quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

VAI BRINCAR...


Por: Cláudio Márcio R. da Silva[1]

“Os educadores, antes de serem especialistas em ferramentas do saber, deveriam serem especialistas em amor: intérpretes de sonhos” (Rubem Alves)

Um dia desses, na Escola Bíblica Dominical ( EBD), da Igreja Presbiteriana Unida (IPU) de Muritiba (cidade serrana do Recôncavo da Bahia), na turma das crianças aconteceu algo extraordinário, isto é, ao serem questionadas sobre a dimensão da fé e da oração, se já tinham uma experiência e uma resposta de suas preces, uma criança disse: " Eu tenho! Meu sonho era ter um carro de controle remoto.  Pedi a Deus e, no Natal aqui da igreja, imagina: ganhei esse presente!  Deus escutou minha oração não foi pró?".

Veja como é interessante essa narrativa.  Sim, o fenômeno religioso também é um espaço de socialização, de comunhão, de afeto, esperança, de regras e, não menos, de partilha.  Evidentemente que há aqueles leitores que dirão apressadamente: " uma criança fazendo de Deus um ‘gênio mágico’ que atende os pedidos". Outros ainda: “isso sim é uma criança de fé”. Calma! Você não conhece nossa comunidade e nossa realidade.  Vou te explicar um pouco.
Temos umas 10 crianças (filhos e filhas dos irmãos e irmãs da igreja) e temos cerca de 30 que os pais e as mães não são da igreja, assim, há crianças e adolescentes "periféricos" cheios de necessidades econômicas (não apenas) que frequentam nossa comunidade e nos desafiam bastante. Todo grupo é feito de regras, de códigos e interdições, assim sendo, algumas dessas crianças e adolescentes (por olharem o mundo a partir de outro prisma) tem nos “deixado de cabelo em pé”.
De fato, nos ensinam a planejar, a elaborar novas abordagens pedagógicas.  Nos ensinam ao exercício da alteridade, da empatia e da compaixão. Nos ensinam que precisamos estabelecer e desenvolver outras linguagens. Não abrimos mão de uma abordagem cheia de afeto, de escuta e do abraço.
 Na realidade, suspeito, definitivamente, que as crianças nos humanizam mais e nos tornam mais cristãos, ou seja, aqui a perspectiva de missão é de mão dupla como apontou o saudoso Rev. João Dias de Araújo: “evangelizar humanizando e humanizar evangelizando”.
Com efeito, a questão aqui não é necessariamente sobre ter ou não ter fé através da prática de oração. Também não escrevi sobre os desafios que enfrentamos na comunicação do Evangelho como questão central. Escrevi este texto para dizer que a igreja além da preocupação com a “salvação da alma”, deve salvar corpos originando dignidade, riso e esperança.  Sejamos a resposta das orações das crianças, que, assim como nós adultos, temos desejos e necessidades.
Vai menino brincar de carro e que Deus conduza sua jornada!


[1] Reverendo da Igreja Presbiteriana Unida de Muritiba (cidade serrana do Recôncavo da Bahia).

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