Por: Cláudio Márcio Rebouças da Silva[1]
Tenho
sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
Ano
passado eu morri mas esse ano eu não morro
(Belchior)
São
mais de 170 mil vidas ceifadas pelo COVID-19 restando apenas choro e
desesperança ao nosso redor. Parece que os pássaros matinais não cantam mais e
que as flores não embelezam e perfumam nossa estrada. Onde estão as borboletas?
Em nosso olhar é perceptível o medo e muitas dúvidas. O que e como fazer?
O que parecia ser um mês para ser resolvido (abril) numa primeira percepção
chegou até novembro. Como será o nosso Natal e o ano de 2021?
Quero contar uma pequena historinha para jogar um pouco de luz neste contexto caótico e tenebroso. Após uma vida bem vivida a velhice trouxe situações adversas e sofredoras. O que faz uma pessoa ao encontrar alguém que ama sofrendo? Isto é, em sua prece pede cura ou descanso para o doente? Quem tem ou vive perto de alguém num leito em casa ou num hospital sabe como é demasiadamente difícil(também) para quem cuida. Quem cuida de quem cuida?
Com
efeito, uma prece não é só por isso ou aquilo. A voz de quem busca auxílio
espiritual não é deslocada do contexto em que seus pés pisam. Chamou-me atenção
uma narrativa que chegou aos meus ouvidos dizendo: “não pedia mais a cura, pois,
ele sofria muito. Pedia o seu descanso, uma vez que, ele teve uma vida bem vivida e eu só quero agradecer por
seu belo testemunho”.
Por
mais que esse não tenha sido um caso específico de COVID-19 quero pensar no que
compreendo como um amadurecimento da fé, uma vez que, em um paradigma “evangélico”
que se relaciona com o sagrado como um “gênio da lâmpada” pronto para atender
seus pedidos insaciáveis, da mercantilização da fé e dos consumidores de “bens
espirituais” que barganham com Deus através de uma relação superficial e
mesquinha, saber que há outras vozes torna-se relevante para lembrar aos que insistem
em não reconhecer que o campo religioso cristão é múltiplo.
De
fato, perceber a vulnerabilidade humana não é sinal de fraqueza, mas, de potência
de vida. “Porque quando estou fraco então sou
forte” (2 Cor 12:10b). Que bom que somos demasiadamente humanos
cheios de limitações e contradições. Que bom também que temos capacidade de recriar-se
constantemente para ser alguém melhor coletivamente em busca de justiça social
e promoção da dignidade humana.
Não
precisamos de heróis e heroínas dos quadrinhos e dos cinemas, pois, temos
espelho e capacidade de olhar nossos avós, pais e responsáveis com um legado
humano-divino simultaneamente. Cada leitor(a) tem um(a) professor(a), um Zé ou
Maria no bairro, na igreja, no terreiro, no sindicato, na política, no chão da
fábrica, na roça, na floresta, nas comunidades ribeirinhas...alguém que marcou
sua trajetória e te inspira a ser melhor no esperançar.
O
advento se aproxima e faço minha prece como sugere a canção popular: “arrumei
a casa, preparei o coração - esperando sua chegada, tão sonhada - vesti o
melhor sorriso - espalhei pelo chão - o perfume da rosa mais enfeitada - pra te
colorir e te cobrir de bem querer”. Para fé cristã esse é o momento de renovo das
utopias e da humanidade. Diante dos dias difíceis oro com as palavras de Sine
Calmon ao cantar: “hoje o céu amanheceu tão lindo-as crianças brincando as
frutas caindo, caem. Quando caem espalham as sementes pela a terra - logo vai
subir um verde lindo - agora é só regar, só regar”.
Muito boa mensagem!!
ResponderExcluir🤝🏽🙏
ExcluirExcelente reflexão, traz paz e alento aos nossos corações
ResponderExcluirTmj 🤝🏽
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