segunda-feira, 16 de novembro de 2015

A IPU ONTEM, HOJE E AMANHÃ: visão de um batista ecumênico.


Texto do pastor Marcos Monteiro.

Meu encantamento com a IPU vem dos anos setenta e oitenta, quando me encontro como cristão e aprendiz da ideia de Reino de Deus. Antes disso já havia tido um ligeiro contato com o Rev. João Dias de Araújo, assistindo a uma palestra sua em um seminário batista sobre um Cristo na literatura de cordel que ficou sempre na minha memória. Contatos posteriores com ex-alunos seus e um encontro pessoal em que me presenteou com o seu livro “Inquisição sem fogueiras” fizeram-me aumentar o respeito e outro momento posterior no ITEBA transformaram respeito em admiração.

O próprio ITEBA fundado em torno de nomes relevantes como Áureo Bispo e Djalma Torres, pastor batista, era um referencial teológico inimaginável para quem procurava catar na formação teológica sinais de esperança e reflexões e compromissos corajosos. Um seminário que aglutinava teólogas feministas e abria a porta do diálogo inter-religioso se colocava claramente na contramão do projeto protestante de crescimento numérico associado a uma postura conservadora.

A ditadura militar era sem dúvida a oportunidade comum de uma contraofensiva da fé pensada e desafiada a atitudes concretas. O desafio do ecumenismo e da formação de uma consciência social e política para lideranças e setores do trabalho urbano e rural estava assim assumida por essa jovem instituição presbiteriana olhada com suspeita pelas velhas congêneres. A distância era muito grande. Enquanto o Rev. Edijéce Martins era visto como revolucionário pelo sínodo nacional por ordenar à revelia diaconisas em sua igreja na Torre Madalena na cidade do Recife, a IPU já se firmara como uma organização eclesial com espaço para pastoras.

Gosto sempre de lembrar da historinha que o próprio Rev. João Dias divulgava. Trabalhando com Francisco Julião na formação educacional das ligas camponesas levava textos bíblicos dos profetas para mostrar a cristãos, evangélicos e católicos, a força da denúncia da injustiça social na Bíblia. A inteligência nacional começou então a inquirir e a investigar sobre a presença e participação de agitadores entre os agricultores de Pernambuco. Os nomes dos agitadores seriam um tal de Amós, um tal de Oséias, um tal de Jeremias, um tal de Isaías e o principal deles, o líder, um tal de João Dias.

Essa atitude do reverendo e da Igreja não foi tomada facilmente e os preços a pagar foram muitos. Mas essa herança permanece como desafio para as novas gerações e para os futuros participantes dessa comunidade que encheu a história se enchendo de histórias. A minha pergunta sobre essa IPU agora e sobre a sua juventude agora tem algumas respostas mais muito mais perguntas.

Participei de um encontro em Belo Horizonte, lá pelos idos de 2006, em que a juventude mostrava sinais de retomada do ecumenismo e também sinais de que o mundo havia mudado. Um momento muito belo da Ceia do Senhor foi quando entoamos todos juntos o cântico “Cio da terra” demonstrando continuidade entre teologia, liturgia e cultura, apontando para um tipo de espiritualidade engajada e celebrante. Ao mesmo tempo, percebia nas entrelinhas dos bastidores preocupações com os caminhos atuais da igreja diante dessa avassaladora cultura protestante evangélica, pentecostal e conservadora dominante.

Mais recentemente participei de outro encontro em que o tema família era o referencial principal da discussão. Trouxe em minha palestra exemplos de famílias diversas das normativas, como filhos de pais homossexuais, ou vivências já antigas de pessoas do mesmo sexo. Fiquei um pouco surpreso de não encontrar definições claras dos líderes da igreja quanto a essas questões. Desse modo, se não dá para negar a beleza da herança histórica da IPU e da coragem de setores da igreja se aproximarem das pautas mais atuais da sociedade contemporânea, precisamos lançar a pergunta sobre o futuro da IPU.

A tendência das instituições mais revolucionárias se cristalizarem como baluartes do conservadorismo é lição da história encontrada em todos os lugares. Uma teologia revolucionária e provocadora é substituída sistematicamente por uma reflexão de trincheira, de defesa de pilares e fundamentos que não são tão claros e importantes assim.

São várias as pautas trazidas pela existência em sua totalidade como por exemplo a questão da violência. Entretanto, anterior a tudo isso, o preconceito e a discriminação enquanto solos de agressões gratuitas e guerras declaradas parecem necessitar de uma resposta urgente. Uma agenda mais positiva sobre a sexualidade humana e uma celebração da alteridade que inclui a homossexualidade e os adeptos de religiões de origem africana são assuntos do momento.

Uma luta mais visível pela fraternidade inter-religiosa e a ordenação de pastores e pastoras homossexuais, por exemplo, já ocorrem em muitos lugares do mundo e do Brasil. Seria muito lógico para a nossa análise de pastor batista encantado com a IPU aguardar a corajosa resposta dessa igreja capaz de lutar contra preconceitos e discriminações causadores de sofrimentos e violências evitáveis. Na nossa opinião, o futuro da IPU, enquanto uma das poucas igrejas relevantes da história do Brasil, será decidido a partir de suas decisões nesses dois campos.

Maceió, 16 de novembro de 2015.

http://madoniram.blogspot.com.br/




quarta-feira, 30 de setembro de 2015

SER IPU

A Assessoria de Assuntos Teológicos, que tem como assessor o Rev. Claudio Marcio Rebouças, da IPU de Muritiba/BA, propõe para nós, membros da IPU, que escrevamos um pouco sobre aquilo que nos encanta e desencanta em nossa denominação, em uma forma de nos conhecermos e de promover uma reflexão teológica.
Este trabalho tem como base o texto de Mateus 16:13b que diz: "Quem dizem os homens ser o Filho do homem?"
Quem quiser participar, poderá enviar um texto, de até duas páginas,identificando-se, para nosso assessor (revcacau@hotmail.com) que irá, posteriormente, disponibilizar sua opinião neste espaço.

Participe!

Por: Vinicius Pinheiro[*]

Tenho aprendido na empreitada proposta pelo Evangelho de Jesus que o caminho estreito, da qual trata o capítulo 7 do livro de Mateus, é marcado por encontros, por contato, por aproximação, por empatia, por altruísmo, e, sobretudo, pela manifestação do amor.
Na IPU fui constrangido a seguir por este caminho. Seus membros são a evidência clara da união e da comunhão proposta por esta comunidade. Unem-se liturgia e fé manifesta no amor fraternal que é expresso na militância pelo direito do outro. O outro é quem tem vez, e se não tem voz, a IPU é provocada a ser profeta. Seu templo é apenas uma extensão do coração de seus membros que priorizam o acolhimento em detrimento dos preconceitos, da religião, dos dogmas e do moralismo.
Percebi que esta comunidade propõe uma nova ética de ser da Igreja. E digo nova em comparação ao cenário atual da igreja brasileira e não da proposta ética do evangelho existente há mais de dois mil anos. Uma ética que considera o outro, que faz teologia para o outro, que milita pelo outro, que ouve o outro, e que corre riscos pelo outro, afinal de contas... O caminho é estreito.
Vejo claramente, com os olhos da fé, este Espírito da paz e da promoção da união especificamente no líder da IPU de Muritiba – BA, Rev. Claudio Marcio Rebouças. O sucesso de uma proposta para uma igreja relevante na pós-modernidade está intimamente relacionado a capacidade de compreensão dos líderes da dinâmica social e cultural onde a Igreja se insere, a fim de, utilizando este conhecimento, promover a aproximação da Igreja com o povo, com o pobre, com os homossexuais, com as religiões e com a política. Muitas vezes fui constrangido a examinar a mim mesmo (1Co.11:28), e quando o fiz, achei a omissão e a covardia que não havia no “mano Cacau”.
A IPU é a comunidade que nos provoca a ser culto. Não o culto gramatical, mas o culto ambulante externo ao templo que dá comida ao faminto, roupas aos nus, atenção e voz aos doentes e presos, e visibilidade ao estrangeiro (Mt.25:35). Ser IPU, como pude observar no Rev. Claudio Marcio Rebouças, é ser gente, é ser - humano, é lutar por gente, é lutar por seres-humanos, é dialogar com o outro, é fazer dos dogmas o Dogma do amor.


[*] Graduando em Serviço Social na UFRB.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

DAS POSSIBILIDADES DE EMANCIPAÇÃO ATRAVÉS DA IGREJA PRESBITERIANA UNIDA NO BRASIL


A Assessoria de Assuntos Teológicos, que tem como assessor o Rev. Claudio Marcio Rebouças, da IPU de Muritiba/BA, propõe para nós, membros da IPU, que escrevamos um pouco sobre aquilo que nos encanta e desencanta em nossa denominação, em uma forma de nos conhecermos e de promover uma reflexão teológica.
Este trabalho tem como base o texto de Mateus 16:13b que diz: "Quem dizem os homens ser o Filho do homem?"
Quem quiser participar, poderá enviar um texto, de até duas páginas,identificando-se, para nosso assessor (revcacau@hotmail.com) que irá, posteriormente, disponibilizar sua opinião neste espaço.

Participe!
Um dos participantes foi Victor Aurélio, segue o seu texto. 
Por, Victor Aurélio Santana Nascimento.[1]

Os quadros de opressão, outrora aquecidos pelo furor imperialista do século XIV, tiveram suas bordas ampliadas à custa de muita degradação dos povos da América Latina. Se, por um lado, nos é possível arriscar o quanto de ouro, prata e demais riquezas foram expropriadas dessas terras, por outro, estamos longe de conhecer significativamente as dores sofridas pelos povos nesse território, em sustento das regalias das classes mais abastardas da Europa.
É consenso que o discurso cristão, engendrado por muito tempo por um clero burguês, contribuiu (ainda contribui?) fortemente para a construção desse quadro de opressão, servindo como aparelho de mistificação a serviço das classes economicamente dominantes. No entanto, lembrando o surgimento das comunidades primitivas cristãs, e me servindo da leitura dialética da realidade, a continuidade das mazelas sociais favoreceu o surgimento de contra-pontos no seio da cristandade e de uma abertura para o retorno aos fundamentos cristãos desgastados pelas conveniências burocráticas, institucionais e classistas. Do que estamos falando, afinal de contas?
Cresce na América Latina, de modo mais organizado e a partir do primeiro quadrante do século XX, aquilo que me parece semelhante ao ocorrido nas lutas judaicas contra a violência de grandes centros da época como, o Egito e a Babilônia: começa-se a criar, a partir de um contexto de marginalização e de sangria social, um grau organizativo das populações mais sofridas, numa articulação entre o que se tem de sofrimento concreto e a fé trajada na imagem de uma divindade capaz de libertar não só a alma, mas o corpo da fome, do desemprego, da inacessibilidade aos espaços de cultura, processos de saúde, lazer e demais dimensões que compõe o conjunto de condições básicas para uma vida digna. O que a Igreja Presbiteriana Unida do Brasil (IPU) tem a ver com isso?
Sou grato por muito do que vivi e experienciei no meu trajeto pela igreja Batista. Através da igreja pude conhecer comunidades alheias a toda sorte de cuidados governamentais, e, junto a isso, compreender que o amor cristão deve ser mais do que algo que se sente só, entre paredes e liturgias religiosas. Antes, deve constituir-se como um esforço prático capaz de operar mudanças efetivas e estruturais no laço social. Esse entendimento favoreceu a minha escolha por ocupar frentes de luta que me punham em posição de militar por processos emancipatórios e de libertação das classes mais oprimidas. Nesse percurso, conheci a IPU, na pessoa do amigo e Reverendo Cláudio Rebouças, e, posteriormente, numa das reuniões com a comunidade.
O primeiro espanto que me ocorreu – e olhem que eu já vi muita coisa em minha vida –, foi ouvir e ver ser bem recepcionada numa das reuniões da IPU, uma pregação que falava sobre a urgência de discutirmos sobre machismo, racismo, gênero e participação popular na construção de uma sociedade mais justa e menos desigual, dentro da igreja. Aquilo foi um arrebatamento de sentidos, porque eu nunca tinha encontrado na igreja cristã um norte tão voltado para a ruptura de dogmas e práticas disciplinares que, em verdade, só contribuem para a manutenção de uma organização social injusta e verticalizada. Naquele momento, a IPU passou a figurar para mim – diferente do ópio com o qual Karl Marx, em 1844, comparou a crença religiosa – como um dos instrumentos estratégicos capazes de contribuir para a emancipação – da mulher, do negro, daqueles que fazem uso dos diferentes modos de experenciação da sexualidade e demais agrupamentos –, pela via da construção de uma consciência histórica e crítica sobre a vida, e, inevitavelmente, sobre a vida na América Latina.
Estamos distantes do muito que desejamos enquanto minorias sociais e ainda é possível nos depararmos com muitos resquícios de violências aqui empregadas a partir do século XV. Porém, as inquietações estimuladas em círculos como os da IPU contribuem claramente para que esse quadro social ganhe novos rumos, nortes libertários. Não seria um erro, portanto, crer ser a IPU, situada na cidade de Muritiba, uma importante ferramenta de transformação nos níveis individual e social, muito menos assumir que a sua presença no diverso conjunto cristão é um germe revolucionário.



[1] Bacharel em Psicologia pela UFRB.

sábado, 26 de setembro de 2015

UMA EXPERIÊNCIA DE FÉ...

A Assessoria de Assuntos Teológicos, que tem como assessor o Rev. Claudio Marcio Rebouças, da IPU de Muritiba/BA, propõe para nós, membros da IPU, que escrevamos um pouco sobre aquilo que nos encanta e desencanta em nossa denominação, em uma forma de nos conhecermos e de promover uma reflexão teológica.
Este trabalho tem como base o texto de Mateus 16:13b que diz: "Quem dizem os homens ser o Filho do homem?"
Quem quiser participar, poderá enviar um texto, de até duas páginas,identificando-se, para nosso assessor (revcacau@hotmail.com) que irá, posteriormente, disponibilizar sua opinião neste espaço.
Participe!


Um dos participantes foi Paulo Roberto, segue o seu texto. 

“Certo ou errado até... A fé vai onde quer que eu vá”!
(Gilberto Gil- Andar com Fé).

Por: Paulo Roberto[1]
A experiência da Fé, na história humana, “sempre” foi uma característica fundante do processo de desenvolvimento nas diversas sociedades. Me arrisco a dizer que, talvez, um dos processos sociais mais solícito a companhia dos indivíduos, ao longo dos tempos, frente aos ainda incertos acontecimentos em nosso cotidiano. Foi e, ainda tem sido, nas diversas formas de ser das religiões, onde o humano pode e tem podido se enxergar, mesmo com gritantes contradições, um local de amparo e encorajamento do humano.
Nesse sentido, tenho a categórica dimensão de que a religião, esse espaço de mediação entre o humano e suas figuras de transcendência, suas formas divinas de consolo e zelo, tem um papel extremamente descomunal no que tange a confortabilidade humana, ainda que seja imbuída de crises e conflitos diversos. Não há como negarmos a experiência de libertação, equilíbrio e força com que os espaços religiosos, na sua dimensão da crença, da fé, produzem na vida d@s que as seguem. O trato religioso para com a vida busca, através do seu discurso, trazer, desde a sua concepção, esta condição de serenidade e maravilhas para o viver diário.
Tomado por esta perspectiva, vejo que em minha experiência de Fé, ainda muito jovem e conflituosa em alguns instantes, fui deliciosamente arrastado, através da relação com a IPU, na cidade de Muritiba, no Recôncavo Baiano, na figura do seu eminente Reverendo (meu parceiro), Cláudio Márcio Rebouças, por uma dimensão encantadora, algo que já vinha vivenciado, mas que, confesso, havia meio que abandonado há um certo tempo, a prisão libertadora do Ecumenismo. A representação mais perfeita da minha ideia de Paraíso, o sentar-se junto à tod@s, comer do mesmo pão, beber do mesmo vinho, do mesmo jabá, beber do mesmo licor, como nos aponta o Pastor Cláudio Márcio.
Tal foi a profundidade com que fui atingido por essa força Ecumênica, no espaço da IPU, que, mesmo em meus primeiros instantes de caminhada, pude me sentir em casa, certo de que ali podia continuar com a mesma e tão divinamente humana representação de Deus e suas dimensões. Me sentia e me sinto, sempre, batendo um papo extremamente gostoso e rico com a figura do Senhor Deus, numa intimidade encontrada apenas e tão-somente, nas mais sinceras e transparentes formas de ser relação.
Na IPU o contato com a dimensão divina é, tal qual a de uma pena ao se desvencilhar de um pássaro e ser tocada pelo suave vento, “sempre” chega ao chão abrandada-tranquilizada, serenamente cuidada. Na e com a IPU tive e tenho tido a certeza do quanto, apesar de muito complexo-dispendioso, nos é necessário o exercício da alteridade, do olhar no e para o outro a dimensão, ainda que distinta, do rosto e da força divina, enxergar sempre nesse outro, a riqueza que existe nas diversas formas de ser e estar Igreja, nos distintos modos de poder, de modo deleitador, experienciar a nossa Fé!





[1] Bacharel em Ciências Sociais pela UFRB. 

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Senhor, grato com a possibilidade de ser dedo Teu...



Fiquei esses dias refletindo como alguns religiosos costumam se “esquivar” de compromissos cotidianos e jogam a responsabilidade para o Divino, onde, de algum modo, ainda que indiretamente, dizem: “tal situação se encontra assim e só o Senhor pode mudar”! Ora, essa afirmação é parcialmente “verdadeira”. Todavia, é demasiadamente “PERIGOSA” (como usava costumeiramente o saudoso Rev. João Dias de Araújo).
Perigosa na medida em que a experiência de fé pode-deve provocar processos de empoderamento de sujeitos sociais que buscam-promovem espiritualidades emancipatórias, acolhedoras e dialógicas. É preciso tomada de consciência (no contexto da fé cristã) da Graça de Jesus de Nazaré e, isso deve ser suficiente para sermos alguém melhor nas diversas funções e ou identidades que assumimos na caminhada.
Honestamente, penso que muitas vezes a fé está sendo vivida por muitos de maneira “infantilizada”. O problema não é “ser criança” (dependente dos seus responsáveis), mas, não perceber que já chegou à hora de cuidar e se tornar responsável por outr@s, “Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino” (I Cor. 13.11).  O problema é jogar nas mãos de Deus o que é responsabilidade nossa! Estou cansado!
Se Deus é apenas uma palavra em sua boca, nunca será o dedo dEle na história.

Há Braços
Cláudio Márcio[1]









[1] Reverendo da Igreja Presbiteriana Unida (IPU) em Muritiba (cidade serrana do Recôncavo Baiano). 

domingo, 24 de maio de 2015

SOUC: um desafio necessário.

“Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5:9)

“Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz”

(ORAÇÃO DE SÃO FRANCISCO)


Por: Cláudio Márcio[1]

Participar da Semana de Oração pela Unidade Cristã (SOUC), é uma experiência linda. Sim, o exercício de unidade na diversidade exige abertura ao diferente. Ao se falar em fé Cristã, é preciso salientar uma prática social plural. Desta maneira, o diálogo torna-se imprescindível para construção de outra realidade. Fomos desafiados a beber da mesma Água (Jesus de Nazaré), em fontes, jarros, diferentes.
 Daí, afirmamos a sede de uma espiritualidade humanizadora, justa e solidária. Não somos os únicos com acesso a essa Água. O velho Raul Seixas em uma canção nos lembra: “... a Água viva ainda tá na fonte". Há uma tristeza por aqueles que assumem uma mercantilização dessa fonte. É de graça e gera Graça. Sine Calmon (cantor de reggae no Recôncavo da Bahia) sinaliza: “precisamos beber da Água da fonte da luz". É importante salientar como a dimensão da escuta e troca revelam uma busca de amadurecimento na fé. A prática ecumênica é um desafio. Todavia, é possível e necessária. Hoje, dia de pentecostes, faço minha oração. “Que sejamos um, Senhor”. A SOUC é uma bênção. Muito grato a Deus e a cada irmão e irmã que participaram desta semana. Temos muito a avançar! A esperança precisa ser “utopia concreta”, pois, a tomada de consciência do Amor de Deus, deve desafiar cada um(a), à diaconia. Temos sede de Deus! Devemos ter também por justiça e dignidade humana. Avante! Podemos-devemos oferecer e receber dos outros gratuitamente a Água da vida.



[1] Reverendo da Igreja Presbiteriana Unida (IPU) em Muritiba (Recôncavo da Bahia).

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Eu, (des)encantado...

                      Por: Cláudio Márcio[1]

O retorno do sagrado?!
As limitações da racionalidade...
Desencantamento do mundo?!
Dimensões religiosas de extrema reflexibilidade.
A ciência também é dogmática!
Campos em disputa!
Sistemas de crenças!
Explicações do mundo...
Tanto um quanto o outro podem ser ópio!
Libertam-escravizam...
Quem manipula tais símbolos?
Ora, a vida segue cheia de fé-festa...
E, no partir do pão, no brotar da flor, no brilho das estrelas, no riso da criança...
Lendo livros e vidas ao som de Cartola, aprendi que a vida é um moinho...
Minha confissão de angústia-esperança me curam.
Não se trata de escolher dicotomicamente este ou aquele caminho, isto é, religião ou ciência?
Ao contrário, questiono ambas por entender ser necessário compreendê-las criticamente.
Entretanto, penso que as mesmas carecem da leveza das penas dos poetas.









[1] Reverendo da Igreja Presbiteriana Unida (IPU) em Muritiba (Recôncavo da Bahia).

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Feliz é o jardineiro...

Por: Cláudio Márcio[1]

Estes dias veio a palavra do Senhor através de um bêbado na rua que dizia mais ou menos assim: “Não tiveram paciência! Achei uma planta que jogaram fora! Eu gosto de planta! Levei pra casa e com o tempo ela floresceu perfumando todo o meu lar!” Achei isso de uma beleza-leveza que me encheu de vida!
Fiquei refletindo a “correria nossa” de cada dia, os prazos na vida acadêmica e ou religiosa, metas, busca por... Ora, não se trata de abandonar sonhos-projetos, mas, repensar o caminho. O que vejo? Líderes religiosos e acadêmicos adoecendo! A crença no jogo e sua prática podem ser extremamente perversas. Sim, trata-se também de sistemas de crença. Religião e Ciência essa é minha “cachaça”! Vez por outra, só com um “porre” para suportar o caminho.
Eu, aprendiz do bêbado poeta-teólogo das ruas e bares, não desisti das flores perfumadas na religião e na universidade, contudo, percebo que ambos os espaços não possuem paciência e vendem-produzem ilusões. Isto é, são flores artificiais, quando não apenas buquês (com flores mortas) ungidos e legitimados por religiosos e professores universitários.
De fato, apenas seguirei no caminho com fé-festa, flores, livros e outro ritmo nos passos... Esperando por bêbados-poetas que provoquem leveza-alegria e esperança no caminho.
Evidente que as generalizações aqui são com o intuito de provocar reflexões...  A realidade e os campos de saberes são socialmente construídos em disputa. Questiono o sistema de crenças que ambos possuem. A impressão é que muda apenas o nome do Deus (Deuses). Assim sendo, o divino exige bastante dos fiéis. O que posso fazer? Não abandonarei a marcha, apenas, lerei mais poesias, olharei mais o sol, tomarei um pouco de chuva e, farei de um jardineiro um novo amigo.





[1] Reverendo da IPU em Muritiba-BA.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

UM DIA...

Um dia a dor vai acabar...
Um dia a lembrança vai virar uma doce presença;
Um dia a saudade será uma forma de eternizar a sua companhia;
Um dia o choro se transformará naquele teu belo sorriso...
Um dia nossa despedida simbolizará nosso primeiro encontro.
Um dia a poesia será nosso diálogo;
Um dia farei de conta que estou contigo...
Um dia... Mas enquanto esse dia não chega,
Sinto suas mãos apertando meu peito
Sinto sua voz no silêncio dos pensamentos
Sinto seu sorriso na solidão da noite
Nos olhamos no espelho da ausência
E mais um dia se esvai... 
No entanto aguardo o dia em que tudo isso vai acabar e seremos novamente felizes...
EM HOMENAGEM A CLARICE VITÓRIA (MINHA ETERNA PRINCESA)
OBS: Texto de Jussiana Silva (minha esposa e tia da pequena Clarice).

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

AVANTE IPU...

“Avançar não é simples, mas também não é impossível”. (Salete Nery)
Por: Cláudio Márcio[1]
Após a reunião do Presbitério do Salvado (PSVD-IPU), muitos sonhos e desejos são realimentados. Sim! Vontade de potencializar nossa identidade como ato político mesmo. Assim, sou cristão e minha igreja é a IPU. Aparentemente é uma bobagem, mas, não é, uma vez que, essa tomada de posição implica em demarcar uma trajetória de homens e mulheres que acreditaram (acreditam) no Reino de Deus que emancipa o humano em diversidade e promove a vida em cada praça ou esquina (também) da cidade.
Neste sentido, cremos numa espiritualidade solidária, acolhedora, com leveza e beleza na vida. Defendemos a possibilidade do diálogo e do respeito. Nossa leitura da Bíblia não se afasta da “cultura popular” e suas manifestações que celebram a dimensão corpórea gerando celebração, isto é, fé-folia. Entretanto, não se trata apenas da utilização ou não de instrumentos percussivos em nossas liturgias, trata-se de uma linguagem nova.
Evidente que temos muito a avançar ainda, porém, é preciso acreditar e ser a mudança necessária. A IPU tem um legado significativo em solo brasileiro, contudo, é inadiável uma atualização da agenda. É preciso sentar-se à mesa para conversar sobre questões como: homossexualidade, novas famílias, descriminalização do aborto e da maconha, etc.
Penso ser urgente debate com as lideranças das comunidades locais e seus eclesianos sobre essas e outras temáticas para uma produção teológica mais responsável e atual, ou seja, igreja local e presbitério em diálogo com a IPU nacional. Cada comunidade carrega seus anseios, sonhos e fragilidades. Isso é bom! Não podemos nos vitimizar ou abaixar a cabeça como coitadinhos. É preciso posicionar-se! É preciso rever-se! Nenhuma fala é pronta e acabada. Se somos reformados em processo o que impede a atualização de nossas falas?  
Tenho orgulho de participar da IPU e acredito no potencial que há em nossas comunidades e trajetórias pessoais. Avante IPU! Podemos mais! Testemunhemos o amor de Deus revelado em Jesus de Nazaré salgando e iluminando no e com o mundo. Sejamos dedos de Deus na história! Amém!



[1] Reverendo da Igreja Presbiteriana Unida em Muritiba-BA.