Provocados e provocadas pelo tema bíblico que anima a
Semana de Oração pela Unidade Cristã, nós, igrejas, organizações ecumênicas e
inter-religiosas, pastorais sociais e movimentos sociais fomos ao encontro da
comunidade do Bairro 135, em São Félix, localizada no Recôncavo Baiano. Nosso
objetivo foi buscar sinais de justiça junto a uma população que ainda sofre as
consequências da escravização do povo negro e do racismo estrutural, um dos
principais pilares da desigualdade social brasileira.
Depois de conhecer a história da Barragem e
Hidroelétrica Pedra do Cavalo, ouvimos as histórias de vida de moradores e
moradoras da comunidade do Bairro 135, no município de São Félix/ BA. Nesta
escuta-ativa-dialogal compreendemos que na comunidade a construção e a
permanência da Barragem Pedra do Cavalo trouxe e consolidou situações de
injustiça. Não há justiça na comunidade do Bairro 135. Os moradores e as
moradoras são os impactados pela distorção da justiça. A falta de justiça se percebe na absolutização do “direito” de um grupo financeiro
enriquecer com a exploração do Rio Paraguaçu, destruindo o complexo ecossistema
criado no entorno do rio.
Os principais impactos da injustiça percebidos na
comunidade são a violência psicológica, pois existe constantemente medo de a
barragem romper, inundando e destruindo o povoado; além não há áreas de lazer.
O esgoto do município de Muritiba e os dejetos produzidos pela empresa
Mastrotto Brasil são despejados no rio Paraguaçu, obrigando o povoado a viver
em meio à poluição e ao mau cheiro e levando à destruição do bioma e à
diminuição da pesca, uma das principais fontes de renda da população. Essa
injustiça atinge também nossos valores
sagrados, uma vez que a água é um
elemento que está presente na maioria das tradições de fé.
E o desmonte de políticas públicas - como o Minha Casa
Minha Vida - gera desemprego e diminui as alternativas de renda, pois um número
significativo de moradores trabalhava na construção civil.
Estes fortes sinais de injustiça colocam a população
diante de outros desafios como o de lidar com o tráfico de drogas, que seduz as
juventudes - que veem aí a possibilidade de ascensão social e econômica - e com
o alcoolismo que impacta mulheres e homens que perderam sua principal fonte de
renda: a pesca.
“Procurarás a justiça, nada além da justiça” é a
provocação que nos desafiou a irmos ao encontro da mencionada comunidade em São
Félix. Pois não nos cabe o direito de
ficarmos calados e caladas. Juntamos, portanto, nossas vozes às vozes das
crianças, jovens, mulheres e homens de São Félix para reivindicar:
• Que o município de Muritiba pare
de escoar seu esgoto no rio Paraguaçu;
• Que o Ministério Público
Estadual medeie ações de reparação e mitigação para com a comunidade;
• Que o Grupo Votorantim, que
administra a Usina Hidroelétrica de Pedra do Cavalo, dialogue com a comunidade,
mediado pelo Ministério Público, a fim de iniciar um processo de reversão e
reparação dos impactos provocados;
•Revitalização do Rio Paraguaçu
para que a pesca retorne e as manifestações do sagrado sobrevivam;
•Que a administração municipal de
Cachoeira cobre imediatamente da empresa Mastrotto Brasil a implementação de um
sistema de tratamento dos dejetos para que estes não sejam lançados in natura
no Rio Paraguaçu;
Sinais de justiça somente são perceptíveis se seres
humanos, ecossistemas e as manifestações dos sagrados tiverem o direito à plena
existência. Por isso, declaramos que toda a violação de direitos provocada pela
absolutização do lucro é idolatria e viola a justiça da graça de Deus.
Salvador, 06 de junho de 2019.
Que complicado! Eles precisam se organizar.
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