Foto: @desenhosdonando |
Meditando nas passagens bíblicas do
lecionário do dia 7 de abril de 2019, fomos desafiados pelo profeta Isaías
(43:16-21) a seguirmos anunciando esperança, mesmo num cenário que se apresenta
como deserto de impossibilidades: como quem se recusa que o mal e a maldade
tenham a última palavra, seguimos anunciando novos caminhos que desafiam as
estruturas do tempo presente.
Mas foi no Evangelho (João 8:1-11),
onde uma mulher que teria sido pega em adultério é levada até Jesus (note que
em nenhum momento do texto o “homem adúltero” é mencionado), que recebemos
nosso maior desafio: humanizar a humanidade... Sim, pois que pese a noção geral
de que “todos humanos tem direitos”, na prática, esses direitos são concedidos
apenas a uma minoria, uma elite. A maioria da população, formada por negros e
negras, mulheres, LGBTs, pobres, tem seus direitos violentados das mais
diversas maneiras. E um dos modos que os poderosos se utilizam para, inclusive,
fazer com que essa maioria "aceite" essas violências, é fazendo uso
do falso discurso da "segurança".
Em nome dessa falsa segurança,
fechamos os olhos para o encarceramento e o extermínio da população negra. Em
nome da "segurança" aceitamos a morte daqueles que estão em busca de
garantir sua terra: indígenas, sem-terra, quilombolas. Basta o carimbo de
"marginal", "criminoso" e daí aceitamos que quaisquer
arbitrariedades sejam cometidas.
Mas não é assim no Evangelho: para
Jesus, mesmo quem está em confronto com a Lei precisa ser olhado com humanidade.
Só isso evita que precipitadamente peguemos em pedras para executar nossos
"justiçamentos" diários.
Pois, então, quando meditamos nesses
textos, ainda não estávamos horrorizados e revoltados com a execução sumária e
bárbara por parte dos aparelhos de repressão do Estado de um cidadão,
trabalhador, músico, pai de família, com 80 TIROS! Não há como achar que
foi "engano". Pelo contrário: foi para ser exatamente daquele jeito,
pois o racismo vigente nega a humanidade dos negros e negras, dos pobres, dos que
vivem nas áreas empobrecidas de nossas cidades.
E mais uma vez o discurso da
"segurança" é utilizado, retorcido de forma conveniente e hipócrita.
“É normal”. “Acontece”. Não, não é! E isso deve nos servir de alerta - já que a
maioria da população brasileira cabe dentro daquele carro - nunca, em nenhuma hipótese,
podemos nos deixar seduzir por discursos que justifiquem que o Estado possa
executar perversamente qualquer pessoa, a não ser naqueles ínfimos casos onde a
defesa da vida esteja realmente em questão.
No mais, justiça com humanidade para todas as pessoas, inclusive com
aquelas que infringem a lei.
O Evangelho ou barbárie. É o que
precisamos escolher.
Joel Zeferino é pastor na Igreja
Batista Nazareth
https://conic.org.br/portal/noticias/3057-o-brasil-dentro-de-um-carro-levou-80-tiros-por-joel-zeferino
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