“Minha
alucinação é suportar o dia-a-dia, e o meu delírio é a experiência com coisas
reais. (Belchior)
Por: Cláudio Márcio
O
que pode ser dito a um pai e uma mãe que perde seu filho em um terrível
acidente? Honestamente, nada! Tenho tentado apenas me
fazer presente como um amigo que chora com os que choram, uma vez que, “todo meu patrimônio
são meus amigos”. (Emily Dickinson). Não tenho todas as respostas
e carrego na cabeça perguntas sem fim.
Na
realidade, suspeito desses líderes religiosos que são quase “heróis” e tem
todas as respostas na ponta da língua (inclusive aquelas que nunca foram
perguntadas e ou não modificam nossa realidade em nada). “Mercenários,
"ripocritis". Hipócritas, "ripocritis”, Hipócritas. Profetas,
religiosos, promessas de políticos” (Edson Gomes).
Ó Deus, sou demasiadamente humano. Cheio
de contradições e limitações. Sou aprendiz do camarada Jesus de Nazaré que me
ensinou o processo do cuidado, do acolhimento, da misericórdia, da partilha, da
justiça e, não menos, da libertação contra os poderes opressores.
Tenho aprendido definitivamente que o
corpo é polifônico, assim, quando me faço presente nestes dias difíceis que
podem afetar a vida de qualquer humano, sei que mesmo em silêncio estou
dizendo: sinto muito meus amigos. Não sei como iremos reencontrar o sentido de
continuar a caminhada, todavia, suspeito que seja necessário seguir. “Minha
alma tem sossego em Deus, só em Deus. Que é fonte de salvação. Sim, só em Deus
minha alma tem sossego. Nele encontra a paz” (Taizé).
Há quem se jogue nas drogas, no álcool.
Há quem se lance na arte, na poesia. Há também os que resgatam a mística e a
partir da fé e da afetividade de muitas mãos, se colocam de pé novamente.
Redescobrir a olhar para si e para o outro não é fácil, porém, necessário. “Agora,
pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas, então, veremos
face a face. Agora conheço em parte; então, conhecerei plenamente, da mesma
forma como sou plenamente conhecido” (1 Coríntios 13:12).
Ó Deus, minha oração hoje é pelas muitas
famílias que perderam um dos seus quando saiu para estudar, trabalhar e ou para
o lazer e não mais foi possível retornar. Por favor, enxuga essas lágrimas que
vez por outra escorrem no rosto. Que a dor possa se transformar em saudade boa,
isto é, em memória para vida. É preciso convidar e seguir com os poetas quando
apontam: “Tenho em mim todos os sonhos do
mundo”. (Fernando Pessoa)
(Prece
feita em 30-01-19)