quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

NA SEMENTE HÁ UMA ÁRVORE ESCONDIDA...

 

Por: Cláudio Márcio Rebouças da Silva[1] 

Ó Deus, que habita a imensidão de mundos que há em mim. Que conhece meus caminhos e não me deixa sozinho.  Preciso de Ti. Preciso de mim. Preciso do outro.

Ó Deus, luz que me faz esperançar no mutirão da justiça.  Que minhas mãos estejam prontas para teu serviço.  Que teu óleo em minha cabeça possa me curar. Ouço o som que emana de Ti e quero voltar a dançar.

Ó Deus, ajuda-me a recomeçar sempre.  Que meus olhos não se afastem da Tua Palavra escrita no corpo de cada humano excluído(a) e marginalizado(a). Que eu possa ler com óculos da compaixão, da justiça e da libertação.

Ó Deus, quero ser voz da resistência criativa.  Quero fazer parte da construção do encantamento nestes dias de caos e desespero.  Quero mais uma vez me envolver na revolução do amor e da afetividade.

Ó Deus, sei que na semente há uma árvore escondida. Sei que é difícil esperar por processos necessários para um amadurecimento.  Sei que o fruto me alimentará e que ainda vou sorrir nessa sombra que me faz agradecer por mais um dia.



[1] Reverendo da Igreja Presbiteriana Unida em Muritiba (cidade serrana do Recôncavo baiano).


domingo, 13 de fevereiro de 2022

A IPU PODE CONTAR COMIGO?

 

Por: Cláudio Márcio Rebouças da Silva[1]

Olá, irmãs e irmãos das comunidades eclesiásticas da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil. Espero que estejam bem e firmes no Evangelho de Cristo nosso camarada e Senhor. Sabemos que temos vivido dias turbulentos na conjuntura social e, não menos, em nossa subjetividade. Esperançar é o grito de ordem, porém, não tem sido fácil, contudo, como pessoas de fé podemos afirmar que até aqui Deus tem nos ajudado e que sem Ele nada podemos fazer.

É importante salientar que isso não significa a ausência de dores, medos, lutos, inseguranças, etç, isto é, a fé numa pandemia, não imuniza, na realidade, somos parte do povo da teimosia da fé que compreende que não andamos sozinhos(as) nestes dias caóticos e nebulosos. A fé é essa lanterna que abre caminhos e nos anima para jornada. A fé e a sensibilidade para a dinâmica do Espírito Santo nos fazem sorrir e cantar novamente em função de sabermos em quem temos crido e que o nosso redentor vive.

De fato, a fé no projeto de Deus encarnada em Jesus de Nazaré nos aponta para uma espiritualidade madura e diaconal. Como comunidade reformada ecumênica somos desafiados(as) a “escolher a vida e alargar a tenda”. Precisamos “trazer a memória o que nos dá esperança”. É diante deste sonho desafiador que nos colocamos no mutirão da defesa da vida e comprometidos(as) com a continuidade da reforma protestante em solo brasileiro.

Com efeito, é preciso se olhar e problematizar: o que a IPU de fato representa para mim? Que tipo de mudanças quero na IPU? Quero ser parte desta nova realidade que pode ser construída? Oro, cuido e contribuo com minha comunidade?  Meus dons e talentos são colocados para o serviço do Evangelho dentro e fora da comunidade? A IPU pode contar comigo? Se Deus nos chama para um momento novo essa voz rompe nossa surdez.

Irmãos e irmãs, trazer a memória não deve ser saudosismo ineficaz. A proposta pedagógica da ancestralidade é um paradigma que deve envolver dimensões simultâneas de mudança-continuidade. Não abrimos mão do belo testemunho daqueles e daquelas que nos antecederam, mas, temos que avançar. Temos que ter maturidade de corrigir possíveis equívocos e frutificar para a glória de Deus. Fé e coragem não apenas para denunciar injustiças, mas, para anunciar o dia da redenção.

Suspeito que precisamos responder para nós mesmos: que igreja fomos? Que igreja somos? Que igreja queremos ser? Não há mágica e nem palavras de autoajuda. Aqui é um convite para pensarmos um projeto de igreja que nos acolheu como somos e que precisa se perguntar se quer e é capaz de acolher aqueles e aquelas que estão por vir em breve. Que Deus nos oriente e nos ajude mais uma vez. Que nossa IPU seja uma bênção e uma luz nestes tempos sombrios. Amém!

           

 




[1] Reverendo da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil em Muritiba (cidade serrana do Recôncavo da Bahia).

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

O SEMEADOR SE FOI...OS FRUTOS CONTINUAM A BROTAR

 

Por: Cláudio Márcio Rebouças da Silva[1]

Hoje, 09-02-2022, faz 8 anos do falecimento do Reverendo João Dias de Araújo. Rememorar seu nome é um ato político identitário nestes dias confusos que estamos vivendo em solo brasileiro. Esse teólogo-pastor presbiteriano deixou muitos legados no campo do protestantismo ecumênico progressista. Aqui, cito a experiência da Comissão Ecumênica dos Direitos da Terra (CEDITER), criada por ele em 1982 (ano também do meu nascimento), não tinha como saber e ou imaginar que nossas vidas iriam se encontrar na caminhada.

Bem, tive a oportunidade de estudar de 2002 até 2005 teologia no Seminário Teológico Batista do Nordeste em Feira de Santana-BA, foi lá que tive acesso a Teologia da Libertação, aos encontros da Fraternidade Teológica Latino Americana e, inevitavelmente, ao Rev. João Dias de Araújo. Leituras e vivências me ampliaram a visão e não conseguia mais ser o mesmo.

Minha relação com João Dias se tornou maior que a sala de aula a ponto de frequentar sua casa e posteriormente migrar da Igreja Batista para Igreja Presbiteriana Unida do Brasil. Se abria para mim a possibilidade de uma teologia e um pastorado diferente. O esforço agora era tentar compreender a vida do povo sofrido e oferecer além do alento e consolo, a construção coletiva da consciência política no que tange a organizar-se para lutar pela garantia de seus direitos humanos e sociais.

A leitura da Bíblia passou a ser diferente, pois, não me interessava mais o “sexo dos anjos” e ou “responder a perguntas irrelevantes”. Interessava-me pensar a leitura do texto sagrado com a percepção de “brasilidades, nordestinidades e baianidades”, isso é, como o próprio João apontou: “se a injustiça é contra Deus e a vil miséria insulta os céus”, eu precisava tentar responder a sua indagação: “que estou fazendo se sou cristão?”.

Confesso que essa pergunta é extremamente perturbadora. Ela tira o sono e me faz pensar da dimensão prática da fé. Se creio, ficarei em silêncio ou acomodado? Se creio, viverei em omissão e covardia? Se eu creio, não serei capaz de partir o pão e cuidar do próximo? Se eu creio, não lançarei as mais belas e potentes sementes da transformação?

Falando em semente, a CEDITER completa 40 anos em 2022. Muitas sementes foram lançadas no caminho. Me aproximei da CEDITER a alguns anos e essa Organização Social é responsável através do Centro Público de Economia Solidária (Cesol) do Recôncavo Baiano pela execução da Política Pública nesse território. Aqui, novamente minha vida se cruza com a de João Dias de Araújo, uma vez que, devido a formação em Ciências Sociais (UFRB) e a relação com a CEDITER, fui convidado para compor a equipe do Cesol Recôncavo na função de Coordenador Geral no projeto.

Sim, muitos são os desafios e as possibilidades. Existem sem dúvida alguns limites, mas também recriações constantemente. Sigo trazendo na cabeça e nas ações um pouco de João Dias de Araújo, pois, esse paradigma de espiritualidade do serviço, da comunhão ecumênica e do diálogo inter-religioso, da organização comunitária em prol dos Direitos Humanos é indispensável na contemporaneidade.

Diante de um cenário que líderes evangélicos estão envolvidos em esquemas escusos de corrupção, trazer a memória o Rev. João Dias é dizer que existem outros caminhos a serem seguidos. Caminhos percorridos por homens e mulheres comprometidos com a paz e a justiça. Caminhos trilhados por sujeitos sociais disponíveis para construção de pontes e demolidores de muros. Se tudo foi pintado de cinza, o mutirão é feito com cores, beleza e poesia.

Vamos esperançar! A CEDITER é convidada a celebrar, avaliar e avançar, uma vez que, “esperamos novos céus e nova terra nos quais habita a justiça” (2 Pedro 3.13).





[1] Reverendo da Igreja Presbiteriana Unida de Muritiba-BA e Coordenador Geral do Cesol Recôncavo.




sábado, 5 de fevereiro de 2022

RESISTÊNCIA NO QUILOMBO...

 

Por: Cláudio Márcio Rebouças da Silva[1]

 

 

Mulher negra quilombola do Recôncavo baiano

Mulher de fé na vida e nos Orixás

Mulher guerreira de luta e resistência

Mulher da justiça, do amor e da paz

 

Mulher quilombola negra do Recôncavo baiano

Mulher que planta e colhe com gratidão

Organiza grupos, levanta a voz para revolução

Acolhe quem precisa estendendo a sua mão

 

Negra quilombola mulher do Recôncavo baiano

Na ancestralidade identitária o pertencimento no coração

Engenho da Ponte é travessia que gera mudança

Mas na caminhada não há indivíduo, e sim multidão

 

Articuladora política do Cesol Recôncavo

Semeadora de esperança que germina libertação

E ontem eras uma menina que sonhava com o futuro

Hoje és Maria Adabe, doutora do nosso chão

 


 

 

 

 

 

 

 



[1] Coordenador Geral do Centro Público de Economia Solidária do Recôncavo. Texto em homenagem a Articuladora Política do Cesol Recôncavo Maria Adabe, que recebeu o título de Doutora Honoris Causa concedido pela Ordem dos Capelães do Brasil.