quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

VOZ PROFÉTICA...

Por: Anita Sue Wright Torres[1]

Foi a defesa da vida e dos direitos humanos que uniu Rev. Jaime Wright e D. Paulo Evaristo Arns, na década de setenta, em plena ditadura militar. A voz profética de D. Paulo já era conhecida quando o irmão de Jaime Wright, Paulo Stuart Wright, foi preso em São Paulo, em setembro de 1973. Sem ter a quem recorrer, buscou ajuda com D. Paulo.
O drama que parecia familiar se mostrou coletivo, quando a dor de tantas outras famílias era compartilhada com relatos de perseguição, violência, seqüestro, tortura e morte de tantas outras pessoas que buscavam e sonhavam com um Brasil melhor.
O pastor presbiteriano e o cardeal se tornaram amigos e trabalharam lado a lado na Arquidiocese de São Paulo, numa vivência ecumênica e cristã que exercitava a “Teologia das Brechas”, momentos oportunos de fazerem a diferença na vida das pessoas e da sociedade.
E foi assim que pensaram no Projeto “Brasil Nunca Mais”, e conseguiram fotocopiar todos os processos contra presos políticos que na época tramitavam no Superior Tribunal Militar em Brasília. O resumo de todas as informações coletadas e sistematizadas (presos, torturadores, torturas, etc) se transformou em um livro.
D. Paulo e Rev. Jaime receberam vários prêmios no Brasil e no exterior em reconhecimento ao seu trabalho incansável em defesa dos direitos humanos.
Agradeçamos a Deus pelos 95 anos de vida de D. Paulo, por sua dedicação e serviço ao próximo, erguendo sempre sua voz profética quando a vida estava sendo ameaçada e destituída de seus direitos básicos, vivendo “de esperança em esperança”.



[1] Filha caçula de Jaime Wright, Presidenta CONIC-ES e Moderadora do Conselho Coordenador do Presbitério de Vitória (IPU).


terça-feira, 13 de dezembro de 2016

SOBRE CHAVES E FECHADURAS...

Aqui no território do Recôncavo da Bahia existem atributos arquitetônicos que enchem de encanto nossos olhos. É possível ainda salientar que em muitos destes prédios suas portas e fechaduras são bastante trabalhadas com desenhos e traços de extrema beleza, porém, é apenas o acesso às suas chaves que podem nos levar ao outro lado, desvelando os segredos internos de cada espaço. O que há lá na travessia? O que fazer quando nos faltam as chaves? Ter as chaves diante de portas erradas resolve alguma coisa? Já presenciou uma pessoa bastante alcoolizada tentando abrir uma porta?
Evidentemente que não estou interessado em análises sobre formas, tamanhos e composições em que as chaves são elaboradas. Vos digo meus irmãos e irmãs: a metáfora não é do cotidiano apenas, mas, da existência. Ah, vós que acumuleis chaves em busca de prestígio e poder, hoje vossas fechaduras serão trocadas e, de que adianta vosso riso irônico se não podereis entrar? Vossa aparência de alegria é denunciada pelo desespero dos teus olhos. Adiantará chorar? Se tais lágrimas te fizerem perceber e ou utilizar cada chave para seu momento específico, então irmãos e irmãs, choreis copiosamente. Caso contrário, aconselho-vos a parar de atuar.
Honestamente, tenho acreditado que somente uma chave não é suficiente para decifrar os segredos e as combinações da nossa complexa existência, haja vista que são muitas portas (e cada uma delas tem sua própria fechadura) e constantemente as chaves desaparecem, quebram, desgastam... São necessários os chaveiros da fé, da ciência, da fantasia, da arte, da utopia... Embora todos eles sejam também demasiadamente humanos e portanto em certos momentos não conseguirão fazer a cópia de determinadas chaves! Sim, existem portas que continuarão fechadas até que nossa vida terrena seja findada. Mas de fato existem essas portas? Quem as viu?
De qualquer sorte desejo aos irmãos e imãs que não percam suas chaves...
  Muritiba-BA, 13 de dezembro de 2016
Cláudio Márcio


Art Suzart

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

AMANHÃ AINDA É HOJE...


Por: Cláudio Márcio

“Eu tô te explicando pra te confundir. Eu tô te confundindo pra te esclarecer. Tô iluminando pra poder cegar. Tô ficando cego pra poder guiar” (Tom Zé).

Uma canção de reggae de Edson Gomes revela: “há dias na vida que a gente pensa em desistir”. Quais dias são esses?  Ora, pense comigo naqueles momentos difíceis de estudo em que os prazos insistem em nos mostrar que não será possível encerrar a tarefa. Quando se deseja trabalhar e não encontra possibilidades. Quando temos um familiar, um amigo doente em casa e ou no leito de um hospital. Quando o prato na mesa permanece vazio. Quando a cor da pele torna-se mais importante que o caráter, etc. O que fazer quando temos medo de dormir e do amanhecer?
Por vezes pensamos: essa realidade diante de mim poderá ser transformada? Essa questão aparentemente simples tem muitas possibilidades de respostas. No entanto, os nossos pés e mãos não devem desistir das utopias. Como encontrar forças para resistência? Há quem busque auxílio nos fenômenos religiosos; nas ciências; nos movimentos sociais; nas artes...
De fato, sou um homem da fé e da razão. Assumo lutas por justiça social e escrevo em busca de um EU que se perde-encontra nas esquinas da cidade. Confesso minha dificuldade cada vez maior em refletir o mundo à minha volta com uma lupa arranhada, insuficiente, limitada e criar discursos como se as mesmas fossem límpidas, completas e absolutas. Quais os limites e contradições de tais narrativas? A quem se quer enganar?  Como diz Friedrich Nietzsche: “aprendi a andar; desde então corro. Aprendi a voar; desde então não quero que me empurrem para mudar de lugar”.

Gosto do texto bíblico do profeta Ezequiel e sua metáfora do Vale de ossos secos, pois, diante do contexto de caos, de morte e tristeza, uma nova realidade pode surgir. A vida misteriosa brota com força. É nisso que creio, logo, sou semeador de esperanças. Acredito que a força da flor e seu perfume também são dimensões de leveza, encantamento e fantasia para nossa jornada. É possível não ter fantasias?
Art Suzart

terça-feira, 1 de novembro de 2016

SIM, CURTO NOVAS IDEIAS...

“Ontem um menino
Que brincava me falou.
Hoje é a semente do amanhã.
Para não ter medo
Que este tempo vai passar
Não se desespere, nem pare de sonhar...”
(Gonzaguinha)
Por: Cláudio Márcio
Tive a sorte de caminhar com Paulo Ricardo no Centro de Artes, Humanidades e Letras da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (CAHL-UFRB), lá fizemos graduação e mestrado em Ciências Sociais. Carregamos no peito, na cabeça e nas mãos sonhos que direcionaram e continuam desafiando nossos passos e nos dando fôlego... Paulo em especial, “respira política”.
Acredito ser importante e necessário que a juventude ocupe os espaços de debate político para promover novas práticas em um cenário de tanto caos. A fé, o compromisso, a dedicação, o diálogo, a parceria nos fazem entender que é possível construir um tempo novo, isto é, uma nova ordem.
Vejo em Paulo não um herói, de forma alguma. Percebo sim um humano comprometido com o chão que pisa. Percebo alguém aberto para sentar-se na mesa do diálogo. Vejo um jovem experiente que acredita na educação e na cultura como ferramentas de transformações sociais.  Vejo um camarada pronto para ouvir as inúmeras demandas (clamores) dos citadinos muritibanos...
Receber o resultado das urnas neste ano de 2016 de maneira extraordinária (620 votos\ mais votado na sede), tornando-se vereador eleito é a conquista de um sonho. Vi nos seus olhos, nos de sua família, nos de sua noiva Maiara e de muitos amigos-amigas não só a felicidade, mas acima de tudo, ficou perceptível um brilho de esperança. Renovei minha crença e assumo que CURTO NOVAS IDEIAS!
Esperança, esperar, crença, acreditar... Como essas palavras são tão raras e ao mesmo tempo caras em nossa sociedade! Assistimos constantemente a um descrédito absoluto perante a política brasileira, na medida em que as demandas públicas que sempre estiveram atreladas ao mundo privado são manuseadas sem o mínimo de respeito. Mas Paulo Ricardo aparece como o diferente e vai ganhando confiança! Isso significa amigo que apesar das desilusões estamos com os olhos preparados para enxergar a mudança, ouvidos atentos ao som das boas novas, mãos dispostas a trabalhar, mas também bocas organizadas para exigir o desenrolar dos projetos apresentados.
Saiba que estarei aqui orando por você. Também estarei pronto para te ouvir nos dias difíceis e, tenha certeza, não serão poucos. Quando for preciso darei sugestões (um olhar afastado é sempre bom). Estarei também como um eleitor seu te cobrando, pois, sou teu amigo... Fazendo isso, cuido de você e de nossa linda cidade serrana do território do Recôncavo.

Fiquei MUITO feliz por você! Parabéns! Sucesso! Que Deus (Pai-Mãe) oriente sua jornada. Lembre-se da canção: “Deixe a luz do sol brilhar no céu do seu olhar! Fé na vida, fé no homem, fé no que virá! Nós podemos tudo, Nós podemos mais. Vamos lá fazer o que será”. (Gonzaguinha)

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Que Deus (Pai-Mãe) tenha piedade de nós...

“E tudo quanto pedirem em oração, se crerem, vocês receberão” (Mateus 21:22)
Por: Cláudio Márcio
Nos dias 26 a 30-09-16, no templo da Igreja Presbiteriana Unida de Muritiba (cidade serrana do Recôncavo da Bahia), situada na Rua Lions Club s\n, das 17h às 18h, experimentamos mais uma semana de oração. Momento simples e belo simultaneamente. Preces, canções, clamores, testemunho, comunhão, gratidões. A fé no cuidado, fidelidade, misericórdia e provisão de Deus eram percebidas em cada voz, em cada mão e, não menos, em cada lágrima no rosto.
Recebemos as visitas dos pastores Benedito Pereira e Jônatas Lopes (Batistas), também a partilha de um belo testemunho do irmão-amigo Sinésio Galvão (Católico), fortalecendo assim nosso compromisso com o diálogo ecumênico. Estes nos trouxeram um breve momento de reflexão sobre a importância da oração na vida pessoal e ou em comunidade.
Vale ressaltar também que em muitos momentos o silêncio nos revelava o encontro com a alteridade, isso é, como sinaliza Rubem Alves: “Orações e poemas são a mesma coisa: palavras que pronunciamos a partir do silêncio, pedindo que o silêncio nos fale."
Alienados? Desocupados? De forma alguma! Trata-se de crença no mistério inominável que nos costumamos a compreender como Pai-Mãe de bondade e ternura no olhar. Sim! É uma redução dEle. Todavia, nosso construto imagético de uma representação identitária do Divino enquanto comunidade IPU é de um colo acolhedor e uma voz suave que nos diz: não temais! Estou com você! Essa voz revela-se também na natureza, assim como, na manifestação de homens e mulheres promotores da justiça social no cotidiano.
De fato, como abaliza Martin Luther King Jr, fazendo uma metáfora entre a fé e a escada, ou seja, entre o que é do mundo subjetivo transformando-se em prática objetiva, ele aconselha: “suba o primeiro degrau com fé. Não é necessário que você veja toda a escada. Apenas dê o primeiro passo”.

            Como reverendo da IPU de Muritiba, agradeço a cada um(a) por sua visita. Desejo que nossa fé-ação nos humanize mais e, ao mesmo tempo, entendamos que orar pelo “pão nosso” sem capacidade de partilha é uma contradição. Que Deus (Pai-Mãe) tenha piedade de nós.
Art Suzart

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

#SoucristãominhaIgrejaéaIPU

Por: Júnior Amorim[1]

Ontem a Igreja Presbiteriana Unida - IPU - fez 38 anos de existência! Grato a Deus por ter suscitado aqui no Brasil esta comunidade de fé, comunhão, resistência e solidariedade! 
A IPU nasceu no contexto da ditadura militar, quando lideranças e comunidades ainda da Igreja Presbiteriana do Brasil resistiram ao autoritarismo que se deu dentro e depois na sociedade brasileira como um todo! Foram muitas as dores deste parto! Muitos homens e mulheres foram expuls@s de suas comunidades de fé, perseguidos, exilados, alguns mortos pela brutalidade da ditadura militar, por vezes entregues por pessoas da Igreja oficial. Mas da resistência dest@s homens e mulheres, da fidelidade ao testemunho de Jesus Cristo, que foi às últimas consequências em sua coerência ao projeto do Reino e Sua Justiça, desta experiência nasceu a IPU! Da defesa de uma espiritualidade que vincula inseparavelmente a fé às lutas por justiça, por democracia, pela defesa da vida! Que se compromete em promover-viver a unidade entre os crist@s - alternativa à competitividade do mercado religioso! Que busca o diálogo interreligioso e uma cultura de paz - alternativa à intolerância religiosa! Que reconhece a participação da mulher em todos os ministérios! Que assume a responsabilidade de ser voz profética, denunciando as injustiças, as manipulações dentro e fora da Igreja, que se opõe frontalmente à mercantilização da fé, à teologia da prosperidade-ganância, ao fundamentalismo neoliberal com suas Igrejas-empresa, poder econômico-midiático, com sua bancada "evangélica"!
A IPU não dispõe de poder midiático-econômico, nem de membresia numerosa, também tem suas contradições, suas fraquezas, muitos desafios, mas que está aí, perseverando no caminho da integridade, do serviço, da busca de ser coerente com os passos de Jesus de Nazaré.
Rememoro o nome de algumas pessoas de fundamental importância nesta caminhada, como representantes de muitas vidas que se colocaram nas mãos de Deus para que pudéssemos celebrar esta data-história: João Dias de Araújo, Ithamar Dias de Araújo, Áureo Bispo dos Santos, Jaime Wright, Paulo Wright, dentre muit@s outr@s.
A IPU me faz pensar nesta flor de Drummond:Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.]Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto. Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu. Sua cor não se percebe. Suas pétalas não se abrem. Seu nome não está nos livros. É feia. Mas é realmente uma flor. Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde e lentamente passo a mão nessa forma insegura. Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se. Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico. É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio. (A flor e a náusea) Que o Espírito Santo de Deus avive em nós as forças destas memórias - como diria o hino - para que possamos perseverar neste caminho de fé-amor-esperança-compromisso com o Reino e sua Justiça!
E que possamos continuar regando-cuidando desta flor-IPU para que ela ajude a trazer beleza-perfume-vida onde quer que esteja! Vamos de mãos dadas!




[1]  Presbítero e seminarista da IPU de Itapagipe em Salvador.

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

SIM! AVANTE, IPU!

No dia 10 de setembro de 2016, nossa comunidade de fé, a Igreja Presbiteriana Unida do Brasil (IPU), estará completando 38 anos de existência. Um exercício significativo é rememorar as muitas mãos de homens e mulheres, assim como, o desejo profundo de ser sal da terra, isto é, compreendendo uma fé que se traduz em ação transformadora em defesa da vida, uma vez que, o Reino de Deus acolhe e liberta o povo oprimido.
Conheci a IPU a partir do Reverendo João Dias de Araújo quando era seminarista no Seminário Teológico Batista do Nordeste (STBNe), em Feira de Santana-BA. Fomos nos aproximando. Ele forneceu material sobre o início da IPU e, através de orações, conversas e contatos, fui a uma reunião do Presbitério do Salvador (PSVD), e sairia daquela assembléia com a responsabilidade de pastorear a IPU de Muritiba e a IPU de Governador Mangabeira.
Eu, jovem com 23 anos, com sonhos, utopias e, não menos, medos. Esse processo já faz 10 anos. Posso dizer que até aqui o Senhor tem me ajudado! Devido aos estudos precisei ficar apenas na IPU de Muritiba. Aqui, com acertos e erros, tenho servido a Jesus de Nazaré com uma comunidade linda e apaixonante. A partir do chão do Recôncavo, sua diversidade cultural, a Bíblia é lida e relida a partir do sopro do Espírito e das nossas demandas específicas.
De fato, o objetivo deste texto é muito simples, ou seja, quero apenas dizer: obrigado, Senhor por colocar a IPU em minha jornada. Obrigado IPU pelo acolhimento. Desejo honestamente que continuemos comprometidos com o Reino de Deus oferecendo a Ele todos os nossos dons e talentos para edificação da comunidade de fé, assim como, transformar realidades de morte à nossa volta com o anúncio das sementes revolucionárias da ressurreição. A vida em sua pluralidade deve ser mantida e celebrada. Que o Cristo nos ajude! Temos inúmeros desafios à nossa frente. O que iremos fazer? Proponho que com leveza, responsabilidade, criatividade, teimosia na utopia, reinventando-se a partir da fé em Jesus Cristo e orientados pelo Espírito frutifiquemos cada vez mais.
Aqueles e aquelas que amam a IPU e tem se dedicado de diversas formas cuidando dela, obrigado. Por favor, que cada crítica feita e NECESSÁRIA à IPU venham acompanhadas de duas SUGESTÕES de superação. Deus abençoe a IPU nacional, cada Presbitério, cada Igreja local, cada conselho, cada eclesiano e eclesiana.
Que estamos fazendo se somos cristãos? Avante, IPU!
Abraçaço do Recôncavo da Bahia
Cláudio Márcio


sexta-feira, 5 de agosto de 2016

DENGO "INCONDICIONAL"...

Por: Cláudio Márcio

Este ano tivemos a oportunidade de celebrar o dia da Vovó\ Vovô, desta vez, na casa da irmã Elizabete, eclesiana de nossa IPU que chamamos carinhosamente de dona Liu. Foi muito bom, pois, a partir de uma liturgia que provocava experiências vividas em suas jornadas, sorrimos, escutamos, trocamos conhecimentos, cantamos, oramos e, não menos, ao som de cantigas antigas, alguns vovôs e vovós levantaram-se e caíram na dança. Honestamente, sou suspeito em falar, todavia, posso dizer que nosso processo de espiritualidade passa pela fé-festa.
Penso ser importante sinalizar que para além do apoio fraterno, de colos acolhedores que nos lembram as “amas de leite”, do dengo “incondicional”, do tempero especial, da suposta liberdade que na “casa dela (da vovó) tudo pode ser feito”, o apoio econômico desses senhores e dessas senhoras para com seus netos (as) e filhos (as) não é menos importante em todo esse processo. Os cabelos brancos continuam sendo fios fortes, as mãos enrugadas ainda são as mesmas que se abrem para pagar as dívidas que tiram o sono dos mais jovens! Os olhos atrás dos óculos percebem muito bem quando a tristeza aflige seus parentes e os ouvidos mesmo assistindo ao jornal no volume máximo estão atentos para os menores sussurros de choro e prece. Por isso como não te dar um abraço vovó Como não te fazer sorrir vovô?
           Bem, o nosso objetivo é oferecer a essas irmãs e irmãos um momento de celebração e, simultaneamente, fortalecer a espiritualidade do cuidado e da escuta, ou seja, em dias em que os idosos são desprezados e ou “descartáveis”, várias religiões (não apenas a cristã), provocam para importância de valorização desses sujeitos sócio-históricos para além do lugar de consumidores, numa sociedade de consumo.
            Desta maneira, a cada encontro a vida vai sendo recriada, isto é, vai sendo tecida. Sabemos que existem muitos fios nesta construção. Sabemos também que com um pouco de disciplina e criatividade o que era sem forma vai assumindo estilos e cores. Ora, não entendeu? Estou falando da velha máquina de costura da vovó, pois, quem sabe assim, uma realidade mais bonita vai sendo “costurada”. Isso porque o tema do encontro esse ano foi costurando nossas vidas e fazendo uma linda colcha de memórias!
            Penso ser injusto não sinalizar a memória saborosa do velho fogão à lenha, do café que ia sendo torrado na hora, da água na moringa de barro! Ah, essas narrativas contadas encheram muitos olhos de lágrimas... De todo modo, ainda que de maneira efêmera, tentamos retribuir um pouco do que tanto recebemos dessas pessoas. Em meio a tantas lembranças-ausências, o desejo profundo de dizer: “a bênção minha vó”, vai sendo recriada por tantas vovós e vovôs que encontrei na IPU.

Art Suzart

quarta-feira, 27 de julho de 2016

ESPIRITUALIDADE DA PARTILHA...

Por: Cláudio Márcio

Estes dias, em nossa comunidade de fé, na Igreja Presbiteriana Unida de Muritiba, ocorreu o nosso bazar solidário. Peço humildemente que não limite nossa experiência a simplificações discursivas mediante a uma visão dicotômica da realidade. Isso porque se por um lado podem surgir as críticas ao mero assistencialismo, como se nossa vivência fosse simplesmente um paliativo que tenta mascarar as desigualdades sociais com a mesma “bondade” das damas de caridade, por outro sabemos que existe a crença na culpabilização do indivíduo, ressaltando então a ausência de vontade e determinação de alguns sujeitos sociais para a superação da pobreza.
Na realidade, o hino do saudoso reverendo João Dias de Araújo ainda provoca nosso sono… “O que estou fazendo se sou cristão?” Bem, partimos de uma leitura da bíblia que nossa fé precisa se tornar prática, assim sendo, cada um(a) movido(a) por uma espiritualidade solidária, isto é, da partilha, se articulou com o intuito de oferecer a algumas pessoas ( ainda que por um momento), como diria a canção do Criolo, "um gole de vida".É preciso salientar que muitas mãos se juntaram e, as mãos que juntas fazem preces, também acolhem com abraço, roupa e um tanto de comida. Suspeito que a experiência da alteridade seja melhor para nós da IPU do que para essas pessoas que nos visitaram, uma vez que, a oração de São Francisco já abordava: “ é dando que se recebe”.
Nosso encontro no templo foi marcado por músicas, risos, esperanças e utopias. Vi beleza nos olhares que em detrimento da dureza da vida, insistem em recriar suas jornadas com estratégias múltiplas. Como propõe o reggae cantado por Nengo Vieira “ na luz do Senhor que alivia dor que é forte demais\ mas a pureza e a beleza do seu coração\ é mais que tudo que qualquer dinheiro da grande nação”.
Não poderia deixar de mencionar que em 10 anos exercendo o ofício de reverendo desta comunidade, a presença de um cachorro no culto acompanhando seus donos me despertou reflexões, pois, era para ser mais comum, não? Ora, se em nosso modelo de sociedade o cachorro é um "membro da família", ele não precisaria ser estranho na igreja.
 Na verdade, fomos acolhidos por uma"humanidade"diferente do nosso paradigma institucional com seus"passos litúrgicos".
De todo modo, desejo honestamente que os cachorros não sejam somente "aceitos" nas igrejas quando “deixarem o testamento da cachorra”, como brinca, provoca e ironiza Ariano Suassuna em o Auto da Compadecida, o apego ao dinheiro de líderes religiosos que são capazes de realizar o “sepultamento da cachorra em LATINDO”.
Sonho com o dia em que tenhamos mais cachorros nas igrejas fazendo as crianças sorrirem e menos “cachorros” nos púlpitos fazendo toda comunidade chorar.


quinta-feira, 30 de junho de 2016

REBELDIA DA ESPERANÇA...

Por: Cláudio Márcio

Alegre-esperançoso no caminhar...
O sol, meu amigo, sempre chegará!
Utópico, eu?
Ufanista, eu?
Acreditar na humanidade é meu pecado?
Perceber que o outro não é uma coisa é errado?
Encontrar flores perfumadas na jornada é uma falha?
Sorrir com as crianças é um defeito?
Se sim, confesso com prazer: sou um transgressor.


quarta-feira, 8 de junho de 2016

És Deus dançante na roda da vida


Por: Cláudio Márcio
Diante de mim, o Mistério profundo que chamo de Deus.
 Meu canto de fé-alegria.
Minha prece de luta!
A transição do pão
Solitário
SOLIDÁRIO!
Minha mão cheia de livros...
Sou semeador de esperanças!
Sei que a flor irá brotar!
O caminho se encherá de perfume e beleza!
O riso não faltará nos lábios.
Ah, será tão lindo!
O dia em que entenderem Senhor, que Tuas mãos também tocam pandeiro.
O berimbau também é liturgia Tua Senhor.
És Deus dançante na roda da vida.
No samba;
No reggae;
No forró;
Já vou Te encontrar.





terça-feira, 31 de maio de 2016

NOSSOS VOTOS...

DE JUSSI PARA CLÁUDIO...
Há precisamente uma década estávamos perante Deus, nossos familiares e nossos amigos selando uma aliança de amor, fidelidade e cumplicidade, e hoje, em um processo ritualístico, rememoramos este ato simbólico e sobremaneira relevante em nossas vidas. Mas, ao escrever meus votos, fui rabiscando uma folha que não estava em branco, porque minhas mãos, guiadas pela alma, já estava completamente encharcada pelo amor que há dez anos selamos. Como afirmou Clarice Lispector, hoje “não me lembro mais qual foi nosso começo. Sei que não começamos pelo começo. Já era amor antes de ser”. Por isso, muitas palavras ditas quebram o encanto desse momento, a magia do teu olhar, a beleza do seu sorriso, a ternura de suas ações e o amor que me explode todos os dias ao teu lado. Te amo para sempre!

DE CLÁUDIO PARA JUSSI...
Crescemos na mesma igreja praticamente, mas, não éramos muito próximos. Já quando eu era seminarista e você estudante de História, as coisas começaram a mudar, lembra?  Desafios para saber quem “deixaria” o outro sem argumentos. A vontade de estar ao seu lado foi ficando cada vez maior. Entre o nosso primeiro beijo, o noivado, o casamento... não tinha dúvidas: você era (é) a melhor para mim! Confesso: sou tão feliz ao seu lado! Deus foi maravilhoso comigo. Dizer que te amo é pouco. Ora, já que nesses últimos anos tenho pesquisado festas populares de caráter massivo, poderia dizer que sou o teu devoto-folião e, você, minha festa, isto é, você tem cores, sabores, cheiros, sons que me completam. Reafirmo aqui meu amor por você. Que Deus te abençoe minha “malandrinha”.


sexta-feira, 20 de maio de 2016

JORGE NERY: UMA VOZ NECESSÁRIA!





(...)Cessai de fazer o mal, aprendei a fazer o bem. Respeitai o direito, protegei o oprimido; (Isaías 1, 17)(...) Ó vós, que transformais o direito em injustiça e amargura, e ainda lançais por terra a retidão e o bom senso! (...)mas, antes, jorre a equidade (respeito à igualdade de direitos) como uma fonte e a justiça como torrente que não seca.Amós  5.7, 24.

A sabedoria dos textos bíblicos nos convida a pensarmos na justiça, e aqui a justiça tem um sentido comunitário, fala de respeitar e proteger o direito, de não transformar o direito em injustiça e amargura e de não lançar por terra a retidão e o bom senso.  Deseja profundamente que ocorra o respeito à igualdade de direitos,  jorrando como uma fonte e a justiça corra como rios em terra seca. 
Não podemos pensar uma democracia onde alguns sejam mais iguais que outros, onde pessoas sejam excluídas ou apartadas de seus direitos. Lutamos por uma democracia, que seja radical, participativa, direta e plural, onde se crie instâncias de decisões para os diversos grupos sociais. Uma democracia social. Mesmo numa democracia oligarca em que vivemos, de gritante esvaziamento representativo, e indecente afastamento das lutas e demandas da população, insistimos na manutenção dos direitos constitucionais que estão assegurados formalmente, a igualdade de direitos. O respeito aos direitos humanos precisam ser garantidos e efetivados pelas instituições públicas e seus agentes responsáveis, destepaís, que tem a obrigação de permanecer nos contornos já assegurados e ampliá-los, como princípio de que a democracia é a morada de todxs. Estamos nas ruas lutando para barrarmos os retrocessos.
A comunidade protestante/evangélica neste país é plural e tem muitas vozes, muitos olhares e interpretações. Segmentos fundamentalistas e reacionários, articulados com forças fascistas e espúrias no Brasil e fora dele, vem assumindo bandeiras da ignorância e da intolerância à diferença e à diversidade a exemplo da  LGBTfobia. O discurso, feito por estes grupos religiosos, de que existe uma “ideologia de gênero”, como falsidade e invenção de um lado, e do outro, os defensores da natureza humana criada por Deus que estariam sendo violados, é uma falácia no mínimo extravagante. Nossa condição humana é sempre revestida de sentidos e significados construídos social e historicamente. Nos constituímos dentro de uma realidade social e simbólica que também é fruto da ação humana em sociedade. Nossa relação com a realidade é sempre mediada.  As identidades e suas performances acontece de forma dinâmica e aberta e não fixadas de uma vez para sempre, como querem os contornos dogmáticos destes discursos religiosos em particular. 
Distintos e diferentes tratados e legislações internacionais, advindos de respeitados organismos asseveram o que já assinalamos como: A OMS; a ONU; A Corte interamericana de direitos humanos, etc. que o Brasil é signatário. Nenhum grupo religioso pode querer imputar sua visão religiosa em particular sobre o restante da sociedade, muito menos criar dispositivos restritivos aos direitos numa sociedade plural e diversa.
Como protestantes e evangélicos que somos, ligados à Aliança de Batistas do Brasil e em especial à Comunidade Jesus em Feira de Santana, aqui nos solidarizamos com a Comunidade LGBTTTeQ  e nos pronunciamos em defesa de seus direitos e pela efetivação de políticas públicas já asseguradas em lei e as que estão em curso de implementação, e repudiamos atos abusivos e descabidos de edis, que arvoram-se como representantes de um deus, sexista, LGBTTTfóbico, misógino e classicista.  Nossa luta é para que haja equidade de direitos e que rios de justiça corram em nossa Feira de Santana sedenta.
Afirmamos sempre a vida em sua diversidade e integridade, buscando experimentar Deus no incondicional amor aos outros e a toda criação.

Feira de Santana, 19 de maio de 2016


 Pr Jorge Luiz Nery de Santana, Pastor Batista, membro da Igreja Batista de Nazareth em salvador e pastor colaborador da Comunidade de Jesus em Feira de Santana. Membro da Aliança de Batistas do Brasil.

domingo, 15 de maio de 2016

BEM VINDO...

Hoje, domingo de Pentecostes, me veio à memória um texto da autoria do Pr. Marcos Monteiro. Lembro que o Espírito Santo era refletido como o "AGITADOR SOCIAL". Aí, diante dessa efervescência política em que nossa nação se encontra, pensei: a religião cristã de algum modo tenta "aprisionar a pomba do Espírito”, porém, isso é possível? Definitivamente, não.
 Desta maneira, ao visualizar uma "bancada evangélica" nojenta, reacionária, corrupta e hipócrita, lembro do movimento revolucionário de Jesus de Nazaré com outras perspectivas. De fato, a justiça, a partilha do pão, o acolhimento, a promoção da vida tem sido deixado de lado. Como abaliza o reggae do Recôncavo através de Sine Calmon: "esses homens não se cansam do poder".

Ora, a experiência religiosa deve nos humanizar mais. Hoje é Pentecostes! Penso ser necessária sensibilidade para perceber o agir do Espírito, entretanto, é preciso coragem para ser sopro do Espírito no mundo. A fé é um óculos que nos faz perceber no “vale de ossos secos um exército de pé”. É amigo, lute! Desejo que a fé alienante possa morrer, mas, a fé engajada que derruba estruturas, eu deixo brotar. Hoje é Pentecostes! Eu reafirmo a crença no mistério que Sopra em nós e a partir de nós humanos. Pela recriação da vida nas esquinas e praças da cidade eu digo: seja bem vindo Espírito Santo.
Há braços
Cláudio Márcio

sábado, 5 de março de 2016

Teologia Integral e Direitos Sociais.



Bate papo com Vinicius Pereira

(Estudante de Serviço Social-UFRB).

TEMA: Teologia Integral e Direitos Sociais.

ONDE? Igreja Presbiteriana Unida de Muritiba
(Rua Lions Club S\N)

QUANDO? 05-03-16

QUE HORAS? Às 17h




domingo, 3 de janeiro de 2016

Diana, cachinhos de uva.

Por: Diogo Valença
( Professor de Sociologia do CAHL\UFRB)
"Minha filha gosta daquele filme infantil, ou infanto-juvenil, Frozen. Há duas personagens nele, Ana e Elsa, uma loira e outra ruiva, com cabelos longos e tranças. As coleguinhas de uma escolinha de bairro, com cabelos longos e ondulados, diziam ser uma das duas. Minha menina estava começando a ficar desgostosa com o próprio cabelo, que é cheio e cacheado. Ela gosta muito de uva, daí pensei e passei a mão na cabecinha dela, dizendo que o cabelinho dela era de cachinhos de uva, que ela era especial porque ninguém tinha o cabelo assim. Agora ela anda dizendo que é um princesa e que tem cachinhos de uva, passando a mãozinha no cabelo. Tive que encontrar uma forma singela de lidar com a imagem negativa de si mesma que as meninas negras passam a sofrer, logo cedo. Toda mulher negra, em um momento da vida, com cabelo crespo ou não, vai ter problemas na identidade com seu próprio cabelo e isso começa cedo. As crianças são muito inteligentes e têm muita sensibilidade para captar os índices de status valorizados pelos adultos, nos comentários do dia a dia na família e na escola. Então a criança negra pode ficar desamparada nesse mundo, alimentando uma imagem invertida de si mesma. Quantas cachinhos de uva lindas, com cabelo crespo, cacheado ou encaracolado, sofrem intimamente na escola? Nossa deseducação racista é muito sutil e nessas pequenas coisas devemos ser sensíveis e estar atentos".

OBS: Reflexão feita por um pai-professor-sociólogo (no facebook) com um misto de denúncia contra o racismo e leveza pedagógica, pois, trata-se da perspectiva de empoderamento e ou resistência na socialização de crianças negras. 
Há braços
Cláudio Márcio