quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Quem sobreviverá?

 

Por: Cláudio Márcio R. da Silva[1] 

“A noite fria me ensinou a amar mais o meu dia” (Belchior)

“Viver é muito perigoso... Porque aprender a viver é que é o viver mesmo... Travessia perigosa, mas é a da vida” (Guimarães Rosa)

Vez por outra, ao fazer uma viagem dirigindo, olho para o lado e Jussi (minha esposa) está dormindo. Imediatamente fico com pena, pois, sei do seu cansaço com suas múltiplas atividades desenvolvidas durante o dia. Lembro de sorrir um pouco com muita gratidão a Deus pela vida tão preciosa que Ele colocou ao meu lado e, por fim, mas não menos importante, penso na confiança estabelecida em mim dirigindo e a “certeza” de que chegaremos ao nosso destino em segurança. É preciso muita responsabilidade para dirigir, não?

Ora, eu não sei vocês, mas, não é sempre que consigo relaxar numa viagem em que alguém conduz o carro. A vida no trânsito é um desafio. Estradas com deficiências, motoristas imprudentes e, de repente, a vida pode ser interrompida num acidente. É possível que você já tenha se envolvido num acidente e ou visto acontecer com um amigo, parente e ou desconhecido. Talvez você tenha que parar um pouco essa leitura por lembrar de alguém muito especial que pegou a estrada para trabalhar-estudar e não voltou para casa, pois, a partir de um acidente teve a vida ceifada.

De fato, a vida é cheia de imprevistos incalculáveis. Todo planejamento necessário para conduzir a jornada de maneira feliz e eficaz é refeita a partir de imponderáveis do cotidiano. O que fazer essas horas? Desistir do próximo passo? Perder todo encantamento pela vida com medo de não arriscar?

            Este contexto pandêmico com mais de 150 mil mortes pela COVID-19 é extremamente assustador. Não sabemos se seremos o próximo e ficamos apavorados. É como se uma enorme carreta sem freios desgovernada viesse em nossa direção na estrada. Não há acostamento para todos(as)! Quem sobreviverá? Honestamente, não sei.

Suspeito apenas que imaginar um possível acidente é não se abrir para criar novas memórias de beleza com praias, praças e jardins, não?

            Evidentemente que o pano de fundo de estrada e carro é uma metáfora para pensar nossa jornada com seus desafios. Numa sociedade cheia de divisões sociais e que carros são também símbolos de poder, prestígio e ou estigma é necessário problematizar: e quem não tem acesso ao carro? Quem e como dirige? Qual estrada? E as redes de carona e solidariedade? Imagino que você na estrada já tenha recebido ajuda ou apoio de um desconhecido, não?

            Enfim, escrevo com o objetivo de convidar você para despertar o desejo de com muita coragem e responsabilidade viver experiências novas cheias de encantamento. Apesar do medo da estrada, das despedidas e das lágrimas que ela pode nos proporcionar, é nela também que vivemos a possibilidade do encontro, do sorriso, da chegada.  





[1] Pastor da IPU de Muritiba, cidade serrana, Bahia.



4 comentários:

  1. Bem pertinente. Nossas viagens são sempre lembrada com carinho. Pesso a Deus que possamos retoma-las.

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  2. Lindo Texto. Estamos de passagem nessa terra, e precisamos aproveitar todos os momentos com responsabilidade, humildade e paz. Abraços.

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