Por: Cláudio Márcio R. da Silva[1]
“Houve
um homem enviado de Deus, cujo nome era João”. (João 1.6)
“Bem-aventurados
os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos”. (Mt 5:6)
Hoje (09-02-2020) faz 6 anos do
falecimento do Rev. João Dias de Araújo. Confesso: ele faz muita falta! Como
sua voz seria importante diante deste contexto fundamentalista e manipulador em
que líderes religiosos-políticos em nome da família, dos bons costumes, da
tradição, da religião, da bíblia, da fé e de Deus, constroem espaços de poder
para oprimir e silenciar majoritariamente o “povo” brasileiro! São mercenários
da fé e exploradores políticos, hipócritas! Pensam que fugirão da ira vindoura?
Saibam que (assim como João Dias) “aos poderosos eu vou pregar, aos homens
ricos vou proclamar que a injustiça é contra Deus e a vil miséria insulta os
céus”.
Sou discípulo de Jesus de Nazaré, assim,
com ele e com João Dias, aprendi a defender a vida e a lutar por justiça
social. Tive o imenso prazer de ser aluno do Rev. João Dias em Feira de
Santana-Ba. Não imaginava que minha vida seria completamente modificada, pois,
foi com ele que aprendi que a produção teológica deveria estabelecer um diálogo
profundo com as brasilidades, com as culturas populares. Foi com ele que
aprendi que minha fé deveria (de algum modo) gerar dignidade humana para humanos
diversos.
Lembro que João Dias abria a bíblia na
sala aula e fazia a leitura de uns versos, depois orava e, a partir deste
ritual, apresentava e discutia conhecimentos teológicos contemporâneos. Sempre
incentivou aos seus estudantes a lerem clássicos da literatura brasileira,
romancistas, folcloristas, poetas, cordelistas (já que estávamos inseridos no
nordeste brasileiro). Também com João Dias pude ampliar meu olhar como cristão
reformado ecumênico e Latino Americano. Como viver as boas novas neste
chão? Como comunicar essa excelente notícia a partir da nossa efervescência
cultural?
Com efeito, pude estabelecer uma amizade
muito bonita com ele e também com a saudosa presbítera Ithamar Bueno. Partimos o
pão eucarístico em celebrações eclesiásticas, mas, também frequentei sua casa e
biblioteca, tomei café e vinho, partilhei do pão da comunhão e do riso. Recebi
conselhos, falei de minhas crises e medos. Vi que era possível uma outra
leitura da bíblia, da vida. Nutri minha esperança!
De fato, João Dias se tornou um símbolo de
subversão, de recriação, de uma fé pública que reconhece o lugar da laicidade
do Estado e não tenta estabelecer uma “teocracia à brasileira” como atualmente
as bancadas do “boi, bala e bíblia”.
Definitivamente, não! João Dias estabeleceu uma espécie de “rebeldia
institucionalizada”, logo, contribuiu de maneira significativa com inúmeras
famílias de agricultores em solo baiano ao criar a Comissão Ecumênica dos
Direitos da Terra (CEDITER) com sede na cidade de Feira de Santana-Ba.
Desta maneira, caminhar com João Dias foi
um privilégio, entretanto, um desafio enorme, pois, trago em meu corpo suas
marcas e tento, de alguma maneira, responder cotidianamente um questionamento
de tirar o sono: “o que estou fazendo se sou cristão?” Seguir seus
rastros no campo educacional, teológico, ecumênico é uma tarefa muito complexa,
uma vez que, João Dias é um daqueles que “alvoraçou o mundo” (At 17.6). Um
profeta e poeta. Um servo de Deus não no aspecto de exercer o pastorado, mas,
por ter estabelecido uma práxis libertadora e humanizadora.
É muito bonito e significativo saber que o
Centro de Pesquisa das Religiões (CPR) da Universidade Estadual de Feira de
Santana-BA (UEFS) leva o nome do Rev. João Dias de Araújo. Também na Faculdade
Unida de Vitória-ES (FUV), a cátedra de Teologia Pública e Estudos da Religião
é em homenagem a ele.
Escrever esse texto é um ato político!
Rememorar para avançar! É um testemunho e um convite para que novos líderes
religiosos saibam da sua existência e sejam também comprometidos com o
paradigma que ele estabeleceu. “Não só a alma do mal salvar, também o corpo
ressuscitar”. É preciso continuar o processo reflexivo entre Igreja e
Sociedade para que uma nova espiritualidade seja estabelecida promovendo
equidade social para a diversidade humana. A obra de Deus é feita por muitas
mãos. Espero que você esteja disposto(a) a construir “o mutirão do Reino de
Deus”. Como abalizou Richard Shaull: “orar, estudar e agir”.
[1] Reverendo da Igreja Presbiteriana
Unida em Muritiba (cidade serrana do Recôncavo baiano) e moderador do
Presbitério do Salvador.
Que texto maravilhoso! Lembro com saudade que todas as aulas ele abria a biblia e fazia um momento antes das aulas. Quantas vezes anotei para fazer o sermão de domingo!
ResponderExcluirVerdade! Rsrs🙏😉
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