quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

O SEMEADOR SE FOI...OS FRUTOS CONTINUAM A BROTAR

 

Por: Cláudio Márcio Rebouças da Silva[1]

Hoje, 09-02-2022, faz 8 anos do falecimento do Reverendo João Dias de Araújo. Rememorar seu nome é um ato político identitário nestes dias confusos que estamos vivendo em solo brasileiro. Esse teólogo-pastor presbiteriano deixou muitos legados no campo do protestantismo ecumênico progressista. Aqui, cito a experiência da Comissão Ecumênica dos Direitos da Terra (CEDITER), criada por ele em 1982 (ano também do meu nascimento), não tinha como saber e ou imaginar que nossas vidas iriam se encontrar na caminhada.

Bem, tive a oportunidade de estudar de 2002 até 2005 teologia no Seminário Teológico Batista do Nordeste em Feira de Santana-BA, foi lá que tive acesso a Teologia da Libertação, aos encontros da Fraternidade Teológica Latino Americana e, inevitavelmente, ao Rev. João Dias de Araújo. Leituras e vivências me ampliaram a visão e não conseguia mais ser o mesmo.

Minha relação com João Dias se tornou maior que a sala de aula a ponto de frequentar sua casa e posteriormente migrar da Igreja Batista para Igreja Presbiteriana Unida do Brasil. Se abria para mim a possibilidade de uma teologia e um pastorado diferente. O esforço agora era tentar compreender a vida do povo sofrido e oferecer além do alento e consolo, a construção coletiva da consciência política no que tange a organizar-se para lutar pela garantia de seus direitos humanos e sociais.

A leitura da Bíblia passou a ser diferente, pois, não me interessava mais o “sexo dos anjos” e ou “responder a perguntas irrelevantes”. Interessava-me pensar a leitura do texto sagrado com a percepção de “brasilidades, nordestinidades e baianidades”, isso é, como o próprio João apontou: “se a injustiça é contra Deus e a vil miséria insulta os céus”, eu precisava tentar responder a sua indagação: “que estou fazendo se sou cristão?”.

Confesso que essa pergunta é extremamente perturbadora. Ela tira o sono e me faz pensar da dimensão prática da fé. Se creio, ficarei em silêncio ou acomodado? Se creio, viverei em omissão e covardia? Se eu creio, não serei capaz de partir o pão e cuidar do próximo? Se eu creio, não lançarei as mais belas e potentes sementes da transformação?

Falando em semente, a CEDITER completa 40 anos em 2022. Muitas sementes foram lançadas no caminho. Me aproximei da CEDITER a alguns anos e essa Organização Social é responsável através do Centro Público de Economia Solidária (Cesol) do Recôncavo Baiano pela execução da Política Pública nesse território. Aqui, novamente minha vida se cruza com a de João Dias de Araújo, uma vez que, devido a formação em Ciências Sociais (UFRB) e a relação com a CEDITER, fui convidado para compor a equipe do Cesol Recôncavo na função de Coordenador Geral no projeto.

Sim, muitos são os desafios e as possibilidades. Existem sem dúvida alguns limites, mas também recriações constantemente. Sigo trazendo na cabeça e nas ações um pouco de João Dias de Araújo, pois, esse paradigma de espiritualidade do serviço, da comunhão ecumênica e do diálogo inter-religioso, da organização comunitária em prol dos Direitos Humanos é indispensável na contemporaneidade.

Diante de um cenário que líderes evangélicos estão envolvidos em esquemas escusos de corrupção, trazer a memória o Rev. João Dias é dizer que existem outros caminhos a serem seguidos. Caminhos percorridos por homens e mulheres comprometidos com a paz e a justiça. Caminhos trilhados por sujeitos sociais disponíveis para construção de pontes e demolidores de muros. Se tudo foi pintado de cinza, o mutirão é feito com cores, beleza e poesia.

Vamos esperançar! A CEDITER é convidada a celebrar, avaliar e avançar, uma vez que, “esperamos novos céus e nova terra nos quais habita a justiça” (2 Pedro 3.13).





[1] Reverendo da Igreja Presbiteriana Unida de Muritiba-BA e Coordenador Geral do Cesol Recôncavo.




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