terça-feira, 22 de outubro de 2013

VALEU PARCEIR@S DO CAMINHO...


Dedico esta pesquisa a minha esposa Jussi, pois, você foi a maior responsável em provocar em mim outro ser. Obrigado! Como diz a canção de Edson Gomes: "Estou na tua/ estás na minha/malandra minha".

Grato ao Deus (Pai-Mãe) que percorreu ao eu lado as ruas da cidade entre o sino do Bonfim e o chocalho do "cão"! Minha gratidão ao Deus que sabe festejar, que sabe dançar.

Grato aos meus pais (Icléa e Deda) que com muito carinho e dedicação celebram este momento de minha jornada. Sim, sei que suas mãos e colo estão disponíveis para mim... Mãe e Pai, muito obrigado, amo vocês!

Grato a meu irmão (Neto) e minhas irmãs (Josy, Taty e Paty). Vocês são exemplos para mim! Como não celebrar tendo vocês, meus cunhados (Romilton, Wagner) e cunhada (Vanessa) por perto? Vocês e a festa tem algo em comum, são explosão de vida! Arthur, Guga, Rai e Clarice confirmam isso, não?

Grato aos tios (Claudionor Júnior, Zé), tias(Jó, Lai, Icleide e Iclélia), vovô(Zé)...Cada um a seu modo, possibilitam este momento mágico que me encontro. Valeu!

Grato a minha nova família, sogra (Valdelice), sogro (Zelito), cunhados (Júnior e Dai) e concunhados (Reinaldo) quanto acolhimento e solidariedade... muito obrigado!

Grato a familia IPU em Muritiba... cada oração em fé-festa, cada livro, cada palavra...Obrigado pelo incentivo, pela compreensão e misericórdia demonstrada no caminho para comigo. Vamos continuar construindo diálogos entre a bíblia e outros saberes, entre esses, o sociológico, claro!

Grato aos camaradas: Paulo Roberto, Valdir Alves, Matheus Barros e Ezequias Amorim.  Ou seja, somando a esses, os integrantes do Artigo 157 e da Escola Crítica Cachoeirana. Bom ter encontrado vocês no caminho.

Por último, mas, não menos importante, minha gratidão a Professora Drª Salete Nery. Por cada palavra, cada texto sugerido-debatido... Você também é responsável por despertar em mim outras possibilidades de trajetórias, de sonhos... Uma profissional exemplar! Obrigado por me apresentar o ponto de vista sociológico. Confesso com prazer e orgulho que sou membro da escola Saleteana.
Há braços
Cláudio Márcio

 

 

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

ALIANÇA BATISTA DO BRASIL "ROUBA" HINO OFICIAL DA IPU...E AGORA "JÃO"?

Se aproximando de terminar o curso de teologia no STBNe e, não conseguindo nenhuma comunidade para pastorear, brinquei um dia no corredor do seminário com o Rev. João Dias: "não tem uma igreja da IPU para eu ser pastor não?" Ora, a resposta foi sim. Naquele momento, começamos a orar, a estudar documentos da IPU e, através de processos de orientação e acolhimento, junto ao que se entende por sopro do Espírito, fui para IPU.
            Cabe ressaltar aqui que tenho laços fraternos com muitos irmãos da batista, principalmente alguns espaços que para mim são referência de reflexão intelectual-política-religiosa. Ou seja, abalizo a experiência da igreja Batista de Bultrins (PE), do Pinheiro (AL), Nazareth e Comunidade de Jesus (BA). Sim, essa também é minha turma!
            Desta maneira, fui participar do I ENCONTRO DE FORMAÇÃO DE LIDERANÇA DA ALIANÇA BATISTA DO BRASIL (em Feira de Santana). Experiência marailhosa! Se não fosse o suficiente rever amig@s, o construto reflexivo foi de alta qualidade. Ali, o texto bíblico era lido por perspectivas distintas, pois, este é um dos desafios que encontramos em cada esquina e ou praça da cidade.
            Confesso honestamente que espero por debates desta qualidade em nossa querida IPU. Tenho uma leve impressão que muito da dimensão progressista de nossa comunidade foi perdendo. Ou seja, como diria o velho Max Weber, o carisma com tempo tende a institucionalizar-se.
            Não estou arrependido de ter saído da Batista, não é isso! Sou grato ao acolhimento da IPU. Aqui é meu locus! SOU CRISTÃO: MINHA IGREJA É A IPU! Entretanto, rememorar nossa bela história e não produzir novos engajamentos, caminhar em novas fronteiras, para mim, se aproxima de uma religiosidade alienada.
            O processo de alteridade faz com que a gente se perceba no espelho do outro e, durante o encontro da Aliança Batista, sentir-me desafiado cada vez mais a refletir como ser uma comunidade relevante para os nossos dias. Sim, foram debatidas questões sobre o corpo, sobre as sexualidades, sobre maior diálogo com as brasilidades... Sim, o teólogo luterano André Musskopf nos desafiou com um pensar teológico gay, assim como, o diálogo inter-religioso se efetivou com a presença de representantes de religiões de matriz africana.
            Estamos prontos ou queremos isso? Sei que a IPU também possui sua pluralidade em cada comunidade e que muitos desses espaços estão debatendo esses e outros pontos... Minha provocação aqui é como perspectiva identitária que é sempre política, é disputa. Por isso, insisto: IPU, MOSTRA TUA CARA!
            O pastor Dijalma Torres (Batista) recebeu homenagem do governo federal como líder construtor de respeito das diferentes crenças, contra a intolerância religiosa e, a Aliança Batista agradeceu em um culto pela caminhada deste pastor.
            Sim, a ALIANÇA BATISTA está lendo, cantando, dançando e ressignificando pontos da nossa canção "JÃO" e, ao mesmo tempo que agradeço a Deus por tudo isso, devo perguntar o que esta canção representa para nós? Estamos deitando para dormir sem se perguntar: QUE ESTOU FAZENDO SE SOU CRISTÃO? Deveríamos em nossa honestidade diante do mistério que chamamos Deus refletir: AINDA SOU IPU?
            Encerro esta reflexão, já que comemoramos neste mês a Reforma Protestante em nossas comunidades, problematizando um dos seus princípios: IGREJA REFORMADA SEMPRE SE REFORMANDO?
Forte Abraço

Cláudio Márcio

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Força, Jão...

             No mês de setembro, a comunidade IPU sofreu um grande perda. De fato, a ausência da presbítera Ithamar Bueno Dias de Araújo (esposa do Rev. João Dias), foi (é) sentida por cada um de nós. Sim, Ithamar tornou-se para nós um símbolo de comprometimento com Deus, com a família e com a vida... Uma mulher forte, inteligente e, pronta à espiritualidade do serviço e da acolhida.
            De quantas vidas ela cuidou? Quantos conselhos ela deu? Quantos pães ela partiu? Quantos olhos ela ensinou a ler-escrever? Quantas preces? Não se pode contar! As questões aqui sinalizam o quanto ela compreendeu e ajudou a João Dias no construto de: "não só a alma do mal salvar/ também o corpo ressuscitar".
            No seu sepultamento (na IPB que já foi IPU), a presença do PSVD (Presbitério do Salvador) e algumas igrejas que o compõem, assim como da Comunidade de Jesus em Feira de Santana, estudantes e reitor do STBNe (Seminário Teológico Batista do Nordeste), professores da UEFS (Universidade Estadual de Feira de Santana) e outr@s, foram de perto oferecer um abraço ao nosso querido João Dias que após 60 anos de casados, sofre a ausência de sua amada.
            Rememoro neste momento dona Ithamar falando para mim e Jussi: "Eu e João gostamos muito de vocês!" Sim, para nós foi (é) um presente de Deus ter encontrado este casal no caminho... Sentimos o abraço de Deus através dessas mãos.
            Desta maneira, de forma simples e carinhosa, louvo a Deus pela vida de Ithamar e, em minhas preces apresento meu amigo-pastor-tutor João Dias... Que o mesmo Deus que enfrentou tantas lutas ao teu lado, agora chore contigo. Contudo parceiro, na medida do possível, lembre-se da canção do Lenine quando diz: "a vida não para/ a vida é tão rara".
            Um abraço solidário de quem muito te quer bem,

Cláudio Márcio

CESE: UM DESAFIO BOM!

Estava já com saudade de escrever neste locus de desabafo-desafio, mas, o TCC não estava permitindo... Agora sim, estou de volta! Entretanto, muita coisa aconteceu e, em um exercício mínimo de rememorar, abalizo inicialmente a vida-vinda da Reverenda Sônia Mota para o Brasil, a Bahia e, especificamente, para a CESE.
            Sim, que bom que você retornou, uma vez que, percebe-se o quanto seu desejo de diálogo e do exercício da espiritualidade diaconal é autêntico através de suas práticas. Sim, Sônia é teóloga cristã da IPU e nos alegra muito seu comprometimento com o Reino de Deus, com a justiça, com a vida.
            Lembre-se que estaremos aqui te acompanhando (também) com orações... O Presbitério do Salvador (PSVD), a IPU em Muritiba-Ba, agradece ao Senhor por te conceder esta nova fase da caminhada. Seja uma benção! Essa é nossa oração-desejo!
            Que esta polifonia toda encontrada na CESE entre o singular e o plural, permita a nossa querida IPU uma abertura muito maior de alteridade, pois, a humanidade, a espiritualidade extrapola o paradigma cristão e, que a mesa da fraternidade dos diferentes seja sempre intensificada em nosso cotidiano.
            Assim, para além de uma liderança da IPU ecumênica e solidária, suplico ao camarada Jesus de Nazaré que cada eclesian@ de nossas comunidades queiram ser um. Amém!
Um forte abraço e vá na fé-festa
Cláudio Márcio



sexta-feira, 16 de agosto de 2013

UMA EBD COM O REV. JOÃO DIAS....


A vida-vinda do Rev. João Dias em nossa comunidade (IPU MURITIBA-BA), é sempre uma fé-festa. Não só como intelectual que marcou o protestantismo histórico brasileiro, mas, como um humano engajado em defesa da terra, da justiça e da vida. Sim! Houve um homem enviado por Deus cujo nome era João... E, neste domingo (28/07/13), pela manhã, nos desafiou refletindo sobre a IPU.

            Aqui, faço uma tentativa de síntese de um aulão de 50 min. em nossa EBD com o seguinte tema: IPU/ DESAFIO NOSSO DE CADA DIA. Bem, João Dias colocou sua reflexão como um ensaio para a comemoração dos 35 anos da IPU-NACIONAL que ocorrerá em Atibaia-SP no mês de setembro do corrente ano.

            Assim, a tríade discursiva baseou-se em: 1) Por que (como) surgiu a IPU? 2) Quem é a IPU hoje? 3) Quais são os nossos desafios? Como se sabe, a IPU não abre mão de sua herança histórica Reformada. Isto é, deve-se olhar não só valorizando a vida-vinda de missionários (as), mas exercer criticidade nos seus equívocos para poder avançar na jornada, pois, como aponta o cientista da religião Jorge Pinheiro, falando sobre um tipo de missões feito aqui no Brasil de forma não dialogal, "vivemos estranhos no próprio ninho".

            Foram colocadas as posturas "inquisitórias" da IPB, sobretudo em relação a juventude presbiteriana brasileira: Inquietação de muitos em não perceber as mulheres em cargos de liderança na igreja; perseguição aos eclesianos e professores dos seminários teológicos; exclusão de vidas em detrimento de regimentos de morte...

            Após algumas reuniões dos excluíd@s e formação da FENIP, o Sopro de Deus e do humano, nasce a IPU. Comunidade ecumênica de diálogos múltiplos. Isto é, seja na praça da cidade ou em órgãos como: CMI; CONIC; CESE; CEDITER...

As mulheres possuem voz através de conquistas, conflitos, afirmações identitárias e assumindo cargos que eram entendidos apenas como papéis sociais masculinos.

            A IPU e sua tentativa de ser voz profética, uma vez que o Pai nosso e o pão nosso não podem se separar. Há sem dúvida alguma uma tentativa de estabelecer diálogo com a cultura, com o chão, com as brasilidades... Contudo, os desafios são grandes, pois, em relação ao diálogo inter-religioso, João Dias nos desafiou a perceber o Sopro do Espírito em outras religiões e, que podemos sim apreender com eles no caminho.

            Penso que agora cabe também um pouco de minhas inquietações sobre os desafios da IPU. Logo, a voz profética que faz parte do ethos da IPU, só serve para outros grupos? Uma voz profética na IPU denunciaria o quê? O diálogo inter-religioso no final traduz-se em proselitismo? Como a IPU debaterá o paradigma gay? Ou seja, um gay poderá ser um eclesiano? Se sim, poderá exercer liderança?  Será que temos algo a apreender com os pentecostais e ou neopentecostais, tendo em vista seu crescimento (sonho da IPU)? Os espaços de comunicação (rádio, tv, net) não podem ser (mais) ocupados por nós?  Será que temos escutado (problematizado) dialogado com Cientistas Sociais? Cientistas da Religião? Psicólogos? Assistentes Sociais? O teólogo (a) dá conta de tudo?

            Aqui insisto como o cantor Marcelo D2 "deixa eu dizer o que penso desta vida, preciso demais desabafar". Tenho dito: amo minha igreja (IPU). Entretanto, o que encontro muito no caminho é ancião com saudade da IPB e uma juventude que não sabe o que é ser IPU. Evidente que isso não é geral! Penso que o “slogan” de nossa revista nacional pode me ajudar neste momento. Isto é, SOU CRISTÃO, MINHA IGREJA É A IPU... É isso! É político e identitário! IPU: MOSTRA TUA CARA!

             De quem muito se pergunta também: "que estou fazendo se sou cristão?"

Por: Cláudio Márcio

 

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

CONSTRUINDO COMUNHÃO...


Nesta última sexta feira (26/07/13), ocorreu na Igreja Presbiteriana Unida em Muritiba-Ba, junto às Mulheres Cristãs em Ação da Igreja Batista da mesma cidade, um culto de celebração e ação de graças pela vida de cada vovó e cada vovô.  Pois, assim como nas religiões de matriz africana, o ancião no cristianismo ocupa um locus de prestígio.

            Evidente que por traz de uma data festiva que cada vez mais vem se consolidando em solo brasileiro, pode-se perguntar: seria o "capitalismo" em busca de novos consumidores? Melhor qualidade de vida para os considerados mais experientes e novas conjunturas sociais? Seria a consolidação da "voternidade"? Se o ato de criar filhos era atribuído às mães e, muitas delas encontram-se no mercado de trabalho, quem educa essa criança?

            Bem, mesmo com superficialidade no olhar e, percebendo certa transferência de responsabilidades para Escola e grupo religioso, arriscaria dizer que as avós é que estão vivendo este momento. Ainda arriscaria dizer que entre o cansaço de vistas, braços e pernas, elas paradoxalmente renovam suas forças e continuam a labuta de cada dia. Assim, seria a "voternidade" natural como a maternidade? Não! Ambas são construídas dentro de processos históricos e sociais.

            Contudo, o que desejo abalizar é como nosso culto foi alegre e cheio de vida. Foi uma noite temática, pensamos a década de 60. Ora, brincamos, rememoramos, sorrimos, nos emocionamos... Cantamos músicas deste contexto, ouvimos relatos de uma juventude que a memória reconstrói em cada narrativa, mas, o tempo mudou.

            Esse encontro entre a IPU e a Batista nos fez perceber o quanto nossas vovós e vovôs mudaram. Estão ligados às redes sociais, à atividades físicas, à passeios turísticos e, rindo do que cada "netinho" ou "netinha" apronta a ponto de gerar em nossos pais um ar de "ciúme" ao dizerem: "no meu tempo não era assim".

            Esta reflexão é feita em forma de gratidão. Valeu IPU! Valeu BATISTA! Pois, mesmo sendo ainda um diálogo entre iguais, sabemos como é difícil esses contatos, uma vez que há protestantismos que geram ethos distintos em cada um de nós...Assim, que Deus abençoe cada vovó e vovô! E, que o proselitismo seja vencido em nossos discursos-práticas. AMÉM!

Por: Cláudio Márcio

                                                                                

domingo, 21 de julho de 2013

RINDO DA VIDA...


             Um dia desses a vida sorriu para mim e, minha existência foi "abastecida" por mais uns dias de esperança-alegria. Sim, é muito difícil viver! Contudo, concordando com Gonzaguinha: "ninguém quer a morte, só saúde e sorte". Nossa vida se resume às nossas preocupações? Precisamos ficar tanto tempo angustiados? Penso que por não sabermos o que ocorrerá na próxima esquina da cidade, não devemos evitá-la amedrontados e imobilizados. Viver também é arriscar, não?
            Esta reflexão não é de autoajuda! É texto como "gole de vida”... É provocação para celebração em processo, pois, poderia existir um cronograma da existência? A vida que é experimentada em sua multiplicidade de sentidos é também desafio nosso de cada dia.
            Bem, aqui me direciono especificamente aos que se propõem uma vida em parceria com a fé. Não estou falando de uma fé cristã, falo de processo de espiritualidade que é plural, que extrapola as instituições religiosas, que encanta e faz bem a jornada. Neste sentido, a fé torna-se festa, resistência, estratégia de recriação do caos... Ela só não pode ser estática... A fé é sempre movimento!
            Partindo desse pressuposto, o convite aqui é para a transformação de nós mesmos. Que a vida nos "joga no chão" vez por outra já sabemos. Buscamos explicações para doença, trabalho, família, morte e, o que fazer quando a vida teimosamente diz não aos nossos agendamentos? Como viveremos os imprevistos do caminho? A questão aqui não é estabelecer um modelo a ser seguido, pois, se há algo estrutural no caminhar são justamente os imprevistos.
            Entre o construto deste texto e conversas outras na biblioteca da UFRB/CAHL com meu camarada Matheus Barros (estudante de CISO) escutei a expressão: "tem que relaxar"! Ora, é isso! Por uma vida de "relaxamento" que se aproxima da "vagabundagem" proposta por Marcos Monteiro em uma das crônicas do livro VILA MARAVILA II.

            Assim sendo, fica decretado que toda vez que a vida sorrir precisa existir reciprocidade. Pois, como diz a canção popular: "não que a vida esteja assim tão boa, mas um sorriso ajuda a melhorar".

Por: Cláudio Márcio

             

quinta-feira, 18 de julho de 2013

VESTINDO A CAMISA: ATO POLÍTICO-IDENTITÁRIO...


              Um dos desafios que encontro no ministério pastoral é fazer com que um processo dialogal crítico possa ocorrer no relacionamento que tenho na IPU-MURITIBA-BA. Pois, é comum escutar certo distanciamento entre o que os documentos fundantes desta comunidade defendem e o que cada eclesian@ pratica cotidianamente. Assim, é comum escutar que a liderança da IPU é progressista e ecumênica, mas, os eclesian@s, não.
                Bem, a questão aqui não é se essa afirmação é verdadeira ou falsa, mas, tentar problematizar esse ponto para que possamos chegar a um lócus comum de espiritualidade-diaconal que gera vida-encantamento. Sim, confesso com um tanto de tristeza o que salta diante dos meus olhos: pessoas mais "velhas" com saudade da IPB e "jovens" que não conhecem a IPU.

            Desta forma, há um repúdio a práticas repressoras da IPB (legítimo), um saudosismo a um "tempo encantado-profético" da IPU e jovens que não conhecem a comunidade que participa. Ora, como construir um caminho relevante entre essa história de comprometimento de homens e mulheres com o Reino de Deus, com a justiça, com uma perspectiva crítica da realidade, com a vida, se a nossa juventude parece não ter percebido a "grandeza" da igreja que participa? Ou seja, o que falta à IPU para encantar as juventudes do nosso Brasil?

            Evidente que essas questões que aqui aponto são bastante relativas e questionáveis, pois, ainda há uma dimensão profética ocorrendo em comunidades da IPU, assim como jovens extremamente comprometidos com a sequência do que se entende enquanto Sopro do Espírito na história do protestantismo brasileiro.
            O "desabafo" não é de um "ex-batista" querendo "tirar onda" com a IPU, mas, de alguém que sonhava com esse espaço de reflexão, de acolhimento, de maior liberdade para viver. Sim, o "desabafo" é de quem se encantou com essa igreja chamada IPU e, percebe a beleza de uma espiritualidade-engajada; da bíblia que tenta dialogar com o chão que é tão plural. Sim, eu vesti a camisa da IPU que se traduz em diálogo crítico e serviço ao Divino que encontra-se no humano.
            Contudo, aponto que o Espírito não parou de Soprar, não podemos nos engessar em um processo de religiosidade que mata os sonhos e a vida. Afinal, "somos uma igreja reformada sempre se reformando", não? E não nos conformamos com este mundo, não é mesmo? Peço a Deus que levante homens e mulheres comprometidos com a vida, com a poesia, com a cultura, com a justiça nas ruas e praças da cidade, pois, se para uma igreja crescer precisa mercantilizar a fé, continuaremos pequeninos em solo brasileiro.
             Entretanto, cabem muitas questões a serem debatidas, porém eu deixo apenas duas: todos os grupos religiosos que crescem estão envolvidos no proselitismo e demonização do outro? Quais aspectos do pentecostalismo e ou neopentecostalismo são relevantes para uma suposta "renovação" ao protestantismo histórico brasileiro?

            Confesso como “batisteriano” com encantos-desencantos no caminho que: SOU CRISTÃO E MINHA IGREJA É A IPU!

Por: Cláudio Márcio

 

sexta-feira, 12 de julho de 2013

FALANDO COM DEUS-HUMANO...


Senhor, em Tuas mãos me coloco desejando ser mão Tua.

Escuto Teus segredos e, partilho democraticamente em forma de texto, pois, pelo tom de Tua voz, sei que é segredo de "brincadeirinha”... Sei que é segredo para ser "fofocado"!
Pego Tua mão!
Levanto-danço-brinco...
Teu pé e meu pé de vez em quando se confundem...
Não busco com isso divinizar-me, mas, humanizar-Te cada vez mais.
Desta maneira, na mesa, no chão, na praia comendo peixe assado, fica mais fácil de perceber-Te e ou encontrar-Te.
Desculpa! Não sou ingrato-injusto!
Apenas te vejo com outros olhos... Seria um problema isso?
O processo de espiritualidade é múltiplo e, não desejo padronizar vidas.
Desejo sim, experimentar a leveza que há em Ti;
Olhar em Teus olhos que para mim, não estão fora do humano.
Senhor, nós cristãos temos tantos problemas com o corpo, com o prazer, com a alegria...
Confesso-Te que não “curto” essa perspectiva, uma vez que, para mim, precisamos redescobrir o corpo em um processo de espiritualidade e encantamento.
Peço-Te perdão por ter esquecido um pouco de minha humanidade no meu batizado... Sim, Marcos Monteiro tem razão: "temos que resgatar parte do humano que morreu no batistério".
Senhor, que eu perceba todos os dias o quanto a vida pode ser breve e, que isso não me prenda a “um apartamento com a boca escancarada cheia de dente esperando a morte chegar”, ao contrário, que “eu tente outra vez”, que eu prefira ser “essa metamorfose ambulante”, assim, perceberei Tua presença acolhedora que gera esperança para viver cada dia “amando as pessoas como se não houvesse amanhã”.
Senhor, esses fragmentos de músicas “populares” geram horror em muitos que também O seguem, porém, confesso que O tenho encontrado menos em igrejas e em músicas “evangélicas” e, essa afirmação também gerará incômodo em muitos representantes do Senhor... Contudo, apenas “deixo a vida me levar... sou feliz e agradeço por tudo que Deus me deu”.
Senhor, não vou ficar preocupado com os desafios e desencantamentos do caminho, uma vez que, “ é claro que o sol vai voltar outra vez” e se “quer saber pra onde eu vou, aonde tenha sol, é pra lá que eu vou”. AMÉM!

Por: Cláudio Márcio

terça-feira, 2 de julho de 2013

O DESAFIO DO MICROFONE...

Ao experimentar o Divino-humano cotidianamente, a vida fica mais saborosa, pois, buscamos sentido para existência com o intuíto de "ser no mundo"...aí, o fluxo é o locus existencial do nosso século. Daí, pensando com Raul Seixas, a metamorfose é bastante importante na caminhada.

Identifico-me com Leonardo Boff quando afirma (em um contexto específico) "às vezes, temos que mudar para permanecer o mesmo!" Assim me vejo neste jogo da vida, num misto de mudança-permanência que exige reflexão, espiritualidade, coragem, risco, criatividade e práxis.

Gosto de Rubem Alves e suas metáforas que narram e provocam as transformações. Lembro neste momento da "pipoca e do piruá". Assim como Jesus de Nazaré, Rubem Alves tem uma capacidade incrível de ver o que os outros não percebem. Deste modo, o que é "aparentemente simples", é de uma riqueza extraordinária para nossas relações sociais.

Logo, como "comunicador de uma mensagem", tenho que perceber as redes identitárias de pertencimento que estão em conflito e cada um de nós participamos. Ou seja, os motivos que levam uma pessoa a igreja são múltiplos, e, a mensagem que carrego ainda é uma voz que pouco conversa com o seu chão. Tenho dito: as representações sociais que carregamos de um Cristo (apenas) europeu precisam ser sepultadas. Nosso Cristo precisa possuir brasilidades e, em nosso caso, baianidades.

Sei que é paradoxal falar de desafios de comunicação em um mundo com tanto avanço tecnológico e globalizado que também é caracterizado por sua facilidade e velocidade de comunicação, porém, na maioria das vezes, quando os religiosos ocupam esses espaços de poder (rádio e TV), há uma reprodução de tantas alienações que já vivemos. Logo, a meu ver, carece de democratização nos meios de comunicação e nas representações do próprio Deus.

A religião é uma das formas de encontrar sentido para a vida, contudo, não está fora das redes de pertencimento. Eu, sigo aqui do Recôncavo Baiano tentando dialogar com esse pedaço de chão. Movido também pelo sonho de ver a espiritualidade sendo celebrada ao ritmo do berimbau, o clamor tocado pelo mística do reggae, a alegria de nossos cultos com a vida, o sorriso que vejo no samba de roda e os tambores anunciando que o tempo da justiça chegou!

Por: Cláudio Márcio


sábado, 29 de junho de 2013

ESCREVER TAMBÉM É RESISTIR!


           Tenho tentado escrever-refletir menos sobre a temática de uma suposta diversidade religiosa que, a meu ver, exige um processo de sentar-se à mesa cotidianamente para conversar. No entanto, percebo o quanto ainda carecemos de um amadurecimento maior e, necessariamente desejar (ou pelo menos se permitir) ouvir o que os outr@s tem a dizer.
            Assim, pensando com Paulo Freire, percebo que não fomos educados para a diversidade, para o questionamento, para a dúvida, para autonomização dos sujeitos históricos. Há uma herança, sobretudo nos setores religiosos, de um paradigma de ensino autoritário, hegemônico e homogêneo.
            Bem, a educação neste sentido pode se aproximar do que Pierre Bourdieu apontou como o locus da reprodução das desigualdades sociais. Sim! É com bastante tristeza que escrevo este texto, pois, penso que o modelo de Paulo Freire de uma prática pedagógica que valoriza os saberes de forma recíproca faria melhor às comunidades eclesiásticas. Ou seja, como aponta o sociólogo Danilo Miranda, por uma educação informal, contínua-permanente.
            Penso que aqui algumas pessoas se sentirão ofendidas, mas, cabe a mim, a reflexão, a provocação, o embate neste campo de disputa que é a religião. Logo, concordo com João Alexandre em uma de suas canções: "é proibido pensar!" Sabe de uma coisa, cansei! Para mim a religião não é (só) ópio! Contudo, confesso: tenho vergonha de ser evangélico! Líderes arrogantes e mesquinhos, extremamente gananciosos e manipuladores, para mim, vocês são o demônio.
            Sei de minhas limitações e contradições, não sou santo (Deus me livre!). Sou um humano se conhecendo, se perdendo no caminho da existência... Sou-estou. Agora, desejando a mesa do diálogo não para estabelecer um monólogo e ou evangelizar, mas sento à mesa para ser evangelizado e humanizado por outras experiências que promovem beleza-encantamento.
            Tenho dito e reafirmo: meu problema não é com o camarada Jesus de Nazaré, mas, com alguns que se dizem seus representantes. Assim, deixo o meu protesto com os espaços religiosos que pensam que se "apossaram do sagrado"... E, parafraseando Rubem Alves, pensam que possuem um pássaro encantado, mas, não perceberam que carregam um empalhado.
Por: Cláudio Márcio

sexta-feira, 21 de junho de 2013

O CAFÉ NOSSO DE CADA DIA...


            Na caminhada pastoral, assim como na vida, há contextos de encantamento-desencantamento comum ao locus existencial de cada dia. Penso que os desencantos já estão bem sinalizados em meus textos e, honestamente confesso que uma dimensão parcialmente profética, não diz respeito a ser do grupo do contra, mas, em amar o projeto do governo de Deus revelado em Jesus de Nazaré.
            Neste sentido, o texto apresenta aspectos e múltiplos sentidos sobre o café junino que nossa comunidade (IPU em Muritiba-Ba), tem realizado já alguns anos. Pensamos ser importante este diálogo com essas brasilidades que se representam na comida, na dança, na religiosidade, no que sociologicamente chamamos de ethos de um grupo. Isso mesmo! Pensamos! Essa é uma das características do ethos da IPU (que ora é valorizado, ora precisa ser redescoberto).
            Desta forma, o nosso café para além dos sabores típicos da culinária, tinha sabor de vida, de celebração, de encantamento, de leveza... O riso que historicamente sofreu transformações (já foi caracterizado como algo diabólico e por isso mesmo em oposição ao divino que era limitado a Igreja) estava no semblante de cada irmão e irmã.
            Um misto de ordem-caos com o movimento das pessoas fazendo os pratos e sentando à mesa. Crianças faziam um bendito barulho e, só quem tem uma criança na família com dificuldades motoras (nossa pequena Clarice, sobrinha de Jussi) pode entender (com maior facilidade) o que significa "bendito barulho de crianças".
            Sim, nosso templo se transforma completamente, nossos visitantes são acolhidos por nossas mãos (que de vez em quando, também é mão de Deus), mas, para mim particularmente, a mão de Deus também chega através dos visitantes independente de sua filiação ou não a um grupo religioso.
            Neste sentido, a mão e a voz de Deus estavam em nosso café também no momento em que o poeta, amigo-irmão Evandro Mota de nossa cidade (cristão católico) como um sabor delicioso de mingau de milho (de nossa irmã Zélia) recitou poesias! A comunidade reafirmou a vida que com força tem brotado em nosso meio.
            Ao cantarmos Asa Branca (do nosso rei do baião), o camarada Marcos Monteiro contou “causos” do seu novo livro (Vila Maravila II) com esse complexo de espiritualidade, política, futebol e vida, fomos abençoados, desafiados a continuar pensando-mudando nossa jornada. Novamente a vida brota e renova a existência.
            A vida também foi celebrada quando ocorreu o mutirão para arrumar e desarrumar a igreja, pois para mim, se confirmou que não é algo e ou um desejo exatamente meu, pois, nossa comunidade acredita ser de extrema relevância o nosso café junino.
            Não aponto como padrão ou estratégia de evangelismo, apenas relato a nossa experiência que evidentemente é importante para nós. Aliás, já tenho bastantes problemas com os modelos de evangelização... Penso, que muitas vezes, nós é que precisamos aprender de Jesus de Nazaré com aqueles e aquelas que insistentemente afirmamos não conhecerem o filho de Deus.
            Bem, esse não é o caso agora, é que me parece irresistível provocar meus leitores, pois, de algum modo para refletir, se animar ou criticar, você se interessa com o que penso, não?
            Assim sendo, defendo que nossa bíblia deve dialogar com o nosso chão e, esse desafio não é (foi) só meu. Entretanto, aqui no Recôncavo baiano, tenho visto manifestações do Espírito em espaços onde a vida, o corpo, a justiça, a brincadeira é a lei. Ou seja, falo do samba de roda, da capoeira, do reggae... Nesses espaços, meu camarada Jesus de Nazaré costuma passar para visitar, brincar, cantar, comer, sorrir. Daí, o meu desejo de que a comunidade IPU em Mutitiba-BA (se assim o quiser) veja um pouco com meus olhos, pois, ultimamente, em conversa com esse mesmo camarada, ouvir suas queixas dizendo:
"- Ô Cacau, é impressão minha ou vocês aqui na igreja são de um jeito e no cotidiano de outro?"
Eu, meio que sem graça, perguntei: como assim? Ele disse:
“- Oxe, não está vendo não? A vida de vocês é tão animada, participam de tantas atividades, visitam tantos bares, shoppings, cinemas, festas e fazem do meu culto algo próximo de um funeral! Oxe vai ter que ser café junino o ano toda agora é? Marminino!"
            Fiquei pensando no papo de meu camarada e, mesmo pensando nos desafios de construir na igreja um espaço também de lazer, de leveza (já que a vida é muito dura), sorrir, um pouco, pois, sei que Ele curtiu nosso café... Não é possível que aquele riso nos lábios, aquele prato na mão com bolo e canjica, o amendoim que O escutei falando com irmã Maria (agente come um atrás do outro...), que ao cantar parecendo que era a última música de um show de forró e, quando o rei do baião foi rememorado, os olhos encheram d'água, não sejam demonstrações de satisfação.
            De qualquer jeito, sou grato por tod@s que possibilitaram o nosso café junino e, assim como um gole de licor que ora queima, ora alegra, nos sentamos à mesa para contar “causos” dos outros que me parecem bem familiares.

Por: Cláudio Márcio

 

terça-feira, 18 de junho de 2013

UM RETALHO NO RECÔNCAVO BAIANO...


O desejo de tecer algumas palavras, que simbolicamente podem representar essa colcha de retalhos que é a vida, apresenta-se com bastante intensidade. Falo do "retalho" do café junino que ocorreu este final de semana (16/06/13) em nossa comunidade (IPU), mas, diante das mobilizações que estão acontecendo em nossa nação e, tentando oferecer um ponto de vista para discussão com o meu camarada Rev. Hênio que solicita minha opinião sobre esta temática olharei para esse outro "retalho" e abordarei sobre o café junino no próximo texto, beleza? Eis os questionamentos do Hênio que me foram postos:
“Minhas perguntas são as seguintes (e pergunto sinceramente): a) não obstante ache que esse movimento possa desembocar sim em coisas promissoras e propositivas para a população, como isso se relaciona com o fato de que as mesmas pessoas que hoje protestam são aquelas que elegeram os políticos que hoje criticam? b) Que se pode esperar, na visão de vocês, em termos de "reflexos" nas próximas eleições? c) a relação dedálica entre política (s) e violência (s) em prol de novas políticas”.       
         Assim sendo, entendo, mas, penso ser necessário problematizar a comum expressão: O BRASIL ACORDOU! E, aponto por que tal desconfiança. A) Em que medida as pessoas estão dormindo e ou acomodadas? Nossas relações sociais ainda que de forma "micro" não são de contra hegemonia e ou contra poder? B) Reflito a história de forma processual. Isso é, há um jogo de mudanças-permanências nesses processos. Acredito ser significativa a questão: o que muda-permanece? C) Por que exatamente agora (com maior projeção) ocorrem essas mobilizações? Quais as vozes colocadas nessa polifonia? Ou seja, há como identificar e ou potencializar as vozes de movimentos sociais; partidos políticos; grupos religiosos; ONGs... Há uma união momentânea em prol do que se entende como bem comum?
            Ora, abalizo apenas alguns fios diante de tantos retalhos que compõem essa complexidade de totalidade-conflituosa-integrada. Não posso e nem quero parecer fatalista e ou incrédulo. Evidente que tudo isso nos faz refletir e de diversas formas nos convoca a tomada de posição. De que lado estamos? Sei também que nessa tessitura da colcha de retalhos, alguns fios encontram outros fios diferentes, o que implica minimamente que as coisas não são necessariamente isso ou aquilo.
            Somos também movidos por sonhos, ideologias e um desejo profundo de experimentar dias melhores. Ainda com um pouco de desconfiança, me pergunto se essas ruas e praças cheias de vida, de símbolos nacionais, de brados de justiça e enfrentamento pacífico-democrático se alongarão até as urnas.
            Evidente que algo está sendo dito, apontado como fora do lugar, mas, em que medida essas pessoas que saíram do facebook para as ruas "maior arquibancada do Brasil" se mobilizariam pelos corpos negros sangrando no chão nosso de cada dia? Pensando com Edson Gomes (cantor de reggae aqui do Recôncavo baiano), há "tanta violência na cidade... brother é tanta criminalidade". Isto é, esse ponto representa mais um retalho.
            Como baiano e nordestino sou estigmatizado como preguiçoso, burro e possuidor de mão de obra barata diante, sobretudo do sul e sudeste da nação e, alguns podem pensar que essa questão não é bem vinda agora, mas, quem determina e ou legitima o momento. Não! Estou de olhos bem abertos e sei que quando esse movimento perder força, continuaremos aqui lutando debaixo do sol para sermos vistos também como possuidores de capacidade de reflexividade intelectual e mão de obra técnica-especializada. Sim, nosso berimbau e tambores continuarão como símbolo de resistência e celebração cotidianamente.
            Sei que é de extrema importância (também) simbólica esses enfrentamentos todos, mas, em que medida o país do futebol, da corrupção e impunidade, romperá com essas estruturas de morte e dominação de elites intelectuais e econômicas se não entendermos que quando falamos do país, falamos de nós mesmos. Ou seja, lembrando-se de Norbert Elias, ao se falar da relação entre indivíduo e sociedade em termos (eu /ela), deve ser substituído por (eu/nós).
            Defendo neste momento pensando com Marx que a tomada da consciência nos livrará da alienação e provocará a práxis. Assim, nós brasileiros, marcados por múltiplas identidades estamos mais conscientes ao tomarmos as ruas? Se sim, votaremos e fiscalizaremos (de perto) os nossos representantes, pois, tenho certeza que você (leitor) sabe em quem e por que votou nas últimas eleições, não?
            Por outro lado, "a revolução democrática do direito e da justiça só faz verdadeiramente sentido no âmbito de uma revolução mais ampla que inclua a democratização do Estado e da sociedade”. (BOAVENTURA, 2011, p.16).  Por isso acredito que tais manifestações fazem parte também de um Direito Achado na Rua, o qual legitima o pluralismo jurídico e abre o caminho para se discutir o direito não como algo pronto e acabado, mas sim como um processo, um vir-a-ser dialeticamente envolvido nos movimentos de libertação das classes e grupos explorados e oprimidos, os quais cotidianamente sobrevivem e lutam em meio à contradição social, mas que dela também colhem conquistas. Além do mais, parte-se da crença na consciência do povo e suas múltiplas estratégias de resistência frente à frustração perante a sociedade corrupta, injusta, desigual.
De resto, mas sem pretensões de encerrar o debate, urge considerar a articulação entre a mudança no cotidiano e a mudança global, as quais se fazem e refazem nas relações de poder e saber.  Assim, se é indispensável consciência coletiva para uma revolução, ou seja, para o extraordinário, uma nova ordem societária só será posta mediante as minúcias do fazer cotidiano, conquistadas mediante os direitos e a cidadania efetivos. Pois, utilizando-se do pensamento de Faleiros (2010), se por um lado apostar na mudança geral a partir das micromudanças é reduzir a política a uma visão reformista, por outro, considerar o dia-a-dia como mero efeito do sistema é reduzir a política a uma visão positivista, negando qualquer possibilidade da construção de uma democracia plena.

Por: Cláudio Márcio

 

 

segunda-feira, 17 de junho de 2013

EU: PASTOR-OVELHA, PROFESSOR-ESTUDANTE...


Ensinar

é um exercício

de imortalidade.

De alguma forma

continuamos a viver

naqueles cujos olhos

aprenderam a ver o mundo

pela magia da nossa palavra.

O professor, assim, não morre

jamais...  (Rubem Alves)

                                                                                 

            A nossa vida também é composta de escolhas, feitas no caminho, num misto de subjetividade-objetividade que me parece como discussão interessante quando que refletido sociologicamente na perspectiva indivíduo-sociedade. Daí, não só com os clássicos da sociologia (Durkheim, Marx e Weber), mas, com teóricos como: Bourdieu, Giddens, Elias...a reflexão sobre esta temática  ainda tem provocado nossa maneira de olhar para o mundo.
            Bem, diante dessas e outras leituras, experiências e troca de saberes, é que tenho olhado para a pequena e acolhedora comunidade da IPU (Muritiba-Ba), local onde pastoreio e simultaneamente sou pastoreado. Durante muito tempo andei (ando) me perguntando: o que é ser um pastor? Essa pergunta aparentemente "boba" muitas vezes me tirou o sono! Pois, penso que com alegria de ter sido escolhido para uma missão de pastorear, vez por outra, me dá a impressão que "caí na maior roubada".
            Não tenho vergonha e ou medo de assumir o que penso. Se a vida é feita de escolhas, tenho feito as minhas, com muita fé, crítica e risco. Uma dessas escolhas diz respeito à vinda para IPU. Aqui, não só pela pouca idade e pela novidade do ethos religioso (já que venho da igreja batista), optei por uma reciprocidade no ato de pastorear, de cuidar. Não gosto do locus de prestígio "elevado" que há na representação do líder religioso. Não estou com isso negando eficácias simbólicas, estou apenas questionando o uso que se faz de tais representações.
            Desta maneira, as militâncias da fé, do ecumenismo, do Pai-nosso e pão-nosso que não se separam provocaram em mim o desejo profundo de perceber a igreja como este lugar de possibilidades de transformação. Ora, a IPU tem me oferecido o sonho de fazer do espaço religioso um ambiente de reflexão sobre o mundo. A bíblia em diálogo com outros saberes. Evidente que as pessoas nem sempre gostam (aceitam) o que está sendo dito. Há também desconfianças e falas que apontam que tenho que ir com calma...
            Sabe o que me encanta neste sentido na IPU? Poder falar! Falar o que penso! E, de vez em quando, em nossa EBD, "o pau quebra". Sabe o que ainda gosto na IPU? As pessoas entenderam que estamos discutindo ideias, pontos de vista. Gosto quando se posicionam dizendo o porquê de concordarem ou não com o meu ponto de vista. Em nossa EBD, as vozes aparecem! Tem sido uma experiência deliciosa ter o argumento questionado, vez por outra, "quebrado" por essa comunidade. Depois, risos, abraços e a frase que tem se tornado comum: nossa EBD hoje foi massa!
            Tenho escolhido em diálogo de enfrentamento com estruturas que me cercam a celebração da vida. O sonho profundo de fazer do espaço religioso um espaço de maior leveza e encantamento. Assim, nossa EBD tem também oferecido diálogo com a MPB e poesia (ainda em processo iniciante).
            Caso alguns estejam "estranhando" a ênfase na EBD, é que diferentemente da Batista que participava (com destaque no culto noturno), aqui, a maior frequência pela manhã. Na IPU, vou aprendendo a ouvir, a cuidar, a abraçar e estender a mão... o que deixa em alguns a sensação que ainda não aprendi o que é ser pastor...símbolo de autoritarismo em muitos arraiais eclesiásticos espalhados em solo brasileiro, em que o pastor deve mostrar "quem manda".
            Acredito que a atividade pastoral está muito relacionada ao ato de educar. Logo, para mim, ser pastor de algum modo é ser também professor. Por isso mesmo, junto à bíblia, à abordagens teológicas, sociológicas e antropológicas, tenho dedicado um tempo para ler sobre educação (sobretudo neste momento: Paulo Freire e Rubem Alves). E, pensando com Paulo Freire, se a educação ocorre em um processo de comunhão e reciprocidade, de troca de saberes, penso o processo de pastorear pela mesma ótica.
Por: Cláudio Márcio