sábado, 23 de outubro de 2021

TÁ VENDO QUE É SÓ O SOL CHEGAR...

 

Por: Paulo Roberto[1]

Sempre gostei da ideia de escrever acerca dos finais de tarde, da sensação de encanto e afeto que me traz a retirada do sol de nosso horizonte... Não sei de dizer ao certo, mas, o que me obstruía de tal intento, quiçá, fosse o fato das minhas lembranças mais remotas acerca dos finais de tarde me trazerem uma significativa carga  de dores e tristezas, em meio as ausências geradas por uma infância pobre. Contudo, mesmo em meio aquele chão sem piso, aquelas paredes que, ainda que pintadas, não escondiam as durezas materiais da pobreza, daquele telhado revestido de telhas velhas, daqueles quartos, tal qual o quarto de despejo de Carolina de Jesus, mesmo em meio a tudo isso, consigo, agora, acessar algo tão bonito, tão palpavelmente sereno e lindo.

domingo, 17 de outubro de 2021

ESPIRITUALIDADE E DIACONIA

 

Por: Cláudio Márcio Rebouças da Silva[1] 

“...quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo” (Marcos 10:43).        

A narrativa bíblica do evangelho de Marcos 10.35-45 nos convida a prática do serviço, ou seja, nos aponta que aqueles e aquelas que querem ser discípulos (as) de Jesus (o camarada) de Nazaré, precisa estar pronto(a) para servi-lo.

            Ora, em um paradigma societário em busca de visualizações, likes, prestígios e poder, a proposta do Cristo assinala para a capacidade do serviço e cuidado com quem precisa de apoio e encantamento existencial. Os discípulos não souberam pedir e ficaram insatisfeitos com o batismo e o pão eucarístico.

            O que temos pedido a Deus? Como tem sido nosso relacionamento com o Deus da vida? Estamos insatisfeitos(as) com o que efetivamente? É preciso que toda nebulosidade de nossa percepção seja desfeita pelo poder da luz que vem do Senhor. Ele é luz que ilumina nossos caminhos. Experimentar a graça de Jesus Cristo é também se comprometer com o projeto do Reino de Deus de Justiça e paz, isto é, é urgente “abrir a porta e a janela e ver o sol nascer”.

            É importante salientar que a Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), instituição de 48 anos que atua em defesa dos Direitos Humanos assumiu com muita responsabilidade essa característica da espiritualidade diaconal. Você conhece a CESE?

            São muitos projetos apoiados em todo território nacional com maior destaque no Nordeste e na Bahia. A CESE percebeu que “o Filho do homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos” (Mc 10.45).

Sem dúvida alguma é possível afirmar que o mutirão que compõe a CESE tem produzido ações coletivas de vida e afastado o “esquadrão da morte”. Meu desejo é que você possa compreender que a relação entre Igreja e Sociedade pode ser melhor quando exercemos uma fé madura e comprometida com a dignidade humana, assim sendo, ore bastante, mas, não “jogue nos braços de Deus” o que é responsabilidade sua. 



https://www.cese.org.br/



[1] Reverendo da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil em Muritiba (cidade serrana do território de identidade do Recôncavo da Bahia).

domingo, 10 de outubro de 2021

Quem pode ser salvo?

 

Por: Cláudio Márcio Rebouças da Silva[1] 

A compreensão teológica que temos enquanto “Igreja Reformada Sempre se Reformando”, é que Deus veio ao nosso encontro em uma manifestação cheia de amorosidade para nos salvar, ou seja, Ele nos escolheu e nos separou porque nos amou primeiro.

A graça de Jesus (o camarada) de Nazaré é uma realidade irresistível para aqueles e aquelas que através da fé mergulham no rio misterioso de Deus para se refrescar, sorrir, brincar e celebrar. O convite de Deus está posto e quem tem ouvidos, ouça!

Há quem pense que para mergulhar no rio é necessário cumprir regras, participar de rituais e recitar os dogmas sem cometer equívocos. Pensam que o acesso ao rio é por mérito próprio e, se vacilarem “um minutinho”, serão banidos(as) do banho seguinte.

Bem, suspeito que uma boa questão é: ao ser convidado para banhar-me no rio, tive uma experiência encantadora e cheia de potência de vida, assim sendo, não quero sair deste espaço de pleno prazer e alegria. Minha vontade é convidar aqueles e aquelas que encontro no caminho para se refrescarem também.

            Não fomos convidados ao banho no rio por sermos melhores do que ninguém. Aceitamos o convite e agora é nadar-festejar. Mesmo assim, há quem queira criar pedágios para novas pessoas acessarem o espaço e ou dizem que naquele lugar específico a água é mais cristalina e pura. É preciso desconfiar desses discursos.

            O rio é de Deus e não pode ser represado. O rio é movimento e nos banhamos a partir de uma perspectiva apenas, mas, quem pode medir sua imensidão e conhecer todos os seus mistérios? Acredite, a salvação do Senhor transforma nosso deserto em manancial.

 


 



[1] Reverendo da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil em Muritiba (cidade serrana do recôncavo baiano).

domingo, 3 de outubro de 2021

UM ABRAÇO TAMBÉM SALVA...

 

Por: Cláudio Márcio Rebouças da Silva[1]     

 

“E, tomando-os nos seus braços, e impondo-lhes as mãos, os abençoou” (Mc 10.16).

 

            Muitos (foram) são os desafios impostos a nós como brasileiros pela COVID-19, um deles está no campo do toque no outro(a) e da afetividade. Sim, que falta faz um abraço. Essa dimensão é tão forte em nosso cotidiano que foi (é) muito estranho reencontrar alguém que amamos e queremos bem sem puder beijar seu rosto, tocar em seu braço ou ombro enquanto se conversa e, não menos, oferecer-receber um abraço na chegada e na partida.

            O Evangelho de hoje propõe uma imagem muito bonita, isto é, Jesus de Nazaré acolhendo e abençoando uma criança. Na realidade, suspeito que a capacidade de acolher por si só já é uma bênção. Se naquele contexto bíblico as crianças eram marginalizadas e impedidas de se aproximarem do Reino de Deus por regras e tradições políticas-religiosas, é preciso problematizar: quais grupos sociais hoje são impedidos de acolhimento e afetividade?

            Será que Jesus de Nazaré realmente estaria excluindo e negando abraço a quem só precisava ser amado(a)? Honestamente meu irmão e minha irmã, acredito que não. É preciso fé, coragem, responsabilidade, compaixão e capacidade de lermos a bíblia sempre em defesa de toda vida ameaçada.

            Que nossa espiritualidade seja diaconal e cheia de afetividade. Que o símbolo de Jesus de Nazaré (um Deus encarnado capaz de oferecer dengo aos seus filhos e filhas), seja tão forte como a perspectiva de Senhor e Salvador, pois, um abraço também salva.

 



[1] Reverendo da Igreja Presbiteriana Unida de Muritiba (cidade serrana do Recôncavo baiano).