quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Homenagem ao Rev. João Dias de Araújo


Por: Diogo Valença[1]

No último dia 09 de fevereiro fui convidado pelo Rev. Cláudio Rebouças para participar, na Igreja Presbiteriana Unida de Muritiba, de uma roda de conversas sobre a memória do Rev. João Dias. O Prof. Jorge Nery fez uma fala sobre a trajetória política e religiosa do Reverendo João Dias, que minha esposa e eu tivemos a felicidade de conhecê-lo ainda em vida.
O Rev. João Dias esteve na minha sala de aula para falar de suas lutas na defesa da terra para os pequenos agricultores. O que me impressionou no Reverendo foi, sobretudo, a sua erudição, mas que ele não ostentava, procurando passar seus conhecimentos com simplicidade e humanidade. Ele esteve com Dom Hélder e combateu a ditadura com a força da sua fé. Para mim, não há diferenças entre cristãos autênticos, que expressam a sua fé por uma decisão política de lutar contra as injustiças sociais, e os lutadores do povo que aprendem a reconhecer no marxismo uma força teórica no combate contra a exploração do homem pelo homem.
O Reverendo é um exemplo de vida e poucos conseguem expressar tanta bondade, paciência e amor ao próximo numa simples conversa e aperto de mão. Meus mais profundos respeitos à memória do Rev. João Dias. Deixo aqui o hino, de cuja letra o Reverendo foi o autor. Ela simboliza, a meu ver, a autêntica fé cristã, que não se acovarda diante dos poderosos. O Rev. João Dias faz muita falta nos dias de hoje, em que alguns se escondem atrás da religião para não enxergar as injustiças sociais e a exploração dos poderosos, tornando-se, não seres humanos completos, mas serviçais das classes dominantes. Considero uma letra muito bela:

Que estou fazendo se sou cristão?

Se Cristo deu-me o seu perdão!

Há muitos pobres sem lar, sem pão,

Há muitas vidas sem salvação.

Meu Cristo veio prá nos remir:

O homem todo sem dividir.

Não só a alma do mal salvar,

Também o corpo ressuscitar.

Há muita fome em meu país,

Há tanta gente que é infeliz,

Há criancinhas que vão morrer,

Há tantos velhos a padecer.

Milhões não sabem como escrever,

Milhões de olhos não sabem ler

Nas trevas vivem sem perceber

Que são escravos de outro ser.

Aos poderosos eu vou pregar

Aos homens ricos vou proclamar

Que a injustiça é contra Deus

E a vil miséria insulta aos céus.




[1] Prof. Dr. -Sociologia-UFRB.

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