segunda-feira, 27 de março de 2017

Poesia de João Dias...

Por: João Dias de Araújo[1]

Sem fim[2]
O pássaro canta de noite e de dia, de dia e de noite:
“sem. fim.” “Sem... fim.” “Sem. fim.”
Os retirantes passam cansados, famintos e doentes.
E, a cada piada do pássaro, eles interpretam:
Miséria sem fim!
Fome sem fim!
Sede sem fim!
Doença sem fim!
Estrada sem fim!
Cansaço sem fim!
Ingratidão sem fim!
Vida sem fim!
Morte sem fim!
Parece que nada vai ter fim,
Nem mesmo o próprio fim...
Mas o fim há de chegar!
O fim da miséria,
Da fome, da sede,
Da doença, da estrada,
Do cansaço, da ingratidão,
Da vida e da morte...
Oh! O fim!
Mas, o pássaro teimosamente continua
Cantando: “Sem... fim.” “ Sem...fim.”
Ó pássaro, não profetize!
OBS:
Informações contidas no livro:
RENDERS, Helmut. SOUZA, José Carlos Dias. CUNHA, Magali de Nascimento (Orgs) As Igrejas e as mudanças sociais: 50 anos da Conferência do Nordeste, São Paulo: ASTE, 2012.



[1] Originalmente publicado na Revista Cruz de Malta, p.26-27 (set.\ out. 1962). Os editores da revista apresentaram o autor com as seguintes palavras aos leitores e às suas leitoras: “CATEDRÁTICO do Seminário Presbiteriano do Norte, em Recife, João Dias de Araújo representa uma das promessas da nova geração de ministros evangélicos brasileiros. Sua cultura bíblica é invejável, sua identificação com a realidade brasileira demonstra-se nestas páginas, que falam da crise nordestina. É com justo orgulho que o apresentamos à ‘nossa família’ de leitores”.

[2]  O “Sem-fim”, também conhecido como Saci, é um pássaro que vive em áreas abertas com árvores esparsas. Ele é encontrado em todo território brasileiro.


sábado, 18 de março de 2017

SOBRE PASTORES E A EDUCAÇÃO...

Por: Cláudio Márcio[1]

Acabei de fazer a leitura de Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire e fiquei afetado-desafiado. A perspectiva do processo de troca na relação ensino-aprendizagem; a importância da escuta; a experiência de cada sujeito social; a crença de que é possível construir outras realidades...
Tenho professores tanto na minha família quanto na de Jussi (minha esposa). Sempre desenvolvi meu ministério pastoral me pensando também como professor. Posso ter dificuldades pedagógicas e ou no exercício didático, todavia, sempre fui fiel a uma reflexão crítica-engajada. Pensar é um ato político. Quando me refiro à dinâmica da reflexão, leia-se práxis. Ora, fui aluno do Rev. João Dias de Araújo, era para ser diferente?
Segundo o reverendo Josué Mello (2012), [2] em Recife João Dias amplia seu horizonte de conhecimento, pois, formou-se em filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco e em direito pela Universidade Católica de Pernambuco, assim como conviveu com lideranças no âmbito educacional, religioso, cultural e econômico tais como: Paulo Freire, Dom Helder Câmara, Francisco Julião, Gilberto Freyre e Celso Furtado. Daí, esses contatos “só fortaleciam as convicções e os compromissos com a proposta de uma Igreja comprometida com a integralidade do ser humano, com as transformações sociais e com a luta pela justiça” (ARAÚJO, 2012, p. 9).
Com efeito, João Dias teve contato pessoal e teórico com Paulo Freire, logo, sua teologia prática tornou-se um desafio para os cristãos não apenas presbiterianos. Lembro-me das aulas na no Seminário Teológico Batista do Nordeste (STBNe) em Feira de Santana-BA, após a leitura bíblica e a oração, o quanto éramos desafiados a fazer leituras (extra classe), por exemplo, sobre autores que pensaram a realidade brasileira e ou os clássicos gregos.
De fato, este texto é fruto da saudade e da gratidão, pois, dia 09-02-17 completou três anos de sua morte, entretanto, através do avivamento da memória, digo ao bondoso Deus: muito obrigado pela oportunidade de ter encontrado no caminho o casal João Dias de Araújo e Ithamar Bueno. Graças e louvores ao Teu nome.
#porumapastoraleducacional
#pelajustiçasocialelibertaçãodoscativos




[1] Reverendo na Igreja Presbiteriana Unida de Muritiba (cidade serrana do Recôncavo da BA).
[2] ARAÚJO, João Dias. O Cristo brasileiro: a teologia do povo. São Paulo: ASTE, 2012.