Por: Cláudio Márcio
Rebouças da Silva[1]
"Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês são como sepulcros caiados: bonitos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos e de todo tipo de imundície. Assim são vocês: por fora parecem justos ao povo, mas por dentro estão cheios de hipocrisia e maldade” (Mt 23:27-28)
Em um contexto de pandemia da COVID-19 tivemos que aprender a utilizar máscaras como símbolo de proteção mútua no cotidiano, assim sendo, passamos por muitas fases neste longo processo, a saber: negação do uso; uso no queixo; uso sem lavagem; usos customizados a partir de cores e temas...porém, não é sobre este tipo de máscara que quero refletir.
Aqui
no território do Recôncavo da Bahia nos festejos populares onde fé-folia se
combinam o uso da máscara por foliões é planejado com muito empenho por “mascarados”
e ou “caretas” nas expressões culturais que sinalizam uma estética do horror que
é capaz de produzir medo e beleza pelas ruas da cidade. Quem habita por trás da
máscara? Ora, neste contexto específico, a máscara esconde e revela simultaneamente,
uma vez que, camuflada a identidade, do folião seu movimento no campo festivo oferece
maior liberdade para suas ações, porém, não é sobre este tipo de máscara que
quero refletir.
Na
realidade, minha indagação é sobre a espiritualidade cristã exercida por alguns
fiéis que leem a bíblia muitas horas por dia e oram com “relógio na mão” como
se existisse um cronômetro celestial fiscalizado por anjos que fazem relatórios
no seu cotidiano. Confesso com muita tristeza que esse modelo de espiritualidade
é vazio e fétido, ou seja, é alienante e, por vezes, perverso e desumanizador.
As
máscaras estão caindo! Hipócritas! Possuem um projeto de poder político bélico e
diz que essa é a vontade de Deus? Fazem esquemas de propina e articulações com milícias
e diz que é a vontade de Deus? Mandam matar, se prostituem, desviam milhões dos
cofres públicos, fazem lavagem de dinheiro e diz ser a vontade de Deus? Reforçam
desigualdades sociais em tom de meritocracia e diz que essa é a vontade de
Deus? Defendem o genocídio da juventude negra e o racismo estrutural e diz que
essa é a vontade de Deus? Violentam mulheres e matam homossexuais e diz que
essa é a vontade de Deus?
Confesso,
cansei desses missionários do ódio e coveiros da esperança. Mercenários da fé e
ilusionistas da moralidade. Até quando ficarão impunes? Até quando haverá “inocência”
de alguns fiéis que se iludem com lideranças religiosos-políticas que exercem performances
de compaixão da amorosidade? Os lábios dessas lideranças pronunciam o nome de
Deus e suas práticas revelam mamon. Falam de amor, mas semeiam discórdia.
Ora,
o que mais me assusta é que após as máscaras caírem no chão e esses homens e mulheres
mostrarem seus rostos reais, imaginava que muitos iludidos iriam acordar e
mudar de perspectiva, entretanto, estava completamente enganado. Hoje suspeito
que a admiração quase que “tiete idolátrica” não é por dimensão de alteridade
ou empatia, ou seja, é espelho mesmo.
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