quarta-feira, 6 de novembro de 2019

BANZO



Por: Paulo Roberto Silva

Como é possível caber na razão tanto desprezo impresso?
A história como memória nos arde em opressão,
Em cada tino um gesto angustiador;
Em cada destino a repetição do açoite;
Nos cortando a carne a golpes de navalha;
Num demonstrativo infeliz de que não podemos ser gente;
Que não temos como nos desvencilhar das correntes!
Num banzo atual me debruço;
Me recordando que ergui-me para o dia em liberdade;
Mas, eis que a covardia do branco ocidente,
Sob ideias de um pavor da cruz;
Nos lançou negritude aprisionada.

Como caber na razão tamanho desterro?
Como num salto, ergo meu olhar para o horizonte e todo o meu fronte volta serrado;
Pois ante a si nota o assalto de nossa humanidade;
O declinar de nossa capacidade sem motivos;
Apenas para cumprir o prazer opressor que olha apenas para seu próprio umbigo!
Corpo encurralado, preso a algemas;
Corpo desintegrado, esfacelado, declinado, em ruínas!
Vês o que sou ainda em plena modernidade tardia?
Sou-me um retrato dilacerado de um passado ainda presente;
Voo perdido, buscando pousar na ideia de vida, de reconhecimento.
Grito emudecido, voz silenciada;
Ginga perseguida.
Corpo lançado as travessias do atlântico;
Preciso, mais do que nunca;
Encontrar na ancestralidade a minha luta;
Ser tal qual um samba;
Num conjunto de acordes de resistência.
Reinventar-me potência
Para que eu possa reerguer-me;
Pra que eu rasgue a abstração de uma saudade irreal;
Tornando meu banzo uma realidade concreta.
Me pondo de pé, de cabeça erguida e seguindo em linha reta;
Vês? Sou a liberdade insistente dos meus ancestrais.
No reconvexo da minha memória hei de recompor toda a minha História!



Nenhum comentário:

Postar um comentário