Por: Cláudio Márcio Rebouças da Silva[1]
Vez
por outra fico pensando nos muitos desafios que me cercam, ou seja, como ser cristão reformado ecumênico no recôncavo
baiano? Essa é uma questão extremamente desafiadora-motivadora para
tentar desenvolver uma espiritualidade diaconal libertadora-afetuosa cheia de
potência de vida não apenas nos templos, mas, nas esquinas e praças da cidade.
Suspeito que é necessário coragem e sensibilidade para (re)criar-se como experiência profunda de uma mística racionalizada em que dimensões corpóreas e culturais não sejam negligenciadas como aspectos secundários na Missio Dei. É suficiente fazer a leitura da bíblia com lentes arranhadas sem liberdade e esperança? Pregadores e pregadoras do Evangelho cheios de discursos vazios com bonitas palavras ao vento completamente descontextualizadas e alienantes, até quando?
Fica
muito evidente que a leitura que fazem do texto sagrado não possibilita sonhar
com outra realidade possível, reforçando ainda mais a exclusão daqueles e daquelas
que carecem por sentido de vida em uma sociedade demasiadamente complexa. Em
seus púlpitos não despertam utopias tal como uma criança brincando no samba de
roda segura velha do mestre Avelino de Muritiba-BA.
Fico
com a ligeira impressão de que a roda de capoeira e o reggae são mais
interessantes que as “liturgias celestiais”. O que
está acontecendo? Não se trata disto ou daquilo, mas, de criarmos
uma síntese com responsabilidade e criatividade com o modo se ser igreja e as
múltiplas expressões culturais do chão que pisamos. Será que somos tão
incapazes de articular isso? Se não é incapacidade, o que está por trás?
Vejo
tanta demonização do diferente que me bate uma tristeza profunda! O que falta
para garantir o respeito à diversidade? Mais dimensões antropológicas nos
componentes curriculares das escolas? Mais experiências comunitárias e
culturais em conjunto para romper distanciamentos impostos por rituais
religiosos que reforçam muros em detrimento de pontes?
Não
escrevo para trazer respostas prontas como quem vende receitas para o sucesso
profissional ou existencial, escrevo para fazer pensar. Escrevo para tirar do
lugar. Escrevo para me curar. Escrevo para não deixar de sonhar. Escrevo como
ato político marcando meu lugar na sociedade. Escrevo como criança que quer
aprender a andar de bicicleta na praça da cidade, ou seja, em algum momento a
queda e os arranhões serão inevitáveis, todavia, o riso no rosto, a aventura, a
liberdade e a certeza que alguém protege por perto supera todo medo de não
tentar (re)criar-me.
Sendo
assim, sigo entre saberes e sabores deste chão tão bonito e diverso. Aqui
escuta-se som de pássaros, das águas da cachoeirinha, de crianças nas praças,
de sinos das igrejas, de atabaques dos terreiros, do berimbau, das
filarmônicas, do pandeiro, das festas populares...esses sons são belos e necessários,
mas, é preciso escutar também o som da nossa interioridade. O que nos diz
o mais profundo que somos? Ser cristão reformado ecumênico no recôncavo
baiano é também avaliar-se constantemente a partir da questão central de sua
identidade enquanto IPU: que estou fazendo se sou cristão?
[1]
Pastor na IPU de Muritiba
(cidade serrana do recôncavo baiano).
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