quarta-feira, 28 de junho de 2017

O caminho da espiritualidade não pode ser antagônico ao da humanização

Por: Cláudio Márcio[1]

“Enquanto se canta e se dança de olhos fechados, tem gente morrendo de fome por todos os lados” (Cantor João Alexandre/ fragmento da música: Em nome da Justiça).

Um dia desses, no culto de oração da Igreja Presbiteriana Unida (IPU) de Muritiba-Ba, uma irmã-amiga sinalizou: “difícil não é vir para igreja. Difícil é seguir a Jesus”. Essa frase aparentemente simples me provocou bastante. Sim, a experiência religiosa institucionalizada muitas vezes não significa um relacionamento profundo com Jesus de Nazaré.
Não basta frequentar um grupo religioso. Não basta ocupar um lugar de liderança. Não é suficiente a pontualidade e ou assiduidade nos dias de celebração litúrgica. Penso que a experiência da fé pode-deve ser cheia de leveza, cheia de beleza e fantasia. O caminho da espiritualidade não pode ser antagônico ao da humanização. Não precisamos homogeneizar a relação com o Divino.
Encontro cotidianamente “homens e mulheres de Deus” que não conseguem responder um simples “bom dia”. Me falam: “ a paz do Senhor”, contudo, honestamente, não consigo encontrar e ou receber essa suposta paz. O tom da bela frase “paz do Senhor” chega aos meus ouvidos como censura, com certo grau de “santidade” que nunca serei capaz de atingir. Encontro mãos levantadas em celebrações religiosas querendo “tocar os céus”, porém, insuficientes para acolher o próximo ao lado. Brados, gritos de euforia em shows gospel, mas, silêncio profundo no que diz respeito ao extermínio da juventude negra e os gays em solo brasileiro.
Honestamente, não quero generalizar, quero provocar a reflexão. Sei que o protestantismo é um fenômeno múltiplo. Acredito que seguir a Jesus de Nazaré é defender a vida. É caminhar com o outro encorajando para utopia da grande libertação. É sentar-se à mesa da fraternidade e partir o pão. É colocar as pessoas de pé em meio às estruturas de morte que insistem em nos botar no chão. Não tenho problemas com seus joelhos dobrados em devoção. Não me incomodam suas mãos unidas como quem reza em busca de força transcendente e misteriosa. Contudo, é “só isso”? É uma relação de fé individualista? 
 Como Sugere Frei Betto (autor que tenho lido ultimamente) "viver por um projeto, uma causa, uma missão, um ideal ou mesmo uma utopia, é o que imprime sentido à vida. E uma vida plena de sentido é o que nos imprime felicidade, ainda que afetada por dores e sofrimentos". Sim, difícil é seguir a Jesus. Contudo, sua voz faz “arder o coração”, assim, é preciso mediar fé e ação.



[1]  Reverendo da IPU de Muritiba (cidade serrana do Recôncavo da BA).

7 comentários:

  1. Belíssima provocação, amigo. Acredito que nossa espiritualidade só é intrínseca quando alcança o outro. Também acho que a mística e a alteridade são parte de uma verdadeira espiritualidade. A mística sem alteridade é oca, e a alteridade sem a mística é vazia e sem poesia!

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    1. Isso mesmo, Vinicius. Perfeito! Sigamos juntos! Há braços!

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  2. Exelente texto...
    Sempre falo que a PEREGRINAÇÃO ESPIRITUAL começa justamente na humanização. Falta-nos mais essa experiência humana para entendermos a dor do existir. O ser precisa humanizar-se para entender sua espiritualidade.

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    1. Olá, parceiro.sigamos juntos na oração e na partilha do pão. Abraços.

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    2. Olá, parceiro.sigamos juntos na oração e na partilha do pão. Abraços.

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  3. Como Pierre Chardin disse:"Não somos seres humanos que têm uma experiência espiritual, somos seres espirituais passando por uma breve experiência HUMANA.

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  4. Sigamos! Deus abençoe seu ministério.🙌

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