Quem é maior no Reino dos Céus? (Mt 18: 1-5)

 

Reflexão: Presbítero Augusto Amorim Jr.[1]

Quem é maior no Reino dos Céus? (Mt 18: 1-5)

Graça e paz, irmãs e irmãos!

Hoje, 12/10/2020, é um dia muito especial para nossa Igreja Presbiteriana Unida de Itapagipe! Hoje é Dia das Crianças e aproveitamos para rogar a Deus que proteja e cuide de nossas crianças, que nos ajude a transformar nossa sociedade para que as crianças ocupem, de fato, o centro das atenções e sejam tratadas com respeito e amor. Que mais importante que os bancos e exércitos sejam as escolas, professores (as), bibliotecas, parques e ruas onde elas, junto com os mais velhos, possam brincar e conviver de forma saudável, conforme o sonho do profeta Zacarias (Zc 8: 4-5). Mas hoje nos reunimos, principalmente, para rendermos Graças a Deus pelos 90 anos da nossa querida Presbítera Emérita Jedídlia Oliveira Silva, que participa da nossa Igreja desde o início, quando nossa comunidade de fé se reunia nas casas e quando ainda era Congregação Presbiteral, nos anos 60. De lá para cá, sempre esteve presente e dedicada ao serviço do Senhor Jesus em nossa Igreja.

O texto para nossa meditação é Mt 18: 1-5, que passo a ler.

Naquela mesma hora chegaram os discípulos ao pé de Jesus, dizendo: Quem é o maior no reino dos céus?

E Jesus, chamando um menino, o pôs no meio deles,

E disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos céus.

Portanto, aquele que se tornar humilde como este menino, esse é o maior no reino dos céus.

E qualquer que receber em meu nome um menino, tal como este, a mim me recebe.

Os discípulos estavam preocupados em quem era o mais importante dentre eles. Queriam saber quem era o melhor, quem fazia mais ou era mais fervoroso, guiados por um espírito de vaidade e rivalidade, “não queriam ser cauda, mas sim cabeça”. Pensavam que o Reino dos Céus era como os reinos da história, em que os melhores competidores, os merecedores, deveriam ser reconhecidos, recompensados e reverenciados como tal.

Jesus pôs um menino no meio deles, no centro, no lugar mais importante. As crianças eram desvalorizadas naquele tempo. Eram as mais excluídas dentre os excluídos. Aquela criança não tinha como competir com os discípulos. E é justamente por isso que Jesus a coloca como exemplo da conversão por que deveriam passar os discípulos. Eles precisavam abandonar esta lógica de vaidade, competitividade e premiação por seus feitos. Precisavam acolher o sentido da Graça em suas vidas! Entrar no Reino dos Céus passa pela gratuidade, pela generosidade, por amar e fazer o bem sem exigir nada em troca, sem ambições egoístas. O Salmo 131: 1-3 também fala disso de forma bela ao expressar poeticamente o sentido da maturidade da fé: Javé, meu coração não é ambicioso, nem meus olhos altaneiros. Não ando atrás de grandezas, nem de maravilhas que me ultrapassam. Não! Eu fiz calar e repousar meus desejos, como criança desmamada no colo de sua mãe. Israel, coloque a esperança em Javé, desde agora e para sempre!

Podemos contemplar esta dependência e confiança na Graça no testemunho de fé da nossa querida Presbítera Jedídlia. No seu modo de ser e quando ela expressa sua admiração diante da Graça ao dizer assim: Deus não desiste de nós! Mesmo com nossas falhas e teimosias, Deus não desiste de nós.” (Esta é uma frase que vez por outra a escutamos falar!).

Jesus diz que os discípulos precisam se converter, precisam se tornar como uma criança, para entrar no Reino dos Céus. Ora, os discípulos já tinham aceitado e já seguiam a Jesus, precisavam novamente se converter?  Sim, precisavam! A conversão não se dá apenas em um momento da vida, mas é um processo que se dá ao longo de toda a existência! Isto nos remete a mais um aspecto do testemunho da nossa Presbítera Jedídlia. Ela nasceu em lar evangélico, recebeu os princípios cristãos de seu pai, sr. Israel, e de sua mãe, D. Josefa (conhecida por nós, carinhosamente, como dona Sinhá). Mas foi na juventude, a partir de uma palavra do Rev. Eudaldo Lima, que assumiu pessoalmente sua adesão e profissão de fé em Jesus, Aquele que o Pai, por amar o mundo de tal maneira, enviou para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna! (João 3.16). Na Igreja Presbiteriana Unida de Itapagipe, anos depois, sob o pastoreio do Rev. Áureo Bispo dos Santos, aprofundou seu compromisso com a missão de Deus quando aceitou ser ordenada como Presbítera. Graças a Deus por termos na IPU o reconhecimento de ministérios ordenados para mulheres (diaconisas, presbíteras, pastoras) e, assim, poder contar com a Presbítera Jedídlia como uma de suas Conselheiras, Emérita e que continua atuante.

Jesus diz aos discípulos (vers. 4) que quem se tornar humilde como aquele menino, esse é o maior no Reino do Céu. A criança ali era símbolo de humildade, de simplicidade. Era símbolo do próprio Jesus, Mestre e Senhor, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate de muitos! Jesus que convidava a olhar os lírios do campo e neles contemplar a beleza que nem mesmo as vestes pomposas de Salomão conseguiam alcançar. O apóstolo Paulo traduziu muito bem esta proposta de Jesus quando escreveu: Não se deixem levar pela mania de grandeza, mas se afeiçoem às coisas modestas (Rm 12.16b). Simplicidade não é falta de sofisticação ou profundidade. Simplicidade é quando, retirado o que é acessório, fica o que é essencial. Rubem Alves dizia, rememorando um provérbio chinês, que o conhecimento se dá por soma, mas a sabedoria se dá por subtração... E o poeta Renato Russo, na canção Índios, versejava: “quem me dera, ao menos uma vez, o mais simples fosse visto como o mais importante”...

A humildade, a simplicidade é um dos traços mais belos da espiritualidade da nossa Presbítera Jedídlia. Seu modo de ser, sua vida de oração e adoração, seus passos missionários demonstram que não são necessárias expressões espalhafatosas para viver a fé com fervor, emoção, sinceridade. Lembro-me das visitas que fazíamos, nos tempos do Rev. Luiz Pereira, às famílias do movimento sem teto que ocupavam o prédio abandonado onde funcionou a Alfred. Ela já tinha em torno de 80 anos. E toda semana lá estava naquele trabalho extremamente desafiador, inclusive porque tínhamos que subir escadas enormes, passar por salões escuros, para poder visitar as famílias que ali se abrigavam e com elas conversar, orar, partilhar o Evangelho, encontrar formas de ajudar e criar aproximação com as famílias das crianças que participavam das atividades dominicais da IPU de Itapagipe. Eu também era evangelizado por nossa presbítera e pelo seu exemplo, já idosa, assumindo com simplicidade e dedicação o chamado missionário. E naquela experiência, a IPU de Itapagipe experimentou o que Jesus propôs, acolhê-Lo nas crianças e nelas também acolher Aquele que o enviou.

A criança representa a fase da vida em que mais estamos abertos a aprender. É um desafio imenso atravessar a vida sem se fechar e se considerar “dono (a) da verdade”. Não é a toa que em Provérbios 4.7 encontramos que “o princípio da sabedoria é adquirir a sabedoria”. E este é um carisma da nossa Presbítera Jedídlia que não poderíamos deixar de mencionar. É uma mulher sábia, sempre disposta a aprender e que também reconhece que “o princípio da sabedoria é o temor do Senhor (no sentido de reverência)” (Pr 9.10a). Cultiva e dá testemunho daquela sabedoria de que fala Tiago (Tg 3.17), sabedoria que vem do alto, antes de tudo, pura, pacífica, humilde, compreensiva, cheia de misericórdia e bons frutos, sem discriminações e sem hipocrisia.

Louvamos a Deus, com muita alegria e gratidão, pelos 90 anos da nossa querida Presbítera Jedídlia! Nossa pequenina que expressa a grandeza segundo os valores do Reino de Deus! E que muito nos inspira! Que possamos celebrar muitos Dias das Crianças pela frente! Jedídlia, que Deus te abençoe, que Deus sobre ti levante o rosto e te dê paz, e te guarde, para sempre guarde até o fim. Nosso abraço amoroso! Amém!

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[1] Mensagem para o Culto de Ação de Graças pelos 90 anos da Presbítera Emérita Jedídlia Oliveira Silva – 12/10/2020