Por: Cláudio
Márcio
Mainha (Iclea) me
contou certa vez que na infância vivida no município de Laje (no Vale do
Jiquiriçá), tinha duas amigas boas para brincar, a saber: Antônia (tia Tonha) e
sua irmã Valdelice (dona Val). Hoje entendo que a vida possui muitos mistérios,
uma vez que, o caminho dessas mulheres, assim como o processo de tessitura do
crochê, seria feito de um emaranhado de encontros cheios de beleza.
Tanto mainha como tia Tonha
foram estudar em instituições religiosas no Recife durante a juventude
acreditando em uma vocação para servir ao Senhor de suas vidas, ou seja, Jesus
de Nazaré, embora em instituições diferentes. Entretanto anos mais tarde, na
cidade de Muritiba no território do Recôncavo da Bahia um grande ponto de
intersecção aconteceu. Elas não poderiam imaginar em hipótese alguma que um
dia, entre essas três amigas, seus filhos iriam se casar. Casei com Jussi filha
de dona Val e ganhei mais uma tia, Tonha como era bastante conhecida.
Mulher dedicada ao
cuidado das pessoas, justa, fervente em oração, solidária em seu cotidiano, foi
pastora durante muitos anos no município de Varzedo (também na Bahia). Ali, cuidou de muitas vidas e também,
funcionária dos correios, entregou muitas correspondências! Sim, mas a mensagem
que ela jamais se cansava de entregar era sobre o amor de Cristo. Lembro-me que
quando ela deslocava-se para Muritiba e ou nós íamos lá, era uma festa. Muito
amor, carinho e cuidado mútuo nessa relação. Se não fosse o suficiente, tia Tonha
sempre cheia de presentes, lindas toalhas, centros de mesa e colchas de crochês
e, não menos, uma deliciosa cocada de “lamber os beiços”.
Todavia, como já foi
dito, a vida possui seus mistérios. Nossa guerreira tia Tonha adoeceu! Fiz
algumas pequenas reflexões em busca de alívio e tentando entender a mensagem de
Deus para nossas vidas. Fui tocado em vários momentos: Escutei dona Val dizer
ao saber que sua irmã estava doente: “perdi minha irmã”! No exercício da
alteridade meu coração se fragmentou em dores por ela, pois, imaginei essa
horrível notícia com uma das minhas irmãs. Hoje penso que vida e morte são
faces da mesma moeda. O sofrimento é inerente ao humano. A reinvenção da vida
também deve ser, não? É
muito triste ter a impressão de que alguém que amamos se vai. Honestamente,
creio que a última palavra é a do Eterno mistério que chamo de Deus. Estamos
sofrendo! Estamos lutando! Os olhos de Jussi estão carregados de tristeza e
sentimento de impotência. Ao escrever agora, meus olhos insistem em segurar
lágrimas. Suspeito que tenho que tentar ser “forte” pela turma aqui. Daiana
também está sem chão. Parece que o alvo que acreditávamos nos aproximar como
horizontes esperançosos de uma nova realidade se desfez. Não sei para onde olhar.
Apenas lembro-me: Deus
é meu refúgio. Ele é socorro presente na minha angústia. O nosso redentor vive.
Deus seja feita a Tua vontade. Tenha piedade de nós”. (08-12-16)
Meu bem temos vivido
dias difíceis. Onde encontrar forças? A dor tem sido uma realidade
já cotidiana, contudo, o que mais sentimos neste momento? Ah, eu diria que a
solidariedade de amigos e familiares. Sim, cada oração, cada abraço, cada olhar
de algum modo tem nos fortalecido. Cartola em uma de suas canções abaliza: “fim
da tempestade o sol nascerá”. Tenho acreditado nesses versos, todavia,
suspeitando que a tempestade e o sol (assim como eu) já não são os mesmos. Esse
fluxo é fixo, ou seja, são experiências inevitáveis na jornada. A questão é de
que modo respondemos às dificuldades. Será? Agora me lembrei de uma canção que
pode ser minha oração: ‘hoje eu só quero que o dia termine bem’. Estamos juntos
nessa, amor. Teu choro também é meu... espero que o fluxo traga logo o riso.
(09-12-16)
Ontem (21-12-16) fomos nos despedir dela que
bastante fragilizada foi convidada pelo mestre a fazer sua travessia. A perda
foi (é) grande. A dor de despedir-se de quem amamos é avassaladora. Ontem, vi “Varzedo chorar”. Muitas igrejas,
familiares, amigos e amigas dedicaram-se ao cuidado dessa serva de Deus nos
seus últimos dias aqui neste chão. Insisto em AGRADECER a cada um(a) que de
maneiras múltiplas cuidaram de nossa querida tia Tonha.
Encerro essa reflexão
louvando a Deus pela vida dessa mulher. Evidentemente que a saudade não será da
cocada e ou do crochê. Esses elementos metafóricos são simbólicos, isto é, são
representações de tempo que era doado com disciplina, zelo, cuidado, carinho e,
alegria de doar-se a seus familiares e amigos. Bem, para trazer leveza nesse
momento de separação, ausência e tristeza, optei pela seguinte representação:
“minha linda esposa, hoje nossa tia Tonha foi fazer cocada para Jesus. Enquanto
ela colocava os ingredientes na panela e fogão, Ele abriu um lindo sorriso para
ela. Suspeito que ambos estão esperando ansiosamente a cocada esfriar para o
grande deleite... Jesus, como muitas crianças, pediu para raspar a panela. Tia
Tonha rindo disse: ‘sabia que você iria pedir’ (risos)”.
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