Por:
Cláudio Márcio
Este ano tivemos a
oportunidade de celebrar o dia da Vovó\ Vovô, desta vez, na casa da irmã
Elizabete, eclesiana de nossa IPU que chamamos carinhosamente de dona Liu. Foi
muito bom, pois, a partir de uma liturgia que provocava experiências vividas em
suas jornadas, sorrimos, escutamos, trocamos conhecimentos, cantamos, oramos e,
não menos, ao som de cantigas antigas, alguns vovôs e vovós levantaram-se e
caíram na dança. Honestamente, sou suspeito em falar, todavia, posso dizer que
nosso processo de espiritualidade passa pela fé-festa.
Penso ser importante
sinalizar que para além do apoio fraterno, de colos acolhedores que nos lembram
as “amas de leite”, do dengo “incondicional”, do tempero especial, da suposta
liberdade que na “casa dela (da vovó) tudo pode ser feito”, o apoio econômico desses
senhores e dessas senhoras para com seus netos (as) e filhos (as) não é menos
importante em todo esse processo. Os cabelos brancos continuam sendo fios
fortes, as mãos enrugadas ainda são as mesmas que se abrem para pagar as
dívidas que tiram o sono dos mais jovens! Os olhos atrás dos óculos percebem
muito bem quando a tristeza aflige seus parentes e os ouvidos mesmo assistindo ao
jornal no volume máximo estão atentos para os menores sussurros de choro e prece.
Por isso como não te dar um abraço vovó? Como não te fazer sorrir vovô?
Bem,
o nosso objetivo é oferecer a essas irmãs e irmãos um momento de celebração e,
simultaneamente, fortalecer a espiritualidade do cuidado e da escuta, ou seja,
em dias em que os idosos são desprezados e ou “descartáveis”, várias religiões
(não apenas a cristã), provocam para importância de valorização desses sujeitos
sócio-históricos para além do lugar de consumidores, numa sociedade de consumo.
Desta
maneira, a cada encontro a vida vai sendo recriada, isto é, vai sendo tecida.
Sabemos que existem muitos fios nesta construção. Sabemos também que com um pouco
de disciplina e criatividade o que era sem forma vai assumindo estilos e cores.
Ora, não entendeu? Estou falando da velha máquina de costura da vovó, pois,
quem sabe assim, uma realidade mais bonita vai sendo “costurada”. Isso porque o
tema do encontro esse ano foi costurando nossas vidas e fazendo uma linda colcha
de memórias!
Penso
ser injusto não sinalizar a memória saborosa do velho fogão à lenha, do café
que ia sendo torrado na hora, da água na moringa de barro! Ah, essas narrativas
contadas encheram muitos olhos de lágrimas... De todo modo, ainda que de
maneira efêmera, tentamos retribuir um pouco do que tanto recebemos dessas
pessoas. Em meio a tantas lembranças-ausências, o desejo profundo de dizer: “a
bênção minha vó”, vai sendo recriada por tantas vovós e vovôs que encontrei na
IPU.
Art Suzart
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