quinta-feira, 27 de julho de 2017

POR UMA ESPIRITUALIDADE NÃO INQUISITORIAL...

Por: Cláudio Márcio[1]
Na manhã de domingo (09-07-17), a Igreja Presbiteriana Unida (IPU), na cidade serrana de Muritiba (Recôncavo da Bahia), promoveu um excelente estudo sobre os 500 anos da Reforma Protestante com o historiador, teólogo e filósofo Pr.Jorge Nery. Pensamos a relevância deste fenômeno social e, não menos, suas contradições. Houve uma presença significativa de visitantes da igreja Batista, uma “galerinha” da UFRB e da UNEB.
Desta maneira, é importante salientar como no século XVI na Europa o cristianismo como religião oficial foi provocado por movimentos e sujeitos sociais e, inevitavelmente, a partir de redes interdependentes, rupturas-permanências, uma gênese de um novo paradigma societário se estabelecia.
Ora, naquela conjuntura específica “a Bíblia na língua materna na mão do povo” tinha um tom revolucionário, ou seja, um processo subversivo e descentralizador de uma experiência com o Sagrado. Lembramos da relevância da fé em Jesus Cristo em um período em que as indulgências possuíam características salvíficas. Do sacerdócio universal, isto é, todo mundo é padre de si mesmo.  E as mulheres neste contexto? Qual a razão de tanto silêncio?
Pensamos ainda a complexidade de tal fenômeno com o intuito de não construir heróis, uma vez que, a Reforma Protestante desenvolve-se também mediante relações de interesses, em que príncipes abraçavam aquela nova possibilidade religiosa para não pagarem impostos a Roma. Nesse sentido a Reforma Protestante é simultaneamente: política-religiosa-econômica.  Lembramos ainda que milhares de camponeses anabatistas foram exterminados.
Sabemos que a experiência religiosa é cheia de ambivalências, isto é, ela liberta-escraviza. Refletimos como a Bíblia no processo histórico foi utilizada para dominação. A cruz, por vezes, se tornou espada. Grupos religiosos evangélicos no século XXI reinventaram a prática das indulgências.   O exercício da fé como prática comunitária foi se perdendo em detrimento de uma perspectiva isolada e individualizada com Deus.
Questões importantes foram levantadas e debatidas naquela linda manhã. Abordamos ainda o perigo de uma BANCADA EVANGÉLICA servidora do deus-dinheiro e envolvida (em grande medida) em esquemas de corrupções, pois, querem criar uma teocracia no Brasil. ABSURDO! Vocês não nos representam!
Com efeito, sabemos que com ou sem fogueiras, muitas inquisições foram estabelecidas em nome de Deus, da moral, da ordem. Entretanto, penso que devemos desenvolver uma espiritualidade não inquisitorial, mas, acolhedora e libertadora. Deus tenha piedade dos que se dizem cristãos e votam a favor da negação dos direitos de trabalhadores e trabalhadoras. Irmãos e irmãs: É preciso lutar para além da oração e do voto!



[1]  Reverendo na Igreja Presbiteriana Unida de Muritiba-BA.