Por: Alexandre de
Jesus dos Prazeres[1]
A face terrivelmente evangélica ou seria
melhor dizer: terrivelmente fundamentalista de apoio ao governo Bolsonaro se
tornando cada vez mais visível? Enquanto muitos analistas políticos e também
cientistas da religião concentram suas atenções no eleitorado pentecostal de
Bolsonaro, esquecem-se dos que compõem as igrejas protestantes históricas
fundamentalistas cujos representantes formam um núcleo religioso pensante que
se compreendem como os mais aptos a liderar.
Em sintonia com as premissas do
fundamentalismo, que surgiu no seio do protestantismo estadunidense no início
do século XX em reação a Modernidade, "ciência boa é a que confirma o que
a Bíblia diz". Partindo desta premissa, fundamentalistas como o novo
Ministro da Educação buscam títulos acadêmicos para legitimar suas crenças religiosas,
é a face academicista do fundamentalismo.
Para o governo, a escolha de um nome como
este para ocupar o Ministério da Educação não ocorre devido ao currículo do
escolhido, mas por sua afinação ideológica. Pois em termos de currículo, quando
se examina o currículo Lattes do escolhido fica evidente que se trata de um
religioso que cursou um doutorado em Educação, porém com atuação ínfima na
área.
E para quem conhece de dentro a Igreja
Presbiteriana do Brasil como eu conheço (estive nela por mais de 20 anos,
dentre os quais 10 como pastor) sabe que, para o novo Ministro da Educação,
modernas teorias educacionais só possuem serventia se concordarem com suas
crenças religiosas. Isto é básico no fundamentalismo, compreender certas
doutrinas não como produto de um processo humano, interpretativo e histórico,
mas como expressão da mente divina.
O problema não está no fato de ser um
religioso, mas nos riscos que este tipo de religioso específico oferece ao que
modernamente concebemos como separação entre Estado e religião, o risco de
atuar para fazer de crenças religiosas particulares política de Estado.
Também é difícil não fazer associações com
eventos ocorridos durante a Ditadura brasileira, quando lideranças de igrejas
protestantes históricas, dentre estas a do novo Ministro da Educação, foram
premiadas com cargos na República como recompensa por lealdade ao regime.
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