vida também foi celebrada quando ocorreu o mutirão para arrumar e desarrumar a
igreja, pois para mim, se confirmou que não é algo e ou um desejo exatamente
meu, pois, nossa comunidade acredita ser de extrema relevância o nosso café
junino.
Não
aponto como padrão ou estratégia de evangelismo, apenas relato a nossa
experiência que evidentemente é importante para nós. Aliás, já tenho bastantes
problemas com os modelos de evangelização... Penso, que muitas vezes, nós é que
precisamos aprender de Jesus de Nazaré com aqueles e aquelas que insistentemente
afirmamos não conhecerem o filho de Deus.
Bem,
esse não é o caso agora, é que me parece irresistível provocar meus leitores,
pois, de algum modo para refletir, se animar ou criticar, você se interessa com
o que penso, não?
Assim
sendo, defendo que nossa bíblia deve dialogar com o nosso chão e, esse desafio
não é (foi) só meu. Entretanto, aqui no Recôncavo baiano, tenho visto
manifestações do Espírito em espaços onde a vida, o corpo, a justiça, a
brincadeira é a lei. Ou seja, falo do samba de roda, da capoeira, do reggae... Nesses
espaços, meu camarada Jesus de Nazaré costuma passar para visitar, brincar,
cantar, comer, sorrir. Daí, o meu desejo de que a comunidade IPU em Mutitiba-BA
(se assim o quiser) veja um pouco com meus olhos, pois, ultimamente, em
conversa com esse mesmo camarada, ouvir suas queixas dizendo:
"- Ô Cacau,
é impressão minha ou vocês aqui na igreja são de um jeito e no cotidiano de
outro?"
Eu, meio que
sem graça, perguntei: como assim? Ele disse:
“- Oxe, não
está vendo não? A vida de vocês é tão animada, participam de tantas atividades,
visitam tantos bares, shoppings, cinemas, festas e fazem do meu culto algo
próximo de um funeral! Oxe vai ter que ser café junino o ano toda agora é?
Marminino!"
Fiquei
pensando no papo de meu camarada e, mesmo pensando nos desafios de construir na
igreja um espaço também de lazer, de leveza (já que a vida é muito dura),
sorrir, um pouco, pois, sei que Ele curtiu nosso café... Não é possível que
aquele riso nos lábios, aquele prato na mão com bolo e canjica, o amendoim que
O escutei falando com irmã Maria (agente come um atrás do outro...), que ao
cantar parecendo que era a última música de um show de forró e, quando o rei do
baião foi rememorado, os olhos encheram d'água, não sejam demonstrações de
satisfação.
De
qualquer jeito, sou grato por tod@s que possibilitaram o nosso café junino e,
assim como um gole de licor que ora queima, ora alegra, nos sentamos à mesa
para contar “causos” dos outros que me parecem bem familiares.
Por: Cláudio Márcio
Beleza de texto, Cacau... cada vez mais contente de caminhar por perto... um grande abraço.
ResponderExcluirGrato Marcos...bom ter você por perto! É um misto de encanto-desafio.
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