sábado, 11 de julho de 2020

A FACE TERRIVELMENTE FUNDAMENTALISTA DO GOVERNO BOLSONARO


Por: Alexandre de Jesus dos Prazeres[1]

A face terrivelmente evangélica ou seria melhor dizer: terrivelmente fundamentalista de apoio ao governo Bolsonaro se tornando cada vez mais visível? Enquanto muitos analistas políticos e também cientistas da religião concentram suas atenções no eleitorado pentecostal de Bolsonaro, esquecem-se dos que compõem as igrejas protestantes históricas fundamentalistas cujos representantes formam um núcleo religioso pensante que se compreendem como os mais aptos a liderar.
Em sintonia com as premissas do fundamentalismo, que surgiu no seio do protestantismo estadunidense no início do século XX em reação a Modernidade, "ciência boa é a que confirma o que a Bíblia diz". Partindo desta premissa, fundamentalistas como o novo Ministro da Educação buscam títulos acadêmicos para legitimar suas crenças religiosas, é a face academicista do fundamentalismo.

Para o governo, a escolha de um nome como este para ocupar o Ministério da Educação não ocorre devido ao currículo do escolhido, mas por sua afinação ideológica. Pois em termos de currículo, quando se examina o currículo Lattes do escolhido fica evidente que se trata de um religioso que cursou um doutorado em Educação, porém com atuação ínfima na área.
E para quem conhece de dentro a Igreja Presbiteriana do Brasil como eu conheço (estive nela por mais de 20 anos, dentre os quais 10 como pastor) sabe que, para o novo Ministro da Educação, modernas teorias educacionais só possuem serventia se concordarem com suas crenças religiosas. Isto é básico no fundamentalismo, compreender certas doutrinas não como produto de um processo humano, interpretativo e histórico, mas como expressão da mente divina.
O problema não está no fato de ser um religioso, mas nos riscos que este tipo de religioso específico oferece ao que modernamente concebemos como separação entre Estado e religião, o risco de atuar para fazer de crenças religiosas particulares política de Estado.
Também é difícil não fazer associações com eventos ocorridos durante a Ditadura brasileira, quando lideranças de igrejas protestantes históricas, dentre estas a do novo Ministro da Educação, foram premiadas com cargos na República como recompensa por lealdade ao regime.



[1] Reverendo da IPU em Aracaju-SE.

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