quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Entre passagens e encontros como cheguei a IPU


Por: Isaque de Góes Costa[1]
Eu sou Isaque de Góes Costa. Pastor da IPU Brasília e da IPU Formosa. Moderador do Presbitério Erasmo Braga com sede em Belo Horizonte. Minha história é feita de passagens e encontros. Eu me considero fruto de três passagens significativas antes de chegar a Igreja Presbiteriana Unida. A primeira: nasci num lar evangélico, onde todos eram da Assembleia de Deus,em Belém do Pará. Minha avó materna inclusive me contava as histórias dos missionários fundadores dessa igreja pentecostal, que iam visitá-la, e pode acompanhar o trabalho deles na Igreja. Daniel Berg, Sara Berg, Gunnar Vingren,Frida Vingren, Samuel Nyström, e tantos outros homens e mulheres.
 Em geral pessoas simples, de oração, fervor e evangelização. Minhas memórias de infância são marcadas por idas e vindas à Igreja, escola bíblica, culto de oração, doutrina, evangelização, vigílias e uma busca de consagração ao serviço de Deus.  Na fase adulta, estudei num seminário pentecostal em São Paulo, por um breve período, trabalhei nos vários grupos internos da igreja, missões entre ribeirinhos, pregações e evangelização ao ar livre, até ser ordenado pastor num ministério da Assembleia vinculado a uma igreja da periferia  de Belém. Desse encontro: aprendi a orar, ter fervor na minha fé, a confiar em Deus,manter uma vida simples, a trabalhar no meio focado na evangelização local e interdenominacional. Por outro lado, a ter uma vida com suspeitas do mundo, uma moral da desconfiança com a cultura, a leitura conservadora da Bíblia.
No entanto como sempre me identifiquei com o ensino teológico, acho que havia brechas na minha personalidade, feitas de um profundo desejo de aprender mais .Um momento foi decisivo, ficou gravado na minha memória, o professor Justino Légua Sachinbombo em São Paulo, que dizia: -Se quiser ser um  Teólogo  procure uma igreja histórica”. Pois naquela época no  pentecostalismo não havia  espaços para uma carreira teológica, mas a centralidade do enfoque pastoral, e uma certa reserva com a academia.  Por essa razão,travei contatos em Belém, com  protestantes históricos: presbiterianos e batistas, porém,  com a abertura do Curso Ecumênico de Teologia, oferecido pelo Conselho Amazônico de Igrejas Cristãs(CAIC) acabei tendo informação dessa experiência piloto em Belém, um bacharelado em teologia, com ênfase em Ecumenismo.Nessa etapa passei por uma reviravolta existencial, as bases teológicas que possuía: uma visão superficial da sociedade e seus conflitos, um leitura bíblica  fundamentalista,  foram revisadas, e puder crescer muito como pessoa, através da  vivência ecumênicacom todos os grupos de igrejas, novos horizontes da missão, um olhar do Reino de Deus, e não apenas a perspectiva denominacional, tudo isso, de modo integrado, e dialogal e somados a uma caminhada  frutífera junto a outras religiões.
 Nessa altura, fui acolhido na IECLB, minha segunda passagem: passei dez anos ali, servindo na assessoria a liturgia, nos cultos, nas pregações,e num estágio teológico  no Ponto de Pregação da IECLB em Tucuruí(PA). Por essa época comecei a lecionar Teologia no Seminário Batista Nacional da Amazônia (STEBNA) em 2003, e no lugar da Pastora Marga Rothe na disciplina: Teologia do Diálogo Inter-religioso no curso de Teologia onde me formei. Uma honra para mim, substituir a minha professora, uma das mulheres que muito me influenciou a Pastora Marga, uma das fundadoras da sociedade de Defesa dos Direitos Humanos na Amazônia (SDDH).
Todavia, nessa segunda passagem, tive uma crise, pois na luterana deveria ir para o sul para continuar os estudos se quisesse ser pastor, e nessa altura, minha mãe tinha tido um AVC, e eu num contexto de algumas insatisfações e discernimentos. Além da exigência no ambiente luterano de ser evangelical ou progressista, polarizações que me deixavam desconfortável.
Nesse contexto aconteceu uma terceira passagem na minha vida, o meu encontro com a Igreja Presbiteriana Unida. Fui convidado a pastorear a IPU, pois o Reverendo AntônioTeles, havia ido para Porto Alegre(RS)fazer o mestrado, e a igreja estava sem pastor. Eu, já conhecia a IPU do movimento ecumênico,havia pregado algumas vezes naquela comunidade. Eles me acolheram, fiquei dois anos como pastor colaborador, e pude aprender mais sobre a forma de organizar, cultuar, sua prática de fé e fui aprendendo o modelo de democracia reformada.Nesse encontro com o mundo presbiteriano, pela conivência, oração e fé, percebi que nosso Senhor me conduzia e me chamava a servi-lo.
Quando olho esses anos de trabalho na IPU, me sinto honrado, feliz e com a mesma chama acesa em meu coração lá no inicio da juventude. O desejo de pastorear, sem jamais deixar minha primeira vocação que é lecionar Teologia, e não desligá-la de seu sentido primordial que é servir a Igreja. Nesse caminho achei na IPU, uma igreja não fundamentalista, ecumênica e reformada, voltada a defesa dos direitos humanos, litúrgica. Sem a crise de ser evangelical ou progressista, que tinha vivido antes, achei um espaço de moderação.
 Hoje tenho a profunda clareza do lugar da IPU no cenário do presbiterianismo Latino-americano e mundial. Sua vanguarda no Brasil de uma igreja que defende as minorias e se pronuncia diante das questões preocupantes no quadro politico e social no Brasil. O que mais gosto é ver as crianças na Igreja participando da ceia, pessoas homoafetivas sem medo de se aproximar da comunidade, pois sabem que não vamos discriminá-las, os jovens tendo voz na denominação, as mulheres buscando e afirmando a cada dia seu espaço, e nossa igreja buscando formas de fazer missão compatíveis com nossa identidade sem deixar de nos reformar, crescer e amadurecer, tendo novas visões e desafios!



[1]  Mestre em Ciências das Religiões pela Faculdade Unida de Vitória.

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Como eu conheci a IPU, meu testemunho


Por: Francisco Leite[1]
Meu nome é Francisco Benedito Leite, como você pode observar, tenho os nomes dos dois papas vivos, sinal que eu nasci num lar católico e que meus pais, de algum modo, queriam homenagear São Francisco de Assis e São Benedito – não sei ao certo qual deles, Benedito, padroeiro dos negros ou Benedito de Núrsia, fundador da ordem dos beneditinos; mas isso pouco importa.
Meus familiares eram católicos muito fervorosos, pois minha mãe estudou para ser freira durante a adolescência, meu pai era congregado mariano e meus irmãos mais velhos eram catequistas, um deles, inclusive, chegou a ser seminarista – se bem que não durou muito, pois rapidamente desistiu da vida religiosa.    
A peripécia na nossa vida religiosa foi que cada um de nós passou pela experiência de conversão no pentecostalismo, exceto um de meus irmãos – sou o caçula de seis filhos homens. O pentecostalismo nos ofereceu a solução de todos os problemas naquela época, pois afirmava que Deus abriria portas de emprego, curaria enfermidades, libertaria dos vícios e, mais importante, a experiência do contato direto com Deus, através dos dons de línguas estranhas e maravilhas.
Além disso, considerávamos que no pentecostalismo não havia aquela liturgia pedante e afastada das pessoas comuns como nós. Nossa família era humilde, vivíamos numa cidade periférica que ninguém conhece, chamada Várzea Paulista. Meu pai já tinha feito de tudo na vida, desde bóia fria, sorveteiro, soldador, retireiro e muito mais; a essa altura era metalúrgico, dentre as profissões dos operários, na época, era a de maior destaque; minha mãe era dona de casa e por sinal tinha muito serviço a fazer, levando em conta que tinha seis filhos.
No pentecostalismo todos podiam pregar, todos eram obreiros, todos se sentiam úteis e até mesmo os pastores eram gente do povo como nós; eles vinham almoçar na nossa casa, falavam com cada um de nós e liam a Bíblia de modo literal, a ponto de podermos desenvolver a mesma capacidade de leitura e interpretação. Quando tínhamos dúvidas sobre qualquer problema da vida cotidiana, bastava buscar o que a Bíblia dizia sobre isso que a nossa resposta era alcançada e a dúvida era sanada.
Eu cresci nesse ambiente, adorava a escola dominical, a pregação da palavra, evangelismo e tudo mais. Devido à minha “experiência com Deus”, desde meus nove anos de idade coloquei na minha cabeça que “eu tinha um chamado para ser pastor” – seja lá o que quer que isso significasse para mim.
No entanto, quando eu estava me aproximando dos meus dezoito anos, fui percebendo que aquela igreja não era as mil maravilhas, fui perdendo a inocência. Comecei a perceber que as pregações eram muito limitadas, os pastores não conheciam a Bíblia, sequer o mais elementar. Notei que eles apenas decoravam os textos e liam aplicando de modo pessoal. Notei também que todos os domingos proclamavam curas e libertação, mas nunca vimos, de fato, um cego enxergar, um paralitico andar, um surdo ouvir, um mudo falar; e os viciados libertos, a maioria deles, voltava à bebedeira ou às drogas poucos meses depois. Eu evitava dar espaço da minha mente para refletir sobre essas coisas, pois poderia blasfemar contra Deus sendo tão incrédulo assim, mas eu pensava nessas coisas, sim.
Havia outra coisa que eu notava na minha igreja e essa era inevitável que eu criticasse, era a situação das instalações das igrejas. Já fui em igreja que era salão de bar, depósito de lixo, galpão de fábrica e sei lá mais o que. Se as igrejas fossem instaladas em lugares pobres por falta de dinheiro eu entenderia, mas o que acontecia era que cada igreja tinha uma boa arrecadação por que era obrigatório “devolver o dízimo”, só que a arrecadação era enviada para a sede, que tinha um templo lindo, funcionários, pastores assalariados; enquanto isso as igrejas eram salões de bar com um único banheiro para ambos os gêneros, sem copo descartável, sem água filtrada, sem nada; pois era necessário diminuir os gastos para sobrar mais dinheiro para a sede.
Os pastores das igrejas locais eram homens dedicados – apesar de totalmente despreparados intelectualmente – a maioria desses pastores trabalhava duro para prover uma renda e sustentar a própria família e ainda ofertar para a igreja; eles não recebiam nem sequer um real, não tinham ajuda para a gasolina nem nada; enquanto isso os pastores da sede e alguns privilegiados tinham salários exorbitantes cujos valores não eram revelados.
Eu sabia de todas essas coisas, mas achava que a igreja poderia mudar, que eu deveria mudar a igreja e isso eu faria através do conhecimento da palavra de Deus, do estudo da Bíblia, pois parecia-me que esses crentes dos quais eu fazia parte não eram mal intencionados, mas despreparados. Bem, eu deveria assumir a responsabilidade do meu chamado e começar a estudar Teologia para fazer minha parte numa possível mudança de cenário. A mudança que eu queria deveria começar em mim, como diz o jargão popular.
Nessa época, em 2005, a Teologia era novidade como curso universitário, fazia pouco tempo que a Teologia tinha deixado de ser oferecida unicamente pelos seminários denominacionais para ser mais uma carreira do Ensino Superior. O Mackenzie e a Metodista eram as primeiras faculdades no estado de São Paulo que ofereciam um curso de Bacharel em Teologia válido pelo MEC. Eu fiquei altamente interessado nessa oportunidade de ser um teólogo de verdade e por isso fui conversar com um determinado pastor pentecostal que era um dos poucos que tinha formação teológica. Falei para ele que queria estudar Teologia para servir a Deus e ensinar a palavra, mas não sabia qual das duas instituições era a mais recomendada e perguntei se ele poderia me ajudar nessa decisão. Meu Deus! A resposta que aquele homem me deu dói até hoje lembrar, mesmo sem me conhecer, disse que eu não tinha preparo nem condições para estudar Teologia, que eu “desviaria” e que esses cursos não serviam para mim. Disse tudo isso sem nenhum cuidado pastoral.
Eu saí daquela igreja para nunca mais voltar a frequentá-la como membro, fiquei tão abatido que nunca mais consegui participar dos cultos pentecostais com alegria, pois notei que os problemas teológico dessa igreja, na verdade, não eram problemas, mas projetos, projetos de dominação pela detenção do saber e da palavra de autoridade.
O pior foi que eu saí da frigideira e pulei no fogo, passei a frequentar uma igreja batista, pois na minha cabeça, entre as igrejas tradicionais, a batista era a que mais se parecia com a pentecostal, então o impacto não seria tão grande. Engano meu, na igreja batista eu não poderia tomar ceia enquanto não me tornasse membro, eles tinham aquele chamado sistema de “santa ceia restrito”. Eram sessenta pessoas numa igrejinha bonita, muito bem organizada, com um pastor honesto e bem educado, obreiros sóbrios e pessoas de bem; só que eles se achavam melhores que o resto da humanidade. O legalismo quanto à obrigatoriedade do dízimo, rejeição ao divórcio e a exclusão ao diferente era muito mais incisiva do que no pentecostalismo.
Na época, eu não queria rejeitar minhas experiências pentecostais que eu achava que fossem verdadeiras, só estava saindo do pentecostalismo por causa da corrupção descarada que eu via em praticamente todas as igrejas dessa tradição. Pois um lugar onde o pastor não é ordenado por causa de seus estudos nem por causa de uma eleição comunitária, mas sim, por que um homem, o pastor presidente, assim deseja; um lugar desses não pode ser levado a sério. É só observar quantos filhos de pastores são pastores também. 
A essa altura, ano de 2006, eu já estudava Teologia no Mackenzie – meti a cara por contra própria, mesmo sem apoio algum – eu frequentava a igreja batista e estava me integrando a ela aos poucos, mantinha meu desejo de ser pastor, mas não era reconhecido como seminarista. Até que um dia em pedi ao pastor que me reconhecesse como seminarista para que eu pudesse me preparar para o pastorado de forma mais direcionada. O pastor falou com o conselho da igreja e depois veio com a resposta. Disse que para que eu tivesse meu ministério reconhecido eu teria que me matricular na Faculdade Batista e então talvez a igreja poderia me avaliar futuramente; mas enquanto isso, nada feito. Eu argumentei que recebia quinhentos reais por mês e pagava trezentos e cinquenta reais de mensalidade na faculdade e que na Faculdade Batista a mensalidade era de seiscentos reais mais ou menos, ou seja, maior que o meu salário.
Aos meus dezoito anos, eu trabalhava como repositor em um supermercado em Várzea Paulista, oito horas por dia, depois pegava o transporte público para ir para São Paulo e a viagem durava duas horas para ir mais duas horas para voltar. Não tinha dinheiro para nada, até fome eu passava por que o supermercado não oferecia refeição para os funcionários, para não desmaiar eu tinha que comer coisas escondido no depósito – não me orgulho disso.
Daí o pastor batista disse: “Ou você se matricula na Faculdade Batista para futuramente ser avaliado (ou seja era apenas uma possibilidade de possibilidade) ou você não será reconhecido como seminarista, seu curso não terá validade nenhuma, será como qualquer profissional que estuda psicologia, letras, direito, engenharia etc.
Eu não tinha o que fazer a não ser seguir minha carreira independente, a igreja não ia me ajudar nem sequer com um centavo e estava pautando onde eu deveria estudar, sendo que entre os batistas o seminário recomendado para os futuros pastores é sempre o seminário ou faculdade batista, mas isso não é uma norma, no sistema congregacional, cada igreja escolhe o que acha conveniente, assim poderiam perfeitamente reconhecer meus estudos no Mackenzie se quisessem.
Eu continuei indo na igreja, até que um dia me indicaram para dar aula na escola dominical e eu aceitei, mas eu não sabia que eles “puxariam minha capivara” antes de ser eleito para essa função que eu tinha sido indicado. Conferiram nos livros da tesouraria se eu era dizimista e não por acaso – afinal eu gastava tudo na faculdade – eu realmente não era dizimista. Assim eu não poderia ter qualquer função na igreja, pois na concepção deles e na leitura literal do livro profeta Malaquias, eu era ladrão, roubava a Deus.
A essa altura eu já estava num desânimo lascado, ia á igreja uma vez por mês ou um pouco mais que isso. Quando eu aparecia no culto a vergonha era ainda maior, pois todos me cobravam: “Por que você não apareceu?”; “Por que você sumiu, aconteceu alguma coisa?”. Dar respostas a essas perguntas inquisitoriais era sempre muito difícil, afinal como eu explicaria que não estava aparecendo na igreja por que estava tão magoado e decepcionado por ter trocado uma igreja por outra que dava na mesma ou era pior?
  Até que um dia, alguns anos depois, o pastor me chamou para conversar com ele na salinha dele, fora do horário do culto. Dada minha situação, não poderia ser uma conversa boa, mesmo assim eu fui, pois o pastor era um cara jovem e muito legal. Ao chegar lá, ele me disse que estava preocupado com a minha situação por causa da minha ausência e que seria melhor eu procurar outra igreja já que ali eu estava infeliz. Eu nunca imaginava que um pastor seria capaz de convidar um membro a se retirar de sua igreja, ainda mais eu que quase não perturbava ninguém.
O que eu poderia fazer? Saí da igreja mais uma vez, numa frustração enorme. Lembrei que o pastor pentecostal no dia da minha despedida me disse que eu estava saindo da igreja amaldiçoado por ser rebelde. Chegou a passar pela minha cabeça que aquela maldição estava se efetivando na minha vida, mas mesmo assim eu não voltaria ao pentecostalismo como o cão volta ao próprio vômito. Eu me tornei membro de faxada de outra igreja batista ali perto e frequentava os cultos ainda mais esporadicamente. Fui dessa igreja por dois anos, não fiz amizade com ninguém, não perceberam quando eu comecei a frequentá-la e também não perceberam quando eu a deixei – foi a minha pior experiência, pois é melhor a rejeição do que passar em branco; mas tudo bem, os jovens eram de classe média e eu era pobre, não tinha como ser diferente.
Na minha carreira acadêmica, nesse momento eu estava no mestrado. Apesar de todas as dificuldades que enfrentei na graduação, consegui entrar na Pós-Graduação em Ciências da Religião com bolsa remunerada. Academicamente eu estava bem, mas marginalizado na igreja.
Até que um dia por acaso, numa conversa desinteressada, um professor da Metodista disse que conhecia uma igreja de Jundiaí (cidade vizinha de Várzea Paulista), a IPU; disse também que ele próprio fora ordenado pastor nessa denominação, embora nunca tenha exercido o pastorado. Quando eu cheguei em casa depois dessa conversa, fiquei curioso e procurei todas as informações possíveis na internet sobre essa tal de IPU. Procurei o endereço do templo e notei que ficava tão próximo da minha casa, na verdade, ficava próximo do caminho que eu passei por anos quando ia trabalhar, mas ficava numa rua morta, na qual ninguém passa, por isso eu não conheci o templo.
Eu visitei essa igreja, a IPU de Jundiaí, pela primeira vez no mês de abril de 2012. Confesso que estranhei muitíssimo muitas coisas naquele culto. Para começar, falaram que era quaresma, para mim isso era coisa de católico, eu nunca tinha ouvido falar disso entre os evangélicos nem na faculdade de Teologia. Outra coisa que estranhei é que tinha apenas umas oito ou nove pessoas no culto, num templo tão bonito do jeito que era aquele era constrangedor ver aquele vazio.
Todavia, a solenidade do culto, na minha opinião, inspirava a adoração a Deus. O templo era um lugar solene, a liturgia transcrita no boletim e cada etapa do culto era muito bonita e organizada, apesar de não ter a presença do pastor. Havia liturgia e solenidade como a da Igreja Católica, apesar disso, não senti nada de pedante, pois o calor humano dos abraços e das saudações que recebi substituíram qualquer animação superficial de supostos cultos avivados.
Ao terminar o culto, conversei com os presbíteros e falei um pouco de minha trajetória, disse que estudava Teologia, mas não estava “firme” em nenhuma igreja. Um presbítero me disse que eles precisavam de alguém como eu ali, junto com eles; outro presbítero me disse que a igreja estava em oração e jejum, pedindo a Deus que enviasse um colaborador e que eu era a confirmação dessas orações. Eu saí dalí chocado, profundamente tocado.
Fui em mais uns dois cultos e depois de sair da igreja num determinado domingo, cheguei em casa e conversei com meu irmão, que tinha experiência no caminho da fé; falei para ele que tinha encontrado uma igreja que correspondia a tudo o que eu esperava de uma comunidade de fé, como o ecumenismo que eu tinha aprendido a apreciar graças ao convívio com colegas católicos e de outras filiações religiosas na Metodista; também disse que as pessoas que me acolheram eram muito agradáveis e que parecia ser uma igreja diferente de tudo o que vi até aquele momento da minha vida. No entanto, falei também: “A igreja é muito boa, mas, como há poucas pessoas nos cultos, a impressão que eu tenho é que a igreja vai afundar”. Meu irmão, inspirado por Deus, disse: “Se a igreja é realmente tão boa e tão fiel a Deus quanto você descreveu, se ela afundar, afunde com ela”.
As palavras do meu irmão foram realmente tocantes para mim, no domingo seguinte conheci o Rev. Paulo Roberto, que me acolheu como um filho, sem perguntas inquisitoriais, sem exigir que eu provasse a minha fé, sem perguntar se eu renunciei o que aprendi no pentecostalismo, sem que eu tivesse que ser quem eu não era.
Posso dizer que cheguei chegando na IPU, com o passar tempo conheci outros pastores, o Rev. Joel Moraes da IPU de Atibaia, que me recebeu com amor efusivo e disse que confiava no meu trabalho e no meu chamado; o Rev. Carlos Alberto que tinha deixado a igreja de Jundiaí há pouco, mas continuava muito presente na nossa vivência; o Rev. Antônio Ferrari, que pastoreou nossa igreja por muito tempo e é até hoje um grande exemplo de homem de fé para mim; o Rev. Gerson Urban que também me acolheu com muito entusiasmo e afirmou que eu tinha afinidade com as ideias da IPU, mesmo tendo vindo recentemente.
Nenhum desses pastores, tampouco a IPU de Jundiaí “puxou minha capivara” antes de me conhecer. Ninguém me tratou como outsider, ninguém me negou a comunhão com o corpo de Cristo. E eu notei que apesar do número reduzido de pessoa naqueles primeiros cultos que eu tinha ido – umas oito ou nove pessoas – , na verdade, a comunidade era maior, não havia nenhum indicativo de que a igreja “ia mal das pernas”, apenas era uma comunidade com poucos membros por que não usa os mesmos recursos baixos que as outras igrejas utilizam para fazer prosélitos.
Em 2014 fui ordenado pastor e dirigi aquela igreja junto com o Rev. Paulo Roberto até 2015, durante os dois anos seguintes pastoreei a mesma igreja junto com o Rev. Mizael Souza – um amigo formado em Teologia, vindo do pentecostalismo, para o qual indiquei a IPU – foram anos muito bons da minha vida. Visitamos as viúvas e os enfermos, realizamos velórios e acompanhamos famílias enlutadas, realizamos estudos bíblicos e eventos teológicos; dediquei todas as minhas energias para o cuidado dessa igreja entre 2012 e 2017.
Ainda assim a igreja não cresceu esplendorosamente, mas continua firme e sendo diferente das demais igrejas evangélicas. Sobretudo, nesse momento que quase todas as igrejas evangélicas estão apoiando o fascismo, sinto muito orgulho da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil, minha denominação cristã, que se manifesta sempre a favor da democracia. Também sinto orgulho da igreja de Jundiaí e não posso deixar de falar da querida IPU de Barueri, na qual desde o começo desse ano, 2018, auxílio o admirável trabalho pastoral realizado Rev. Gerson Barbosa.
A IPU é uma igreja diferente e paga o preço por isso, suas escolhas mantê-la-ão para sempre como igreja pequena, mas esse é o preço da fidelidade aos princípios protestantes e à palavra de Deus. Não ser proselitista, não ser apelativa, não estar do lado do poder, não seguir as modinhas evangélicas, não ser taxativa quanto a quem vai para o céu e quem vai para o inferno; tudo isso custa muito caro para uma igreja e eu estou disposto a pagar esse preço até o fim como ministro da palavra e do sacramento dessa denominação cristã. 




[1] Doutorando em Filologia e Língua Portuguesa pela USP. Reverendo da IPU de Barueri-SP.

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

IPU: uma flor que nasce no asfalto


Por Augusto Amorim Jr.[1]

Os que semeiam com lágrimas, ceifam em meio a canções. Sl 126.5

Em setembro deste ano, a Igreja Presbiteriana Unida celebrou seus 40 anos de existência. Na Bíblia, o “tempo dos 40” é muito rico de significados. Destaco aqui os tempos de passagem pelo deserto. O povo hebreu, que Javé liberta do império egípcio, caminha 40 anos pelo deserto rumo à terra prometida. Jesus passa 40 dias no deserto, enfrentando as tentações em lugar inóspito, antes de iniciar sua missão. O deserto, assim, é o espaço onde se aprende a ser livre, com todos os riscos, angústias, desconfortos que isto implica. É espaço também de bênçãos, partilha, renovo da fé e esperança. Espaço de altos e baixos, de experiência da Graça que surpreende e aperfeiçoa na fidelidade com o Reino de Deus, que como bem diz Paulo, é justiça, paz e alegria no Espírito Santo.
A origem da IPU me faz lembrar a flor que nasce do asfalto do poeta Drummond. A IPU poderia sequer ter nascido! Surge de um processo (no bojo dos anos 50 aos anos 70) de duras perseguições e expulsões por parte de setores fundamentalistas e sectários no seio do presbiterianismo brasileiro contra lideranças e comunidades que atrelavam a fé cristã ao compromisso com justiça social e à caminhada ecumênica. O autoritarismo eclesiástico antecipou o apoio do presbiterianismo hegemônico à ditadura militar. As pessoas perseguidas e expulsas naquele contexto, sustentadas pelo Espírito Santo, em meio a lágrimas e resistência, formaram a IPU. Esta história é muito bem contada pelo Rev. João Dias de Araújo em seu livro Inquisição sem Fogueiras, um documento histórico da maior importância sobre o protestantismo brasileiro (escrevo este texto tendo à vista uma edição deste livro com capa ilustrada pela atual moderadora do Conselho Coordenador da IPU nacional, Anita Wright, ilustração de beleza contundente e instigante).   
Em Inquisição sem Fogueiras, encontra-se uma carta escrita por Rubem Alves (datada de 15/09/70), à época pastor presbiteriano que se desligava da IPB (Igreja Presbiteriana do Brasil), que expressa com poética teologia o significado da situação em que nasce a IPU e os desafios que em boa medida ainda são os nossos. Como “a fidelidade é uma virtude da memória” (André Sponville), compartilho alguns trechos desta carta:

Sempre entendi que o Evangelho é um chamado à liberdade. Foi através de um evento libertador, o Êxodo, que a comunidade da fé chegou a conhecer o seu Deus. E a Bíblia toda é a história da luta de Deus que quer que os homens sejam livres, contra os próprios homens que preferem a domesticação, a escravidão e a idolatria. Culmina esta história com o advento do Senhor Jesus que é, a um só tempo, o homem livre e o Deus que liberta. Fé, portanto, é liberdade. É abertura ao futuro. É a confiança de ‘deixar para trás as coisas que já ficaram para trás’, para lançar-se com Abraão para um futuro novo. Por isso fé é vida. O ato de viver é um permanente transferir-se do presente para um futuro imediato. [...]
Estou convicto, teologicamente, que a comunidade de fé já emigrou. Nenhuma estrutura legal e de poder pode contê-la, ou domesticá-la. Assim como no Êxodo ela abandonou as panelas de carne do Egito para peregrinar no deserto, assim como os profetas abandonaram e desprezaram toda a estrutura oficial, para viver espalhada, escondida, incógnita no mundo. O amor e a verdade freqüentemente nos obrigam a emigrar. Abraão emigrou: por fé e amor. Também os profetas emigraram por fé e amor para fora das instituições eclesiásticas reconhecidas. E Jesus? Emigrante permanente: deslocou-se da interioridade protegida de uma instituição toda poderosa para um deserto de incertezas. A vocação pela liberdade é a vocação para emigrar. Daí a afirmação neo-testamentária de que não temos casa ou terra permanente. Vivemos pela esperança de algo novo. Se o Novo Testamento está certo, o ‘Espírito se encontra onde se encontra a liberdade’[...] (Alves apud Araújo, 1985, p.98-99)
           
Outro símbolo desta história de resistência, voz profética e cooperação ecumênica com vistas à defesa dos direitos humanos é o testemunho do rev. Jaime Wright, que junto com o arcebispo Dom Paulo Evaristo Arns, desenvolveu o projeto Brasil Nunca Mais, trabalho de extrema relevância no que diz respeito à denuncia das terríveis injustiças e torturas cometidas  nos porões da ditadura. Este material, inclusive, serviu de base para a Comissão da Verdade, e tem uma importância histórica imensa a fim de que o esquecimento não sufoque uma memória necessária à rejeição da barbárie e ao estabelecimento de balizas civilizatórias mínimas no nosso país. Jaime Wright, o pastor dos torturados é o título de um livro escrito pelo Rev. Derval Dasílio, que trata cuidadosamente deste testemunho que começa com a perda do irmão Paulo Wright (presbítero e deputado estadual cassado), desaparecido em meio às perseguições do regime militar.
Importante dizer que estes e outros resgates históricos de testemunhos de homens e mulheres e comunidades que formaram a IPU não estão e nem devem ficar no campo do saudosismo. Assim como nossos Princípios de Fé e Ordem e demais documentos fundantes não podem ficar apenas no papel.  Pelo contrário, servem de baliza para percebermos a coerência e ressonância de nossas origens em nossas práticas e Pronunciamentos mais recentes onde nos posicionamos, a partir do legado bíblico centrado em Jesus e herança reformada, em favor dos direitos humanos e do Estado Democrático de Direito, da laicidade do Estado, da justiça social, contra toda e qualquer forma de guerra (referência ao apoio de lideranças que se intitulam evangélicas a ataques de Israel à palestinos na Faixa de Gaza, em 2014), contra o sexismo, homofobia, racismo e intolerância religiosa. O desafio é amplificar o alcance deste modo de pensar e viver a fé cristã no conjunto da sociedade brasileira, bem como trabalhar de forma continuada e criativa estes e outros temas candentes através da educação cristã e comunicação da IPU.
Entre os traços mais marcantes da IPU estão a ênfase na diaconia e o ecumenismo. Diaconia enquanto expressão da fé através do serviço de promoção humana e justiça no contexto onde as Igrejas estão inseridas. É comum nas Igrejas locais da IPU o desenvolvimento de ações e projetos de caráter diaconal. Já o ecumenismo, entendido como busca da unidade na diversidade entre cristãos (ãs), passa pelo cultivo de uma espiritualidade do respeito à diferença, pelo reconhecimento de que não somos “donos da verdade” (ainda que reconheçamos a verdade em Jesus, sua grandeza extrapola nossos limites e finitude, estamos sempre em busca da verdade nEle e com Ele, inclusive no encontro com o outro).
Seja em momentos de celebração, como na Semana de Oração pela Unidade Cristã, seja na participação em organismos ecumênicos (CONIC, AIPRAL e CMI, por exemplo), nossa perspectiva ecumênica volta-se para a defesa da vida e da Terra, nossa Casa Comum. O que implica assumir, por vezes, disputas em meio a realidades de negação do humano e da natureza. O ecumenismo é também uma “escola” para o diálogo interreligioso, concordando com Hans Küng que “sem paz entre as religiões não haverá paz no mundo”. Não poderia deixar de citar a participação da IPU na Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE) que, há 45 anos, realiza um trabalho muito significativo de articulação, formação e apoio a projetos junto às mais diversas organizações populares e movimentos sociais voltados à defesa de direitos.
Penso que os maiores desafios da IPU hoje estão no campo da evangelização e da missão. Se por um lado rejeitamos o proselitismo, a concorrência por “almas” no mercado religioso, o utilitarismo focado no crescimento numérico e institucional, por outro, cada vez mais se reconhece a necessidade de renovar a paixão evangelística e missionária. Com “humilde ousadia” e “esperança solidária” está diante de nós a urgente tarefa de propagar a fé que age por meio do amor, revitalizar e formar novas comunidades que propiciem às pessoas um espaço de acolhida, comunhão, cultivo sadio da espiritualidade, aprendizado e serviço. Há que se superar a dicotomia evangelização x humanização, integrar palavra e ação, evangelizar humanizando e humanizar evangelizando.
Articular cada vez mais diaconia e proclamação/testemunho, afinal em Jesus não havia estas fragmentações. Perceber que nossa visão ecumênica não interdita a evangelização, mas sim nos chama a pensá-la e praticá-la sem perder de vista o compromisso com a unidade cristã, o diálogo e a não-violência, o “Reino de Deus como horizonte de Vida” (Simei Monteiro). Há que se praticar uma compreensão de missão integral e libertadora, na qual se busque uma dinâmica sincronia dos múltiplos aspectos missionários (proclamação/testemunho, diaconia, ensino, comunhão, liturgia), em submissão ao sopro do Espírito Santo. Bom lembrar o que nos ensina uma vasta tradição a respeito da Missão de Deus: a Igreja é chamada a ser um instrumento através do qual o Deus Triúno realiza sua missão de curar, reconciliar, gerar vida plena e salvação.   
Desde a infância caminho na IPU, tendo por Igreja local a IPU de Itapagipe. Já passei por várias fases e descobertas. Tenho um profundo sentimento de gratidão a Deus por esta Igreja e caminhada. Junto com a experiência de fé e aprendizados, há laços de fraternura e cuidado que me antecedem e acompanham. Na IPU de Itapagipe, meus avós maternos (Edy e Jason Amorim) foram abraçados ainda na década de 60 quando vieram com seus cinco filhos do interior da Bahia para Salvador. Ali, nos tempos de ministério do pastor Enoch Sena e sua esposa Jane Souza, minha família encontrou uma comunidade de adoração, apoio, educação cristã para as crianças, onde puderam cultivar o Evangelho e servir a Deus.  Ali meus pais (Augusto e Solange Amorim Cunha) se casaram, conheci minha esposa (Ademária Araújo), batizamos nossos filhos (Pedro e Sara), aceitei o chamado ao presbiterado e, agora, prossigo no estudo da teologia com vistas ao pastorado.
Tenho sido profundamente edificado pelos irmãos e irmãs daquela Igreja (Itapagipe) ao longo destes anos. A fidelidade e testemunho de pessoas como a presbítera Jedídlia Oliveira, presente desde a formação da Igreja até hoje, que menciono como símbolo de tantas pessoas que fazem parte daquela história. Na juventude, contei com o pastoreio do querido Rev. Áureo Bispo dos Santos, um dos fundadores da IPU, que descortinou para mim e outros jovens daquela época o sentido libertador do Evangelho e as riquezas do modo de ser Igreja da IPU. Naquele período que iniciou minha paixão consciente pelo legado de Jesus e pela IPU. Rev. Áureo Bispo que me levou à teologia de Richard Shaull e João Dias de Araújo, com quem tive várias e preciosas oportunidades de conviver e aprender. Era sempre uma satisfação encontrá-lo acompanhado pela sua querida esposa, d. Ithamar Bueno. A presbítera Aguinelza Araújo também teve uma imensa importância na minha formação cristã ao desempenhar um papel de liderança entre os jovens e me proporcionar um constante trânsito no ITEBA (Instituto de Teologia da Bahia), participar de encontros das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Católica), dos vários Gritos dos Excluídos, servir na Associação Comunitária Quilombo Zeferina, na periferia de Salvador, e outras andanças.
A partir de Itapagipe vieram as atividades da Federação Baiana de Jovens, os Encontros Regionais e Nacionais, as Assembleias. Oportunidades diversas de atuar e reconhecer que a IPU tem suas falhas, contradições, limites, mas também suas significativas potencialidades, realizações e belezas. Atualmente vejo, sem a pretensão de exaurir estas iluminuras, sinais de esperança e renovo entre irmãos(ãs) e comunidades: o carisma missionário do Rev. Luiz Pereira (atualmente na IPU de Caetité), a pastoral libertária e afetuosa do Rev. Cláudio Márcio Rebouças (pastor da IPU de Muritiba e moderador do Presbitério Salvador), o pastoreio diaconal e profético da Reva. Sônia Mota (Diretora Executiva da CESE), a produção poético-musical-teológica do Rev. Daniel do Amaral (IPU de Brasília), o esmero na produção teológica dos reverendos Francisco Leite e Cláudio da Chaga, o trabalho de comunicação do seminarista Guilherme Freitas, a representação jovem e feminina da Raíssa Brasil (representante da IPU) junto ao CMIR – Comunhão Mundial de Igrejas Reformadas, o engajamento social do jovem seminarista Pablo Calles.          
Que a IPU continue desabrochando, sobretudo nestes tempos sombrios, como a flor do poeta Drummond, que “furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio”!
Que a Trindade nos proteja e ajude.
Vamos de mãos dadas!

Referências bibliografias
ARAÚJO, João Dias de. Inquisição sem fogueiras: vinte anos de história da Igreja presbiteriana Unida do Brasil. Rio de Janeiro: ISER, 1985.
DASILIO, Derval. Jaime Wright: o pastor dos torturados. Rio de Janeiro: Metanoia, 2012.
Documentos fundantes da IPU. Disponível em: http://ipu.org.br
Pronunciamentos da IPU. Disponível em: http://ipu.org.br






[1] Formado em Comunicação pela UFBA. Presbítero da IPU de Itapagipe-BA e seminarista da IPU.

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

A IPU COMO VOZ DE RESISTÊNCIA...


Qual a voz da IPU nesta polifonia evangélica brasileira? Quais as contribuições da IPU para o movimento ecumênico na América Latina?
Por: Raíssa Brasil[1]

No cenário religioso cristão brasileiro, mais especificamente no contexto evangélico, vários grupos se apresentam como detentores da única verdade e única interpretação das Escrituras. Reclamam para si a posse de verdades absolutas e tentam impô-las, não só para a igreja, mas para toda a sociedade brasileira. Em um contexto de intolerância diferente e, ao mesmo tempo, que muito remete ao período de ditadura em que surgiu a IPU, ela persiste em ser uma voz de resistência por se posicionar abertamente contra a injustiça e intolerância. Persiste em acreditar na justiça social como parte da justiça de Deus e é impulsionada a ser voz profética em um país em que muitos cristãos fazem coro ao ódio travestido de moral cristã.
 A IPU, ecumênica em sua formação, é ainda hoje firme em sua posição sobre ecumenismo, percebendo a importância dele e educando seus membros na compreensão de um corpo plural e diverso dentro da Igreja de Cristo. Contribuiu e contribui com a produção de conteúdo teológico ecumênico e atua fortemente junto a órgãos como o CONIC- Conselho Nacional de Igrejas Cristãs e CESE - Coordenadoria Ecumênica de Serviço. É também parte ativa de organismos de grande relevância no cenário latino americano e mundial ecumênicos: a Aliança de Igrejas Presbiterianas e Reformadas da América Latina, AIPRAL e Comunhão Mundial de Igrejas Reformadas -CMIR-, em que ocupa uma cadeira de vice presidência.




[1] Vice-presidente para América Latina da Comunhão Mundial de Igrejas Reformadas- CMIR.

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

A VOZ DA IPU DEVE SER PROFÉTICA E RECONCILIATÓRIA...


Qual a voz da IPU nesta polifonia evangélica brasileira? Quais as contribuições da IPU para o movimento ecumênico na América Latina?
Por: Valdir França[1]

Creio que a IPU deveria seguir sendo fiel ao gênesis da sua historia. A IPU é única no cenário protestante Brasileiro, e a contribuição de vocês para a Igreja tupiniquim desde esta perspectiva, continua relevante para a historia do presbiterianismo e da sociedade Brasileira, como temos observado recentemente. Por tanto, a voz da IPU deve ser profética; reconciliatória, chamando a reconciliação e a paz com justiça. Importante não só ocupar espaços, como também criá-los para que esta voz seja ouvida e reconhecida como parte da polifonia evangélica brasileira resgatando a missiologia de Leslie Newbigin de se fazer dos espaços públicos lugar de se discutir o Evangelho.
Sem duvida a IPU tem que seguir trabalhando sua unidade interna para poder sair e ocupar esses espaços fundamentais. De maneira simples posso enumerar 3 coisas importantes: Sua teologia única; sua perspectiva ecumênica; seu recurso humano capaz de contribuir com o movimento ecumênico latino-americano por meio de suas reflexões contextualizadas.




[1] Coordenador de área da Missão Mundial Presbiteriana para a América Latina e o Caribe.

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

IPU: SU ÉNFASIS EN LA JUSTICIA SOCIAL Y LA INCIDENCIA PÚBLICA...


Qual a voz da IPU nesta polifonia evangélica brasileira? Quais as contribuições da IPU para o movimento ecumênico na América Latina?

Por: Dennis A. Smith[1]

Para mí, lo específico del aporte de la IPU al universo evangélico brasileiro abarca los siguientes elementos: Su énfasis en el ecumenismo desde la perspectiva de la tradición reformada; Su énfasis en una formación académica y teológica seria y rigurosa; Su énfasis en la justicia social y la incidencia pública, tanto a nivel local como a nivel nacional; Su apertura al ministerio de la mujer; Su compromiso con la justicia racial; Sus aportes a una renovación litúrgica contextualizada.
En los últimos años el aporte de la IPU al movimiento ecuménico en América Latina ha sido más a nivel nacional y no tanto a nivel regional, aunque Niltinho ha participado de manera muy constructiva en el Comité del CLAI. Es lógico que una iglesia pequeña como la IPU tenga que priorizar dónde y cómo designar la participación de sus cuadros en espacios ecuménicos. En este sentido, considero estratégica la participación de Raissa en AIPRAL y CMIR. Estamos ante un recambio generacional en el movimiento ecuménico y en este momento AIPRAL es un espacio especialmente vital y creativo. Desafortunadamente, CLAI todavía se encuentra en un proceso de discernimiento de nuevas opciones y no se sabe si va a sobrevivir. Pero AIPRAL sí está respondiendo a los desafíos de esta coyuntura.
 Uno de estos desafíos es como responder a los discursos y prácticas enajenantes de los nuevos fundamentalismos religiosos y políticos. Por eso la importancia, desde AIPRAL, de articular espacios serios de intercambio teológico y construcción de estrategias pastorales desde la periferia. La nueva generación de teólogos y teólogas de la IPU van a jugar un papel importante en este escenario.






[1] Presbyterian Church (U.S.A.) Regional Liaison, South America.


quarta-feira, 3 de outubro de 2018

LA IPU PUEDE SER LA VOZ QUE INCOMODA...


Qual a voz da IPU nesta polifonia evangélica brasileira? Quais as contribuições da IPU para o movimento ecumênico na América Latina?

Por: José Luis Casal[1]

 La primera pregunta es interesante pues usas una frase sugestiva: “polifonia evangelica”.En una polifonia cada voz o instrumento representa una individualidad que no puede existir sin el trabajo o función de otras voces de la colectividad. La polifonia es la armonía que se logra a través de la afirmación de las diferencias cuando se integran las diferencias, como resultado escuchamos música porque la música es el resultado de integrar diferentes sonidos. Para contestar sobre cuál es el papel de la IPU en este concierto de voces del espectro evangélico tienes primero que estar seguro de cual es la característica de tu voz en particular.
 Cada persona nace con un tono de voz deferente. Igualmente cada iglesia tiene una misión , un llamado y un papel que jugar en el ambiente local, nacional e internacional. De acuerdo a la realidad de cada contexto depende el tipo de misión o ministerio que debemos realizar. Nuestra voz depende del reto que la sociedad, el vecindarios, la nación y el mundo nos plantea. Como ves esta polifonia es multiseccional. Nadie tiene que hacer un esfuerzo especial para cantar la voz con la que Dios nos ha dotado pero hacerlo armónicamente requiere de un trabajo de equipo. Probablemente la IPU estaría muy bien capacitada para ser un agente aglutinador de respuestas. La IPU es una iglesia pequeña y puede descubrir y aportar el valor e importancia de lo pequeño en un mundo que se deslumbra por la grandiosidad. Otro aporte de la IPU es la genuinidad . Ser genuino es ser honesto, auténtico y transparente.
 Cuando somos capaces de responder con esas tres características a las demandas de la sociedad, estamos cumpliendo con nuestra vocación y con el llamado de Dios que es el director de esta orquesta o coro. De acuerdo a su historia, la IPU puede ser la voz que incomoda, reta y cuestiona, la iglesia que anuncia un mensaje perturbador “a tiempo y fuera de tiempo” . Puede ser esa la voz de quienes no tienen voz y están excluidos del coro. No cantan porque no pueden o no los dejan (no porque no quieren). A lo mejor ustedes son los llamados a cantar por ellos!En este momento histórico de America Latina cuando se ven tantos retrocesos en los ámbitos ecuménicos, políticos y sociales se necesitan voces genuinas, discordantes pero dentro de la armonía de esta obra polifonica que Dios está creando para nuestra America y este mundo. ?Pueden ustedes cantar esa voz? Quizás el asunto no es si pueden hacerlo porque estoy seguro de que “deben” hacerlo. El asunto es cuando hacerlo y cómo hacerlo y eso deben determinarlo ustedes mismos.







[1] Director of World Mission Presbyterian Church (U.S.A.)

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

LA VOZ PROFÉTICA DE LA IPU...


Por: Darío Barolin[1]

Qual a voz da IPU nesta polifonia evangélica brasileira? Quais as contribuições da IPU para o movimento ecumênico na América Latina?

Creo que ambas preguntas están intrínsecamente relacionadas. Lo que sucede aquí en Brasil no es muy distinto a lo que pasa en el resto de América Latina y el Caribe. En primer lugar, la “polifonía evangélica” es bastante disonante. En nombre del evangelio se dicen y hacen demasiadas cosas que poco tienen que ver com el Evangelio predicado por Jesucristo. Es como si el nombre de Jesucristo se ha despegado de aquel que anduvo por caminos y sendas de Galilea llevando el anuncio del Reino de Dios, aquel que comió con pecadores y prostitutas, que optó siempre por los más pobres y excluidos, que se dejó transformar por la mujer cananea, etc.    Es como si la palabra Jesucristo se ha convertido en un significante vacío donde cada uno lo rellena con lo que quiere y poco importa si responde fielmente a lo que los evangelios dicen o no. En ese contexto me parece que la voz profética de la IPU es más que necesaria. Defender el lugar junto a los excluidos como el locus teológico me parece que es esencial. Especialmente en un tiempo donde la teología de la prosperidad está tan de moda.
 Segundo, creo que una teología reformada exige una mirada crítica no sólo a sus propias fuentes sino a la lectura y comprensión de la realidad. Es necesario romper con el paradigma del empirismo, que es una de las bases del fundamentalismo evangélico, y afirmar la necesidad de un estudio a conciencia tanto de nuestras tradiciones religiosas (iglesia reformada, siempre reformándose) como de la realidad que enfrentamos. Esto es algo que veo en la IPU y que se ve fortalecido por la formación de sus pastores/as en más de un área del conocimiento.



[1] Pastor da Igreja Evangélica Valdense del Río de La Plata e Secretario Executivo da AIPRAL (Aliança de Igrejas Presbiterianas e Reformadas da América Latina).