terça-feira, 7 de abril de 2020

Quando e em que momento abandonamos a "vida"?


Por: Paulo Roberto Silva[1]

Quando foi que as estrelas e toda constelação de encantos e mistérios que habita o universo ao nosso redor deixou de ser interessante?!
Quando foi que nos pomos a crer que ser "sós" seria a melhor opção diante dos nós que tanto nos faz ser-mo-nos radiantes?
Quando optamos por uma lógica de produção desenfreada que em nada tem nos feito reproduzir a vida em sua total plenitude?!
Quando e em que momento abandonamos a "vida"?
A troco de quê nos tornamos indiferentes a tudo quanto nos faz mais humanos?
Em que contexto nos lançamos neste dilúvio incessante que faz com que esqueçamos o divagar estruturador que há, também, na nossa ideia de tempo?!

Será que deixamos de ouvir o poeta? Quando nos dita e aconselha: "Enquanto o tempo acelera e pede pressa, eu me recuso, faço hora, vou na valsa, a vida é tão rara, tão rara".
Sei que o universo em si carrega muitos enigmas e verdades que nos assustam, mas, não há razões para o vermos como nosso inimigo, como um traiçoeiro.
Pelo contrário, está em nós toda essa capacidade de sabotar o incerto, complexo, mas, também, enriquecedor subsistir.
Quando nega-mo-nos finitos, explorando a terra sem a consciência de que mais do que ela, somos nós, criaturas, seus dependentes?
Sei que a vida tem nos apresentado um dispêndio grandioso e sedutor na defesa de seres cada vez mais egoístas, heróicos, a todo instante vencedores.
Mas, no jogo do viver todos possuem a sua importância e significam muito para o fortalecimento da rede que tecemos todos os dias!
Há razões para que imprimamos uma lógica individualista, que diz defender nossos direitos, nossas privacidades, nossas maneiras mais libertadoras de ser? Sim, e é preciso que se garanta!
Contudo, esta moldura deve e consegue fazer sucumbir a nossa dimensão "inata" de seres sociais, no e com o outro?!
Talvez nunca tenhamos atingido essa condição de humanidade e comunhão integral que aqui está posta.
Porém, honestamente, como navegantes precisamos, caso busquemos nos livrar das atormentadoras e revoltas águas, entender que estamos numa mesma nau, a rumar para e sob condições que, ainda que diversa, tem como desejo se deliciar nas águas brandas e calmas.
Ou nos cabemos em nós ou, como uma embarcação a deriva, estaremos fadados a naufragar ante aos tormentos que volta e meia nos acomete o viver.



[1] Cientista Social e poeta.

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