Por: Diogo Valença[1]
No último dia 09 de fevereiro fui
convidado pelo Rev. Cláudio Rebouças para participar, na Igreja Presbiteriana
Unida de Muritiba, de uma roda de conversas sobre a memória do Rev. João Dias.
O Prof. Jorge Nery fez uma fala sobre a trajetória política e religiosa do
Reverendo João Dias, que minha esposa e eu tivemos a felicidade de conhecê-lo
ainda em vida.
O Rev. João Dias esteve na minha sala de
aula para falar de suas lutas na defesa da terra para os pequenos agricultores.
O que me impressionou no Reverendo foi, sobretudo, a sua erudição, mas que ele
não ostentava, procurando passar seus conhecimentos com simplicidade e
humanidade. Ele esteve com Dom Hélder e combateu a ditadura com a força da sua
fé. Para mim, não há diferenças entre cristãos autênticos, que expressam a sua
fé por uma decisão política de lutar contra as injustiças sociais, e os
lutadores do povo que aprendem a reconhecer no marxismo uma força teórica no
combate contra a exploração do homem pelo homem.
O Reverendo é um exemplo de vida e poucos
conseguem expressar tanta bondade, paciência e amor ao próximo numa simples
conversa e aperto de mão. Meus mais profundos respeitos à memória do Rev. João
Dias. Deixo aqui o hino, de cuja letra o Reverendo foi o autor. Ela simboliza,
a meu ver, a autêntica fé cristã, que não se acovarda diante dos poderosos. O
Rev. João Dias faz muita falta nos dias de hoje, em que alguns se escondem
atrás da religião para não enxergar as injustiças sociais e a exploração dos
poderosos, tornando-se, não seres humanos completos, mas serviçais das classes
dominantes. Considero uma letra muito bela:
Que
estou fazendo se sou cristão?
Se
Cristo deu-me o seu perdão!
Há
muitos pobres sem lar, sem pão,
Há
muitas vidas sem salvação.
Meu
Cristo veio prá nos remir:
O
homem todo sem dividir.
Não
só a alma do mal salvar,
Também
o corpo ressuscitar.
Há
muita fome em meu país,
Há
tanta gente que é infeliz,
Há
criancinhas que vão morrer,
Há
tantos velhos a padecer.
Milhões
não sabem como escrever,
Milhões
de olhos não sabem ler
Nas
trevas vivem sem perceber
Que
são escravos de outro ser.
Aos
poderosos eu vou pregar
Aos
homens ricos vou proclamar
Que
a injustiça é contra Deus
E
a vil miséria insulta aos céus.
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